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14.9.23

BCE sobe taxas em 25 pontos base e coloca juros em níveis históricos

Luís Leitão, ECO - Parceiro CNN Portugal

Apesar da decisão desta quinta-feira, o BCE abre a porta - e pela primeira vez - ao fim do ciclo de subidas das taxas de juro iniciado em julho do ano passado

As taxas de juro na Zona Euro voltaram a subir. De acordo com a decisão tomada esta quinta-feira pelo Comité de Política Monetária do Banco Central Europeu (BCE), as taxas diretoras do BCE vão aumentar 25 pontos base.

Trata-se da décima subida consecutiva desde que em julho do ano passado a autoridade monetária da Zona Euro iniciou um ciclo de subida das taxas de juro. Com esta decisão, a taxa de facilidade permanente de depósitos aumenta para 4%, situando-se no valor mais elevado de sempre.


Significa que, a partir de agora, os recursos depositados pelos bancos comerciais junto do BCE em overnight passarão a ser remunerados à taxa de 4%.
Ciclos de subida do BCE

Com a subida anunciada esta quinta-feira, o Banco Central Europeu coloca a taxa de juro de facilidade permanente de depósito no valor mais elevado desde a entrada em vigor da moeda única.



As restantes taxas diretoras do BCE também sofrem um aumento de 25 pontos base. Desta forma, a taxa de juro das principais operações de refinanciamento passa para 4,5% e a taxa de juro aplicável à facilidade permanente de cedência de liquidez aumenta para 4,75%.


A decisão anunciada pelo BCE não apanhou o mercado totalmente de surpresa, sobretudo depois de na quarta-feira a Reuters ter revelado que o BCE prepara-se para rever em alta as previsões da inflação para o espaço da moeda única para o próximo ano, colocando o Índice Harmonizado de Preços do Consumidor acima dos 3% em 2024.

“As projeções macroeconómicas de setembro para a área do euro elaboradas por especialistas do BCE indicam uma inflação média de 5,6% em 2023, 3,2% em 2024 e 2,1% em 2025, o que representa uma revisão em alta para 2023 e 2024 e uma revisão em baixa relativamente a 2025”, refere o BCE.

A autoridade monetária da Zona Euro liderada por Christine Lagarde justifica que a revisão em alta da inflação em relação a 2023 e 2024 reflete uma trajetória mais elevada para os preços dos produtos energéticos. “As pressões subjacentes sobre os preços permanecem altas, embora a maioria dos indicadores tenha começado a abrandar.”

O BCE considera também que as condições de financiamento tornaram-se mais restritivas e estão a refrear cada vez mais a procura, “o que constitui um importante fator para fazer a inflação regressar ao objetivo”. O efeito desta dinâmica é espelhado por um maior enfraquecimento do enquadramento do comércio internacional, que levou os especialistas do BCE a reduzirem significativamente as suas projeções para o crescimento económico. O BCE espera agora que economia do espaço do euro cresça apenas 0,7% em 2023, 1,0% em 2024 e 1,5% em 2025.

BCE perspetiva que não haverá mais subidas

Pela primeira vez, o BCE abre também a porta a que o ciclo de subidas das taxas de juro desde julho do ano passado tenha chegado ao fim. “Com base na sua atual avaliação, o Conselho do BCE considera que as taxas de juro diretoras atingiram os níveis que – se forem mantidos durante um período suficientemente longo – darão um contributo substancial para o retorno atempado da inflação ao objetivo.”

Na sua declaração, o BCE salienta que “as futuras decisões do Conselho do BCE assegurarão que as taxas de juro diretoras sejam fixadas em níveis suficientemente restritivos, durante o tempo que for necessário.”

No entanto, o BCE sublinha que continuará a seguir uma abordagem dependente dos dados na determinação do nível e da duração adequados da restritividade. “As decisões do Conselho do BCE sobre as taxas de juro continuarão a basear-se na avaliação das perspetivas de inflação, à luz dos dados económicos e financeiros que forem sendo disponibilizados, da dinâmica da inflação subjacente e da força da transmissão da política monetária.”


