Editorial, in Jornal de Notícias
O dia de 6 de Abril de 2011 ficará gravado na história de Portugal como um dia triste. Muito triste. Ontem, o nosso país capitulou, não apenas perante a pressão dos detestados mercados, mas perante si próprio.
O pedido de ajuda externa é a cabal demonstração de duas realidades que vivemos, anos a fio, mas não percebemos. Primeira: fomos caminhando (acelerando talvez seja mais correcto) alegremente contra a parede, certos de que, um dia, alguém nos salvaria do violento embate. Puro engano. Consequência: como fomos incapazes de nos governar, passámos a responsabilidade para outros.
Os custos, brutais e prolongados no tempo, deste facto obrigam-nos a pensar na segunda realidade: o modo de vida que escolhemos seguir nas últimas décadas acabou. Convém que nos mentalizemos disso: nada será como dantes. E se voltar a ser, quando as contas públicas estiverem em ordem e o sufoco aliviar, não tenhamos dúvidas: voltaremos a ser, como seremos agora, comandados a partir de Bruxelas. O Governo, seja ele qual for, não passará de um mero tabelião da Comissão Europeia, ou de quem tiver mandato de Bruxelas para ditar o rumo do país.
O dia 6 de Abril de 2011 liquidou o sonho (irreal) que alimentou os portugueses: não é possível viver eternamente acima das nossas possibilidades. Um dia a conta chega. E é pesada, muito pesada.
Vale a pena, com certeza, fazer o balanço das culpas, porque uns são muito mais culpados do que outros. Mas o que hoje, primeiro dia de muitos dias de forte ressaca, devemos ter em mente é que a entrada do FMI (para usar uma sigla que toda a gente conhece) em Portugal nos confronta a todos, sem excepção, com um desafio: o de darmos o melhor de nós próprios para ultrapassarmos as dificuldades gigantescas, ciclópicas, que temos pela frente.
Cabe aos partidos e aos altos responsáveis da Nação dar o exemplo disso mesmo. A campanha eleitoral já informalmente em marcha será um importantíssimo barómetro para percebermos se estão à altura das circunstâncias. No caso, estar à altura das circunstâncias implica "apenas" dizer a verdade. Infelizmente, o expectável é o contrário: como o futuro próximo será definido pelo FMI, os partidos tentarão falar do passado, procurando, desenfreadamente, o mais culpado...


