Fernando Nobre, presidente da AMI, in Visão on-line
A 17 de outubro, assinala-se o dia internacional para a erradicação da pobreza, e eu não consigo deixar de pensar na célebre frase de Nelson Mandela "Tudo parece impossível até ser feito"
Tenho dito várias vezes que, sem a erradicação da pobreza e da miséria no Mundo, e em Portugal, ou pelo menos, uma demonstração inequívoca duma vontade política determinada em avançar decisivamente nesse sentido, a sociedade humana caminhará inelutavelmente para a violência e a insegurança extremadas. Pois bem, continuo a manter essa afirmação.
Já o disse e volto a repetir: se não acabarmos com essa grande vergonha mundial, mas também nacional, seremos todos responsáveis pelo advir funesto, cujos sinais, até hoje ignorados e desprezados, já são mais que visíveis.
Porém, também mantenho as minhas esperanças e acredito no Ser Humano. Se assim não fosse, não teria fundado uma instituição como a AMI.
São seis, as minhas esperanças, mas não escondo que coloco nas pessoas e no surgimento e fortalecimento da Cidadania Global Solidária a minha maior esperança.
Também acredito numa Espiritualidade bem alicerçada na compreensão e aceitação do outro, e no que eu entendo ser, porque profundamente enraizados em mim por educação e longa vivência humanitária, os Valores Universais, comummente aceites, de sempre.
Esses Valores, que não constituem em si a Verdade mas que a ela nos deverão levar, são sem ordem particular: a Integridade, a Dignidade, a Honra, a Coerência, a Sensibilidade, a Solidariedade, a Fraternidade, a Justiça, a Tolerância, a Equidade, o Amor e o Respeito que devemos aos outros, na sua total diversidade, e a nós próprios...
Sinto-me esperançoso face à perspetiva de um mundo melhor, quando verifico que, ao nível global, a proporção de pessoas a viver em pobreza extrema, desceu para metade; que nas regiões em desenvolvimento, a proporção de pessoas a viver com menos de 1,25 USD por dia, passou de 47% em 1990 para 22% em 2010, 5 anos antes da data definida para alcançar os Objetivos de Desenvolvimento do Milénio; e que a proporção de pessoas subnutridas no mundo, baixou de 23,2% em 1990/1992 para 14,9% em 2010/2012.
Esperançoso mas sem nunca deixar de ser diligente, uma vez que ainda resta muito por fazer, na medida em que, por exemplo, uma em cada oito pessoas no mundo ainda passa fome e, segundo dados do Eurostat, em 2011, 24% dos portugueses viviam em risco de pobreza e exclusão social.
Torna-se por isso fundamental contribuir para a edificação de uma sociedade mobilizada, motivada e solidária, que recusa olhar para a pobreza como uma fatalidade ou um qualquer atavismo lusitano, e que tenha a coragem de fazer a diferença.
Acabar com a Pobreza e a Miséria é imperioso, é inalienável, é simplesmente uma questão de inteligência, de humanismo. Só assim poderemos continuar em Democracia, em Paz e em Segurança.
Tudo parece impossível até ser feito e a verdade é que a conquista de um novo mundo surge, na maior parte das vezes, como uma utopia, mas o segredo, se é que assim pode ser considerado, tal é a sua evidência, é nunca desistir, qualquer que seja a adversidade.
Porque, muitas vezes, como já se confirmou no passado, as utopias de hoje serão as realidades de amanhã. Basta haver vontade e determinação em se conseguir a transformação imprescindível!