Aline Flor, in Público
O Tribunal de Família e Menores do Seixal ouviu ontem os pais das crianças retiradas em Abril à família por risco de mutilação genital feminina (MGF). A audição, porém, nada alterou. A 16 de Maio, os progenitores das duas meninas, uma de um ano e meio e a outra com quase dois meses, regressam ao tribunal. Enquanto isso, as crianças continuam numa casa de acolhimento, diz Ilda Oliveira, advogada da família.
O caso remonta a Março deste ano.
A mulher, de 29 anos, deu à luz no Hospital Garcia de Orta, em Almada, e a equipa médica, vendo que era excisada, questionou-a se pretendia manter a tradição. A mulher revelou que dentro de seis meses iria viajar para a Guiné-Conacri e submeter as Ælhas àquela prática.
A Comissão de Protecção de Crianças e Jovens (CPCJ) do Seixal foi alertada e convocou ambos os progenitores para garantir que sabiam que a excisão é crime e que não iriam submeter as Ælhas ao corte. Pai e mãe não compareceram à reunião agendada.
AÆrmam que houve uma falha de comunicação, que avisaram que a criança tinha uma consulta naquela manhã e que a família não chegaria a tempo da reunião. A CPCJ considerou a falta de comparência sinal de não colaboração e propôs ao tribunal a retirada do bebé, na altura com três semanas, e da irmã de um ano e meio, à família.
Ambas se encontram numa casa de acolhimento. Os pais visitam as Ælhas todos os dias, sendo que a mãe continua a amamentar a recém-nascida.
Estas visitas só não acontecem aos feriados, quando não há funcionários para permitir visitas, relata a advogada. “É inadmissível”, queixa-se a advogada, relembrando que o bebé está em fase de aleitamento.
Ontem, a audição serviu para rever o processo de promoção e protecção das crianças. O juiz ouviu o relatório feito pelas assistentes sociais sobre a situação da família, os pais da criança e as alegações do Ministério Público.
O futuro das meninas continua em aberto. As duas crianças poderãocar longe da casa dos pais por tempo indefinido, enquanto o juiz considerar que ainda não estão reunidas as condições para regressarem.
Retirar ou não? A decisão de retirar as menores é vista de diferentes formas entre proÆssionais, activistas e outras pessoas que desenvolvem trabalho de prevenção junto de comunidades portuguesas nas quais a MGF ainda é praticada.
Mas o que prevê a lei? A procuradora Ana Teresa Leal — que em 2016 abriu um inquérito quase inédito para averiguar a eventual prática de crime de MGF (o processo acabou por ser arquivado pelo procurador que a substituiu) —, explica que há contextos especíÆcos em que é indicado retirar as crianças aos pais.
A Lei de Protecção de Menores diz que, havendo o alerta “de uma situação em que possa existir perigo” e com “indícios seguros” de que os pais querem submeter a criança à MGF, aconselha-se a “aplicação imediata de medida cautelar” — entre as quais se inclui a retirada das crianças. Mas situações como esta não são a regra, explica a procuradora. Normalmente, quando questionados por técnicos de saúde ou assistentes sociais, os pais dizem que não pretendem cumprir a tradição.
Entre 2015 e 2018, houve 11 processos nas CPCJ, como o PÚBLICO noticiou em Setembro último. Nesse período, foram instaurados quatro processos de promoção e protecção judiciais nos tribunais de família e menores envolvendo risco de MGF, de acordo com informações do Ministério Público. Desde 2015, quando a MGF se tornou um crime autónomo, houve dois inquéritos abertos por eventual prática de crime — um dos casos já noticiado, outro só agora Ægude coacção do âmbito dos processoscrime. Ainda assim, os números parecem baixos, tendo em conta um estudo publicado em 2015 que estimava que, em Portugal, cerca de 1830 meninas com menos de 15 anos já foram submetidas a esta prática ou estão em risco de o ser. Estima-se que 6576 mulheres, com 15 ou mais anos, já tenham sido vítimas de mutilação genital.
