por Sara Capelo, in Sábado
Três anos depois do acordo entre UE e Turquia, há marcações de pedidos de asilo a serem feitas para julho de 2021. E campos que deveriam acolher 648 pessoas e que têm seis vezes maior lotação
Vathy deveria albergar 648 refugiados e requerentes de asilo. Mas neste campo da ilha grega de Samos estão seis vezes mais pessoas, vindas de países tão distantes como o Afeganistão, e que ali aguardam por uma decisão sobre o seu pedido de asilo na Europa.
O alerta é feito pela associação Médicos Sem Fronteiras (MSF) no dia em que se assinalam três anos do acordo entre a União Europeia e a Turquia sobre o acolhimento de migrantes em cinco pontos (hotspots) das ilhas gregas.
E vem na sequência de uma petição assinada, entre outros, pela Amnistia Internacional, a Human Rigths Watch, Médicos do Mundo, Serviço Jesuíta para os Refugiados ou Oxfam e que refere que esta "política que aprisiona as pessoas nas ilhas gregas e as impede de alcançar o território europeu tem provocado um ciclo recorrente e interminável de sobrelotação, de condições de vida de má qualidade e de um acesso aos serviços extremamente débil".
O acordo, assinado a 18 de março de 2016, previa que todos os migrantes que, desde então, entrassem ilegalmente na Grécia fossem devolvidos à Turquia. O objetivo era reduzir as chegadas à Europa por esta rota do mar Egeu. Mas entre a intenção e a realidade, 12 mil pessoas ficaram retidas nestes campos gregos. E, avança a MSF, apesar de o número de chegadas ter diminuído desde a assinatura deste documento, só desde o início de 2019 foram 5 mil os novos migrantes que pisaram a Grécia, vindos de países em conflito, como o Afeganistão, da Síria, do Iraque ou da República do Congo.
"A Grécia tornou-se numa lixeira para deposição de homens, mulheres e crianças cuja proteção a União Europeia falhou", acusou numa nota enviada às redacções Emmanuel Goué, chefe da missão da MSF na Grécia.
E enquanto a burocracia não avança, a vida prossegue diariamente. Segundo esta organização humanitária, entre todos os hotspots gregos, Vahity é a situação mais grave porque o sobrelotação leva a que quem ali está "viva em tendas de campismo ou por baixo de plásticos e rodeada de lixo ou excrementos humanos", descreve Vasilis Stravaridis, diretor-geral da MSF na Grécia. Para os que já não conseguiram lugar no campo propriamente dito, resta-lhes viver nestas tendas ou sob os plásticos entre os arbustos. Chamam-lhe "a selva".
O regresso dos MSF ao campo
O afegão Mansoor, de 21 anos, partilha uma tenda com dois amigos. Mas nenhum tem acesso a água potável para tomar banhou ou lavar as suas roupas. As instalações sanitárias ficam a uma grande distância de, por exemplo, instalações sanitárias. À noite, sempre escura e sem qualquer iluminação pública, as mulheres e as crianças não se atrevem a sair à procura de uma, que fica lá ao longe.
"Eu não vou sem o meu marido, porque tenho medo", relata Farida, que ali chegou no início de março com os quatro filhos.
E depois há os bêbados, que as ameaçam e atacam. E as grávidas com pouco acompanhamento médico. E os idosos, os doentes crónicos, as pessoas que sofrem de distúrbios mentais que nestas condições de "desumanidade", como descreve a MSF, pioram. E 79 menores desacompanhados. Há um mês, a MSF voltou a enviar uma equipa médica para Vathy.
Outros exemplos de sobrelotação
E os problemas que ali detetaram também se têm repetido nos campos de Moria, na ilha Lesbos (onde vivem 5.225 pessoas num espaço previsto para 3.100) e Chios (sobrelotado com 1.361 pessoas, numa área para 1.014).
