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27.4.23

Governo tem como meta reduzir a taxa de pobreza monetária para 10%

Luís Leitão, in ECO



Além de ter como objetivo erradicar a pobreza, a ministra da Presidência revela que o Governo quer apoiar a competitividade das empresas para alcançar um peso de 53% das exportações no PIB.


O Governo apresentou e discutiu esta quarta-feira o Programa Nacional de Reformas (PNR) no Parlamento, que aponta para a estratégia de médio prazo do Governo para o desenvolvimento do país.

Durante a sua intervenção, Mariana da Silva Vieira destacou que “o PNR demonstra a convergência das opções de política que orientam a ação política a nível nacional com os constrangimentos que são identificados pela Comissão Europeia, como cumpre fazer o PNR.”


A ministra da Presidência referiu também que “o PNR dá sequência à trajetória que Portugal registou desde 2015 até ao eclodir da crise sanitária provocada pela pandemia doença Covid-19, seguida pela crise despoletada pela evasão da Ucrânia pela Rússia.”

Aos deputados, Mariana Vieira da Silva, ministra da Presidência, referiu que nas metas do Governo explanadas no PNR e no Programa de Estabilidade 2023-2027 está a erradicação da pobreza que passa por “reduzir a taxa de pobreza monetária para 10%.”

Mariana Vieira da Silva revelou ainda que “o PNR reconhece e pretende dar sequência aos avanços nos últimos anos por forma a garantir o crescimento económico sustentado e partilhado, convergindo com a média europeia no peso das remunerações do PIB até 2026″.

Na sua intervenção no plenário, a ministra da Presidência anunciou ainda que o Governo pretende “acelerar a transição energética, atingindo pelo menos 80% de renováveis na produção de eletricidade” e “apoiar a competitividade das nossas empresas de forma a alcançar um peso de 53% das exportações no PIB até 2030.”

Em resposta às críticas colocadas pela bancada do PSD sobre o trabalho que o Governo “não fez” desde 2015 em matéria de coesão social, Mariana Vieira da Silva salientou que, “desde logo cumprimos as leis das Finanças Locais, que foi para todos os autarcas um grande avanço e, depois, cumprimos não aqueles modelos piloto mas o maior processo de descentralização feito por acordo com a Associação Nacional de Municípios e claro que trabalhamos dia a dia para melhorar as condições para o seu cumprimento.”

26.12.22

Presidente da República quer que no próximo ano haja menos pobreza

in RTP

O Presidente da República quer que no próximo ano haja menos pobreza e mais desenvolvimento, justiça e paz.

A mensagem foi deixada na cerimónia da entrega da Vela da Cáritas Portuguesa no Palácio de Belém .

O Presidente da República recebeu também o Corpo Nacional de Escutas, para a apresentação da Luz da Paz de Belém.

Marcelo Rebelo de Sousa sublinha que sempre que aumentam as desigualdades é a paz que fica em causa.

24.10.22

Marcelo pede “novos modelos de acção” para concretizar a estratégia antipobreza adoptada em 2021

in Público online

No Dia Internacional para a Erradicação da Pobreza, o Presidente da República pede “vontade e ambição” no combate a esta realidade “que persiste” na sociedade portuguesa.

O Presidente da República defendeu nesta segunda-feira a necessidade de Portugal avançar na concretização das metas da Estratégia Nacional de Combate à Pobreza 2021-2030 com “novos modelos de acção” para enfrentar o problema, e lembrou que “quase dois milhões de portugueses são pobres”.

Numa mensagem colocada no portal da Presidência na Internet, por ocasião do Dia Internacional para a Erradicação da Pobreza, Marcelo Rebelo de Sousa pede “vontade e ambição” no combate a esta realidade “que persiste” na sociedade portuguesa.

“Falar de combate à pobreza e às desigualdades em Portugal é antes de mais falar de uma sociedade envelhecida, onde os mais velhos correm maior risco de pobreza e exclusão social. Falar de combate à pobreza e às desigualdades em Portugal é falar de uma sociedade onde as causas estruturais da pobreza se cristalizaram ao longo de anos, para não dizer décadas, e que passam de geração em geração”, lembra o chefe de Estado.

Falar de combate à pobreza é também, segundo o Presidente da República, “falar nesse lastro que afecta o nosso presente, e que terá consequências no nosso futuro, porque atinge as nossas crianças”, mas também “assumir esta realidade e olhá-la de frente, apontando caminhos para a sua resolução”. “Caminhos que coloquem este desafio, e sobretudo o desafio do combate à pobreza infantil e entre os idosos, enquanto desígnio nacional”, acrescenta.

Marcelo considera que o caminho “começou já a ser trilhado com a publicação, no final do ano passado, da Estratégia Nacional de Combate à Pobreza 2021-2030, com objectivos mensuráveis, nomeadamente retirando 660 mil pessoas da situação de pobreza e reduzindo para metade a taxa de pobreza nas crianças e entre trabalhadores”.

“Impõe-se, e as efemérides como a que hoje se assinala servem para sublinhar esse facto, a concretização destas metas, com uma abordagem diferente à pobreza, encarada como um desafio que todos temos de partilhar, adoptando novos modelos de acção, capazes de enfrentar as novas formas de pobreza que invadem o mundo e que marcarão de maneira decisiva as próximas décadas”, conclui o chefe de Estado.

O Dia Internacional para a Erradicação da Pobreza foi também assinalado pela Unicef Portugal. A organização aproveitou para sinalizar que esta é uma realidade que “já está a afectar as crianças e os jovens” no país.

21.10.22

Meta para erradicação da pobreza de 3% até 2030 está longe

Por Marisa David *, in Notícias de Aveiro

A ONGD Oikos pede que se encontrem 100 formas de agir para um Mundo mais justo para assinalar o 17 de outubro: Dia Internacional para a Erradicação da Pobreza. Em escolas, no trabalho ou em casa, todos podem fazer parte da iniciativa partilhando nas redes sociais pequenos gestos do dia-a-dia para que, num futuro próximo, nos possamos orgulhar de dizer que vivemos num mundo idealizado por todos.

Num mundo com um nível de desenvolvimento económico sem precedentes, meios tecnológicos e recursos financeiros, milhões de pessoas viverem em pobreza extrema é um ultraje moral.

Dados do Banco Mundial e da ONU, publicados nos últimos dias no relatório “Pobreza e Prosperidade”, revelam os grandes retrocessos dos últimos tempos na luta contra a pobreza extrema. Os indicadores mostram que as metas estabelecidas através dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentáveis (ODS) dificilmente serão cumpridas até 2030. 17 de outubro marca o Dia Internacional para a Erradicação da Pobreza, é preciso agir.

Os grandes retrocessos na luta contra a pobreza extrema foram reforçados pela pandemia COVID19 e, mais recentemente, pela guerra na Ucrânia. Porém, uma das causas profundas reside na crónica desigualdade. Com efeito, as disparidades têm vindo a aumentar substancialmente, sendo que se estima que a pandemia levou, aproximadamente, 70 milhões de pessoas à pobreza extrema em 2020 – o maior aumento ocorrido num único ano desde 1990. Isso leva a que 11% da população mundial esteja atualmente em situação de pobreza extrema, comprometendo o objetivo das Nações Unidas de a eliminar até 3% em 2030.

A maioria destas desigualdades concentram-se nas áreas afetadas por conflitos, nas áreas rurais, e na África Subsaariana (que, atualmente, detém 60% de todas as pessoas em situação de pobreza extrema).



Os Países em desenvolvimento são os mais afetados pelo aumento da inflação, pela depreciação significativa da moeda, pelo colapso na produção e aumentos dos custos relacionados com o serviço da dívida externa. Para além de todos estes fatores, as alterações climáticas são também um fenómeno global, mas com impactos sentidos de forma mais severa exatamente pelos mesmos países e comunidades. Locais onde as vulnerabilidades já eram alarmantes, agravam hoje a falta de acesso à água potável, causam perdas de produtividade agrícola, uma forte insegurança alimentar e o acesso a condições de habitação.

Ainda é possível uma mudança?

Todos os dias acordamos com notícias alarmantes sobre o estado do mundo, mas será que estamos a dar o nosso contributo para que tal realidade se altere?

A fórmula para erradicar a pobreza já foi repensada milhares de vezes por milhares de organizações em todo o Mundo, pessoas, entidades e Governos. As metas estão traçadas com os ODS e este é um compromisso que nos toca a tod@s: está na hora de lutarmos por uma mudança, de forma a garantir que todos os seres humanos podem alcançar o seu potencial em dignidade e igualdade, num ambiente saudável.

Neste sentido, a ONGD Oikos pretende incentivar à ação pedindo que se encontrem 100 formas de agir para um Mundo mais justo. Em escolas, no trabalho ou em casa, todos podem fazer parte da iniciativa partilhando nas redes sociais pequenos gestos do dia-a-dia para que, num futuro, nos possamos orgulhar de dizer que vivemos num mundo idealizado por todos: 100pobreza.


* Coordenadora de Comunicação da Oikos – Cooperação e Desenvolvimento é uma Organização Não Governamental para o Desenvolvimento portuguesa, voltada para o Mundo.

23.5.22

A prioridade do governo é tirar as famílias da pobreza

Por Sara Almeida, in Expresso das Ilhas

Erradicar a pobreza extrema e reduzir a pobreza absoluta é o objectivo máximo de Cabo Verde, e todos os sectores trabalham transversalmente para o mesmo desiderato, garante Lídia Lima. O foco são as famílias, em particular as crianças. Em conversa com o Expresso das Ilhas, por ocasião do Dia Mundial da Família, 15 de Maio, a Secretária de Estado da Inclusão Social fala da situação socio-económica das famílias, dos programas em curso e de projectos futuros para proporcionar uma infância tranquila às crianças, trabalhando (também) assim para quebrar os ciclos de pobreza e garantir a continuidade do desenvolvimento do país.

Quando se fala das famílias cabo-verdianas, a secretária de Estado para a Inclusão social (SEIS) destaca, desde logo, a situação sócio-económica das mesmas. E um olhar pelos números ajuda a caracterizar essas famílias que hoje Cabo Verde tem. Neste momento, em aproximadamente 500 mil habitantes, há cerca de 175 mil pessoas pobres, 115 mil das quais em situação de pobreza extrema. Representam 31,6% da população nacional, uma taxa enorme que está no centro das preocupações do país e que mostra um retrocesso. Como lembra Lídia Lima, em 2019 a taxa de pobreza era de 26%, o que representava então um grande avanço face a 2015, em que era de 35%. Depois vieram a pandemia e a seca e a pobreza aumentou.

“São duas crises que estamos a enfrentar. Agora estamos a sair da pandemia, com uma verificação da retoma da economia, mas temos uma seca severa”, observa.

Cadastro Social

Um dos principais instrumentos no combate à pobreza, e que permite maior assertividade na definição das políticas sociais e na sua aplicação e direccionamento para quem realmente precisa, é o Cadastro Social Único (CSU).

Neste momento, estão registados no CSU 79.051 agregados familiares (305.965 indivíduos), divididos em grupos: grupo 1 – pessoas em situação de pobreza extrema (cerca de 25 mil agregados); grupo 2 - na pobreza (20.800 agregados); grupo 3 – vulneráveis (17 mil), grupo 4 - não pobres.

Embora isso mostre que de 60% da população já está cadastrada, nem todos os concelhos conseguiram registar todas as famílias pobres no CSU, lamenta Lídia Lima.

É com base no CSU que os programas vão então sendo direccionados para as famílias dos grupos prioritários. “Só que os desafios são enormes porque temos de estar constantemente a actualizar o cadastro”, explica.