4.9.23

Juros, pensões, creches: 2024 não começou e já há uma mochila que pesa 3 mil milhões de euros

Diogo  Cavaleiro, in Expresso

Pensões e salários são os principais responsáveis pelas despesas de 6 mil milhões que vão estar no próximo orçamento, mas Christine Lagarde também dá um impulso relevante. Retirada de auxílios de combate aos efeitos da guerra tem impacto positivo nas contas


Mesmo sem nenhuma nova medida, o próximo ano contará com despesas adicionais para o Estado de 3,1 mil milhões de euros. É essa a estimativa do próprio Ministério das Finanças tendo em conta as medidas já tomadas até aqui e cujos custos vão transitar para o próximo ano.

Ou seja, quaisquer outras medidas – incluindo o pacote Mais Habitação, o apoio às rendas e ao crédito, ou eventuais mexidas nos impostos que o Governo tem remetido para a elaboração do próximo Orçamento do Estado para 2024 – vão fazer com que esta mochila seja ainda mais pesada.

A informação consta do Quadro das Políticas Invariantes, que esta sexta-feira, 1 de setembro, foi entregue ao Parlamento pelo gabinete de Fernando Medina. O quadro foi inicialmente noticiado este sábado pelo Público, Eco e Negócios, sendo que o Expresso teve também acesso ao documento.


Os 3,1 mil milhões de euros correspondem ao saldo entre as medidas de despesa adicionais (que criam pressão no próximo Orçamento do Estado) e as que resultam de novas receitas (que aliviam esse mesmo Orçamento). Para 2024, há 3,1 mil milhões de impacto negativo nas contas, porque é o saldo que resta de despesas por pagar, mesmo utilizando todas as novas receitas.

São várias medidas que têm impacto anual, num montante que quase ascende a todo o capital que foi injetado na TAP (3,2 mil milhões de euros) pelo mesmo Executivo. E é um peso adicional num ano em que Fernando Medina, apoiado pelo impacto positivo da inflação nas contas do Estado, já disse que vai dispensar as há muito mal-amadas cativações (dinheiro orçamentado, mas não executado devido a travões das Finanças).


PENSÕES E SALÁRIOS SÃO MAIORES PESOS

As pensões são a fatura que mais pesa nas despesas já assumidas para 2024. Esse custo ascende a 2,6 mil milhões de euros, devido sobretudo à atualização das pensões, bem como ao aumento intercalar deste ano.

É um peso superior ao dobro do encargo com despesas com pessoal do Estado, em que o aumento com base no acordo de rendimentos teve o maior peso – mas não exclusivo. A subida do salário mínimo (de 705 para 760 euros mensais) custou 132 milhões de euros, mas há que contar também para 2024 com as progressões e os aceleradores de carreira.

JUROS PESAM MIL MILHÕES, CRECHES 10% DISSO

A despesa com juros que as administrações públicas têm de pagar está nos mil milhões de euros, um valor que duplica aquele que era o peso da rubrica em 2022.

Foi em 2022 que o Banco Central Europeu (BCE), encabeçado por Christine Lagarde, inverteu a política monetária, elevando o custo do dinheiro de uma forma nunca antes vista, de forma a combater uma inflação que as autoridades foram sempre dizendo que era temporária. A taxa de juro está em 4,25%, há uma nova reunião do Conselho do BCE, que junta os governadores, que pode fazer variá-la. Há um ano, em setembro de 2022, estava em 1,25%, quando em junho seguia em zero. Uma evolução que pesará no financiamento do Estado e que terá impacto no Orçamento para 2024.

Entre as medidas comunicadas por Fernando Medina ao Parlamento, a gratuitidade das creches representa uma nova despesa de 110 milhões, quase 10% do custo com os juros. Esse efeito – que tem impacto desde o ano passado e que tem impacto faseado – tinha um custo estimado pelo Governo para 2023 de 40 milhões, o que quer dizer que quase triplica no espaço de um ano.

Mesmo assim, esta medida fica muito aquém dos 591 milhões de euros adicionais em consumos intermédios. Explica o Governo que são despesas “em particular as relacionadas com a Saúde e os gastos operacionais das diversas entidades, incluindo o aumento expectável de encargos motivados pelo aumento dos preços dos bens e serviços, nomeadamente energéticos”.
NOVAS RECEITAS SÃO MEDIDAS DE AUXÍLIO A SER RETIRADAS

Do lado das receitas, estão sobretudo medidas que o Ministério das Finanças chamou de “medidas do choque geopolítico”, que darão 1,77 mil milhões de euros às contas do próximo ano.