O palestiniano Shaker, de 35 anos, está há vários meses no campo de Vial, na ilha de Chios. As dificuldades que vivenciou em Gaza, depois a travessia para o Egipto, de barco até à Turquia e à Grécia, causaram na sua mulher problemas psiquiátrios, que Shaker sente estarem a agravar-se pela miséria que encontraram ali. Tem pesadelos e nem sequer consegue sair do contentor, que dividem com outra família, e onde a energia é limitada: só há entre as 2 e as 4 da tarde e depois entre as 6 e a meia-noite.
A iraquiana Iman, que tem diabetes, e o marido, com problemas respiratórios, partilham um destes contentores com os outros 12 membros da sua família. Queixou-se às autoridades que com estes problemas de saúde deveriam viver noutro local. "É o que temos", disseram-lhe. Iman não se resigna: "Viemos para a Europa para fugir à guerra, e é assim que a Europa nos trata".
No Inverno de Moria, diz esta organização, 60% das crianças que os médicos ali assistiram ficaram doentes devido às fracas condições de insalubridade que ali existem.
Excesso de pessoas, burocracia
Estes migrantes encontram ainda uma parede de burocracia difícil de escalar. Exemplo: um jovem chegou do Afeganistão no final do ano passado e foi instalado em Chios. Tem consigo uma folha A4 que lhe serve de documento de identificação enquanto está no campo. É nessa mesma folha que se lê a data em que o seu pedido de asilo estará terminado: 26 de julho de 2021.
São tantos os que, como ele, procuram asilo na Europa que as autoridades gregas só conseguirão terminar o processo dentro de 862 dias.
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18.3.19
22.6.16
Encalhados no quintal da Europa
In "Rádio Renascença"
Fechou-se a porta. Um aperto de mão com a Turquia estancou a torrente de migrantes e refugiados que corre para a Europa. Mas ainda há mais de 50 mil pessoas bloqueadas na Grécia, assombradas pela hipótese de deportação. Alguém há-de dizer nas linhas que se seguem que fechar uma fronteira é como apertar um balão: o ar não desaparece, só se move para outro lado.
Fechou-se a porta. Um aperto de mão com a Turquia estancou a torrente de migrantes e refugiados que corre para a Europa. Mas ainda há mais de 50 mil pessoas bloqueadas na Grécia, assombradas pela hipótese de deportação. Alguém há-de dizer nas linhas que se seguem que fechar uma fronteira é como apertar um balão: o ar não desaparece, só se move para outro lado.
9.6.16
Refugiados obrigados a prostituir-se para sobreviver na Grécia
In "Mundo ao Minuto"
Muitos migrantes homens estão a 'vender o corpo' para conseguir o mínimo de condições.
Dezenas de homens migrantes da Síria e do Afeganistão estão a ser obrigados a vender sexo por dois euros nos campos de refugiados, na Grécia.
Os homens, incluindo alguns adolescentes, estão a ser obrigados a prostituir-se para fazer dinheiro assim que chegam a Atenas, relata o Independent, citando o Global Post.
Enquanto alguns migrantes cobram 30 euros, uma boa parte destes vê-se forçada a aceitar menos de dois euros, por “vergonha de pedir mais”, escreve o jornal.
Este é um problema que tem sido relatado nos vários campos de refugiados em toda a Europa, ainda que seja uma prática mais associada às mulheres. Por essa razão, desconhece-se a verdadeira extensão da prostituição masculina nos campos de refugiados.
Abdullah, um migrante do Afeganistão confessou ter-se prostituído para sobreviver. "Podes vender drogas, vender sexo ou trabalhar. Não havia outro caminho para mim. Quando cheguei ao aeroporto, não tinha sequer 20 centavos”, disse Abdullah, justificando a razão pela qual se viu obrigado a ‘vender’ o corpo.
“Não tenho dinheiro para ir a lado nenhum, não sei o que fazer”, acrescentou ainda. Abdullah vive atualmente no complexo Hellinikon olímpico de Atenas, que abriga mais de 4.000 migrantes.
Muitos migrantes homens estão a 'vender o corpo' para conseguir o mínimo de condições.
Dezenas de homens migrantes da Síria e do Afeganistão estão a ser obrigados a vender sexo por dois euros nos campos de refugiados, na Grécia.