Agregados que na altura do registo pertenciam a um grupo, com as crises podem ter passado para o nível abaixo. “Famílias que antes estavam no grupo 3, por exemplo, passaram para o grupo 1 ou 2”. Algumas que estavam no grupo 4 podem ter passado para o 3. “As coisas foram mudando, a situação socioeconómica mudou, então isto implica uma mudança também da situação no seio das famílias”.

Uns perderam o emprego, outros tinham um negócio que deixou de render, outros filhos emigrantes que não conseguiram continua a mandar remessa…

É então necessária uma actualização do cadastro, o que já começou a ser feito em alguns concelhos. Muitas vezes são até as próprias famílias “que já estão a entender o funcionamento do cadastro, “que se vão dirigindo às Câmaras para solicitar a actualização do seu registo”, comenta.

Programas

A pandemia veio na verdade testar um conjunto de instrumentos e iniciativas já anteriormente estabelecidos. “Veio a crise e esses programas contribuíram de uma forma espectacular para equilibrarmos a situação social”, analisa.

Um deles foi o referido CSU. Mas também o Rendimento Social de Inclusão (RSI), que como medida emergencial foi alargado a um maior número de beneficiários. Tem conta a retoma da economia e insustentabilidade da manutenção do alargamento emergencial, a medida já foi suspensa.

“É uma obrigação do Estado apoiar as famílias quando estão a passar por dificuldades extremas e não há outra saída. Fizemos aquilo que tinha de ser feito”, mas o Estado não poderia “continuar a suportar um custo de mais de 100 mil contos mensais só com o RSI”, explica.

Assim, passada a emergência (e vinda a retoma), o esforço concentra-se agora em “ajudar as famílias a ganhar a sua independência económica. Empoderá-las e ajudá-las a saírem da situação de pobreza”.

É com esse o objectivo que está ser implementado o programa inclusão produtiva, actualmente a funcionar em 9 concelhos e que deverá ser alargado a todo o país até ao final do mandato. O programa, que nesta fase abrange cerca de 2000 famílias, “consiste na capacitação profissional das famílias pobres e também aquelas que estavam a receber o RSI”. As mesmas receberão ajuda na criação de actividades geradoras de rendimento e gestão do autonegocio. O desafio, continua a SE, é paralelamente, levar as famílias que estão no sector informal a formalizar o seu negócio. Aliás, a pandemia veio mostrar bem essa necessidade de ter uma rede de apoio a nível da segurança social.

Foi inclusive essa falha que levou, também na pandemia, à necessidade de estabelecer o rendimento solidário (RSO), outra medida de emergência, “para socorrer muitas famílias que não tinham nenhum tipo de segurança social”.

“Então, estamos a trabalhar para garantir que essas pessoas que vivem do comércio informal, formalizem o seu negócio e estejam realmente incluídos nessa rede de segurança social. Ajuda o país. Ajuda as famílias. E em momentos de crise podemos estar mais aptos, também a nível de governação para gerir todas as situações que vão surgindo”.

Além dos programas já referidos, outro que se destaca no apoio às famílias é o Programa Nacional de Cuidados, que Lídia Lima avalia ter sido “muito bem estruturado, implementado”. Aqui o desafio é, agora, “reforçar a sua actuação e alargar o número de beneficiários”.

A SE refere ainda o programa Apoio Integrado às Famílias, gerido pela direcção-geral de inclusão social e implementado através de contratos estabelecidos com as câmaras municipais, e que apoia as famílias com despesas de educação, saúde, criação de actividades geradoras de rendimento, entre várias outras.

No meio disto tudo, é ainda importante sensibilizar a “sociedade para aderir e aproveitar esses apoios que o Estado, através do Ministério da Família, vai concedendo”, sublinha a SE.

Crianças

Se tirar as famílias da pobreza é uma prioridade, o foco principal, e assumido, são então as crianças. Como refere, falando no geral, Lídia Lima: “O governo tem definido um conjunto de prioridades em todas as áreas, mas as crianças são a nossa prioridade absoluta e quando pensamos nas crianças estamos a pensar no futuro país, de acordo com os objectivos do desenvolvimento sustentável.”

Assim, reforça, “temos de trabalhar para erradicar a pobreza extrema, temos de trabalhar com os grupos mais vulneráveis, mas temos de dar uma maior atenção, às crianças, porque, para termos garantia de sustentabilidade, temos de ter crianças bem preparadas, inseridas socialmente para que possam no futuro também dar continuidade ao processo de desenvolvimento do país.”

Ora, há, neste momento, 91 mil crianças registadas nos grupos 1,2 e 3, do CSU. Ou seja, 91 mil crianças são pobres em Cabo Verde. “É um número expressivo, preocupante e que nos apela para intervenções rápidas e urgentes”, considera. Até porque priorizar as novas gerações é também dar ênfase à eliminação do ciclo de pobreza.

Para além da pobreza, outras situações que preocupam – e estão muitas vezes relacionadas com a pobreza - são: o abandono por parte das famílias, a desestruturação familiar, a falta de responsabilidade parental e a agressão sexual a crianças.

Vários ministérios, como o da Justiça (recorde-se que foi revista recentemente, no âmbito do novo código penal, a legislação sobre crimes de agressão e violação sexual das crianças) ou da Educação têm também tomado várias medidas para protecção dos menores, e da parte sob alçada particular do Ministério da Família está a haver um reforço do ICCA, tanto a nível das instalações como do aumento de recursos humanos.

“O ICCA está também a trabalhar com planos. Já foi avaliado o plano de combate à violência sexual contra as crianças de 2017-2021 e agora temos o novo Plano que vai até 2023. Vamos contratar um coordenador para trabalhar nesse plano, que iniciará as suas funções ainda neste mês de Maio”.

Está também a ser feita a revisão do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), uma actualização que deverá resolver questões como o conceito de menor e situações que limitam a “intervenção judicial em determinados casos”, entre outros.

Responsabilidade parental

Neste desafio de proteger as crianças e proporcionar-lhes uma infância tranquila há, pois, dois actores fundamentais. Um deles é o Estado, que tem o dever de amparar, criar condições lá onde haja necessidade e apoiar as famílias quando estas, sozinhas, não conseguem responder a todas as necessidades.

O outro actor fundamental são, como é óbvio, as famílias e é importante passar essa mensagem “de que a família tem as suas responsabilidades”.

Esta responsabilidade familiar, em sentido lato, passa por diversos aspectos. Um deles é o próprio planeamento. A SE refuta que a aposta, feita desde há décadas, no planeamento familiar não funcionou. “Já estamos a verificar uma diminuição da natalidade”. Porém, é necessário continuar a empoderar as famílias, particularmente as mulheres, até para “saberem fazer a gestão da sua vida, do seu estado emocional, do seu corpo, etc”, considera.

Depois há fenómenos a que os pais também devem ser chamados a responder e ser responsabilizados. Por exemplo, crianças sozinhas a deambular pelas ruas são um fenómeno relativamente comum, com efeitos perversos conhecidos (vulnerabilidade à violência, ao abuso sexual, ao consumo de drogas, etc).

Existe inclusive uma proposta de lei apresentada pelas Aldeias SOS, e que vai nesse sentido. A proposta foi partilhada e discutida entre parceiros, em reuniões em que a SE também participou. Infelizmente, nem todos concordam com a necessidade da existência dessa lei. “Há um foco na questão de subsídio de alimentação, mas essa lei não está a defender apenas esse direito da criança. Tem a ver com outras responsabilidades” parentais.

Lídia Lima, por seu turno, defende a necessidade de uma lei que efectivamente promova essa responsabilização. “As famílias estão a perder muitos dos bons princípios, dos bons valores. Então resgatar posturas e responsabilidades perante esta matéria, tem que ser através da lei. Só com valores, já não dá”, avalia. Através da Lei e com possível penalização “em relação ao acompanhamento e à educação dos filhos”.

“Não podemos desenvolver as sociedades sem regras, sem leis. Quando as pessoas não fazem algo, socialmente, de forma tranquila, tem de ser por imposição”, insiste.

Depois, é preciso fazer vigorar a lei e para tal “as instituições têm que ter mecanismos para realmente fiscalizarem o comportamento dos pais, mas também os estabelecimentos” que permitem menores no seu interior. A par dessas medidas deve haver “muita sensibilização e informação”.

“Temos de mostrar às famílias que elas também se vão perdendo quando os filhos se começam a perder”, acrescenta.

ATL

Voltando ao papel do Estado, neste caso do governo, Lídia Lima defende que mais do que projectos de grande envergadura, este trabalho de combate e prevenção de certas situações, deve ser feito com “pés no chão” e com respostas céleres e sustentáveis. Praticidade nas iniciativas. “Acho que nos falta-nos isso”.

“Há coisas que são muito simples, que se podem fazer com vontade e junção dos esforços- sociedade civil, governo, câmaras”.

Em relação, por exemplo, “à problemática da situação das crianças” que ficam nas ruas, esta é uma situação que tem a ver, muitas vezes, com a dificuldade de as famílias que trabalham acompanharem os filhos, em períodos contrários às aulas.

“As mães vão trabalhar e não sabem o que os filhos ficam a fazer durante o dia”.

Assim, uma proposta da SEIS, desde que entrou no governo, é “agilizar, de forma simples e sem muita burocracia, a criação de espaços nas diferentes localidades, nos bairros mais vulneráveis, para responder às necessidades dessas mulheres”. Ou seja, criar espaços onde as crianças possam ficar no período contrário às aulas.

Embora já existam alguns espaços assim, em alguns concelhos, estes são manifestamente insuficientes.

“Defendo a proliferação desse tipo de iniciativas, porque é assim que o Estado tem de ajudar”, sublinha. Ajudar as famílias, no sentido de “prevenir o surgimento de situações de crianças na rua e garantir o aproveitamento escolar das crianças. Tem que ser assim”.

Esses espaços devem, defende ainda, funcionar sob uma conjugação de esforços, num trabalho integrando vários sectores e tutelas. “As associações sozinhas não conseguem, mesmo com financiamentos, devem ser acompanhadas, apoiadas a diversos níveis”. E o trabalho deve ser feito não só com a criança, mas com a “criança integrada dentro da sua família”.

Entretanto, a criação desses espaços tipo ATLs implica envolvimento de parceiros como as CM ou Instituto do Património, para resolver questões como, por exemplo, o espaço onde os mesmos podem funcionar. Algo que não é muito simples. “São coisas que vão fazem-nos perder muito tempo, quando devia ser rápido”.

Mas este é um projecto de que se pretende ver surgir ainda nesta governação.

“Aquando estamos a fazer isso estamos a trabalhar para um país mais seguro. Tudo isso também dará respostas à questão da delinquência juvenil, à questão do surgimento do thugs, vários outros problemas. Então vamos falando, só falando de todos esses problemas, quando as soluções são tão simples”. Falta então juntar esforços, simplificar e realmente avançar…

Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 1068 de 18 de Maio de 2022.

20.4.21

Portugal deve "pôr as fichas todas nas famílias com crianças" para erradicar a pobreza

 Ângela Roque (Renascença) e Octávio Carmo (Ecclesia), in RR

O combate à pobreza tem de ser um “desígnio nacional”, e a prioridade tem de ser dada às famílias com crianças. Edmundo Martinho, coordenador da comissão que está a elaborar a Estratégia Nacional de Combate à Pobreza, acredita que Portugal vai conseguir inverter os números até 2030, mas até lá é preciso revalorizar os salários e mudar a política de habitação.

