30.10.13

Uma em cada dez famílias inquiridas em estudo da DECO vive em 'pobreza real'

in Sol

Uma em cada dez famílias inquiridas num estudo da DECO vive em "pobreza real", sem possibilidades de pagar a renda da casa, as contas da água e luz, o crédito automóvel ou tratamentos médicos essenciais.

O inquérito, publicado na edição de Novembro da revista Proteste, revela que 38% das famílias portuguesas chegam ao fim do mês com um saldo negativo de cerca de 300 euros.

"Num país acossado por um resgate financeiro, incerto sobre o seu futuro, a conviver diariamente com a presença do Fundo Monetário Internacional, a braços com cortes salariais inéditos em décadas e a assistir a uma vaga de emigração persistente, os portugueses acusam os sintomas de uma crise que tarda em abrandar", sublinha o estudo.

O estudo foi realizado em Espanha, Itália e Bélgica e visou conhecer os hábitos e as dificuldades das famílias com despesas básicas (prestação da casa, alimentação, cuidados de saúde e educação) e analisar o impacto da conjuntura económico-financeira na qualidade de vida.

Para realizar o estudo, a associação de defesa do consumidor enviou questionários pelo correio e por e-mail a uma amostra aleatória da população, tendo recolhido 2.230 inquéritos válidos em Abril e Maio.

Dos países que participaram no estudo, Portugal é o que apresenta os rendimentos mais baixos. O rendimento médio mensal por agregado varia entre os 1.428 euros em Portugal e os 2.819 euros na Bélgica.

A pobreza real afecta cerca de 12% das famílias portuguesas, um número três vezes maior ao da Bélgica (4%) e um pouco abaixo ao da Espanha (15%).

Um terço das famílias vive com menos de 1.000 euros mensais, enquanto um em cada quatro lares vive com mais de 1.750 euros.

Os números denunciam um "fosso colossal": 5% da população mais rica ganha, em média, 12 vezes mais do que os 5% da população mais pobre.

Lisboa e Vale do Tejo surge como a zona onde o rendimento per capita é mais elevado. A pobreza é "mais acentuada" no Norte (15%) e no Alentejo (16%).

Quase 70% dos inquiridos disseram que a sua situação financeira "piorou bastante" ao longo do último ano.

O poder de compra baixou e, para a grande maioria das famílias com a "corda na garganta", a primeira medida é cortar nas despesas com lazer ou entretenimento.

"Uma semana de férias fora de casa é uma ideia proibida para quase metade das famílias por ser uma despesa incomportável", refere o estudo.

Desde o início de 2012, num quarto dos lares portugueses, pelo menos, um dos seus membros perdeu o emprego.

O pessimismo face ao futuro levou 30% dos inquiridos a manifestarem receio de que alguém no agregado possa perder o emprego no próximo ano, sendo emigrar uma hipótese "seriamente considerada" por cerca de 20% das famílias inquiridas.

Uma das consequências de situações financeiras dramáticas é a perda de casa e do carro por impossibilidade de pagamento, mas também o abandono escolar ou o impedimento de prosseguir um curso superior.

Devido a dívidas, há famílias a confrontarem-se com bens confiscados, contas bancárias canceladas e ainda o salário parcialmente penhorado.

Segundo a DECO, uma das saídas para a situação de endividamento é a negociação com os bancos.

Entre as famílias que o fizeram, 35% conseguiram prolongar o prazo de pagamento. Porém, a solução para 10% dos inquiridos foi a contratação de outro crédito para pagar as dívidas, "caminho que pode agravar as dificuldades económicas do endividado".

Lusa/SOL