29.7.16

Homens portugueses entre os que mais cresceram nos últimos cem anos

Ana Cristina Pereira, in Público on-line

Estudo liderado por cientistas do Imperial College de Londres indica que os portugueses "cresceram" 13,9 centímetros e as portuguesas 12,5. Neles como nelas, os europeus destacam-se pela sua altura.

Olhe em volta. Que estatura tem quem se senta em seu redor? Um estudo liderado por cientistas do Imperial College de Londres avaliou o quanto a humanidade "cresceu" em cem anos e indica que os portugueses “cresceram” 13,9 centímetros e as portuguesas 12,5. Não é que as pessoas estejam cada vez maiores. É que há cada vez mais pessoas altas. Agora, eles medem em média 172,9 centímetros e elas 163.

O estudo, intitulado Um século de tendências na altura dos humanos adultos, envolveu quase 800 cientistas dos seis continentes e uma enorme variedade de fontes. Apuraram qual a altura média de uma pessoa nascida em 1896, isto é, com 18 anos em 1914. E foram por aí acima até chegar aos que nasceram em 1996, isto é, aos que completaram 18 anos em 2014.

Está tudo num artigo publicado na revista científica e.Life e resumido na página electrónica do Imperial College of Science, Technology and Medicine, mais conhecido pela designação abreviada de Imperial College de Londres. Em 1914, os portugueses nem alcançavam, em média, 160 centímetros e as portuguesas pouco excediam os 150. Eram quase do tamanho dos mais baixos povos do mundo da actualidade. Em 2014, os timorenses, os mais baixos, mediam em média 159,8 centímetros. E as guatemaltecas, as mais baixas, 149,4.

Poucos “cresceram” tanto. Quando se compara 1914 com 2014, Portugal ocupa o 8.º lugar de países que viram a altura média dos homens subir, numa lista liderada pelo Irão, a Gronelândia e a Coreia do Sul. Apesar disso, mantêm-se na 75.ª posição mundial e continuam a estar entre os mais baixos do continente europeu. Já as mulheres ocupam a 48.ª, o que quer dizer que tendem a ter estatura média.

Há quem esteja a encolher

Os genes são importantes reguladores de crescimento do esqueleto. A altura também é influenciada pela qualidade da alimentação e pelos mais variados factores ambientais. As crianças que crescem bem nutridas e num ambiente saudável tendem a atingir maior altura.

Neste momento, ninguém bate os europeus em matéria de altura. No género masculino, lideram os holandeses (182,5 centímetros). Atrás deles, seguem os belgas, os estónios, os letões, os dinamarqueses, os bósnios, os croatas, os sérvios, os islandeses e os checos. No género feminino, o topo da tabela é ocupado pelas letãs (169,8). Atrás delas, seguem as holandesas, as estónias, as checas, as servias, as eslovacas, as dinamarquesas, as lituanas, as bielorrussas e as ucranianas.

Nem todos os povos continuam a “crescer”. Nos últimos 30 a 40 anos, a altura média dos norte-americanos deixou de aumentar, bem como a dos cidadãos residentes no Reino Unido, na Finlândia e no Japão. E há povos que estão mesmo a encolher. Isso nota-se na África subsariana, no Norte de África e no Médio Oriente, zonas marcadas pela pobreza e pelo conflito.

A altura não é indiferente. Recordam os investigadores que alguns estudos sugerem que quem é mais alto tende a viver mais tempo, a ter mais escolaridade e a auferir melhor rendimento. Nem tudo, porém, são boas notícias para os mais altos: enfrentam maior risco de ter alguns tipos de cancro, desde logo ovários e próstata

“Este estudo traça um retrato da saúde dos países ao longo do século passado”, resume Majid Ezzati, da Escola de Saúde Pública do Imperial College, citado no site daquela que é uma das mais conceituadas universidades do mundo. “Revela que a altura média de algumas nações pode até estar a encolher, enquanto a de outras continua a crescer. Isto confirma que precisamos urgentemente de abordar o ambiente e a nutrição de crianças e jovens à escala global e de garantir que estamos a dar às crianças o melhor começo de vida possível.”

Nos períodos de grande crise, em particular no decurso de conflitos armados, um emaranhado de constrangimentos condiciona o crescimento. Não é por acaso que na segunda metade do século XX, no pós-guerra, a população europeia deu um grande salto. O que se verifica agora é que os povos do Norte, que conheceram uma melhoria de condições de vida mais cedo, apresentam uma tendência para estabilizar. E que os portugueses e outros, que experimentaram uma melhoria mais tarde, continuaram a crescer.

O caso do mundo anglófilo é particular. Na opinião de Majid Ezzati, o facto de os habitantes dos Estados Unidos da América e do Reino Unido terem parado de crescer e apresentarem elevado nível de obesidade “enfatiza a necessidade de políticas mais efectivas para promover a alimentação saudável ao longo da vida”.

“Esta é uma análise única que mostra o poder de combinar uma centena de anos de dados do globo inteiro”, declarou, ao mesmo site, Mary De Silva, chefe da População, Meio Ambiente e Saúde da Wellcome Trust, que co-financiou o estudo, em parceria com o governo do Canadá. “A descoberta mais surpreendente é que, apesar dos enormes aumentos de altura verificados em alguns países, ainda há uma diferença considerável. Será necessário fazer mais investigação para compreender as razões desta diferença e ajudar a encontrar formas de reduzir as disparidades de saúde que persistem a nível mundial.”

A altura não é indiferente. Recordam os investigadores que alguns estudos sugerem que quem é mais alto tende a viver mais tempo, a ter mais escolaridade e a auferir melhor rendimento. Nem tudo, porém, são boas notícias para os mais altos: enfrentam maior risco de ter alguns tipos de cancro, desde logo ovários e próstata.