Por Paula Torres de Carvalho, in Público on-line
Emília Proença, de 52 anos, não queria acreditar que fora despedida das Páginas Amarelas, onde trabalhava há 27 anos no sector do marketing, num processo de despedimento colectivo. De repente, ficou sem saber o que fazer. “É um drama sentir que se é despedido”, diz ao PÚBLICO. “É um bocadinho como as doenças. Pensamos que só acontece aos outros e quando tomamos consciência que é connosco, ou paramos, ou lutamos”.
Emília Proença, a viver apenas com uma filha, optou por lutar. Juntou-se a dois colegas, Miguel Pires, de 35 anos e Graça Costa, de 48. “O que vamos fazer?”, puseram-se a pensar. “O que não podíamos era cruzar os braços e ficar à espera que as coisas mudassem”.
Começaram por experimentar a área da fotografia mas constataram que era um mercado já saturado.
Miguel é gestor e resolveu fazer um estudo de mercado. Concluiu que a área melhor para investir, seria a da restauração. “Com a crise, as pessoas cortam em muita coisa, mas continuam a comer. E nesta área, não há incobráveis”, diz.
Resolveram então pedir o subsídio de desemprego por inteiro de uma só vez, como está previsto na lei. Recorreram à banca. E foi a parte mais complicada. Demorou mas os seus pedidos acabaram por ser aprovados.
Os três amigos começaram então a procurar espaços que se adequassem ao seu projecto, na zona do Parque das Nações, em Lisboa, onde tinham trabalhado durante tanto tempo e cujo movimento bem conheciam. Encontraram um espaço em forma de quadrado rodeado de vidros, bem central em relação às empresas colocadas na zona. Em frente, montaram uma esplanada.
E abriram as portas a 13 de Dezembro passado com uma “especialidade”: queques feitos com uma massa especial, um sucesso imediato.
O início, por vezes, não foi fácil. Emília Proença diz que ficou “em pânico” quando, no primeiro dia, um cliente lhe pediu um “abatanado”. “Fiquei a olhar, não sabia o que era um abatanado”. Foi o rapaz que contrataram para os ajudar que a “salvou” e serviu o cliente que ainda se riu da atrapalhação.
É no “quadrado” que os três agora trabalham, todos os dias, das 8h00 da manhã às 20h00. Para quebrar a rotina, mudam diariamente as cores dos revestimentos das cadeiras e das toalhas. Servem três pratos diferentes ao almoço e chocolate quente ao lanche. E vão investindo num sector que não conheciam e sobre o qual aprendem todos os dias. Com um objectivo: “Crescer”, diz Emília Proença. “Sair do quadrado”.
“Fiz muitos projectos na vida, mas estar aqui com esta idade, a trabalhar nesta área e com estas pessoas, foi coisa que nunca me passou pela cabeça”, diz. “É muito desgastante, mas valeu muito a pena”. O desemprego, afirma, é “assustador”.