Sem revalorização dos baixos salários a pobreza não vai acabar em Portugal, mas a solução não depende só do Estado, diz Edmundo Martinho. O provedor da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, e coordenador da Estratégia Nacional de Combate à Pobreza, comenta assim os resultados do estudo da Fundação Francisco Manuel dos Santos (FFMS), que indica que há um quinto de portugueses em situação de pobreza e que, desses, mais de metade até tem emprego, sendo que 20% da população pobre é constituída por crianças e jovens.

Assistente social de formação, Edmundo Martinho esteve na criação do Rendimento Mínimo Garantido, que deu lugar ao Rendimento Social de Inserção (RSI). Sabe que a pobreza não se combate só com subsídios, mas apoios como este continuam a ser fundamentais.

Na prioridade que tem de ser dada às famílias com filhos, a escola deve ter um papel fundamental na deteção precoce dos problemas. E combater a pobreza também implicará ter outra política de habitação, que acabe com o estigma relativamente aos bairros onde se mora, defende Edmundo Martinho.

Não considera chocante que mais de metade dos portugueses pobres até trabalharem? Isto não torna urgente combater os baixos salários e a precariedade laboral?

Torna urgentíssimo. Aliás, o estudo quando refere os famosos "três dês" [desemprego, divórcio e doença] não deixa de fazer referência a isso, e nomeadamente aos trabalhadores que fazem parte de famílias com crianças. A presença de crianças no agregado, e quando o número de crianças é maior, agrava muito as condições de pobreza material, e agrava sobretudo muito as condições de vida da maior parte dessas crianças.

Um dos eixos da Estratégia de Combate à Pobreza é, precisamente, o que tem que ver com a questão do emprego, das condições de trabalho, de uma forma geral. Sempre houve um bocadinho este conceito de que o trabalho era o melhor protetor das situações de pobreza, e aquilo que chegamos à conclusão em Portugal, e esse dado não é novo, é um dado conhecido.

"A nossa economia e as nossas empresas têm de ter uma atitude diferenciada relativamente à questão dos salários"

Não é novo, mas impressiona.

Impressiona muito, e houve durante vários programas do Governo a intenção de abordar de forma consolidada este aspeto. É verdade que no período imediatamente anterior à pandemia, a situação estava a melhorar substancialmente porque, obviamente, numa situação em que o mercado de emprego e a economia estão dinâmicos e pujantes isso tem um efeito muito relevante sobre os níveis salariais, mas não é suficiente, diria.

Embora seja um caminho que não podemos deixar de seguir, este de valorização salarial, das competências e das profissões, a nossa economia e as nossas empresas têm de ter uma atitude diferenciada relativamente à questão dos salários.

O salário mínimo é um instrumento de que o Governo dispõe para, de alguma forma, poder enfrentar esta situação, mas para além do salário mínimo há toda a dimensão da repartição daquilo que são os rendimentos da economia, entre a remuneração do capital e a remuneração do trabalho, e a remuneração do trabalho tem vindo a perder espaço ao longo das últimas décadas. Temos de ser capazes de inverter isto, e isso é possível não a partir de um impulso governativo, porque não é por aí.

O mundo económico e financeiro de hoje não é determinado pelo Estado, propriamente...

Exatamente, o Estado tem um papel a desempenhar, mas - e esse é um dos outros eixos da proposta de Estratégia que apresentámos - enquanto não entendermos que o combate à pobreza é um desígnio nacional, e de todos, não somos capazes de atingir resultados satisfatórios.

Há a dimensão das políticas públicas, há a dimensão da responsabilidade do Estado, e essa, obviamente, deve ser aprofundada nas dimensões em que pode ter impacto significativo. Mas, depois, há toda uma outra dimensão que temos de entender, que enquanto houver situações de pobreza como aquelas que se conhecem e que referiu - nomeadamente as que se associam a práticas profissionais e a uma relação estável com o trabalho -, enquanto houver situações desse tipo, a sociedade, como um todo, não pode estar ignorante relativamente a isto e, pelo contrário, tem de se mobilizar.

A mobilização não passa apenas pelas iniciativas da responsabilidade social, pelos apoios ocasionais aqui e acolá, não. Passa por este entendimento de que o trabalho, sendo o fator mais protetor das situações de pobreza, tem de ser valorizado, e valorizar o trabalho significa também valorizar a dimensão salarial do trabalho. Nada disto se faz apenas com a resposta de um lado, ou seja, na medida das responsabilidades que nos cabem, naturalmente, é preciso que todos nos mobilizemos para isto.

"O Estado tem um papel a desempenhar, mas - e esse é um dos outros eixos da proposta de Estratégia que apresentámos - enquanto não entendermos que o combate à pobreza é um desígnio nacional, e de todos, não somos capazes de atingir resultados satisfatórios"

O próprio autor do estudo diz que não se pode centrar as respostas só na Segurança Social, por exemplo, tem de ser multisetorial.

Sem dúvida nenhuma. É óbvio, e todos sabemos, que a Segurança Social, através das transferências que são feitas para os cidadãos - seja o abono de família, o subsídio de desemprego, as pensões de reforma, etc -, essas transferências sociais têm um impacto muito forte na redução da pobreza. Sem essas transferências teríamos uma situação muito mais dramática.

A Segurança Social tem um papel essencial na forma como faz a gestão destes apoios financeiros, como os torna cada vez mais eficazes, e esse é outro aspeto muito relevante das políticas públicas. Portanto, a Segurança Social tem um papel importantíssimo, mas está longe de ser suficiente.

Nós temos hoje, como o próprio estudo aponta, a questão do divórcio e a forma como implica na organização das famílias, e como implica numa fragilização, não só dos laços entre os membros da família, como na relação com o consumo, com aquilo que são os consumos essenciais à vida das famílias: a questão da habitação, a questão da saúde, que também vem referida nos três Ds, com o “d” de doença.

A pobreza é uma herança que ninguém quer receber, mas o Estudo confirma que continua a ser um dos problemas do país, com uma pobreza que passa de geração em geração, muitas vezes estamos a falar de um pai e de uma mãe com vários filhos, que vão passar por essa pobreza, e de certa forma a aumentá-la..

Ou pelo menos a mantê-la...

Como é que se combate este quase “destino” de que quem nasce pobre tenha de permanecer pobre ao longo da vida?

O foco principal e esmagador que as políticas públicas deviam ter - se me permite a expressão muito coloquial - é força toda no que tem a ver com as crianças, e isto significa várias dimensões. Significa, desde logo, a dimensão das condições materiais, financeiras e de vida da família onde a criança vive, porque a criança não vive sozinha, obviamente. E deveria haver - pelo menos é essa a nossa grande preocupação - um reforço substancial daquilo que são as condições de vida materiais destas famílias onde haja crianças.

Depois a questão da escola, e aqui, quando se fala de escola, fala-se não no sentido estrito daquilo que é o percurso escolar formal, mas começa nas creches. Temos de ter uma política muito firme e muito forte de reforço e disponibilização das creches às nossas crianças. É essencial que as creches sejam completamente disponíveis para as famílias, porque muitas vezes caímos no erro de achar que as creches são um serviço que se presta às famílias, mas não é verdade. Também é, mas a creche tem de ser entendida fundamentalmente como um direito e um serviço que se presta a cada criança, porque é aí que tudo se inicia e se forma, é aí que se criam as bases para um desenvolvimento harmonioso e adequado.

Depois há uma segunda dimensão que também representamos na proposta de Estratégia que fizemos, e que de alguma forma está em curso, que tem que ver com o acompanhamento personalizado de todas as situações de crianças na escola, que precisam de acompanhamento extraescolar.

Sabemos hoje que uma das razões que leva ao abandono escolar tem muito que ver com o insucesso, e esse insucesso quantas vezes está ligado à dificuldade que as famílias podem ter de acompanhar as crianças naquilo que é o seu percurso extraescolar.

"O foco principal e esmagador que as políticas públicas deviam ter - se me permite a expressão muito coloquial - é pôr as fichas todas no que tem a ver com as crianças e nas famílias com crianças"

Uma situação que provavelmente se acentuou, agora com a pandemia.

Naturalmente, ficou muito mais visível, quem não tem em casa quem estimule, quem acompanhe nos trabalhos, quem acompanhe o percurso escolar. É uma área que deveríamos, sem nenhuma dúvida, assumir como um foco central.

Depois a questão da habitação, que é essencial. Deveríamos desviar o foco que temos tido, e deveríamos eliminar aquilo que são as políticas de habitação social e termos uma política social de habitação. Isto, que parece semântico, não é, de todo. Nós temos hoje crianças que estão marcadas desde logo pelos sítios onde vivem. Quando estão na escola com os amigos, com os seus pares, com os professores, não é indiferente a origem habitacional que apresentam, e temos de ser capazes de combater isso.

Isto para dizer que, relativamente ao combate à pobreza, acho que a obrigação que temos é pôr as fichas todas - desculpem usar esta expressão - nas crianças e nas famílias com crianças.

ESTUDO
Pobreza em Portugal. "Não basta ter um emprego seguro"


É o que pode fazer a diferença a médio e longo prazo?

Claro. Porque se estamos com aproximações tímidas, às vezes um bocadinho menos tímidas, mas se não entramos a sério com toda a força neste domínio, dificilmente conseguiremos, a prazo, alterar este quadro em que uma criança que nasce pobre, seguramente será pobre ao longo da sua vida adulta. Isso tem que ser quebrado, de alguma maneira.

E finalmente uma quarta dimensão, sempre com este foco muito poderoso nas famílias com crianças, é a questão do acompanhamento destas famílias. Entendemos que é indispensável que o acompanhamento das famílias onde haja crianças seja um acompanhamento muito alargado, ou seja, quando estabelecemos objetivos para a vida de uma criança, para o seu percurso escolar - numa creche, no pré-escolar e por aí fora - temos de ser capazes, em simultâneo, de perceber quais são as fragilidades adicionais que lhe estão associadas, porque muitas vezes isso não chega. Falamos de habitação e dos cuidados de saúde.

Não é por acaso que propomos uma outra questão que tem que ver com os rastreios regulares ao nível da saúde escolar, haver a preocupação de um acompanhamento em permanência de todas as crianças, não apenas daquelas que possam ser mais pobres, que permita esta vigilância das condições de saúde, que podem ter que ver com a qualidade alimentar, a qualidade do ar que a pessoa respira na sua casa, doenças, falta de exercício. É importantíssimo que haja uma vigilância.

Feita na escola?

Na escola, ou a partir da escola. A escola tem de ser, desse ponto de vista e na nossa ótica, o polo central de onde tudo isto parte. Depois, obviamente, as respostas são diferenciadas. Dou-lhe um exemplo aqui em Lisboa, e que tem que ver com a questão da saúde oral.

A Santa Casa tem um projeto nessa área.

Sim, uma clínica que está a funcionar, totalmente gratuita para todas as crianças, independentemente da condição financeira dos agregados. A única diferença, onde pode haver uma ligeira comparticipação para as crianças de agregados com condições financeiras melhores, é na comparticipação dos aparelhos quando precisam deles.

Temos milhares de crianças que já foram acompanhadas naquela clínica, que provavelmente de outra forma não iriam cuidar dos seus dentes.

E a relevância disto é que não é apenas uma questão de estética, tem a ver com a saúde global da criança, com o próprio relacionamento social.

Temos hoje em fila (de espera) mais de 400 crianças que vão pôr o seu aparelho, que de outra forma não poriam. Obviamente que a dentição mais corrigida permite-lhes terem uma melhoria ao nível da mastigação, mas também do ponto de vista das suas relações sociais.

