por Lusa, texto publicado por Paula Mourato, in Diário de Notícias
O economista Carlos Farinha Rodrigues advertiu hoje que, desde 2010, todos os indicadores de desigualdade social apontam para um "forte agravamento", que se traduziu em mais precariedade e pobreza em Portugal.
"Há claramente um conjunto de indicadores que permite dizer que o processo de redução de pobreza foi invertido e que, neste momento, voltámos a um ciclo de aumento da pobreza em Portugal", afirmou o economista, que falava à Lusa a propósito do Dia Internacional para a Erradicação da Pobreza, que se assinala na quinta-feira.
Até 2009 houve "um percurso de alguma redução sustentada da pobreza", que permitiu passar de taxas de 22 a 23% para 18% neste ano e reduzir o diferencial entre a taxa em Portugal e a média da União Europeia de seis pontos percentuais para dois pontos percentuais.
"O nosso passado recente mostra-nos que é possível, ainda que difícil, a redução da pobreza". Contudo, depois de 2010, "muito como consequência das políticas restritivas que foram seguidas desde então, tem havido uma inversão clara dessa evolução", disse o economista, que tem analisado as desigualdades e a pobreza em Portugal.
Segundo o autor do estudo "Desigualdade económica em Portugal", pela primeira vez, em 2011 verificou-se "uma descida do valor absoluto da linha de pobreza", um facto que "é relativamente inédito em Portugal desde que há estatísticas".
"Estas políticas, ao provocarem uma baixa dos rendimentos das famílias, conduziram a uma baixa do limiar de pobreza, o que fez com que algumas famílias, antes consideradas pobres, deixassem de o ser estatisticamente, apesar da sua situação não se ter alterado ou ter piorado", explicou.
Por esta razão, disse, os indicadores existentes atualmente devem ser lidos com "alguma reserva", porque correspondem a uma diminuição da linha de pobreza.
Carlos Farinha Rodrigues explicou que, se a linha de pobreza de 2009 fosse mantida, tendo em conta a inflação, havia "um agravamento claro da pobreza em Portugal", passando de cerca de 18% em 2009 para valores de 23% em 2012.
"Os poucos indicadores" que o INE publicou desde o início das políticas de austeridade mostram que, a partir de 2010, todos os indicadores de desigualdade sofreram um "forte agravamento".
O especialista exemplificou que, em 2009, o índice de Gini (indicador mais utilizado para medir a pobreza) se situava nos 33,7% e, em 2011, já estava em 34,5%.
"Também aqui há uma inversão da redução da desigualdade anterior, que foi menor que a redução da taxa de pobreza, mas que também era significativa", justificou.
Para Carlos Farinha Rodrigues, "a consequência da atual crise e, acima de tudo, das medidas implementadas para combater a crise tem-se traduzido claramente num agravamento da precariedade social, da pobreza e da desigualdade".