24.10.13

Moçambique, o país pobre que tanto promete

Ana Fernandes, in Público on-line

Gás natural e carvão vieram dar novas perspectivas de crescimento para Moçambique.

Um dos mais pobres entre os pobres. Moçambique era – e ainda é – um país muito dependente da ajuda internacional onde todos os indicadores sobre desenvolvimento humano apresentam os seus valores mais baixos: A esperança de vida ronda os 50 anos e 80% da população trabalhadora é analfabeta, para dar alguns exemplos. Mas em 2011, uma nova luz acendeu-se no mar, com a descoberta de imensas reservas de gás que prometem colocar o país entre os dez principais produtores mundiais. A exploração deste manancial, assim como das importantes reservas de carvão em terra, prometem impulsionar a economia do país.

As promessas não se ficam pelo sector energético. Em plena crise europeia, Moçambique surgiu como uma espécie de Eldorado, sobretudo para os portugueses. Com perspectivas de crescimento acima dos 7% em 2013, o país é carente de infra-estruturas, especialização de mão-de-obra, investimento e tem ainda muito que fazer em sectores como o turismo, a agricultura, os transportes ou o sector financeiro, para citar alguns.

No início da semana passada, a consultora Business Monitor International (BMI) indicava que Moçambique deverá atingir um pico de crescimento de 15% em 2020, quando as reservas de gás entrarem em produção. De acordo com o relatório sobre o país, citado pela Bloomberg, a economia moçambicana vai crescer 7,1% este ano, desacelerando face aos 7,5% do ano passado, "devido ao impacto que as inundações tiveram na produção agrícola no primeiro trimestre".

Segundo o FMI, as previsões apontam para um crescimento de 7% este ano e de 8,5% em 2014

“A ocorrência de cheias no início de 2013 provocou o deslocamento de população e a destruição de colheitas e de infra-estruturas, obrigando as autoridades a proteger os mais vulneráveis e a reconstruir as infra-estruturas danificadas. As previsões apontam para algum abrandamento do crescimento económico em 2013, devendo atingir ainda assim 7,0%, com base no impulso que deverá registar a actividade dos grandes projectos. Contudo, o subsequente aumento das importações de bens e serviços acarretará nova degradação da conta corrente externa”, explica, por sua vez, o Banco de Portugal, no seu mais recente relatório sobre Moçambique.

Também o FMI adiantou, no início do mês, previsões que apontavam para um crescimento de 7% este ano e de 8,5% em 2014. "A previsão de crescimento é razoavelmente robusta, alicerçada no investimento em infra-estruturas, energia e projectos de recursos naturais, bem como num aumento da produção dos projectos que agora entram em funcionamento”, afirmou o FMI.

A este cenário acrescia um panorama político favorável, pois, para os técnicos da BMI, "apesar de se manterem desafios significativos, há razões para acreditar que o progresso que está a ser feito para resolver o diferendo entre a Frelimo e a Renamo vai ser alcançado, apesar dos líderes dos dois partidos e não por causa deles”. Uma previsão agora abalada.

Não obstante as altas expectativas em relação ao país, o certo é que a pobreza continua a reinar: pelo menos 54% da população moçambicana vive com menos de um dólar por dia. Em Abril, a relatora especial da ONU sobre a pobreza e direitos humanos, Magdalena Sepúlveda, denunciou a existência de indícios do agravamento da pobreza entre as camadas mais desfavorecidas em Moçambique, apontando “a falta de vontade política”, as fraquezas legais e as insuficiência de quadros qualificados como algumas das razões para o problema.

O ouro energético
O bom comportamento económico de Moçambique tem uma base relativamente alargada, “tendo sido sobretudo dinamizado, em 2012, pela produção do sector agrícola (responsável por mais de 23% do produto real), dos transportes e comunicações (reforçando continuadamente o seu peso no total), da indústria transformadora e do comércio, dos serviços financeiros e da indústria de extracção mineira (como reflexo do arranque de produção das minas de carvão na província de Tete)”, explica o Banco de Portugal.