in Diário Digital
Uma especialista independente da ONU em minorias étnicas lamentou hoje a cobertura mediática sensacionalista do caso da criança loira encontrada num acampamento cigano na Grécia, afirmando que pode causar revolta contra indivíduos de etnia cigana.
Em comunicado, Rita Izsák afirma que alguma imprensa fez uma cobertura sensacionalista do caso, o que «pode resultar numa revolta perigosa contra indivíduos e comunidades» de étnica cigana, também classificados de Roma na Europa.
«Algumas entidades e meios de comunicação parecem estar a trabalhar com base no argumento de que os Roma são culpados até que se prove a sua inocência», lamentou.
Afirmando que «há demasiada gente a acreditar em estereótipos de que todos os Roma são criminosos por natureza», a especialista afirma que «esta recente cobertura ameaça provocar uma reação ainda mais tumultuosa contra as comunidades Roma acusadas de raptar crianças e que já estão sendo sujeitas a ódios».
Rita Izsák revelou ainda que em alguns países, famílias «desesperadas» com casos de crianças desaparecidas estão a pedir à polícia que investigue acampamentos ciganos.
«Entretanto, as famílias Roma vêm os seus próprios filhos ser levados com base em noções simplistas fundamentadas na cor dos olhos e do cabelo de um cidadão de etnia cigana», acrescentou.
A especialista independente da ONU lamentou também que «raramente tenham merecido cobertura mediática» as crianças de etnia cigana que durante gerações foram levadas dos pais «pela assunção de que, sendo pobres, não conseguem cuidar delas».
«Muitas crianças Roma desaparecem ou sujeitam-se ao risco do tráfico ou da prostituição. A educação discriminatória para com os Roma, a esterilização forçada de mulheres Roma e o assassinato de indivíduos Roma resultantes de ataques alimentados pelo ódio são apenas algumas das várias tragédias que os Roma enfrentam», acrescentou.
Nesse sentido, apela a todos os meios de comunicação, figuras políticas e dirigentes de partidos políticos que se «contenham e se abstenham de generalizações perigosas» relativamente à suposta criminalidade dos ciganos.
«Esta cobertura irresponsável e retórica baseada no ódio irá apenas fomentar ainda mais a estigmatização e até mesmo a violência contra indivíduos e comunidades Roma», afirmou.
Segundo a especialista, estima-se que na Europa a população de etnia cigana ronde os 12 milhões de pessoas.
Maria, entre os quatro e os seis anos, foi descoberta a 06 de outubro durante uma operação policial no acampamento cigano de Farsala, no centro da Grécia. Análises feitas revelaram que não era filha biológica do casal com quem vivia, um homem de 39 anos e uma mulher de 40, detidos e acusados de rapto.
Entretanto, análises de ADN comprovaram que a criança loura é filha do casal búlgaro que a «mãe adotiva» indicou à polícia, como sendo as pessoas que lhe entregaram a bebé por não terem condições para a criar.
Diário Digital com Lusa