Numa sociedade que é cada vez mais de imagem, isto não é assim tão inócuo…

Exatamente, tudo isso conta. Para uma criança que vive num ambiente fragilizado, todas as pequenas conquistas são relevantes. Ainda que possam ser coisas que, à partida, podemos dizer que não têm relevo. Não é verdade. Temos cartas de crianças a pedir a consulta, a fazer a marcação, dramáticas, desse ponto de vista. Sobretudo de adolescentes.

É a idade mais difícil…

Claro. No confronto com os seus pares, sentem uma fragilidade adicional e, às vezes, é a que mais as incomoda, em termos pessoais, porque é aquela que se exprime na imagem que nós projetamos para os outros.

Isto para dizer que – voltando ao princípio – estas situações não chegam à Segurança Social, de todo. É preciso que mobilizemos todos os recursos e, na nossa perspetiva, o foco das famílias com crianças tem de ser assumido de forma plena. Isso significa recursos, e não apenas materiais, financeiros, mas também recursos humanos. O próprio PRR [Plano de Recuperação e Resiliência] prevê um reforço substancial ao nível de cada concelho, e isto é essencial.

Um acompanhamento comunitário, mais próximo do terreno?

Um acompanhamento das famílias, em que a gente sabe não apenas o que aquela criança precisa para ter um crescimento saudável e harmonioso: temos também de perceber quais são as dimensões onde se nota mais a fragilidade da própria família – se é a habitação, a questão do emprego, a doença. Isto tem de resultar num plano conjugado para a família toda. A prioridade deve ser dada, em nosso entender, às famílias onde haja crianças.

Em que ponto está a Estratégia Nacional de Combate à Pobreza? Em dezembro foi entregue um primeiro esboço ao Governo, quando é que será apresentada publicamente?

Este tem sido um processo excecional. O meu papel é de coordenador de um conjunto de peritos, de onde vem muita desta orientação global. O que procuramos fazer foi um processo de auscultação muito extenso, ouvimos praticamente todas as grandes organizações representativas e muitas pessoas individuais, investigadores ou militantes destas causas.

Procurámos, a partir de três ou quatro perguntas, perceber como é cada uma destas pessoas, destas entidades, entende que o combate à pobreza deve ser feito: o que está bem e deve ser reforçado; o que está mal e deve ser corrigido; o que não temos e deve existir. Para combater a pobreza, o que temos de fazer? Melhorando o que existe, corrigindo o que está mal e fazendo o que não está feito, de alguma maneira.

Este processo foi excecional, tivemos muitas, muitas contribuições, quase todas de grande profundidade e de grande qualidade. Terminamos uma proposta de Estratégia, que se estrutura em volta de cinco, seis eixos e depois tem as medidas concretas.

Cabe ao Governo fazer duas coisas: validar o que ali está, porque depende, obviamente, da orientação do Executivo. Depois, estamos numa fase em que vão existir contactos com outras áreas governativas, porque esta estratégia tem a coordenação – do lado do Governo – da senhora ministra da Presidência e da senhora ministra do Trabalho, mas é indispensável, nesta fase, associar outras áreas governativas. Há questões que têm a ver com a saúde, as finanças, a habitação, a educação. É indispensável recolher, por parte do Governo, a sensibilidade àquele conjunto de medidas, até que ponto algumas daquelas coisas que estão propostas estão ou não em curso, estão ou não a ser preparadas, para que depois saia um documento coerente.

O terceiro passo é o da consulta pública, segundo o que está previsto como metodologia: colocar o documento em consulta pública, para voltar a recolher contributos de quem queira, já não em cima de duas ou três perguntas, mas de um documento concreto, em que as pessoas podem dar conta do que estão ou não de acordo, do que consideram insuficiente, excessivo.

Tivemos uma iniciativa, no site desta Estratégia, abrindo, durante bastante tempo, a possibilidade de qualquer pessoa poder fazer os seus comentários, e tivemos muitas centenas de contributos. Uns mais estruturados, outros menos, mas é um sinal positivo: de facto, esta questão da pobreza é uma questão que mobiliza as pessoas. Agora, tem é de as mobilizar para a ação concreta. Não chega mobilizar para o domínio concetual ou da compaixão, é preciso mobilizar para a ação concreta.


"O RSI não tira ninguém da situação de pobreza, mas mitiga a pobreza extrema. O que queremos é que estas prestações, progressivamente, se aproximem do limiar da pobreza, e que essa aproximação, mais uma vez, se tivermos de priorizar alguma coisa, comece pelas famílias onde há crianças"

Durante a presidência portuguesa do Conselho da União Europeia vamos ter a Cimeira Social no Porto, a 7 e 8 de maio. Vai ser um grande momento de reflexão sobre estes temas?

Vai ser, seguramente, um momento de reflexão e mais do que isso, porque o momento central da Cimeira é a aprovação do Plano de Ação do Pilar Europeu dos Direitos Sociais, que é um instrumento relativamente ao qual Portugal teve um contributo importante quando foi aprovado em Gotemburgo, durante a presidência sueca. Levou este tempo todo a transformar-se de um documento proclamatório - embora relevante -, com os 20 princípios que tem, num plano de ação. E é um plano de ação com dados objetivos muitos concretos para a Comissão Europeia.

Como tirar 15 milhões de pessoas da pobreza, até 2030…

Dos quais cinco milhões de crianças, voltamos sempre ao tema. Este momento da cimeira pode ser relevantíssimo, porque é a consagração no espaço europeu, da ambição – que alguns consideram insuficiente, outros considerarão excessiva, mas é sempre assim – de ter um impacto muito forte no domínio dos direitos sociais. É disso que se trata, não é apenas a pobreza. Naturalmente, a pobreza tem um lugar central no Pilar Europeu dos Direitos Sociais, no plano de ação, mas vai muito para além disso. Acho que é um momento de desafio para todos os Estados-membros.

Relativamente aos subsídios: esteve envolvido na criação do Rendimento Mínimo Garantido, que deu lugar ao Rendimento Social de inserção (RSI). É certo que a pobreza não se combate só com subsídios, mas é fundamental que este tipo de apoio continue a existir? O que é que está previsto?

Esse é um dos eixos da estratégia, os mecanismos de proteção social, de uma forma geral, e como é que podem ser melhorados. Temos um caminho que aponta para que, progressivamente, este conjunto de prestações tenda a consolidar-se. Que possamos deixar de ter quatro, cinco, seis, sete, oito prestações diferentes, às vezes com condições de acesso diferenciadas, com condição de recurso diferente, caminhando progressivamente para uma consolidação e uma harmonização destas respostas.

Temos de trabalhar naquelas que existem – e a proposta que temos, em relação ao RSI, aponta para uma melhoria substancial, não apenas do ponto de vista financeiro, mas da sua capacidade. O RSI sempre foi entendido, às vezes de forma excessiva por alguns, como um instrumento que se dedica a suavizar a pobreza extrema, mas não retira ninguém da pobreza. Temos o limiar da pobreza pelos 480 euros por mês, para uma pessoa; o RSI são 180.

O RSI não tira ninguém da situação de pobreza, mas mitiga a pobreza extrema. O que queremos é que estas prestações, progressivamente, se aproximem do limiar da pobreza, e que essa aproximação, mais uma vez, se tivermos de priorizar alguma coisa, comece pelas famílias onde há crianças.

"Em condições normais, de retoma da atividade, com liberdade, diria que temos condições para, neste espaço de 10 anos, podermos inverter muito esta imagem, este retrato da pobreza em Portugal"

É preciso escolher os recursos que estão disponíveis…

Não é possível fazer de um dia para o outro. Esta estratégia é a 10 anos, até 2030, o importante é que possamos dizer, quando lá chegarmos, que houve impacto real na vida destas famílias, em particular na vida destas crianças, que hoje podem ter três, cinco anos, daqui a 10 anos serão adolescentes, alguns jovens adultos. Temos de ter esta capacidade de assumir a melhoria das prestações que temos hoje, em cima da mesa. Melhorar substancialmente a sua eficácia, por um lado, e melhorar o seu impacto na vida das famílias, por outro lado. É preciso fazer isto – peço desculpa pela insistência – priorizando as famílias com crianças, porque elas têm fatores agravados.

É aí que se pode quebrar o ciclo?

Não há outra forma, diria. Não há outra forma…

Portugal vai conseguir vencer este desafio de combater a pobreza?

Vai. Estou muito convicto disto. Por aquilo que é possível perceber, do que está hoje presente num conjunto de documentos, que são estruturantes da nossa atividade, do país – como o PRR, o próprio plano de ação do Pilar Europeu dos Direitos Sociais, as estratégias que estão em curso no domínio da habitação, a própria educação -, tudo o que estamos a fazer, permite-nos ser otimistas, em relação a isto.

Agora, ser otimista não chega, é preciso ser capazes de pôr a energia – não apenas a nossa, individual -, dos serviços, dos recursos, ao serviço desta causa. E a questão das crianças é de primeiríssimo plano, deveria ser de primeiríssima prioridade.

Em que horizonte temporal vamos conseguir fazer isso?

Tudo vai depender do ritmo de recuperação da economia. Se conseguirmos debelar o desemprego, criar emprego mais qualificado, mais bem remunerado, tudo isto pode acelerar. Vai depender muito da forma como o país, como um todo, consiga retomar o caminho que estávamos a ter, de crescimento e de coesão.

Em condições normais, de retoma da atividade, com liberdade, diria que temos condições para, neste espaço de 10 anos, podermos inverter muito esta imagem, este retrato da pobreza em Portugal.

12.11.20

D. Jorge pede compromisso efetivo para erradicar a pobreza

Jorge Oliveira, in Correio do Minho

Arcebispo de Braga escreve mensagem a propósito do Dia mundial dos Pobres, que celebra-se no próximo domingo.

O Arcebispo de Braga exorta, na sua mensagem escrita a propósito da festa litúrgica de S. Martinho de Tours – celebrada hoje – e do Dia Mundial dos Pobres – no próximo domingo, 15 – a que se reaprendam «os caminhos de uma caridade operosa e dinâmica» para que as comunidades tenham um papel «determinante na erradicação da pobreza».

«A proposta de estender a mão ao pobre deverá significar um compromisso efetivo. Há quem passe fome, quem viva em condições indignas, quem não usufrua de um trabalho digno e familiar, quem não consiga satisfazer as necessidade essenciais. Isto não acontece em países longínquos. Está ao nosso lado», alerta D. Jorge Ortiga.

Na sua mensagem, intitulada “Solicitude pelos pobres” o prelado recorda que a Arquidiocese de Braga está viver um ano pastoral dedicado à caridade e com propostas concretas em ordem a fazer da Igreja Arquidiocesana uma «Igreja Samaritana», pelo que «urge aceitar as interpelações» que lança, começando por «colocar em prática» o que é sugerido no Programa Pastoral.

«Os pobres diminuirão se cada cristão mostrar sensibilidade e compaixão através de gestos concretos de solidariedade. Também as comunidades paroquiais têm um papel determinante na erradicação da pobreza. Um mínimo de estrutura é necessário. Organizemo-nos e mostremos que só o amor nos diferencia», desafia.

O Dia Mundial dos Pobres, instituído pelo Papa Francisco em 2017, celebra-se no próximo domingo, dia 15 de novembro, com o lema “Estende a tua mão ao pobre” (Sir 7, 32).

[Notícia completa na edição impressa do Diário do Minho]

19.10.20

O trabalho e a erradicação da pobreza

 José Luis Rodrigues, in Jornal da Madeira

Só pode saber-me bem começar esta reflexão sobre o trabalho com esta magnífica frase do Papa Francisco na Encíclica Fratelli Tutti: «não há pobreza pior do que a que priva do trabalho e da dignidade do trabalho» (n. 162).