O Jornal de Negócios escreve que aqui encontram-se medidas como os apoios para redução do ISP, o IVA zero e a suspensão da taxa de carbono: medidas criadas para limitar o impacto da guerra que a Rússia iniciou na Ucrânia, e que têm prazo de validade, pese embora o conflito militar ainda se mantenha.

Também a receita que decorre de haver aumento das despesas com pessoal e pensões ajuda (o impacto é mais negativo, mas também tem bons resultados para os bolsos dos contribuintes).

COMO A MOCHILA VAI GANHAR PESO

Em causa aqui estão apenas os dados de medidas que já entraram em vigor, ou que terão impacto em 2024. Todavia, ainda podem ser atualizada até ao Orçamento do Estado, cuja entrega tem de ocorrer no início de outubro. Os números podem ser atualizados (por exemplo, no ano passado, o impacto com os juros foi bem superior ao depois concretizado).

Além disso, sublinha o Governo, “não são apresentadas medidas financiadas pelo Mecanismo de Recuperação e Resiliência, uma vez que não têm impacto no saldo das Administrações Públicas”.

Da mesma forma, o Governo excluiu o pacote Mais Habitação, “uma vez que o processo de aprovação do respetivo diploma ainda não se encontra finalizado”. O Presidente da República chumbou-o, devolvendo a uma Assembleia da República maioritária em que o PS já disse que vai reenviar para promulgação, agora sem hipótese de um travão.

“Serão ainda consideradas nas estimativas do Orçamento do Estado para 2024 as medidas de apoio à renda e bonificação de juros que já tiveram início em 2023 e terão continuidade em 2024”, diz o Governo. Neste ponto, as Finanças já assumiram que o impacto está a ser limitado (sobretudo nas medidas da bonificação), e que irão avançar com um alargamento das medidas.

Este peso de 3,1 mil milhões de euros que segue para 2024 é, ainda assim, inferior ao que existia no ano passado. Em 2023, o quadro equivalente tinha um saldo ainda mais negativo, de 3,9 mil milhões de euros, em que as pensões foram, mais uma vez, o principal fator de pressão.

Não houve propriamente grande diferença nas grandes medidas: salários, consumos intermédios (com saúde) e juros consumiam a maior parte das outras despesas.

30.8.23

Que indicadores nos vão dizer (e quando) se os juros continuam a subir?

Sónia M. Lourenço, in Expresso

A 14 de setembro, o conselho do Banco Central Europeu volta a reunir-se para decidir o próximo passo na sua política monetária. Continuar a subir os juros ou fazer uma pausa é a pergunta para um milhão de euros. A resposta depende, em grande medida, dos últimos dados de vários indicadores. O Expresso explica-lhe quais são


Após nove subidas consecutivas das taxas de juro de referência no espaço de cerca de um ano, é grande a expetativa sobre qual será a decisão do conselho do Banco Central Europeu (BCE) na próxima reunião, agendada para o próximo dia 14 de setembro. “Podemos subir ou podemos fazer uma pausa”, apontou Christine Lagarde, presidente da instituição, na conferência de imprensa onde explicou o aumento dos juros decidido em julho. E frisou que a decisão será “dependente dos dados”, tanto para setembro, como para as reuniões seguintes. Ainda assim, no final da semana passada, no simpósio de Jackson Hole, nos Estados Unidos, Lagarde frisou que a “guerra” contra a inflação ainda “não está ganha”, apesar “dos progressos que têm sido feitos”. Com este pano de fundo, afinal, quais são os indicadores que nos vão dizer - e quando - se os juros continuam a subir? O Expresso explica-lhe em seis perguntas e respostas quais são os mais importantes e quais as últimas leituras.


1

QUANDO SERÁ TOMADA A PRÓXIMA DECISÃO DO BCE SOBRE AS TAXAS DE JURO DE REFERÊNCIA?

A próxima reunião de política monetária do BCE está agendada para 14 de setembro, em Frankfurt. Depois de nove decisões consecutivas de aumento das taxas de juro de referência no espaço de cerca de um ano - as reuniões decorrem com intervalos de seis semanas entre elas - está em cima da mesa uma nova subida ou, em alternativa, fazer um pausa nesta escalada. Na conferência de imprensa no final do último encontro, a 27 de julho, Lagarde salientou que “podemos subir ou podemos fazer uma pausa, e o que for decidido em setembro não é definitivo. Pode variar de uma reunião para outra". E vincou que “estamos deliberadamente dependentes dos dados”.


2

QUEM TOMA A DECISÃO DE SUBIR OU NÃO OS JUROS?

