23.1.18

Apanha-se sida por um talher? 27% dos jovens acham que sim

Ana Maia, in Público on-line

Também há quem pense que pode ficar infectado por um espirro. Dados fazem parte do estudo Vida Sem Sida, uma parceria da Universidade de Lisboa e do projecto Aventura Social, que mostra também que menos de 40% dos jovens usam sempre preservativo.

Mais de um quarto dos jovens (27%) ainda acha que pode ser infectado com VIH se comer ou beber de pratos, talheres e copos que já tenham sido usados por uma pessoa infectada e 12% acreditam que podem contrair a doença se alguém com VIH tossir ou espirrar perto deles. São resultados do estudo Vida Sem Sida, uma parceria da Universidade de Lisboa e do projecto Aventura Social, que mostra também que menos de 40% dos jovens usam sempre preservativo.

Do público-alvo fazem parte jovens entre os 18 e os 24 anos, de três grupos: universitários; do programa Escolhas (que abrange uma população mais desfavorecida) e da rede Instituto Português do Desporto e da Juventude. No total, participaram no inquérito 1166 pessoas, de todas as regiões e ilhas. O questionário esteve online entre 25 de Abril e 10 de Junho do ano passado. O projecto foi financiado com um prémio que o grupo de investigadores recebeu do laboratório Gilead.

“Queríamos estudar os comportamentos sexuais e como as coisas tinham evoluído”, diz Margarida Gaspar de Matos, uma das investigadoras, autora de vários estudos sobre os jovens portugueses. Quiseram avaliar dois grupos muito diferentes: por um lado, jovens universitários com mais regalias e acesso a informação e, por outro, jovens em situação de subemprego ou desemprego provenientes de uma população mais vulnerável. Embora a amostra não seja representativa do todo nacional, Gaspar de Matos esclarece que é representativa dos dois universos que responderam.

O estudo — que é apresentado neste sábado na Faculdade de Motricidade Humana da Universidade de Lisboa — mostrou que ainda há mitos a quebrar. Como o de que usar talheres, pratos ou copos que já tenham sido usados por uma pessoa infectada pode levar à transmissão da doença — 27% dos 1166 participantes acreditam nisso —, ou que o VIH pode ser transmitido através de um espirro (12%). Mas há mais: cerca de 5% acreditam que uma pessoa pode ficar infectada ao abraçar alguém doente e outros tantos dizem que quem parece muito saudável não está doente.

Margarida Gaspar de Matos considera “incrível” que depois de tantos anos a falar sobre o VIH ainda existam mitos como estes. “Quando não sabem as formas de transmissão, desenvolvem conhecimentos errados, estereótipos e crenças falsas como ‘vejo pelo aspecto do rapaz que não tem sida’. Outro lado negativo, do ponto de vista social, é acharem que a pessoa infectada não pode ir onde as outras vão.”

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O estudo relembra que em Portugal, "os últimos dados referem que 33,3% dos infectados situam-se na faixa etária dos 15 aos 29 anos e 15,6% têm idades entre os 15 e 24 anos". Não é por isso de estranhar que a investigadora destaque como igualmente preocupante o facto de apenas 37,7% dos jovens inquiridos afirmarem que usam sempre preservativo.

Muitos, sobretudos os homens e os não universitários, têm a percepção de que estão em risco de contrair a doença. “Podem ter essa percepção, mas não a transformam em comportamentos de protecção. Nos anos 1980, o risco de transmissão era sobretudo associação ao uso de seringas, hoje o risco é sexual. E as pessoas não se protegem”, alerta.