Esta frase cai como um raio após o debate alusivo ao dia mundial da erradicação da pobreza, que celebramos precisamente hoje (17 de Outubro de 2020), que se realizou ontem no Salão Nobre da Câmara Municipal do Funchal com o Padre Francisco Caldeira; o Dr. André Rebelo, Vice Presidente do Instituto da Segurança Social da Madeira e o Dr. Júlio Curado. As intervenções, magnificamente expostas pelos intervenientes convidados, convergiram para a constatação do pensamento do Papa Francisco. A erradicação da pobreza e a fatalidade da miséria só pode ter o seu fim à vista quando todos tenham trabalho e se lhes reconheça a dignidade do seu trabalho.

O assistencialismo é necessário como primeira medida, como solução a prazo, provisoriamente. Mas depois é preciso partir para soluções que apresentem oportunidades de trabalho digno. Podem dizer que há muitos que não gostam nem querem trabalhar, pode até ser certo, mas também é certo, que a condição de ser pessoa verdadeiramente integrada na família e na sociedade, não gosta de viver de esmolas e de assistencialismo.

Obviamente, que cada situação de pobreza é um caso. Não há uma única forma de pobreza, há muitas formas de pobreza e cada uma deve ser atacada de acordo com a sua idiossincrasia. Mas digam o que disserem, a resposta que deve ser constantemente trabalhada é a questão do trabalho, que para o Papa Francisco (e para nós) é «a grande questão» (n. 162).

Por isso, «ser verdadeiramente popular – porque promove o bem do povo – é garantir a todos a possibilidade de fazer germinar sementes que Deus colocou em cada um, as suas capacidades, a sua iniciativa, as suas forças» (n. 162). É óbvio que isto implica muito trabalho, muita entrega e paciência para ter coragem de lançar medidas que venham a dar frutos a longo prazo sem estarem amarradas ao eleitoralismo cego.

Na luta pela erradicação da pobreza não podem existir pressas, é um trabalho árduo e longo, que vai frutificar lá para diante numa ocasião que ninguém sabe quando. Por isso, é preciso começar pela educação e pela saúde, porque à condição de ser pobre está a associado em primeiro lugar aquilo que nos salta logo à vista, a fome e a falta de condições materiais condignas, mas faltam essencialmente a educação e a saúde para que depois surja a vontade de trabalhar e a capacidade de exigir dignidade no trabalho. Pois, «esta é a melhor ajuda para um pobre, o melhor caminho para uma existência digna» (n. 162), diz o Papa Francisco.

O assistencialismo é sempre o caminho mais fácil e como vemos atualmente, todas as instituições seguem este caminho, até os governos reservam avultadas quantias de dinheiro para o assistencialismo. Pode ser que temporariamente o Covid-19 o justifique, mas como já vimos, esperamos que seja provisório.

Claro que dizemos que sim ao assistencialismo. Está correto como medida provisória, mas não pode ser a única medida. Senão corremos o risco de vermos a pobreza a ser «alimentada» e quiçá até a contribuir para que ela aumente, ao invés daquilo que se deseja, que é ser erradicada. O Papa confirma-o: «insisto que ajudar os pobres com o dinheiro deve ser sempre um remédio provisório para enfrentar emergências. O verdadeiro objetivo é consentir-lhes uma vida digna através do trabalho» (n. 162). E mais ainda insiste com os responsáveis das sociedades: «Por mais que mudem os sistemas de produção, a política não pode renunciar ao objetivo de conseguir que a organização de uma sociedade assegure a cada pessoa uma maneira de contribuir com as suas capacidades e o seu esforço» (n. 162).

Aqui estão denúncias, propostas e apelos que nos devem fazer pensar. Esta é a questão, o trabalho faltando liga-nos à tragédia da pobreza. A luta pelo fim da pobreza centra-se no flagelo do desemprego. É preciso quebrar este círculo vicioso. Os dizeres papais devem servir para que se arrepie caminho e o enfoque não esteja todo cegamente centrado no assistencialismo, mas de igual forma ou mais ainda, esteja também centrado na criação de oportunidades de trabalho digno para todos.

Idosos e jovens têm as taxas de risco de pobreza mais elevadas em Portugal

in Negócios on-line

Celebra-se hoje o dia Internacional da Erradicação da Pobreza, com o objetivo de alertar a população para um direito básico do ser humano. Os indivíduos com mais de 65 anos são os que enfrentam maiores dificuldades, com uma taxa de risco de pobreza de 88,8% caso não sejam consideradas as transferências sociais.

O novo coronavírus veio contribuir para um aumento da pobreza e das desigualdades a nível mundial. No dia em que se celebra a Erradicação da Pobreza, a Pordata elaborou um estudo para analisar a situação portuguesa e compreender as suas carências económicas.

Portugal atingiu, em 2019, o valor mais baixo do número de pessoas em situação de carência económica e registou em 2018 a sua menor taxa de pobreza desde 1995, de acordo com o Instituto Nacional de Estatística (INE). Contudo, apesar destes resultados animadores, a pobreza continua a assombrar muitos portugueses e a acentuar as desigualdades sociais.

Em 2018, 17,2% dos portugueses encontravam-se no limiar da pobreza. Apesar de parecer um número positivo face aos anos transatos, no cálculo estão incluídas as transferências sociais (pensões e prestações sociais), sem elas a percentagem de indivíduos com baixos rendimentos passa para 43,4%, segundo dados da Pordata.

Com o passar dos anos e com os progressos registados desde 1990, o valor a partir do qual alguém se encontra em risco de pobreza tem vindo a aumentar. Enquanto que em 2003 se consideravam pobres os indivíduos que auferiam menos de 5.098 euros anuais, em 2018 este valor passou para 5.874 euros, o que representa 60% do rendimento médio nacional desse ano.

Os segmentos onde a pobreza se fez sentir com maior vigor foram os da população idosa e da população jovem. No ano de 2018, o risco de pobreza entre os mais velhos era de 17,3% contabilizando as transferências sociais e 88,8% sem as mesmas. Entre 2003 e 2006 registaram-se as taxas de risco de pobreza mais elevadas, sendo que um em cada quatro indivíduos com mais de 65 anos era pobre. Esta subida acalmou em 2012 e 2013, voltando a agravar-se nos anos seguintes.

A tendência de envelhecimento populacional em Portugal é, de acordo com a Eurostat, "evidente" e mais de metade dos indivíduos com mais de 65 anos correm risco de pobreza, sem as transferências sociais.

Já os mais jovens foram o grupo etário que registou uma taxa de risco de pobreza mais elevada, apresentando, ainda assim, o seu valor mais baixo em 2018. Contando com as transferências sociais, 18,5% dos jovens, com menos de 18 anos, encontravam-se numa situação financeiramente instável em 2018. Esta percentagem tem diminuído desde o ano de 2013, quando atingiu o seu valor máximo de 25,6%.



O risco de pobreza é igualmente mais elevado entre os indivíduos sem ou com um baixo nível de escolaridade, registando-se uma diferença de 21 pontos percentuais entre a pobreza na população menos letrada e na população com estudos superiores, o que mostra um acentuar das desigualdades sociais da sociedade portuguesa.

Só no ano de 2019, foram mais de 267 mil as pessoas que receberam o rendimento social de inserção, sendo que 51,6% eram mulheres e mais de dois em cada cinco tinham menos de 25 anos. Face a 1974 o salário mínimo (descontando o efeito da inflação) aumentou apenas 99 euros, enquanto que as pensões de velhice e invalidez subiram cerca de seis euros.

No segundo trimestre de 2020, devido ao impacto da pandemia, a taxa de desemprego atingiu os 5,6%, segundo o INE. Embora tenham sido criados novos postos de trabalho, não foram suficientes para acompanhar os despedimentos provocados pela Covid-19. As previsões do Governo associadas ao Orçamento do Estado para 2021 (OE2021), apontam ainda para uma subida desta taxa de desemprego, que se espera que atinja os 8,7% este ano e os 8,2% em 2021. O número de desempregados vai continuar a aumentar e leva a que aumentem, simultaneamente, os pedidos de ajuda.

As instituições de apoio e caridade social têm registado, este ano, um aumento significativo do número de pedidos de ajuda por parte das famílias portuguesas. De acordo com a AMI, os pedidos de apoio duplicaram nos últimos três meses, sendo que a Instituição apoia agora mais de 7 mil pessoas, em situação de pobreza e exclusão social.

Portugal continua a ser um dos países mais pobres da União Europeia e a Covid-19 veio dificultar a sua recuperação económica e o seu crescimento, aumentando o desemprego e a pobreza.

20.7.20

Pandemia põe em risco progresso alcançado pelos países contra múltiplas dimensões da pobreza

in ONU

Novos números divulgados na quinta-feira (16) mostram que antes da pandemia da COVID-19 houve progresso no enfrentamento da pobreza multidimensional, de acordo com o Índice de Pobreza Multidimensional (IPM) global, uma medida que vai além da renda e inclui acesso a serviços como saneamento e educação.

Os dados, divulgados pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) e pela Iniciativa Pobreza e Desenvolvimento Humano de Oxford (OPHI, na sigla em inglês), mostram que 65 dos 75 países estudados reduziram seus níveis de pobreza multidimensional entre 2000 e 2019. O PNUD alerta, no entanto, que com a pandemia esses avanços estão em risco.

Novos números divulgados nesta quinta-feira (16) mostram que antes da pandemia da COVID-19 houve progresso no enfrentamento da pobreza multidimensional, de acordo com o Índice de Pobreza Multidimensional (IPM) global, uma medida que vai além da renda e inclui acesso a serviços como saneamento e educação.

Os dados, divulgados pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) e pela Iniciativa Pobreza e Desenvolvimento Humano de Oxford (OPHI, na sigla em inglês), mostram que 65 dos 75 países estudados reduziram significativamente seus níveis de pobreza multidimensional entre 2000 e 2019.

Serra Leoa teve o progresso mais rápido na redução do seu valor global de IPM. É um dos sete dos dez países da África Subsaariana com movimento mais rápido, ao lado da Costa do Marfim, Guiné, Libéria, Mauritânia, Ruanda, São Tomé e Príncipe.

A Índia viu o número mais elevado de pessoas saindo da pobreza multidimensional – cerca de 270 milhões de pessoas entre 2005/6 e 2015/16. Na China, 70 milhões de pessoas deixaram a pobreza multidimensional entre 2010 e 2014. Em Bangladesh, os números caíram em 19 milhões entre 2014 e 2019.

“A COVID-19 está tendo impacto profundo no cenário de desenvolvimento. Mas esses dados – de antes da pandemia – são uma mensagem de esperança. Histórias de sucesso anteriores, sobre como enfrentar as muitas maneiras pelas quais as pessoas experimentam a pobreza em sua vida diária, podem mostrar como reconstruir melhor e melhorar a vida de milhões”, afirmou a diretora da OPHI na Universidade de Oxford, Sabina Alkire.

Enfrentando a pobreza multidimensional no mundo pós-COVID-19

Enquanto ainda não existem dados disponíveis para medir o aumento global da pobreza multidimensional depois da pandemia, simulações para 70 países em desenvolvimento, baseadas nos impactos previstos do vírus em apenas dois componentes do IPM global – nutrição e frequência escolar – sugerem os efeitos da crise se esta não for enfrentada.

