por André Cabrita Mendes, in Diário de Notícias
Cada português consumiu menos 1500 euros desde 2011
Cada português gastou menos 760 euros anualmente, num total de 1520 euros apenas nos últimos dois anos. A queda no consumo individual levou a que entrassem menos 7,6 mil milhões de euros na economia nacional entre o segundo trimestre de 2011 - altura da entrada da troika em Portugal - e o segundo trimestre deste ano.
Fazendo as contas, cada português perdeu 6,7% do seu poder de compra durante este período, segundo os dados divulgados ontem pelo gabinete de estatísticas europeu, o Eurostat.
A par da descida violenta do consumo individual, o rendimento bruto disponível das famílias portuguesas também caiu 640 euros durante este período, menos 320 euros por ano, ou seja, os lares perderam cerca de 3,2 mil milhões de euros entre 2011 e 2013, num total de 2,6% do seu rendimento.
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“Estas descidas eram expectáveis”, disse ao DN/Dinheiro Vivo o economista Bagão Félix. “Existem três fatores principais para a quebra do rendimento disponível e também do consumo: há o efeito do desemprego, que é muito forte, há o efeito fiscal agravado e há o efeito de diminuição real dos salários”.
Os dados do Eurostat revelam assim uma crua realidade: enquanto os países periféricos têm vindo a perder rendimento e poder de compra, os países no coração da Europa continuam sem sentir os efeitos da crise, com os mesmos indicadores a aumentarem, como no motor da economia europeia, a Alemanha. Entre 2011 e 2013, as famílias germânicas viram o seu rendimento disponível aumentar em quase 5%. O consumo também aumentou, com cada alemão a gastar mais 5,3% durante este período. Também França assistiu a um aumento de 2,2% do rendimento das famílias e de 2,8% do consumo individual. Mais a sul, em Espanha, outro país gravemente atingido pela crise económica, as famílias também perderam 3,6% do seu rendimento, com os cidadãos a reduzirem em 1,5% o seu consumo.
Por outro lado, a quebra do consumo em Portugal teve um efeito positivo, como sublinha o economista Pedro Cosme Vieira, devido à diminuição das importações. “Isto é uma correção natural da economia face ao exterior: agora a nossa balança comercial está equilibrada”, afirmou o professor da Faculdade de Economia do Porto.
Nos 28 países da União Europeia, os números demonstram assim que a crise sente-se de forma mais aguda na periferia: o rendimento das famílias cresceu 3,1% e o consumo individual subiu 3,6%. Nos 17 países da zona euro, o panorama é semelhante: as famílias tiveram um aumento de rendimento de 1,4%, enquanto o consumo individual cresceu 1,8% entre 2011 e 2013.