30.7.19

Sazonalidade Taxa de desemprego desceu no segundo trimestre, avançam os economistas ouvidos pelo Expresso

Sónia M. Lourenço, in Expresso

Verão traz mais trabalho

verão é para muitos portugueses sinónimo de férias e descanso. Mas também significa mais emprego. Com a chegada da época alta no turismo e na agricultura, multiplicam-se os postos de trabalho. É o chamado efeito sazonal, que ajuda à descida do desemprego em Portugal nesta época do ano. E 2019 não vai ser exceção.

Os dados oficiais do Instituto Nacional de Estatística (INE) só serão conhecidos daqui a mais de uma semana, mas os economistas ouvidos pelo Expresso apontam todos para uma descida da taxa de desemprego no segundo trimestre em relação aos primeiros três meses do ano, altura em que ficou nos 6,8%. Caso se confirme esta previsão, a taxa vai voltar a baixar face ao trimestre anterior ao fim de um ano. A última vez em que isso aconteceu foi precisamente no segundo trimestre de 2018. E cumpre-se a tradição: nas últimas duas décadas o desemprego só não recuou nesta altura em cinco ocasiões: 2002, 2004, 2009, 2010 e 2012.

Na última semana foi conhecido mais um dado que reforçou esta perspetiva: o número de desempregados inscritos nos centros de emprego diminuiu em junho pelo quinto mês consecutivo face ao mês precedente e quebrou a fasquia das 300 mil pessoas pela primeira vez desde dezembro de 1991.“Historicamente, há uma correlação muito forte” entre este indicador e a taxa de desemprego, frisa Márcia Rodrigues, economista do Millennium bcp (ver gráfico). O que “sinaliza uma descida da taxa no segundo trimestre”, antecipa.

“É normal o desemprego descer nesta altura do ano, porque há muita contratação de trabalho sazonal para o verão”, aponta, por sua vez, Francisco Madelino, professor do ISCTE — Instituto Universitário de Lisboa e antigo presidente do Instituto do Emprego e Formação Profissional. Um efeito que se sente em força em Portugal devido “ao forte peso do turismo, que envolve uma série de atividades como a hotelaria, a restauração e outras atividades recreativas, como os espetáculos e concertos, que são muito intensivas em trabalho”, explica. Ao turismo junta-se a agricultura e, também, “a construção, sector que tem vindo a recuperar desde a crise”, acrescenta este especialista.

Desemprego vai descer mais
O que esperar para a taxa de desemprego na segunda metade do ano? Francisco Madelino é cauteloso: “Muito vai depender da evolução da situação internacional.” Até porque “com o grau de abertura da economia portuguesa a atingir níveis nunca vistos, estamos mais dependentes do que acontece lá fora”.

Contudo, Paulino Teixeira, professor da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra, lembra que “a atividade económica portuguesa mantém-se firme no seu crescimento moderado”. E continua: “Domina uma ligeira onda de otimismo, o que fortalece o sentido de segurança no crescimento, ainda que não espetacular.” Com este estado de ânimo favorável “cresce o investimento privado, a cavalo também do acrescido investimento público, a que não será alheio o ciclo eleitoral”. Somando “o bom desempenho do turismo, sector agroalimentar e produção automóvel, a par do crescente espírito empreendedor dos portugueses”, Paulino Teixeira antecipa “a continuação da descida da taxa de desemprego, para níveis que se aproximarão de 6% este ano”. E vai mais longe: “Continuo a pensar ser possível atingir uma taxa inferior a 6% em 2020”.

Previsões apontam para desemprego perto dos 6% no final deste ano e na casa dos 5% em 2020
José Maria Brandão de Brito, economista-chefe do Millennium bcp, considera que “estão criadas as condições para que o emprego continue a crescer e a taxa de desemprego a diminuir, embora de forma muito mais moderada do que nos últimos anos”. Até porque “há alguma moderação do crescimento dos salários”. A sua previsão é uma taxa entre 6% e 6,5% no final de 2019, intervalo em que caem as projeções das principais organizações nacionais e internacionais, oscilando entre 6,1% e 6,3% para 2019, e entre 5,7% e 5,9% para 2020.

Mas nem tudo são rosas no mercado de trabalho. “A população ativa ainda está abaixo do que foi antes da crise”, alerta Francisco Madelino. E pode não voltar a esse nível, porque há fatores de natureza estrutural a ter em conta: com o envelhecimento demográfico, o número de idosos reformados está a aumentar e há cada vez menos jovens na população. Além disso, entram, em regra, mais tarde no mercado de trabalho, por prolongarem os estudos. Ao mesmo tempo, os fluxos de emigração têm vindo a baixar desde que a economia começou a recuperar, mas continuam mais expressivos do que antes da crise.