19.1.18

Refeições escolares: “As crianças passam fome”

por Susana Lúcio, in Sábado on-line

A Associação de Pais da Escola Básica do Parque das Nações apresentou um relatório sobre a má qualidade das refeições à Câmara de Lisboa. A autarquia reconhece o problema

Os pais dos alunos da Escola Básica do Parque das Nações, em Lisboa, não querem que os filhos continuem a comer as refeições fornecidas por catering há quase sete anos. Queixaram-se à Câmara Municipal e uma mãe até já apresentou uma solução.   

Há muito que as crianças da Escola Básica do Parque das Nações se queixam das refeições que lhes são fornecidas ao almoço. Mesmo antes da polémica criada pela foto de um frango assado cru, tirada numa cantina escolar e que colocou em causa a qualidade das refeições escolares, já os alunos da escola se queixavam aos pais que não conseguiam comer o que lhes era oferecido.

Refeições servidas em recipientes de plástico
Em Outubro do ano passado, a nova direcção da associação de pais conseguiu autorização para visitar a cantina e provar a comida. O resultado foi publicado num relatório que foi entregue à Câmara Municipal de Lisboa.
"A fraca adesão na hora das refeições, o desespero em que algumas crianças me vinham solicitar ajuda para lhe dar outra comida que não aquela e a quantidade de comida não ingerida foi um cenário real e preocupante", escreveu Mariana Barardo, presidente da Associação de Pais e Encarregados de Educação da Escola Parque das Nações (APEPN), no relatório.

Crianças não comem na escola
Na visita, Mariana Barardo verificou aquilo que o filho já lhe tinha dito: a sopa é servida fria numa tigela de plástico, o prato principal – nesse dia bacalhau com batata, cenoura, grão e feijão-verde cozidos – foi servido num recipiente de esferovite e estava "empapado" em água e a refeição não sabia bem.

"O sabor em geral não carecia das características normais e sentia-se um leve sabor a plástico", pode-se ler no Relatório sobre Avaliação Alimentar na EBPN.

O documento foi seguido por uma carta de reclamação, que incluia outros problemas na escola, enviado para a autarquia, Ministério da Educação e outras entidades, incluindo os partidos com assento parlamentar, e que foi assinado por 217 dos 300 pais. 

A escola não tem cozinha e a cantina está instalada em dois contentores pré-fabricados que são temporários há sete anos. "A escola só tem um terço do projecto construído e por isso não tem as condições que deveria ter", explica a presidente da APEPN.
Por essa razão, as refeições são fornecidas por catering e distribuídas em recipientes de plástico que preocupam os pais.

"No entanto, muito embora as práticas de higiene e salubridade estejam a ser cumpridas, numa comunidade escolar de crianças com idades compreendidas entre os 3 e os 12 anos que se encontram em pleno desenvolvimento, apresentamos a nossa preocupação sobre estas embalagens por acreditarmos serem prejudiciais para a saúde das mesmas", lê-se no relatório.

Mas, segundo a Direcção do Departamento da Educação, não há outra forma de fornecer as refeições por não haver cozinha na escola.

Câmara de Lisboa reconhece má qualidade das refeições
A APEPN foi recebida pela câmara, que se comprometeu a resolver a questão. "Os pais e as crianças não estão satisfeitos com a qualidade e quantidade das refeições e têm razão. O catering é a pior das soluções", admitiu à SÁBADO Ricardo Robles, vereador da Educação e Áreas Sociais, do Bloco de Esquerda.

O vereador garantiu que a primeira prioridade é a conclusão da escola, adiada há quase sete anos. "Marquei reunião com o Ministério da Educação e o Parque Escolar para ver como está o processo de ampliação da escola. Essa é a nossa prioridade."
Desesperados pelas queixas dos filhos, uma das mães da Escola Básica do Parque das Nações tomou a iniciativa de apresentar uma solução para melhorar as refeições escolares.

"O projecto passa pelas refeições serem confeccionadas na Escola Infante D. Henrique, que não faz parte do agrupamento, mas faz parte da Junta de Freguesia, e que já aceitou confeccionar as 300 refeições", explica Mariana Barardo.
As refeições seriam depois transportadas pela Junta de Freguesia até à escola básica.

Solução aceite pela autarquia
O projecto já foi apresentado na câmara mas ainda não há datas para a sua implementação. "Há três semanas reuni-me com o presidente da Junta de Freguesia do Parque das Nações que se dispôs a colaborar. Há uma solução a ser estudada. Não existem obstáculos a esta solução, é uma questão de timing", assegura Ricardo Robles.

Segundo o vereador, a autarquia está disposta a assinar um contrato de delegação de competências com a junta e alocar fundos para que seja possível a aquisição de um meio de transporte adequado ao transporte das refeições.
"Falei ontem com o presidente da junta de freguesia que me garantiu estar a recolher a informação – que viatura comprar, as condições especiais que deve ter – para apresentar a proposta", disse o vereador. 

Os pais querem maior rapidez. "Temos de acelerar o processo porque são as crianças que todos os dias enfrentam o problema. Algumas chegam a fugir para o recreio para não almoçarem", conclui Mariana Barardo.