A decisão é tomada nas reuniões de política monetária do Conselho do BCE. O Conselho é formado pelos seis membros da comissão executiva da instituição, mais os governadores dos bancos centrais dos países da zona euro. Contudo, nem todos votam em todas as reuniões. Os membros da comissão executiva - Christine Lagarde (presidente), Luis de Guindos (vice-presidente), Frank Elderson, Philip R. Lane, Fabio Panetta, e Isabel Schnabel - têm direito de voto em todos os encontros. Mas, no caso dos governadores dos bancos centras nacionais o exercício desse direito é rotativo, tendo em conta o tamanho das economias e dos sistemas financeiros nacionais. Por causa deste regime, Mário Centeno, governador do Banco de Portugal, não votou na reunião de julho, mas irá votar no encontro de setembro.


3

QUAIS SÃO OS DADOS DE QUE O BCE ESTÁ “DEPENDENTE” NESSA DECISÃO, COMO REFERIU CHRISTINE LAGARDE?

O primeiro e mais importante é o valor da inflação na zona euro, tanto o indicador global, como o indicador subjacente (que exclui os produtos energéticos e alimentares, com preços mais voláteis). Na reunião de 27 de julho, quando foi decidido o último aumento das taxas de juro de referência - em 25 pontos-base -, os últimos dados disponíveis eram os de junho, mês em que a taxa de inflação na zona euro, medida pela variação homóloga do Índice Harmonizado de Preços no Consumidor (IHPC) tinha descido para os 5,5% (o que comparava com 6,1% em maio). Quanto ao indicador subjacente (excluindo energia, produtos alimentares, bebidas alcoólicas e tabaco) tinha subido em junho para 5,5%, quando estava nos 5,3% em maio. Valores muito acima da fasquia dos 2% que serve de referência para BCE, e que tem a estabilidade dos preços inscrita no seu mandato.


4

JÁ FORAM CONHECIDOS NOVOS VALORES PARA ESTES INDICADORES?

Sim, desde então o Eurostat publicou os dados da inflação na zona euro relativos a julho, que indicam uma nova descida no indicador total, para 5,3%. Contudo, o indicador subjacente (excluindo energia, produtos alimentares, bebidas alcoólicas e tabaco) manteve-se inalterado nos 5,5%. O BCE e outros bancos centrais dão muita importância a este indicador subjacente, já que sinaliza até que ponto as pressões inflacionistas - que no atual surto começaram na energia e produtos alimentares - se disseminaram pela economia, podendo tornar-se mais persistentes. E a informação disponível para o conselho do BCE não vai ficar por aqui. Esta quinta-feira, 31 de agosto, o Eurostat vai divulgar a estimativa rápida para a inflação na zona euro em agosto, embora o valor definitivo (e os detalhes) só sejam publicados depois da reunião do BCE.


5

O BCE TAMBÉM TEM EM CONTA PREVISÕES PARA A EVOLUÇÃO DA INFLAÇÃO NO FUTURO?

Sim. Na reunião de 14 de setembro serão divulgadas as novas projeções dos especialistas do BCE para a esperada descida da inflação nos próximos meses e anos. Números que irão pesar na decisão do Conselho de voltar a subir, ou não, as taxas de juro de referência. Outro fator que os membros do Conselho terão em conta passa pelas expetativas de inflação na zona euro, sobretudo a médio e longo prazos. Na conferência de imprensa após o encontro de julho, Lagarde destacou que a maioria destas medidas “estão atualmente em torno dos 2%”, mas “alguns indicadores permanecem elevados e precisam de ser monitorizados de perto”. Para avaliar essas expetativas sobre a inflação futura na zona euro, o BCE recorre a ferramentas como o inquérito às expetativas dos consumidores. No inquérito de junho (resultados publicados já em agosto), a mediana dessas expetativas para o valor da inflação nos próximos 12 meses voltou a recuar, para 3,4% (3,9% em maio), e para a inflação nos próximos três anos baixou para 2,3% (2,5% em maio). Novos dados serão divulgados a 5 de setembro, ou seja, ainda antes da reunião de dia 14.


6

HÁ OUTROS INDICADORES A TER EM CONTA?

