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3.2.23

Todos são iguais. Mas uns são mais iguais do que outros?

Raquel Raimundo, opinião, in Público

Por mais de uma vez dei comigo a pensar se tivesse que escolher um valor, acima de todos os outros, qual seria. É uma escolha difícil, mas inclino-me muitas vezes para a justiça e coesão social e a defesa dos direitos humanos.

Rita era aluna de 4.º ano quando a conheci, no âmbito de um programa de promoção de competências socioemocionais, que semanalmente implementava na sua turma. Numa atividade do programa, o grupo da Rita tinha que escolher três personagens, de entre um lote de dez, para fazer uma viagem. O objetivo era tornar consciente a noção de estereótipos e de estratégias de negociação. Surpreendentemente, ela e dois colegas selecionaram as mesmas três personagens, enquanto o restante elemento do grupo escolheu três diferentes.

A opção pela estratégia democrática determinaria a seleção das três personagens preferidas pela maioria. No entanto, a Rita não achou justo e interveio, porque o colega ficaria sem nenhuma das suas opções, enquanto os restantes elementos do grupo escolhiam todas as preferidas. Propôs então que os três elementos em maioria elegessem apenas duas das três personagens, cabendo ao colega em desacordo escolher a terceira.

O psicólogo Lawrence Kohlberg, autor da teoria do desenvolvimento moral, postulou três níveis de moralidade, cada um com dois estádios. O sexto e último estádio dentro do nível pós-convencional centra-se nos princípios éticos universais, que transcendem sociedades e leis em busca de princípios eticamente válidos para todos, de igualdade e dignidade. É comum este estádio começar a desenvolver-se na adolescência, embora muitas pessoas não o atinjam ao longo da vida. A Rita, ainda no 1.º ciclo, com os pais presos e aos cuidados da avó, evidenciou-o naquele dia.

Por mais de uma vez dei comigo a pensar se tivesse que escolher um valor, acima de todos os outros, qual seria. É uma escolha difícil, mas inclino-me muitas vezes para a justiça e coesão social e a defesa dos direitos humanos.

As migrações resultantes de deslocações forçadas, dentro e entre fronteiras, devido a causas diversas como catástrofes naturais, alterações climáticas, conflitos armados, perseguição, tráfico humano, violação de direitos humanos e violência generalizada aumentaram 50% em dez anos, segundo dados do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (período de 2009 a 2018). Só no primeiro semestre de 2021, houve um aumento recorde de 82,4 milhões entre fronteiras e de 48 milhões em movimentos internos. Quase metade (42%) das deslocações forçadas refere-se a pessoas refugiadas e requerentes de asilo.

Acresce que, em 2022, continua a ser fomentada a aceitação de políticas e ideologias racistas e sexistas, que têm como base discursos políticos que diabolizam seres humanos e que forçam milhões de pessoas a tentar simplesmente sobreviver. E isto, infelizmente, é papagueado, pelos quatro cantos do mundo, com pouco sentido crítico. Alguns governos consideram o risco de morrer como um meio de dissuasão aceitável face a um número recorde de refugiados, migrantes, deslocados internos e requerentes de asilo. Estas políticas chegaram ao cúmulo de criminalizar aqueles que, vestidos de humanidade e empatia, tentam salvar-lhes a vida.

Com a pandemia assistimos a uma revisão do preço da vida humana em baixa. Segundo o último relatório anual da Amnistia Internacional, enquanto os cidadãos dos países ricos foram chamados para doses de reforço de vacinação, milhões de habitantes do hemisfério sul, incluindo os que se encontravam em maior risco de doença grave ou morte, aguardavam ainda a sua primeira dose. Pior que isso, 500 milhões de vacinas excedentárias nos países desenvolvidos ultrapassaram a sua data de validade e foram inutilizadas, enquanto os que necessitavam desesperadamente de uma vacina tiveram que esperar. E morrer.

Isto é sintomático de um mundo sem bússola moral, com os seus dirigentes a retirarem-se para as cavernas dos interesses nacionais. Um mundo que pensa a humanidade segundo a lógica orwelliana em que todos são iguais, mas uns são mais iguais do que outros. Como se alguns fossem deste planeta e outros de alguma lonjura alienígena.

