4.7.19

Autoridades do Reino Unido afirmam que as vítimas nigerianas de tráfico humano regressam "ricas" ao país de origem "graças à prostituição"

in Visão

O Ministério da Administração Interna do Reino Unido está a ser altamente criticado depois de referir, na estratégia de combate ao trafico de mulheres nigerianas para a prostituição na Europa, que as mesmas, regressam ao seu país de origem "ricas graças à prostituição" e são "tidas em grande consideração" pelos seus compatriotas

As críticas ao Ministério da Administração Interna do Reino Unido ocorreram na sequência da atualização das orientações para o combate ao tráfico de mulheres nigerianas, para prostituição na Europa. A revisão do documento foi feita com o objetivo de incluir um parágrafo sobre as perspetivas das vítimas regressarem ao regressar à Nigéria. Cintando relatórios da UE e da Austrália, é referido que "as mulheres traficadas que regressam da Europa ricas graças à prostituição gozam de um elevado estatuto socioeconómico e, em geral, não estão sujeitas a comportamentos sociais negativos. Elas são muitas vezes tidas em grande consideração, por terem melhorado as suas perspetivas de rendimento".

Charlotte Proudman, advogada especializada na defesa dos direitos humanos, que representa vários casos de violência de género, disse que "a política deplorável do Ministério da Administração Interna sobre o tráfico de mulheres na Nigéria mostra a hostilidade que as vítimas enfrentam ao pedirem asilo no Reino Unido. Sugerir que as mulheres traficadas são ricas e gozam de um estatuto socioeconómico [elevado] é fundamentalmente errado", por isso, "o Ministério da Administração Interna precisa de emitir um pedido de desculpas e alterar imediatamente a política".

"As mulheres que represento nos tribunais de imigração sofrem, muitas vezes, de transtorno de stresse pós-traumático e estão sempre desamparadas. Elas geralmente foram violadas, espancadas repetidamente e as suas famílias deserdaram-nas. Algumas até enfrentam o risco de represálias violentas no regresso para casa. Os maus-tratos que elas sofrem são semelhantes à escravidão". "O quadro pintado pelo Ministério da Administração Interna está longe da realidade e serve apenas para promover mitos sobre a prostituição e o tráfico sexual. A política, sem dúvida, incentivará os responsáveis do Ministério da Administração Interna a recusar ainda mais pedidos de asilo", acrescenta.

Kate Osamor, deputada do partido trabalhista e presidente do grupo parlamentar sobre os assuntos da Nigéria, conta que em todas as histórias de tráfico que ouviu "não houve final feliz". Para si, isto “mostra que o Ministério da Administração Interna não confia nas pessoas que passam por estas experiências. Seria de esperar que as autoridades as acolhessem, ouvissem e desfizessem as suas experiências e não tratassem o tráfico como se fosse um trabalho”.

Morenike Omaiboje, diretora de programas do Women Consortium of Nigeria, uma organização local de reabilitação de mulheres traficadas, explicou que a maioria das vítimas que encontra nas fronteiras e nos aeroportos "estão miseráveis, especialmente as que foram escravizadas. Mas algumas são as "Madames", que foram traficadas há muitos anos, mas foram reaproveitadas, e agora são ricas porque escravizam outras".
Um porta-voz do Ministério da Administração Interna afirmou que " através da Lei da Escravatura Moderna, o governo está empenhado em garantir que as vítimas recebam o apoio de que necessitam e que os criminosos são entregues à justiça".

Mais de 90% das vítimas de tráfico da Nigéria são mulheres, a sua maioria entre os 18 e os 38 anos.