23.1.18

Automatização e crescimento tecnológico agravam desigualdade entre géneros

in Público on-line

Um relatório do Fórum Económico Mundial alerta para o crescimento da desigualdade salarial entre homens e mulheres nos sectores tecnológicos e sublinha os riscos da automatização de funções administrativas nas empresas.

A disparidade salarial entre homens e mulheres vai agravar-se nos próximos anos se não forem tomadas medidas para a combater, sobretudo em sectores em elevado crescimento como as tecnologias de informação ou a biotecnologia. O alerta está num relatório do Fórum Económico Mundial (FEM) que será publicado nesta segunda-feira, na véspera do arranque do fórum anual em Davos, na Suíça, e que o jornal britânico The Guardian antecipa este domingo.

O FEM afirma que os avanços dos últimos anos rumo à igualdade salarial estão a ser revertidos devido ao domínio do sexo masculino em indústrias tecnológicas de ponta. As mulheres continuam a estar ausentes em lugares de liderança, mesmo em áreas como a educação e a saúde, onde existe uma maior presença feminina.

Para Saadia Zahidi, responsável do FEM para as áreas da educação, género e emprego, duas tendências explicam o agravamento dos indicadores: em primeiro lugar, o facto de existirem menos mulheres a trabalhar em sectores emergentes como a informática, a biotecnologia ou as infra-estruturas, fazendo com que haja uma menor probabilidade de haver mulheres a chegar a cargos de topo nessas áreas; por outro lado, mesmo em sectores com maior presença feminina, as posições de liderança continuam a ser ocupadas por homens. A responsável pede uma "abordagem holística" das empresas em relação ao problema e afirma que as medidas não se podem limitar à paridade nos cargos de administração.

Automatização rouba mais postos de trabalho às mulheres
Ainda de acordo com o relatório, e para além do crescimento da desigualdade salarial nos sectores tecnológicos, a automatização dos postos de trabalho é outra tendência que tem efeitos mais graves para mulheres do que para os homens. 57% dos postos de trabalho que deverão ser suprimidos pelo avanço da robótica e de outras tecnologias automáticas são actualmente ocupados por mulheres. Apesar de diversos estudos já terem alertado para o desaparecimento de empregos nos sectores industriais, predominantemente masculinos, o aviso do FEM é dos poucos a apontar para ameaça da que a automatização representa em funções administrativas e de apoio ao cliente que tendem a ser exercidas por mulheres.

“A diversidade leva à criatividade, que é cada vez mais necessária num mundo que atravessa uma revolução industrial”, argumenta Zahidi em declarações ao Guardian.

Governo vai aprovar lei para promover igualdade salarial entre mulheres e homens
Já no final do ano passado, um relatório também divulgado pelo FEM dava conta que a desigualdade entre homens e mulheres tinha aumentado desde 2006, altura em que começaram a ser recolhidos dados para análise. O documento indicava que as mulheres teriam de esperar 217 até que a igualdade salarial fosse alcançada a nível global — mais 47 anos do que o que fora estimado no ano anterior. Sharan Burrow, líder da Confederação Internacional de Sindicatos e uma das mulheres na organização do fórum de Davos em 2018, afirma então que as oportunidades de progressão das mulheres estavam a "estagnar" visivelmente.
O próprio fórum de Davos já tinha sido criticado em edições anteriores por ter painéis constituídos quase só por homens. Mas, este ano, pela primeira vez, o FEM vai ser liderado por sete mulheres: Christine Lagarde (directora do FMI), Fabiola Gianotti (directora-geral do CERN), Isabelle Kocher (CEO da Engie), Erna Solberg (primeira-ministra da Noruega), Ginni Rometty (presidente da IBM), Sharan Burrow e Chetna Sinha (fundadora e directora do Mann Deshi Bank).