É fácil julgar os outros pelos seus comportamentos e a nós mesmos pelas intenções. Por isso, quando tenho o privilégio de partilhar um bocadinho do meu tempo com uma miúda incrível como a Rita, com o coração e a mente nos sítios certos, capaz de perceber em dado momento a sua situação de privilégio e agir em conformidade, penso que a vida, no meio de tantos encontrões, também nos possibilita raros encontros.

Como diria Václav Havel:​ “Os direitos humanos são universais e indivisíveis… ao serem negados a alguém no mundo, estão a ser negados, indiretamente, a todas as pessoas. É por isso que não podemos permanecer calados quando enfrentamos a maldade ou a violência. O silêncio apenas os encoraja.”

23.10.15

Trocando em Miúdo: Relator da ONU alerta para desigualdade social

Eduardo Mancasz, In Radioagência Nacional

A riqueza dos 80 mais ricos deste mundo é a mesma, se juntada, das 3,5 milhões de pessoas mais pobres. Se isto não for a maior vergonha, não sei o que é. Palavra de quem? Do relator da ONU sobre Pobreza Extrema e Direitos Humanos, Organização das Nações Unidas, Philip Alston.

O relator da ONU, que diz isto ser motivo de vergonha esta imensa desigualdade entre os mais ricos e os mais pobres, alerta ainda que a desigualdade social só tem aumentado, dramaticamente, nas últimas décadas.

Ele lembra que a desigualdade aumenta não só entre ricos e pobres mas, principalmente, entre os mais ricos e os mais pobres. Tem mais coisa grave acontecendo neste nosso mundo. O relator da ONU garante que 40%, ou quase a metade dos mais prejudicados na distribuição de renda, são justamente os que mais se distanciaram, para pior.

Trocando em Miúdo: Programete sobre temas relacionados a economia e finanças, traduzidos para o cotidiano do cidadão. É publicado de segunda a sexta-feira.

15.12.14

Passos Coelho: Desigualdade social "não foi agravada pela crise"

por Bruno Simões, in Negócios on-line

O primeiro-ministro afirmou, na abertura do último debate quinzenal do ano, que a economia tem registado uma trajectória positiva. Apesar de o crescimento ser “moderado”, é também “sustentável”. E as desigualdades não foram agravadas pela crise, garantiu.

A economia traz notícias positivas, garantiu Passos Coelho esta manhã no Parlamento, na abertura do debate quinzenal. "Creio poder dizer com segurança que nós temos registado um crescimento moderado da nossa economia, mas, no entanto, trata-se de crescimento sustentado", sublinhou. "Esse crescimento sustentado está apoiado em contas externas positivas" e "também em exportações que mantêm uma tendência de crescimento apesar da adversidade externa", destacou.

Sobram alguns problemas, nomeadamente com o desemprego e com as desigualdades sociais. Estas últimas, congratulou-se, não foram agravadas pela situação de crise. "Temos problemas sérios com a desigualdade social que tem de ser corrigida. É matéria que, felizmente, não foi agravada pela crise, mas que temos, de há muitos anos a esta parte, uma assimetria demasiado cavada que tem de ser corrigida e que permanece como risco", sustentou.

Mais à frente no debate, e acossado por críticas da oposição, nomeadamente de Jerónimo de Sousa, do PCP, Passos Coelho deu mais explicações. "A crise podia ter agravado as desigualdades, mas não agravou", assegurou, citando dados do Eurostat. "Vê-se bem, na distribuição do rendimento, aonde é que a quebra foi mais elevada: foi nos rendimentos mais elevados".

Dirigindo-se a Jerónimo de Sousa, Passos afirmou: "pode dizer: o que é que me interessa que quem tem muito perca muito? Não vou dizer o contrário, mas não está à espera que eu negue que houve uma preocupação clara do Governo para que os sacrifícios não estivessem concentrados em quem tem menos", justificou. O primeiro-ministro deixou uma garantia. "Não ignoro que ainda há portugueses que passam sérias dificuldades".

Desemprego baixou à custa de emigração, reconhece Passos

O outro risco "muito considerável para 2015", segundo Passos Coelho, é o desemprego. "Continuamos a ter uma taxa de desemprego muito elevada", apesar de "não tão elevada quanto em outros países europeus". O primeiro-ministro reconheceu que a descida da taxa de desemprego este ano se baseou na emigração. "O desaceleramento do desemprego tem sido feito à custa de todos os que buscaram outras economias para se empregar e para encontrar, no imediato, alternativa ao que não encontraram no seu país", admitiu.