O BCE presta muita atenção à transmissão das decisões de política monetária - subida das taxas de referência - aos mercados de crédito na zona euro. Uma forma de aferir essa transmissão passa pelos resultados do inquérito ao crédito dos bancos da zona euro. No final de julho, o BCE reportava que os critérios de concessão de crédito apertaram adicionalmente para todas as categorias de empréstimos, e que a procura de crédito diminuiu fortemente, tanto por parte das empresas, como das famílias (esta segunda-feira, por exemplo, o Banco de Portugal deu conta da primeira queda no montante do crédito à habitação em Portugal em quase cinco anos).

3.8.23

Analistas preveem mais subidas de juros e aumento das reestruturações de crédito

Por Lusa, in RTP


Na semana passada, o Banco Central Europeu (BCE) voltou a aumentar as taxas diretoras e a presidente da instituição deixou em aberto novos aumentos. Christine Lagarde disse que o resultado da reunião de setembro "pode ser uma subida ou uma pausa", mas garantidamente não será um corte, e destacou que mesmo que o BCE opte por manter inalteradas as três taxas de referência, tal "não quer dizer que seja definitivo".


Com os aumentos em 27 de julho, a subida da taxa de facilidade de depósito passou para 3,75%, a taxa de juro das principais operações de refinanciamento para 4,25% e da taxa de juro aplicável à facilidade permanente de cedência de liquidez para 4,5%.

A analista financeira do departamento de estudos económicos do BPI Vânia Patrícia Duarte afirma que é provável que "possa haver mais uma subida dos juros até final do ano", ainda que o BCE deva estar "já perto do pico de taxas de juro".

Para o analista da Activtrades Ricardo Evangelista o cenário é pouco claro pelo que "tudo vai depender dos dados macroeconómicos e de inflação que forem saindo".

Por um lado, recordou, os últimos dados da inflação na zona euro mostram que esta ainda está alta -apesar de a inflação da zona euro ter abrandado para 5,3% em julho, a inflação subjacente, que exclui energia, alimentação, álcool e tabaco, manteve-se estável nos 5,5%, um nível historicamente alto - mas, por outro lado, os sinais de contração económica poderão fazer abrandar Frankfurt.

A economia da zona euro cresceu, no segundo trimestre do ano, 0,6% na comparação homóloga e 0,3% em cadeia. Já a economia alemã estagnou (0,0%), depois de no primeiro trimestre ter contraído 0,1%.

Para a analista da Forste Finance Carla Santos a "postura de esperar para ver" do BCE "mostra preocupação em relação a uma possível recessão e tenta encontrar um equilíbrio entre taxas de juro e inflação". Ainda assim, acrescenta que, mesmo não acontecendo em setembro, "o mais provável é que o BCE tenha que intervir mais vezes ainda este ano".

Também o analista da XTB Henrique Tomé espera novas subidas e considera que "o grande desafio neste momento do BCE é, sem dúvida, conseguir controlar a inflação e evitar o cenário de recessão em toda a zona euro".

"A atividade económica na zona euro está, de facto, a abrandar e as principais economias europeias, como Alemanha, França e Itália, têm sido fortemente penalizadas com o aumento dos juros, e isto pode levar o BCE a ponderar parar ou abrandar o ritmo da subida dos juros se a atividade económica continua a abrandar ao ritmo atual", disse.

Acompanhando a subida das taxas de juro estarão as taxas de juro Euribor, pelo que a previsão é que ainda subam e comecem a cair em 2024. Na quarta-feira, a taxa Euribor a 12 meses subiu para 4,081%, a Euribor a três meses subiu para 3,733%, enquanto a Euribor a seis meses desceu para 3,944%.

Em Portugal, com mais de 90% dos contratos de crédito à habitação indexados a taxas Euribor, tal terá um impacto direto nas prestações mensais pagas pelas famílias aos bancos.

Só no primeiro semestre houve mais de 62 mil reestruturações e renegociações de créditos e os analistas estimam que estas aumentem. É que, além da subida dos créditos, as famílias têm ainda de fazer face à subida dos preços que os salários não acompanham e as poupanças que têm sido usadas para manter os níveis de consumo deverão começar a ser insuficientes.

Henrique Tomé, da XTB, afirma que num cenário de novos aumentos dos juros "o grau de incumprimento começa a aumentar significativamente e deverá ser um sinal de alerta, tanto para as famílias como para os decisores de política monetária".