Em três cenários de deterioração, nos quais 10%, 25% ou 50% das pessoas em estado de pobreza multidimensional ou em vulnerabilidade tornam-se subnutridas, e metade das crianças em idade escolar deixam de frequentar a escola, os níveis de pobreza podem regredir ao que eram há oito ou dez anos atrás.

Porém, mesmo se observarmos apenas o impacto na nutrição, se os aumentos previstos não forem prevenidos ou revertidos rapidamente, esse revés pode variar de três a seis anos.

“A COVID-19 é a mais recente crise a atingir o planeta, e a mudança global do clima só garante que mais (crises) virão em breve. Cada uma afetará os pobres de várias maneiras. Mais do que nunca, precisamos trabalhar no enfrentamento da pobreza – e da vulnerabilidade à pobreza – em todas as suas formas. É por isso que o Índice de Pobreza Multidimensional 2020 é tão importante”, afirmou o diretor do Escritório do Relatório de Desenvolvimento Humano do PNUD, Pedro Conceição.

Entre 1,3 bilhão de pessoas que ainda vivem na pobreza multidimensional atualmente, mais de 80% são desprovidas de pelo menos cinco dos dez indicadores usados para medir saúde, educação e padrões de vida no IPM global.

Os dados também revelam que o ônus da pobreza multidimensional atinge desproporcionalmente as crianças. Metade do 1,3 bilhão de pobres ainda não completou 18 anos. Enquanto 107 milhões têm 60 anos ou mais.

“O IPM, com informações tanto sobre o nível quanto sobre a composição da pobreza, fornece os dados necessários para identificar onde e como a pobreza se manifesta. Caso contrário, os formuladores de política estariam em voo cego, incapazes de saber como – ou onde – direcionar recursos e intervenções”, explicou a diretora da OPHI na Universidade de Oxford.

Por exemplo, na África Subsaariana, 55% da população (558 milhões de pessoas) estão na pobreza multidimensional. Destes, 98% (547 milhões de pessoas) não têm acesso a combustível de cozinha limpo, 84% (470 milhões de pessoas) não têm acesso a eletricidade, e 66% (366 milhões de pessoas) não têm acesso a água potável.

Enfrentar cada desafio requer uma abordagem diferente, muitas das quais precisam ir além de melhorar a renda. Isso é particularmente verdadeiro à luz do trabalho do PNUD de incentivar as sociedades de todos os lugares a aproveitar a oportunidade para repensar os caminhos de desenvolvimento e “reconstruir melhor” após a COVID-19.

Acesse a publicação aqui.

23.6.20

Portugal melhora objectivo de erradicação da pobreza

in Público on-line

Portugal melhora objectivo de erradicação da pobreza

Dados do Eurostat mostram que a tendência no país tem melhorado, mas a um ritmo mais lento do que seria desejado, e que ainda há campos em que a situação é bastante negativa

Portugal tem melhorado o objectivo de erradicação da pobreza, que em 2018 era de 21,6%, segundo dados sobre Objectivos de Desenvolvimento Sustentável da União Europeia (UE), divulgados esta segunda-feira pelo Eurostat.

De acordo com o relatório de 2020 sobre os Objectivos de Desenvolvimento Sustentável, disponibilizados esta segunda-feira pelo gabinete estatístico europeu, e que respeitam a 2018, Portugal está alinhado com a média da UE, com 21,6% da população em risco de pobreza, em 12.º lugar de uma tabela em que a Bulgária (32,8%) lidera e a República Checa (12,2%) tem a melhor prestação.

O indicador piora quando se analisa a capacidade para aquecer a casa no Inverno (em 5.º lugar, com 19,4% da população nestas condições), quando a média da UE é de 7,6%, sendo a Bulgária o país com mais elevada percentagem (33,7%) e a Áustria com a melhor situação (1,6%).

Considerando o risco de pobreza em pessoas com mais de 18 anos empregadas, Portugal ocupa o 8.º lugar (9,7%), ligeiramente pior que a média da UE (9,3%) com a Roménia na pior situação (15,3%) e a Finlândia na melhor (3,1%).

Olhando para as condições de habitação das pessoas em risco de pobreza, Portugal apresenta a segunda maior percentagem de população que vive em casas sem condições (26,9%) atrás de Chipre (30,2%) e acima da média da UE (13,6%), com a Finlândia a mostrar a melhor prestação (4,6%).

O Eurostat mostra, no entanto, que Portugal tem apresentado uma tendência em baixa no indicador do risco de pobreza desde 2013 e 2014, quando atingiu um pico de 27,5% de população em risco de pobreza tendo mantido desde 2015 uma tendência em baixa (em 2017, era de 23,3%, mais 1,7 pontos do que em 2018).

No conjunto dos 27 Estados-membros, o relatório agora divulgado mostra que houve progressos, ainda que a um ritmo mais lento do que o desejado

30.4.20

Painel de dados do PNUD revela disparidades entre países na capacidade de enfrentar COVID-19

in ONU

O Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) lança nesta quarta-feira (29) dois painéis de dados que destacam as enormes disparidades na capacidade dos países de enfrentar e se recuperar da crise da COVID-19.

A pandemia é mais do que uma emergência global de saúde. É uma crise sistêmica de desenvolvimento humano, que já afeta as dimensões social e econômica do desenvolvimento de maneira inédita, lembrou o PNUD.

Trabalhadores comunitários promovem a conscientização sobre a prevenção da COVID-19 e distribuem kits de higiene para famílias urbanas pobres em Bangladesh. Foto: PNUD Bangladesh/Fahad Kaize

O Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) lança nesta quarta-feira (29) dois painéis de dados que destacam as enormes disparidades na capacidade dos países de enfrentar e se recuperar da crise da COVID-19.

A pandemia é mais do que uma emergência global de saúde. É uma crise sistêmica de desenvolvimento humano, que já afeta as dimensões social e econômica do desenvolvimento de maneira inédita, lembrou o PNUD.

Políticas para reduzir vulnerabilidades e construir capacidades para administrar a crise, tanto no curto quanto no longo prazo, são vitais se os indivíduos e a sociedade pretendem resistir e se recuperar melhor de choques como este, salientou o organismo das Nações Unidas.

Preparo dos países para reagir à COVID-19

O “Dashboard’” 1 do PNUD sobre Preparo apresenta indicadores para 189 países – incluindo nível de desenvolvimento, desigualdades, capacidade do sistema de atenção à saúde e conectividade de Internet – para avaliar o quanto uma nação está apta a responder aos múltiplos impactos de uma crise como a da COVID-19.

Embora toda sociedade seja vulnerável a crises, as habilidades de reposta diferem significativamente entre cada uma no mundo todo.

Por exemplo, os países mais desenvolvidos – aqueles de nível muito elevado em desenvolvimento humano – têm em média 55 leitos hospitalares, mais de 30 médicos e 81 enfermeiros para cada 10 mil habitantes, comparados com uma média de 7 leitos hospitalares, 2,5 médicos e 6 enfermeiros em um país de desenvolvido mínimo.

E com extensivos confinamentos, a “brecha digital’ tornou-se mais significativa do que nunca, enquanto 6,5 bilhões de pessoas em todo o planeta – 85,5% da população global – ainda não têm acesso a Internet banda larga segura , o que limita sua capacidade de trabalhar e continuar sua educação.

Vulnerabilidades dos países em crises como a da COVID-19

Estar preparado é uma coisa. Mas, quando uma crise chega, quão vulneráveis estão os países a seus efeitos? O “Dashboard” 2 do PNUD sobre Vulnerabilidades apresenta indicadores que refletem a susceptibilidade dos países aos efeitos desta crise.

Aqueles que já vivem na pobreza estão particularmente em risco. Apesar dos progressos recentes na redução da pobreza, em média uma em cada quatro pessoas ainda vive em pobreza multidimensional ou está a ela vulnerável, e mais de 40% da população global não têm nenhuma proteção social.

A pandemia da COVID-19 também nos lembra que disrupções são contagiosas, desencadeando problemas em outros lugares. Em alguns países, como o Quirguistão, por exemplo, parte significativa do PIB vem das remessas de recursos. Enquanto países tão diversos entre si, como Montenegro, Maldivas e Cabo Verde, dependem fortemente do turismo (quase 60% do PIB das Maldivas, por exemplo) estão sendo atingidos profundamente pelas proibições de viagem e confinamentos

Sobre os “dashboards”

Os “dashboards” codificados por cor monitoram o nível de preparo dos países para a resposta à crise da COVID-19 e suas vulnerabilidades. Os painéis permitem agrupar parcialmente os países por indicador na tabela.

Para cada indicador, os países são divididos em cinco grupos com tamanhos aproximados, com a intenção de não sugerir limites ou valores-alvo para os indicadores, mas permitir acessar a performance dos países em relação aos outros.

Um país que está no topo (considerando cinco grupos, cada um representando 20%) tem melhor desempenho que os outros 80% dos países, e um país que se encontra na média tem desempenho melhor que os 40% da base, mas pior que os países do topo.

A codificação de cinco cores permite visualizar um agrupamento parcial de países e ajuda os usuários a distinguirem imediatamente o desempenho de um país entre o conjunto de indicadores selecionados. Os dados apresentados nessas tabelas são de fontes oficiais internacionais.

16.4.20

Especialistas da UNESCO pedem responsabilidade coletiva para proteger mais vulneráveis

in UN

Os especialistas apelam aos governos e à comunidade internacional para que tomem medidas urgentes, por meio da cooperação internacional e no espírito da solidariedade, e enfatizam a responsabilidade dos países mais ricos em ajudar os mais pobres na batalha contra a COVID-19.

Além disso, reconhece a situação particular daqueles privados de recursos básicos, como água e sabão, para manter a higiene básica; e chama atenção para a dificuldade de se realizar o distanciamento social em condições de superlotação, predominantes, por exemplo, nas favelas e nos campos de refugiados.

O Comitê Internacional de Bioética da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) e a Comissão Mundial para a Ética do Conhecimento Científico e Tecnológico emitiram declaração conjunta para orientar formuladores de políticas e informar o público sobre considerações éticas essenciais durante a luta mundial contra a COVID-19.

A Declaração sobre a COVID-19: Considerações Éticas sob uma Perspectiva Global lembra que a pandemia pode causar estresse psicológico agravado entre pessoas e grupos vulneráveis e marginalizados em todas as partes do mundo, sobretudo em países em desenvolvimento.

“Em um momento de incertezas, quando as sociedades de todo o mundo adotam medidas rápidas e radicais contra a pandemia, eu estou preocupada com as possíveis ameaças aos direitos humanos, à privacidade e aos padrões éticos, especialmente para os mais vulneráveis”, declarou a diretora-geral da UNESCO, Audrey Azoulay

“Esta crise exige o melhor da humanidade, com os princípios éticos como a nossa bússola.”

A declaração destaca a importância de se reconhecer a vulnerabilidade das pessoas afetadas por pobreza, discriminação, violência, desigualdades de gênero, doenças pré-existentes, perda de autonomia ou funcionalidade, idade, incapacidade, racismo, encarceramento, migração, além das dificuldades específicas enfrentadas por refugiados e pessoas apátridas.

Além disso, reconhece a situação particular daqueles privados de recursos básicos, como água e sabão, para manter a higiene básica; e chama atenção para a dificuldade de se realizar o distanciamento social em condições de superlotação, predominantes, por exemplo, nas favelas e nos campos de refugiados. A declaração também chama atenção para o aumento do risco de violência doméstica em condições de confinamento e isolamento.

A declaração expressa a convicção da UNESCO de que a guerra à COVID-19 exige o reconhecimento coletivo dessas vulnerabilidades emergentes e crescentes, para garantir que as respostas das políticas sociais e de saúde em todo o mundo não deixem ninguém para trás.