Mas "também à custa da criação de emprego", assinalou. "E o emprego que tem vindo a ser criado é um emprego que, no essencial, é progressivamente menos precário, e portanto, um emprego que não vive de expedientes, é um emprego que tem vindo a corresponder a contratações pelo sector privado e não pelo público". E, em parte, esse emprego "tem vindo a corresponder a uma consequência positiva das políticas activas de emprego", ou seja, estágios.

4.12.13

Papa: Exclusão e desigualdade social 'provocarão a explosão'

in Público on-line

O Papa Francisco alertou hoje que a exclusão e a desigualdade social "provocarão a explosão" da violência, no primeiro documento maior do seu pontificado, onde denuncia um sistema económico mundial injusto.

"Enquanto não se eliminar a exclusão e a desigualdade social, na sociedade e entre vários povos, será impossível erradicar a violência. Acusamos os pobres [...] da violência, mas, sem igualdade de oportunidades, as diferentes formas de agressão e de guerra encontrarão terreno fértil que, tarde ou cedo, provocará a explosão", escreveu o papa na exortação apostólica "Evangelii Gaudium" (A Alegria do Evangelho em português).

O documento de 142 páginas, o primeiro do género do seu pontificado, dá orientações sobre a nova evangelização, na sequência da assembleia sinodal de Outubro de 2012, e, num sentido mais lato, apresenta o programa e as ideias pessoais do Papa.

No documento, Francisco critica o sistema económico mundial, que considera não apenas "injusto na sua raiz", mas que "mata" porque faz predominar a lei do mais forte.

"Como o mandamento de 'não matar' põe um limite claro para assegurar o valor da vida humana, hoje temos que dizer não a uma economia da exclusão e da desigualdade. Essa economia mata", disse o Papa.

O Papa considerou revoltante que "não seja notícia a morte de frio de um idoso na rua e que o seja uma queda de dois pontos na bolsa" de valores.

"Isso é exclusão", exclama o Papa, que denuncia a "actual cultura do descartar".

É uma cultura que não só "deita fora a comida quando há gente que passa fome", como "considera o ser humano um bem de consumo, que se pode usar e logo descartar".

"Já não se trata simplesmente do fenómeno dos excluídos e explorados, mas de serem considerados restos", afirma o Papa argentino.

Jorge Bergoglio critica também aqueles que "continuam a defender as teorias que sustentam que todo o crescimento económico, favorecido pela liberdade de mercado, consegue por si só maior igualdade e inclusão social no mundo".

Segundo o Papa, "vivemos na idolatria do dinheiro" à qual se junta "uma corrupção ramificada e uma evasão fiscal egoísta, que assumiram dimensões mundiais".

A par da crise financeira, segundo o papa, há "uma profunda crise antropológica que nega a primazia do ser humano e o substitui por outros ídolos".

O Papa lamenta que enquanto "os ganhos de poucos crescem exponencialmente", os da maioria estejam "cada vez mais longe do bem-estar dessa minoria feliz".

Este desequilíbrio social, continua o Papa, "provém de ideologias que defendem a autonomia absoluta dos mercados e da especulação financeira" e que estão a negar "o direito de controlo dos Estados, responsáveis por velar pelo bem comum".

Por isso, o Papa dirige-se aos líderes políticos para lhes pedir "uma reforma financeira que não ignore a ética" e para que encarem "este desafio com determinação e visão de futuro".

"O dinheiro deve servir e não governar", sentencia o Papa, assegurando que apesar de "amar a todos, ricos e pobres" tem a obrigação "de recordar que os ricos devem ajudar os pobres, respeitá-los e promovê-los".

Numa outra passagem do longo texto, o papa considera que, apesar de ser tão denegrida, a política "é uma das formas mais importantes de caridade"

"Peço ao senhor que nos ofereça mais políticos a quem doa a verdade da vida dos pobres", disse.

Lusa/SOL

29.10.13

Desigualdade social sofre forte agravamento desde 2010

por Lusa, texto publicado por Paula Mourato, in Diário de Notícias

O economista Carlos Farinha Rodrigues advertiu hoje que, desde 2010, todos os indicadores de desigualdade social apontam para um "forte agravamento", que se traduziu em mais precariedade e pobreza em Portugal.

