in Impulso Positivo
Setor social preocupado com aumento da pobreza em 2012
O Setor social está preocupado com o aumento do número de pedidos de apoio em 2012, que antecipa ser substancial e para o qual se exigem novas e mais eficientes respostas num cenário de menos recursos, quer das famílias quer das entidades que as apoiam em caso de dificuldade.
De acordo com Isabel Jonet, Presidente da Federação dos Bancos Alimentares Contra a Fome, em declarações exclusivas à IP News, “prevemos um acréscimo substancial dos pedidos de apoio em 2012, tanto por parte das famílias como também por parte das instituições, que vão ter mais dificuldades e menos recursos”.
Também Eugénio da Fonseca, Presidente da Cáritas Portuguesa, partilha este receio. “É com muita preocupação que iniciamos 2012”, refere à IP News, pois “tudo indica que a situação irá ser mais difícil este ano”. “As consequências das medidas de austeridade anunciadas e a previsão da já grave redução do número de postos de trabalho” são os fatores apontados pelo líder da Cáritas para o agravar da situação no ano que agora começou.
Fernando Nobre, Presidente da Fundação AMI, revela à IP News que a AMI contabilizou, em 2011, 14.763 pessoas apoiadas, num aumento de 92% face aos pedidos de ajuda atendidos em 2008, em torno dos 7 mil/ano. Mas o responsável da AMI teme que “este número se venha a agravar” ainda mais em
2012, tendo em conta o atual contexto de “cortes nos apoios sociais e
o aumento da taxa de desemprego”.
Por isso mesmo, refere, “os fenómenos que mais nos preocupam são, sem dúvida, os ligados à perca ou diminuição dos níveis de autonomia das pessoas que nos procuram em busca de emprego”. O desemprego e as soluções de colocação profissional, a habitação e as problemáticas sociais que têm resultado do reagrupamento de famílias que se viram obrigadas a abandonar as suas casas por falta de recursos, e a alimentação deficitária são apontados pelo dirigente da AMI como alguns dos principais problemas a
emergir em 2012.
De acordo com informação recentemente divulgada pela AMI, a situação profissional das pessoas que recorrem a esta entidade agravou-se de forma preocupante desde 2008, com o número de desempregados a aumentar cerca de 56% e o número de pessoas com trabalho considerado precário a aumentar
43% em três anos.
Os mesmos dados revelam que o apoio em géneros alimentares e o apoio social continuam a ser os serviços mais procurados por estas pessoas junto da AMI, que, em 2011, forneceu mais de 1.100 toneladas de alimentos no âmbito do Programa Comunitário de Ajuda Alimentar a Carenciados.
Os números de 2011 dos Bancos Alimentares revelam também um aumento na casa dos 10% em termos de pessoas apoiadas e de 20% em volume de géneros alimentares distribuídos. Se no ano passado, foram distribuídas 32 mil toneladas de alimentos por 325 mil pessoas com carências alimentares, através de 2047 instituições, em 2010, esses números eram de 26.830 toneladas de alimentos para 295 mil pessoas, através de 1.938 instituições.
Na Cáritas, só nos primeiros dez meses de 2011, as Cáritas diocesianas atenderam mais de 28 mil famílias, um número que traduz um aumento de 4.645 novos agregados numa média mensal de 516 novas famílias, a solicitarem nesse ano o apoio desta entidade.
Para os responsáveis das três entidades ouvidos pela IP News, este aumento
expectável da pobreza em Portugal exige que “sejamos ainda mais eficientes, inventivos e procurar obter mais alimentos para apoiar as já mais de 2050 instituições apoiadas pelos 19 Bancos Alimentares”, sublinha Isabel Jonet, que acrescenta que “queremos também cobrir áreas que ainda não têm estruturas de apoio alimentar”, embora “não perdendo nunca a nossa
missão de vista”.
Já Fernando Nobre sublinha que “é prioritário para a AMI encontrar respostas que se ajustem às necessidades reais das pessoas, evitando, no entanto, a criação de processos de dependência cada vez mais
irreversíveis”.
Por seu turno, Eugénio da Fonseca explica que “esta (aumento do número de pedidos de ajuda) não é uma preocupação que nos paralise”, apelando à “unidade” e à “galvanização” de todos “em torno da recuperação de Portugal”.
“Tentaremos que a ninguém, que nos procure, falte, pelo menos, o pão na mesa e outros bens para uma vida minimamente digna”. O responsável revela mesmo que “se alguém tiver alguma ideia sustentável para angariar o seu próprio sustento, procuraremos apoiá-lo”. Na dinamização da sua missão, a Cáritas pretende arrancar este ano com os Grupos de Inter-Ajuda Social (GIAS), que visa “colocar pessoas em situação de dificuldades socioeconómicas em contacto com outras pessoas na mesma posição”, e com ações de sensibilização para a poupança, cujo principal objetivo é “ajudar toda a gente a viver com menos”.