As pandemias destacam a interdependência dos Estados quanto à disponibilização de equipamentos de proteção, à formulação de políticas de saúde pública e ao impulsionamento da pesquisa científica em seus mais altos padrões. A declaração pede ações para combater as condições cada vez piores de vulnerabilidade e instam os países a desenvolver estratégias para enfrentá-las.

Os especialistas também apelam aos governos e à comunidade internacional para que tomem medidas urgentes, por meio da cooperação internacional e no espírito da solidariedade, e enfatizam a responsabilidade dos países mais ricos em ajudar os países mais pobres.

Em tais emergências, as decisões políticas precisam ser fundamentadas na ciência e orientadas pela ética. A estigmatização e a discriminação devem ser evitadas para garantir medidas efetivas de saúde pública; ademais, a pesquisa científica e as medidas de saúde precisam superar as divisões políticas, geográficas e culturais, de acordo com a declaração.

A UNESCO, a Organização Mundial da Saúde (OMS) e os comitês nacionais de bioética e ética têm trabalhado juntos para ajudar os Estados-membros a desenvolver políticas sólidas sobre questões éticas.

A cooperação está sendo intensificada para enfrentar os desafios da atual crise, salientou a declaração, lembrando que o documento será uma referência central e será usada pela UNESCO e por seus parceiros como uma ferramenta de capacitação.

19.2.20

Vaticano: Papa apela à erradicação da pobreza num mundo com cada vez mais recursos

in Ecclesia

Francisco encontrou-se com ministros, banqueiros e economistas

Cidade do Vaticano, 05 fev 2020 (Ecclesia) – O Papa defendeu hoje no Vaticano que o mundo tem recursos económicos e financeiros suficientes para erradicar a pobreza, falando perante ministros, banqueiros e economistas de vários países.

“Um mundo rico e uma economia vibrante podem e devem acabar com a pobreza. É possível gerar e promover dinâmicas capazes de incluir, alimentar, cuidar e vestir os últimos da sociedade, ao invés de excluí-los”, disse, no Simpósio ‘Novas formas de fraternidade solidária, de inclusão, integração e inovação’.
Francisco referiu que, num mundo cada vez mais rico, os “pobres aumentam”, apelando a um “olhar solidário a partir dos bancos, das finanças, dos governos e das decisões económicas”.
“Precisamos de muitas vozes capazes de pensar, a partir de uma perspetiva poliédrica, as várias dimensões de um problema global que diz respeito aos nossos povos e às nossas democracias”, enfatizou, numa intervenção divulgada pelo Vaticano.

O discurso evocou as centenas de milhões de pessoas que vivem na pobreza extrema, sem alimento, habitação, assistência médica, escolas, eletricidade ou água potável.
“Calcula-se que cerca de cinco milhões de crianças abaixo dos 5 anos vão morrer este ano devido à pobreza. Outras 260 milhões não receberão uma educação por falta de recursos, por causa das guerras e das migrações”, indicou Francisco.

O Papa falou ainda das vítimas do tráfico de pessoas e das novas formas de escravidão, como o trabalho forçado, a prostituição e o tráfico de drogas”.
“O nível de riqueza e de técnica acumulados pela humanidade, bem como a importância e o valor que os direitos humanos adquiriram, não permitem mais pretextos. Devemos ter consciência de que todos somos responsáveis”, advertiu.

O Vaticano acolheu hoje uma conferência com economistas, ministros e banqueiros para debater um pacto global contra as desigualdades e por uma melhor distribuição da riqueza.
Os trabalhos, com a presença de Kristalina Georgieva, diretora-geral do Fundo Monetário Internacional, foram promovidos pela Academia Pontifícia de Ciências Sociais (APCS).

23.1.20

UNICEF: 1 em cada 3 adolescentes de famílias pobres do mundo nunca frequentou a escola

in ONU

Uma em cada três adolescentes das famílias mais pobres do mundo nunca frequentou a escola, de acordo com um novo relatório do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) lançado na segunda-feira (22), enquanto ministros da Educação se reúnem no Fórum Mundial da Educação e líderes globais na Reunião Anual do Fórum Econômico Mundial.
Pobreza, discriminação por gênero, deficiência, origem étnica ou idioma de instrução, distância física das escolas e infraestrutura precária estão entre os obstáculos que continuam a impedir que as crianças mais pobres tenham acesso a uma educação de qualidade.

Pobreza, discriminação por gênero, deficiência, origem étnica ou idioma de instrução, distância física das escolas e infraestrutura precária estão entre os obstáculos que continuam a impedir que as crianças mais pobres tenham acesso a uma educação de qualidade.

Uma em cada três adolescentes das famílias mais pobres do mundo nunca frequentou a escola, de acordo com um novo relatório do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) lançado na segunda-feira (22), enquanto ministros da Educação se reúnem no Fórum Mundial da Educação e líderes globais na Reunião Anual do Fórum Econômico Mundial.

Pobreza, discriminação por gênero, deficiência, origem étnica ou idioma de instrução, distância física das escolas e infraestrutura precária estão entre os obstáculos que continuam a impedir que as crianças mais pobres tenham acesso a uma educação de qualidade. A exclusão em todas as etapas da educação perpetua a pobreza e é um fator-chave de uma crise global de aprendizado.

O documento “Abordando a crise da aprendizagem: uma necessidade urgente de financiar melhor a educação para as crianças mais pobres” — disponível em inglês — destaca grandes disparidades na distribuição dos gastos públicos em educação.

O financiamento limitado e distribuído de forma desigual resulta em turmas grandes, professores mal treinados, falta de material educacional e infraestrutura escolar precária. Isso, por sua vez, tem um impacto adverso na frequência, matrícula e aprendizado.

“Países em todos os lugares estão falhando com as crianças mais pobres do mundo e, ao fazê-lo, falham com eles mesmos”, disse Henrietta Fore, diretora-executiva do UNICEF.
“Enquanto os gastos com educação pública forem desproporcionalmente direcionados às crianças das famílias mais ricas, as mais pobres terão poucas esperanças de escapar da pobreza, aprendendo as habilidades necessárias para competir e ter sucesso no mundo de hoje e contribuindo para as economias de seus países.”

Analisando 42 países com dados disponíveis, o documento conclui que a educação para crianças das famílias 20% mais ricas recebe quase o dobro da quantia de financiamento da educação do que as crianças das 20% mais pobres.
Dez países da África são responsáveis pelas maiores disparidades nos gastos com educação, com quatro vezes mais recursos destinados às crianças mais ricas do que às mais pobres. Na Guiné e na República Centro-Africana — países com algumas das taxas mais altas de crianças fora da escola —, as crianças mais ricas se beneficiam nove e seis vezes mais, respectivamente, da quantidade de fundos de educação pública do que as crianças mais pobres.

Barbados, Dinamarca, Irlanda, Noruega e Suécia são os únicos países incluídos na análise que distribuem o financiamento da educação igualmente entre os quintis mais ricos e os mais pobres.
O documento observa que a falta de recursos disponíveis para as crianças mais pobres está exacerbando uma crise de aprendizado incapacitante, pois as escolas falham em fornecer educação de qualidade aos seus estudantes. Segundo o Banco Mundial, mais da metade das crianças que vivem em países de baixa e média renda não consegue ler ou entender uma história simples no final do ensino fundamental.
O documento estabelece diretrizes claras para os governos: na alocação de recursos domésticos, os fundos devem ser distribuídos para que as crianças das famílias 20% mais pobres se beneficiem de pelo menos 20% do financiamento da educação.

O financiamento público deve priorizar os níveis mais baixos de educação – nos quais as crianças das famílias mais pobres estão mais representadas –, e as alocações para níveis mais altos devem aumentar gradualmente quando a cobertura for quase universal nos níveis mais baixos.

Pelo menos um ano de educação pré-primária universal deve ser providenciado para todas as crianças. A educação pré-primária é a base sobre a qual cada estágio da escolaridade se baseia.
As crianças que concluem a pré-escola aprendem melhor, têm mais probabilidade de permanecer na escola e contribuem mais para suas economias e sociedades quando atingem a idade adulta. A alocação de pelo menos 10% dos orçamentos nacionais da educação ajudará a alcançar o acesso universal.
“Estamos em um momento crítico. Se investirmos de forma inteligente e equitativa na educação das crianças, teremos a melhor chance possível de tirar as crianças da pobreza, capacitando-as com as habilidades necessárias para acessar oportunidades existentes e criar novas oportunidades para si mesmas”, afirmou Fore.

18.11.19

Presidente: ano eleitoral levou a “paragem” na erradicação de sem-abrigo

in Público on-line

Marcelo faz diagnóstico negativo e receia que a meta de erradicação de sem-abrigo até 2023 não seja atingida. Há “total falta de casas por causa da vertiginosa subida do custo em Lisboa e Porto” e “deficiência da ligação ao SNS no que toca à Saúde Mental”.

O Presidente da República receia que não seja cumprida a meta de erradicar os sem-abrigo até 2023 e diz que o ano eleitoral levou a uma “paragem” no combate a esta realidade social.
Em declarações ao Expresso, antes de uma “reunião de trabalho” no Palácio de Belém sobre o assunto, Marcelo Rebelo de Sousa diagnosticou o que diz ser um “triplo problema": “paragem no ano eleitoral de 2019”, em que o orçamento para o ano no que toca aos sem abrigo “só foi aprovado pelo Governo em meados” do ano; “total falta de casas por causa da vertiginosa subida do custo em Lisboa e Porto"; e “deficiência da ligação ao Serviço Nacional de Saúde no que toca à Saúde Mental”.

Em busca do corpo perfeito. Os bastidores do culturismo
Além da mudança radical de responsáveis governativos nesta área, Marcelo identifica como problema o facto de a secretaria de Estado da Segurança Social estar sediada na Guarda, longe de Lisboa ou do Porto, onde se encontram mais pessoas em situação de sem-abrigo.

Marcelo diz que, “já em 2019, com a desaceleração da economia, houve um aumento, ligeiro, de sem-abrigo”, isto num “ano eleitoral parado, até no apoio aos movimentos de voluntários e outros”.
O Presidente da República marcou para esta segunda-feira uma “reunião de trabalho” para fazer um “ponto de situação sobre o Plano de Acção 2019-20 da Estratégia Nacional para a Integração de Pessoas em Situação de Sem-Abrigo (ENIPSSA)”. A nova ministra da Segurança Social, Ana Mendes Godinho, estará presente na reunião, segundo o Expresso.

Marcelo tem feito da erradicação dos sem-abrigo uma das suas maiores bandeiras, pondo o assunto na agenda mediática através de várias iniciativas públicas. A 6 de Novembro, por exemplo, disse que era preciso perceber se o novo Governo, com uma nova equipa na Segurança Social, tencionava ou não prosseguir o caminho iniciado pelo executivo anterior nesta matéria.

Também este mês o PÚBLICO noticiou que, há meio ano, o Governo prometeu investir 131 milhões de euros na integração dos sem-abrigo até ao final de 2020, mas as autarquias e as associações dizem que o dinheiro ainda não chegou ao terreno.

13.11.19

ARTIGO: Acabar com a pobreza na aprendizagem: o apelo dos nossos tempos

in ONU

O diretor de Prática de Educação Global do Banco Mundial, Jaime Saavedra, analisa as taxas de aprendizagem nos países de renda baixa e média, onde mais da metade das crianças de 10 anos não consegue ler e entender um texto simples.