"Há claramente um conjunto de indicadores que permite dizer que o processo de redução de pobreza foi invertido e que, neste momento, voltámos a um ciclo de aumento da pobreza em Portugal", afirmou o economista, que falava à Lusa a propósito do Dia Internacional para a Erradicação da Pobreza, que se assinala na quinta-feira.

Até 2009 houve "um percurso de alguma redução sustentada da pobreza", que permitiu passar de taxas de 22 a 23% para 18% neste ano e reduzir o diferencial entre a taxa em Portugal e a média da União Europeia de seis pontos percentuais para dois pontos percentuais.

"O nosso passado recente mostra-nos que é possível, ainda que difícil, a redução da pobreza". Contudo, depois de 2010, "muito como consequência das políticas restritivas que foram seguidas desde então, tem havido uma inversão clara dessa evolução", disse o economista, que tem analisado as desigualdades e a pobreza em Portugal.

Segundo o autor do estudo "Desigualdade económica em Portugal", pela primeira vez, em 2011 verificou-se "uma descida do valor absoluto da linha de pobreza", um facto que "é relativamente inédito em Portugal desde que há estatísticas".

"Estas políticas, ao provocarem uma baixa dos rendimentos das famílias, conduziram a uma baixa do limiar de pobreza, o que fez com que algumas famílias, antes consideradas pobres, deixassem de o ser estatisticamente, apesar da sua situação não se ter alterado ou ter piorado", explicou.

Por esta razão, disse, os indicadores existentes atualmente devem ser lidos com "alguma reserva", porque correspondem a uma diminuição da linha de pobreza.

Carlos Farinha Rodrigues explicou que, se a linha de pobreza de 2009 fosse mantida, tendo em conta a inflação, havia "um agravamento claro da pobreza em Portugal", passando de cerca de 18% em 2009 para valores de 23% em 2012.

"Os poucos indicadores" que o INE publicou desde o início das políticas de austeridade mostram que, a partir de 2010, todos os indicadores de desigualdade sofreram um "forte agravamento".

O especialista exemplificou que, em 2009, o índice de Gini (indicador mais utilizado para medir a pobreza) se situava nos 33,7% e, em 2011, já estava em 34,5%.

"Também aqui há uma inversão da redução da desigualdade anterior, que foi menor que a redução da taxa de pobreza, mas que também era significativa", justificou.

Para Carlos Farinha Rodrigues, "a consequência da atual crise e, acima de tudo, das medidas implementadas para combater a crise tem-se traduzido claramente num agravamento da precariedade social, da pobreza e da desigualdade".

21.3.13

Três milhões de espanhóis em pobreza extrema

por Luís Manuel Cabral, in Diário de Notícias

A desigualdade social está cada vez mais acentuada em Espanha Fotografia © Juan Medina - ReutersA crise está a atingir de tal forma a sociedade espanhola que já existem no país três milhões de pessoas em situação de pobreza extrema, a antecâmara da exclusão social.

O cenário negro foi traçado por um estudo da Fundação Fossea intitulado "Desigualdade e Direitos Sociais. Análises e Perspectivas 2013" elaborado a partir de diferentes fontes oficiais e revela uma situação dramática e sem precedentes nos tempos recentes.

Segundo a entidade, o colapso financeiro das famílias espanholas resulta do efeito combinado da quebra de receitas (4%) e da subida dos preços (10%), traduzindo-se num "empobrecimento galopante", sobretudo entre os mais desfavorecidos. Em declarações ao jornal espanhol "El País", Carlos Susías, responsável da Rede Contra a Pobreza e a Exclusão Social, afirma que "a evolução do empobrecimento em Espanha nos últimos anos é uma verdadeira barbaridade".

Uma das consequências da crise é o desemprego e o aumento da pobreza. Outra, "o aumento sem precedentes da desigualdade e da distribuição da riqueza na sociedade", diz Susías. Segundo o "El País", desde 2006, as receitas das pessoas com menos recursos cairam todos os anos cerca de 5% mesmo que em relação aos mais favorecidos a tendência tenha sido inversa. O resultado é que a diferença entre os mais desfavorecidos e os mais ricos aumentou 30%.