29.10.13

Presidente da Cruz Vermelha alerta para aumento dos 'trabalhadores pobres'

in Sol

O presidente da Cruz Vermelha Portuguesa (CVP) alertou hoje para o crescimento em Portugal dos "chamados trabalhadores pobres", pessoas que trabalham, mas não ganham o suficiente para viver.

"É uma situação relativamente crescente e nova ao nível da União Europeia", disse Luís Barbosa em entrevista à agência Lusa, garantindo que a instituição está atenta a esta nova situação.

Estes "trabalhadores pobres" juntam-se aos que a CVP tem vindo a ajudar ao longo da sua história.

"Normalmente as pessoas ganhavam mais ou menos, mas isso permitia fazerem a sua vida com algum nível de dignidade e qualidade", disse.

Neste momento, adiantou, "isso não é assim e começa a haver um conjunto de pessoas que trabalham, ou trabalha um elemento da família e o outro está desempregado, mas que os recursos que têm não chegam para fazer a sua vida normal".

Além de situações de desemprego e de endividamento, a instituição encontra ainda "pessoas que estão perdidas perante o mundo que as cerca e que é hoje diferente daquele em que viveram nas últimas décadas".

"Encontrámos recentemente uma pessoa que se arruinou e destroçou a família porque jogava no euromilhões desmedidamente. Hoje não é preciso ir ao casino para gastar muito dinheiro. O euromilhões permite isso", contou.

Luís Barbosa fala ainda de manifestações "envergonhadas" de pobreza: "Muitas vezes as pessoas vêm ter connosco e pedem-nos para não dizer nada às delegações que estão mais próximas porque não querem que a situação seja identificada".

A CVP está ainda a ser contactada por empresas que pedem que pedem para receber os seus empregados que estão em situação de crise.

"O que estamos a fazer é, através de uma estrutural central e das nossas delegações, a estudar o problema e depois entregamos à entidade patronal que, de uma forma indirecta, também está a ajudar", adiantou.

Segundo Luís Barbosa, esta é uma forma das empresas abrirem as portas para que os trabalhadores possam entrar em contacto com a instituição, pois "é mais fácil contactarem com a Cruz Vermelha do que com a entidade patronal".

Sobre a existência de pessoas com fome, em Portugal, Luís Barbosa sublinha que a distribuição de alimentos através das várias instituições "é muito vasta".

"Não quer dizer que não haja pessoas com fome, mas admito que não estejamos numa situação extrema. Há depois deficiências da alimentação. Uma coisa é ter fome outra é fome de natureza qualitativa", disse.

Sobre a crise na Europa e em Portugal, Luís Barbosa reconhece que se vive "uma situação difícil" e alerta: "Quando os limites da linha de pobreza vão além de certos limites há perigos que podem vir a seguir".

"É bom que nós atentemos a esta situação, precisamente para evitar esses perigos das situações de maior violência que normalmente se podem gerar", disse.

Para o responsável da CVP, "o Estado social como foi concebido depois da Segunda Guerra Mundial, e que era uma resposta ao sistema soviético, está em crise em toda a Europa e não apenas em Portugal".

"O Estado social vai ter de ser reformado e possivelmente a responsabilidade do cidadão vai ter de aumentar e a responsabilidade do Estado e das instituições vai se ver reduzida", defendeu.

Entretanto, assegurou, "há instituições como a Cruz Vermelha que, vivendo muito do voluntariado, são formas relativamente económicas de desenvolver a solidariedade social".

Lusa/SOL