Para ele, a chamada “pobreza de aprendizagem” é moralmente e economicamente inaceitável. Leia abaixo o artigo completo.

Aprender a ler é um marco na vida de todas as crianças. Aqueles de nós que somos pais, professores e irmãos mais velhos podemos lembrar com carinho a primeira vez que sua filha, seu aluno ou irmão foi capaz de ler uma frase e o quão orgulhoso e feliz isso o (a) fez sentir.

Ler é uma habilidade fundamental. É uma pré-condição para a participação ativa na sociedade e uma porta de entrada para todos os outros resultados de aprendizagem.
Está também associada ao domínio de outros domínios cognitivos, como a ciência, a matemática e as humanidades. Finalmente, é fundamental para adquirir as habilidades de pensamento criativo e habilidades computacionais, permitindo a expressão e comunicação de ideias através do tempo e do espaço.

A maioria de nós que lê isso, neste preciso momento, considera a leitura como algo trivial. No entanto, se você pensar um pouco sobre isso, você pode perceber que a leitura não é tão fácil.
Você está agora distinguindo gotas de tinta ou pixels organizados como um caractere associado a um som, que, combinado com outros, fazem uma palavra. Nosso cérebro então processa palavras por meio de regras gramaticais para formar frases, cujo significado depende do contexto.

Quando você lê “Sam disse ao seu amigo: Vamos pegar a estrada”, você entende que ele queria entrar no carro e começar uma viagem, não que ele quisesse segurar de fato uma estrada.

Ler e compreender as ideias transmitidas pelo que se lê é uma tarefa complexa. No entanto, as crianças podem aprender. Na verdade, todas as crianças podem aprender a ler, mesmo em línguas com regras mais complexas.
Portanto, esperamos que até o final da escola primária, as crianças sejam capazes de ler fluentemente, em certo nível de complexidade e velocidade, e entender o que eles estão lendo. Isso está acontecendo?
Vamos colocar uma barra relativamente baixa e argumentar que todas as crianças devem ser capazes de ler e entender um texto simples aos 10 anos. Usando avaliações internacionais e nacionais, em conjunto com a Unesco, avaliamos quantas crianças não conseguem passar essa barra relativamente baixa em cada país.

Na Irlanda, esse número é de 2%. Na Finlândia, 3%; em Cingapura, 3%; em Portugal, 6%. A leitura é quase universal para crianças pequenas nesses países, como em muitos outros países ricos.
Em média, nos países ricos, apenas 9% das crianças não conseguem ler um texto até aos 10 anos de idade. É aí que termina a boa notícia.

No mundo em desenvolvimento, em todos os países de renda baixa e média, mais da metade das crianças não consegue ler e entender um texto simples aos 10 anos. Chamamos isso de taxa de “pobreza de aprendizagem”.
Mais precisamente, em média, a pobreza de aprendizagem nesses países é de 53%. Só nos países pobres, essa percentagem aumenta para uns surpreendentes 89%. A pobreza de aprendizagem se distribui de forma extremamente desigual: o século 21 coexiste com o 19.

Esse alto nível de pobreza de aprendizagem é uma forma simples e direta de entender a crise de aprendizagem em que vivemos, que o Banco Mundial reconheceu pela primeira vez no Relatório de Desenvolvimento Mundial de 2018.

As crianças que não dominam a leitura aos 10 anos de idade terão dificuldade em recuperar o atraso e não é provável que continuem a aprender nos níveis de ensino superior ou mesmo que permaneçam muito tempo na escola. Todos os outros resultados educacionais estão em risco, suas perspectivas de vida estão em risco. Uma habilidade que muitos de nós tomam como certa é, na verdade, um privilégio negado a milhões de crianças em todo o mundo.

A pobreza na aprendizagem é moralmente e economicamente inaceitável. Moralmente, porque milhões de crianças ficarão impossibilitadas de participar de uma economia que se está se tornando mais próspera e rica. Temos a tecnologia para fornecer serviços de educação básica e, globalmente, os recursos estão disponíveis, mas essa prosperidade não está sendo compartilhada.

E economicamente inaceitável porque, mesmo que nos preocupemos apenas com a competitividade e o crescimento, se o capital humano não for acumulado, será impossível para um país prosperar na economia global.
Uma análise do Banco Mundial mostra que, nos países ricos, 70% da riqueza é derivada do capital humano acumulado. Nos países mais pobres, é apenas 40%.

Eliminar a aprendizagem da pobreza é tão urgente quanto erradicar a pobreza extrema, a deficiência de crescimento ou a fome. A comunidade internacional de desenvolvimento e a maioria dos países concordaram com uma série de metas para a educação.

O Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS) 4 aspira “garantir educação primária e secundária gratuita, equitativa e de qualidade para todos” até 2030, entre muitos outros resultados educacionais.
Estamos no caminho certo para alcançar pelo menos uma educação primária de qualidade para todos? Bem, não. Com educação primária de qualidade, todas as crianças aprenderiam a ler; a pobreza na aprendizagem tenderia a zero.

No entanto, mantido o cenário atual – ou seja, se o progresso continuar na taxa alcançada durante 2000-2015 – até 2030, a pobreza na aprendizagem cairá apenas para 43%. Os altos níveis de pobreza de aprendizagem e a lenta taxa de melhoria são um alerta antecipado de que a maioria das metas educacionais incluídas no ODS 4 estão em risco de não serem cumpridas.
Eliminar a pobreza na aprendizagem para todas as crianças até 2030 exigirá melhorias a uma taxa e escala sem precedentes. Isso não significa que devemos parar de lutar por esse objetivo.
Focar na eliminação da pobreza de aprendizagem exigirá que todos os atores do sistema educacional (professores, diretores, governos locais e centrais, ministros e muitos outros) internalizem que o objetivo do trabalho que ocupam é garantir que cada criança aprenda.

E os governos e as sociedades devem colocar os compromissos financeiros, políticos e os recursos humanos necessários para garantir uma educação de qualidade para todas as crianças. Todas elas merecem a alegria de ler. Todas merecem um futuro melhor.

Jaime Saavedra é diretor de Prática de Educação Global do Manco Mundial

18.7.19

Novos dados desafiam noções tradicionais de riqueza e pobreza

in ONUBR

As descobertas do Índice de Pobreza Multidimensional (IPM) global de 2019 lançam luz sobre as disparidades relacionadas à forma como as pessoas vivenciam a pobreza, revelando vastas desigualdades entre os países e mesmo entre as pessoas pobres.

O IPM vai além da renda como único indicador de pobreza, explorando as formas pelas quais as pessoas vivenciam a pobreza em sua saúde, educação e padrão de vida.

Os resultados do IPM deste ano mostram que mais de dois terços dos multidimensionalmente pobres – 886 milhões de pessoas – vivem em países de renda média. Outros 440 milhões vivem em países de baixa renda. Em ambos os grupos, os dados mostram que médias nacionais simples podem esconder uma enorme desigualdade nos padrões de pobreza dentro dos países.

O conceito tradicional de pobreza está desatualizado, de acordo com relatório divulgado nesta quinta-feira (11) pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) e pela Oxford Poverty and Human Development Initiative (OPHI). Novos dados demonstram, mais claramente do que nunca, que rotular países – ou mesmo domicílios – como ricos e pobres é uma simplificação excessiva.
As descobertas do Índice de Pobreza Multidimensional (IPM) global de 2019 lançam luz sobre as disparidades relacionadas à forma como as pessoas vivenciam a pobreza, revelando vastas desigualdades entre os países e mesmo entre as pessoas pobres.

“Para combater a pobreza, é preciso saber onde as pessoas pobres vivem. Elas não estão uniformemente espalhadas por um país, nem mesmo dentro de um domicílio”, afirma o administrador do PNUD, Achim Steiner. “O Índice de Pobreza Multidimensional global de 2019 fornece informações detalhadas de que os formuladores de políticas precisam para direcioná-las com mais eficiência”.

O IPM vai além da renda como único indicador de pobreza, explorando as formas pelas quais as pessoas vivenciam a pobreza em sua saúde, educação e padrão de vida. Os resultados do IPM deste ano mostram que mais de dois terços dos multidimensionalmente pobres – 886 milhões de pessoas – vivem em países de renda média. Outros 440 milhões vivem em países de baixa renda. Em ambos os grupos, os dados mostram que médias nacionais simples podem esconder uma enorme desigualdade nos padrões de pobreza dentro dos países.

Por exemplo, em Uganda, 55% da população vivencia a pobreza multidimensional – média semelhante à da África subsaariana. Mas a capital Kampala tem uma taxa de IPM de 6%, enquanto na região de Karamoja o IPM sobe para 96% – o que significa que partes de Uganda abrangem os extremos da África subsaariana.

A desigualdade existe até sob o mesmo teto. No sul da Ásia, por exemplo, quase um quarto das crianças com menos de cinco anos vive em lares onde pelo menos uma criança da família está desnutrida, mas pelo menos uma criança não está.

“Precisamos – mesmo entre os que vivem na pobreza – compreender as diferentes experiências de privação das pessoas. Elas estão desnutridas? Elas podem ir à escola? Só assim as políticas de redução da pobreza serão eficientes e eficazes”, afirma o diretor do Escritório do Relatório de Desenvolvimento Humano do PNUD, Pedro Conceição.

Há também desigualdade entre os pobres. Os resultados do IPM global de 2019 mostram uma imagem detalhada das muitas diferenças em como – e quão profundamente – as pessoas vivenciam a pobreza. As privações entre os pobres variam enormemente: em geral, valores mais altos de IPM andam de mãos dadas com maior variação na intensidade da pobreza.

Os resultados também mostram que as crianças sofrem mais intensamente com a pobreza do que os adultos e estão mais propensas à privação em todos os 10 indicadores do IPM, com a falta de elementos essenciais como água potável, saneamento, nutrição adequada ou educação primária.

Ainda mais surpreendente é que uma em cada três crianças ao redor do mundo é multidimensionalmente pobre, em comparação com um em cada seis adultos. Isso significa que quase metade das pessoas que vive em pobreza multidimensional – 663 milhões – são crianças, e as crianças mais novas carregam o maior fardo.

Mas os novos dados também mostram uma tendência positiva: os países mais atrasados são os que estão subindo mais depressa.

“Analisamos os dados de um grupo de dez países de rendas média e baixa e descobrimos a encorajadora novidade de que os 40% de baixo estavam se movendo mais rapidamente do que o resto”, diz a diretora da OPHI, Sabina Alkire. “Esse é um padrão favoráel aos pobres que reduz as desigualdades em vários Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS)”.

Os dados mostram ainda que, dentro desses dez países, 270 milhões de pessoas deixaram a pobreza multidimensional entre uma pesquisa e outra. Esse progresso foi, em grande parte, impulsionado pelo sul da Ásia: na Índia, havia 271 milhões de pobres a menos em 2016 em relação a 2006; enquanto em Bangladesh esse número caiu 19 milhões entre 2004 e 2014. Em outros países houve menos – ou nenhuma – redução absoluta, com o número de multidimensionalmente pobres aumentando em 28 milhões nos três países africanos considerados. Em parte, isso ocorreu devido ao rápido crescimento populacional, que superou as reduções na pobreza. Na verdade, as taxas de pobreza (como porcentagem da população) diminuíram na maioria dos países.

O IPM global de 2019 traça um quadro detalhado da pobreza para 101 países e 1.119 regiões subnacionais, cobrindo 76% da população global e indo além de medidas simples baseadas na renda para observar como as pessoas vivenciam a pobreza todos os dias.

Acesse os dados na íntegra: hdr.undp.org/en/2019-MPI