26.1.18

FMI. “Uma geração inteira pode nunca recuperar” na Europa

Nuno André Martins, in o Observador

Economistas do FMI alertam para o agravamento substancial na desigualdade entre jovens e mais velhos criada na Europa e dizem que isso pode levar a uma polarização nas preferências políticas.

Com salários menores, menos bens, mais dívida e em maior risco de pobreza. Este é o retrato feito pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) sobre os jovens, num artigo onde se escreve que por detrás da relativa estabilização da desigualdade na União Europeia se esconde um autêntico fosso geracional cavado durante a crise, que deixa os jovens numa posição bastante mais difícil. A Europa arrisca-se a ter “uma geração inteira que pode nunca recuperar”, disse a própria diretora-geral do FMI, em Davos, na Suíça.

Esta é a “geração dos sonhos adiados”, afirmou Christine Lagarde, perante uma plateia cheia de líderes económicos e políticos, no Fórum Económico Mundial. Com António Costa na fila da frente, a diretora-geral do FMI deixou ainda um aviso aos líderes europeus: sem medidas urgentes, esta deixará de ser uma geração de sonhos adiados e passará a ser a geração dos “sonhos enterrados”.

O cenário traçado pelo Fundo é negro. Um em cada quatro jovens estão em risco de pobreza, um em cada cinco não tem emprego, o salário destes é inferior a 60% da média, o emprego é mais precário.

Num artigo publicado esta quarta-feira, nove economistas do FMI analisaram a desigualdade e a pobreza entre gerações nos países da União Europeia e a conclusão é que os números que são conhecidos traçam uma realidade perigosa para o futuro da Europa, a vários níveis.

Os dados globais mostram que a desigualdade de rendimentos se manteve relativamente estável ao longo da crise, mas olhando para estes números mais de perto pode observar-se um autêntico fosso geracional que tem vindo a aprofundar-se desde o início dessa crise. “O risco de pobreza entre os jovens, comparando com os que têm mais de 65 anos, era globalmente comparável, movia-se em paralelo. Mas, a partir de 2009, o risco divergiu significativamente”, explicou Irene Yackovlev, uma das autoras do artigo, ao Observador.