Vânia Patrícia Duarte, do departamento de estudos do BPI, recorda que já os "dados do primeiro trimestre revelam um ligeiro aumento dos empréstimos à habitação `non-performing` [em incumprimento]", mais 12 milhões de euros de malparado face ao último trimestre de 2022, e que é "possível que haja uma estabilização ou ligeira deterioração dos indicadores" e aumentos das reestruturações.

Ainda assim, o elevado nível de emprego e as medidas de apoio do Governo deverão atenuar uma situação mais gravosa.

Carla Santos, da Forste, apela às famílias para tentarem reestruturar créditos enquanto ainda podem procurar melhores condições de `spread` e seguros, pois entrando em incumprimento ficam com nome `sinalizado` no Banco de Portugal e perdem poder negocial.

Ricardo Evangelista também prevê que seja "maior o risco de um número crescente de famílias não consiguir cumprir" as obrigações com os bancos, com novos aumentos de juros.

Num comentário ao facto de os bancos garantirem que, para já, não há um problema generalizado no crédito à habitação, mas pontual em algumas franjas - ainda que admitam um agravamento -, o analista citou uma frase de Ernest Hemingway: As falências ocorrem todas da mesma maneira, "primeiro devagar, depois rápido".

31.7.23

Pausa na subida dos juros do BCE? "Mesmo que aconteça, poderá não ser definitiva", avisa Christine Lagarde

Jorge Nascimento Rodrigues Jornalista, in Expresso


Em entrevista, este fim de semana, ao jornal francês “Le Figaro”, a presidente do Banco Central Europeu voltou a admitir que em próxima reunião pode haver uma subida dos juros ou “talvez” até uma pausa. Mas mesmo uma paragem no aumento dos juros nunca será definitiva. Lagarde acredita que uma “aterragem suave” na economia da zona euro é possível e desejável

“Pode haver uma nova subida [dos juros] ou talvez uma pausa” na próxima reunião do Banco Central Europeu (BCE), em setembro, disse Christine Lagarde este fim-de-semana em entrevista ao jornal francês “Le Figaro”. A possibilidade de uma paragem no ciclo de disparo dos juros já tinha sido referida pela presidente do BCE na conferência de imprensa de 27 de julho que se seguiu à divulgação da decisão de fazer um novo aumento de 25 pontos-base (um quarto de ponto percentual) na taxa diretora principal.


Tal como na semana passada, a francesa que dirige o banco central do euro, temperou, na entrevista, a durabilidade de uma pausa: “Uma pausa, mesmo que ocorra em setembro ou mais tarde, poderá não ser definitiva. A inflação tem de regressar de um modo durável ao objetivo [de 2%]”, afirmou Lagarde.

A entrevista foi publicada na véspera de ser divulgada pelo Eurostat a estimativa para a inflação em julho, depois de esta ter desacelerado para 5,5% no mês passado.

Lagarde recordou a nova orientação saída da reunião da semana passada. O BCE regressa à tomada de decisões reunião a reunião. “Estamos num contexto de incerteza e reavaliaremos a situação e a nossa ação reunião a reunião”, refere Lagarde. Mas há uma certeza: “As taxas do BCE serão fixadas em níveis suficientemente restritivos pelo tempo que for necessário para se chegar atempadamente à meta de médio prazo de 2% [na inflação]”.

O IDEAL É UMA ‘ATERRAGEM SUAVE’ NA ZONA EURO

A presidente do BCE admite, na entrevista ao “Le Figaro”, que o aperto monetário em curso “implica necessariamente uma diminuição da atividade económica”, mas repesca a mesma ideia que Jerome Powell tem defendido na Reserva Federal norte-americana (Fed). “A solução ideal - conhecida por aterragem suave - é um abrandamento moderado da atividade económica com uma redução significativa da inflação”.

Os economistas do BCE e do Fundo Monetário Internacional prevêem que a economia da zona euro cresça 0,9% em 2023, metade do ritmo norte-americano, e que inflação se reduza para o patamar de 5%. Mas para que isso aconteça é preciso que não haja nenhuma espiral salários-preços. Lagarde acha que “não há sinais” de uma tal espiral, pois as previsões do BCE pressupõem que as empresas vão absorver nas suas margens de lucros parte do custo induzido pelo aumento dos salários.

O ideal pode ser, no entanto, ameaçado. Lagarde avisa que o “maior risco” é a situação geopolítica agravada pelos problemas climáticos. “Qualquer novo choque - seja no petróleo ou nos preços da alimentação ou uma aceleração da crise climática - é um risco potencial”, conclui a presidente do BCE.