Os homens, incluindo alguns adolescentes, estão a ser obrigados a prostituir-se para fazer dinheiro assim que chegam a Atenas, relata o Independent, citando o Global Post.
Enquanto alguns migrantes cobram 30 euros, uma boa parte destes vê-se forçada a aceitar menos de dois euros, por “vergonha de pedir mais”, escreve o jornal.
Este é um problema que tem sido relatado nos vários campos de refugiados em toda a Europa, ainda que seja uma prática mais associada às mulheres. Por essa razão, desconhece-se a verdadeira extensão da prostituição masculina nos campos de refugiados.
Abdullah, um migrante do Afeganistão confessou ter-se prostituído para sobreviver. "Podes vender drogas, vender sexo ou trabalhar. Não havia outro caminho para mim. Quando cheguei ao aeroporto, não tinha sequer 20 centavos”, disse Abdullah, justificando a razão pela qual se viu obrigado a ‘vender’ o corpo.
“Não tenho dinheiro para ir a lado nenhum, não sei o que fazer”, acrescentou ainda. Abdullah vive atualmente no complexo Hellinikon olímpico de Atenas, que abriga mais de 4.000 migrantes.
12.4.16
Amnistia Internacional denuncia más condições de refugiados na Grécia
In "Sic Notícias"
A organização humanitária Amnistia Internacional (AI) denunciou hoje que milhares de migrantes e refugiados estão "retidos em condições calamitosas" na Grécia.
Uma equipa da Amnistia Internacional inspecionou esta semana os centros para refugiados nas ilhas gregas de Lesbos e Quios, onde estão "retidos de forma arbitrária" cerca de 4.200 pessoas, refere, em comunicado, a organização sediada em Londres.
A maioria dos refugiados e migrantes chegaram à Grécia depois de 20 de março, quando entrou em vigor o acordo entre a União Europeia e Ancara para os devolver à Turquia.
"Nos limites da Europa, os refugiados estão presos sem luz ao fundo do túnel. As instalações defeituosas, feitas à pressa e mal preparadas são um caminho seguro para erros, pisar os direitos e o bem-estar das pessoas mais vulneráveis", disse a vice-diretora da AI para a Europa, Gauri van Gulik.
"Os detidos em Lesbos e Quios não têm virtualmente acesso a ajuda legal, têm acesso limitado a apoio e serviços e praticamente nenhuma informação sobre a sua atual situação e o seu possível destino", lamentou Gauri van Gulik.
As pessoas contactadas pela Amnistia Internacional queixaram-se da qualidade da comida que recebem, da escassez de mantas e de privacidade, assim como de acesso inadequado a assistência médica.
A AI sublinhou que aquelas deficiências são especialmente graves para os grupos que necessitam de cuidados sanitários específicos.
No centro de Moria há três médicos para 2.150 pessoas, segundo a AI, enquanto em Vial, uma equipa sanitária atende os refugiados durante um número limitado de horas e há falta de medicamentos e de equipas especializadas.
Várias mães internadas nos centros queixaram-se de não receberem comida apropriada, nem leite suficiente para aos seus filhos recém-nascidos.
A Amnistia Internacional denuncia que as instalações têm também três vezes mais pessoas do que o previsto e que o sistema da Grécia para recolher pedido de asilo "não está a funcionar, devido à falta de recursos e instruções claras".
Segundo a AI, o único funcionário que se ocupa dos pedidos no centro de Quios assegurou que o número de pedidos de asilo supera a sua capacidade de os processar.
A informação dada aos migrantes e aos refugiados é inadequada, segundo a AI, que relata como algumas pessoas de nacionalidade síria foram obrigadas a assinar documentos que não compreendiam, porque não havia interprete e não receberam cópia dos mesmos.
A organização humanitária Amnistia Internacional (AI) denunciou hoje que milhares de migrantes e refugiados estão "retidos em condições calamitosas" na Grécia.
Uma equipa da Amnistia Internacional inspecionou esta semana os centros para refugiados nas ilhas gregas de Lesbos e Quios, onde estão "retidos de forma arbitrária" cerca de 4.200 pessoas, refere, em comunicado, a organização sediada em Londres.
A maioria dos refugiados e migrantes chegaram à Grécia depois de 20 de março, quando entrou em vigor o acordo entre a União Europeia e Ancara para os devolver à Turquia.
"Nos limites da Europa, os refugiados estão presos sem luz ao fundo do túnel. As instalações defeituosas, feitas à pressa e mal preparadas são um caminho seguro para erros, pisar os direitos e o bem-estar das pessoas mais vulneráveis", disse a vice-diretora da AI para a Europa, Gauri van Gulik.
"Os detidos em Lesbos e Quios não têm virtualmente acesso a ajuda legal, têm acesso limitado a apoio e serviços e praticamente nenhuma informação sobre a sua atual situação e o seu possível destino", lamentou Gauri van Gulik.
As pessoas contactadas pela Amnistia Internacional queixaram-se da qualidade da comida que recebem, da escassez de mantas e de privacidade, assim como de acesso inadequado a assistência médica.
A AI sublinhou que aquelas deficiências são especialmente graves para os grupos que necessitam de cuidados sanitários específicos.
No centro de Moria há três médicos para 2.150 pessoas, segundo a AI, enquanto em Vial, uma equipa sanitária atende os refugiados durante um número limitado de horas e há falta de medicamentos e de equipas especializadas.
Várias mães internadas nos centros queixaram-se de não receberem comida apropriada, nem leite suficiente para aos seus filhos recém-nascidos.
A Amnistia Internacional denuncia que as instalações têm também três vezes mais pessoas do que o previsto e que o sistema da Grécia para recolher pedido de asilo "não está a funcionar, devido à falta de recursos e instruções claras".
Segundo a AI, o único funcionário que se ocupa dos pedidos no centro de Quios assegurou que o número de pedidos de asilo supera a sua capacidade de os processar.
A informação dada aos migrantes e aos refugiados é inadequada, segundo a AI, que relata como algumas pessoas de nacionalidade síria foram obrigadas a assinar documentos que não compreendiam, porque não havia interprete e não receberam cópia dos mesmos.
8.7.15
Cruz Vermelha alemã pronta para disponibilizar ajuda humanitária à Grécia
in Diário de Notícias
Porta-voz da organização salientou que já há problemas na saúde devido à escassez de medicamentos.
A Cruz Vermelha alemã garantiu hoje que está pronta para disponibilizar, com rapidez, ajuda médica e outros tipos de assistência humanitária à Grécia.
"Estamos prontos em todos os aspetos", afirmou o porta-voz da Cruz Vermelha alemã, Dieter Schutz, numa entrevista ao jornal Leipziger Volkszeitung.
"Os pensionistas, os pobres e os refugiados" têm sido os mais duramente atingidos, disse. "Já há problemas com a assistência médica", acrescentou, numa referência à escassez de medicamentos.
Na segunda-feira, o ministro da Economia alemão, Sigmar Gabriel, disse que, na reunião de hoje dos países da zona euro, deverá ser discutida a ajuda humanitária à Grécia, onde os bancos estão fechados desde 28 de junho e há receio de um colapso do sistema financeiro.
Porta-voz da organização salientou que já há problemas na saúde devido à escassez de medicamentos.
A Cruz Vermelha alemã garantiu hoje que está pronta para disponibilizar, com rapidez, ajuda médica e outros tipos de assistência humanitária à Grécia.
"Estamos prontos em todos os aspetos", afirmou o porta-voz da Cruz Vermelha alemã, Dieter Schutz, numa entrevista ao jornal Leipziger Volkszeitung.
"Os pensionistas, os pobres e os refugiados" têm sido os mais duramente atingidos, disse. "Já há problemas com a assistência médica", acrescentou, numa referência à escassez de medicamentos.
Na segunda-feira, o ministro da Economia alemão, Sigmar Gabriel, disse que, na reunião de hoje dos países da zona euro, deverá ser discutida a ajuda humanitária à Grécia, onde os bancos estão fechados desde 28 de junho e há receio de um colapso do sistema financeiro.
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