O que as estatísticas disponíveis não mostram é o número de casos em que o risco é identiÆcado, mas a informação não chega a ser encaminhada para as CPCJ. O problema é resolvido com os pais directamente pelas entidades que o detectam, em áreas como A mãe amamenta a recém-nascida todos os dias, excepto aos feriados, quando há menos funcionários.
Uma situação que a advogada considera inadmissível Meninas em risco de mutilação continuam à guarda do Estado Em Abril dois bebés foram retirados à família por risco de mutilação genital feminina. Ontem, a família foi ouvida, mas o tribunal manteve medida. Quais são as opções quando se quer prevenir? Protecção de menores Aline Flor rando na recolha da PGR. Ambos foram arquivados sem acusação.
A procuradora Ana Teresa Leal explica que um caso como o do Seixal pode não se enquadrar no crime de mutilação genital feminina. A lei prevê que os actos preparatórios sejam suÆcientes para conÆgurar a prática deste crime, mas, neste caso, mesmo com as declarações da mãe às enfermeiras, seria necessário ter havido medidas mais concretas, como a compra das passagens para a Guiné. E, tratando-se de um processo de promoção e protecção judicial, Æca também posta de parte a hipótese de retirada de passaporte da criança para impedir a viagem, uma medida
Audições continuam esta semana saúde, educação ou segurança social.
O acompanhamento mais adequado seria uma medida de apoio aos pais, explica Ana Teresa Leal. Por exemplo, frequentar um programa de informação ou algum tipo de acção de sensibilização para conhecer as consequências para a saúde da prática da MGF. Seria também necessário garantir que os progenitores estão plenamente conscientes das implicações legais, caso não tenham sido informados ao longo do processo.
Pode também pedir-se aos médicos de família que acompanhem as crianças, examinando-as durante as consultas para saber se foram sub- aline.flor@publico.pt metidas à prática, explica Elisabete Brasil, da União de Mulheres Alternativa e Resposta. A jurista, que trabalhou na área da promoção e protecção de jovens antes de se dedicar à violência doméstica de forma mais abrangente, em casas-abrigo, sublinha que “nunca houve tantas orientações, tanto conhecimento como existe hoje” sobre o fenómeno da mutilação genital feminina. “Não signiÆca que já tenhamos tudo feito”, ressalva, “mas estamos a fazer um caminho, e já estamos mais interventivos”. com Rita Marques Costa O caso das duas meninas retiradas aos pais foi denunciado publicamente a 12 de Abril por um dos líderes religiosos presentes na conferência As Meninas e Mulheres, a Tradição e o Islão, organizada pela Secretaria de Estado para a Cidadania e a Igualdade. Na sequência da denúncia, o Alto Comissariado para as Migrações foi informado do caso e “está a acompanhar os desenvolvimentos juntamente com a Comissão Nacional de Promoção dos Direitos e Protecção das Crianças e Jovens”, respondeu ao PÚBLICO o gabinete da secretária de Estado, Rosa Monteiro. O executivo sublinha que houve uma tomada de posição pública “particularmente significativa” por parte de líderes religiosos, ex-fanatecas (mulheres que praticam o ritual) e representantes da comunidade islâmica.
Em Fevereiro, no 4.º Encontro Regional sobre MGF, em Lisboa, Rosa Monteiro sublinhou que a intervenção tem que ser “local e qualificada”. A prevenção e combate devem fazer-se com envolvimento das autarquias e entidades que têm contacto directo com as comunidades.
O foco deve ir além da punição das famílias praticantes, sob risco de “estigmatização criminalista que pode contribuir para ocultar ainda mais esta prática”.
Elisabete Brasil, da UMAR, lembra as pós-graduações que nos últimos anos têm preparado profissionais na região de Lisboa para lidar com estes casos. As directrizes das diferentes áreas foram actualizadas depois da mudança da lei e voltarão a sê-lo este ano. As da saúde serão revistas até ao final de 2020. A.F.
Intervenção “local e qualificada”
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10.5.19
10.2.16
Corte genital: 240 mil meninas em perigo só em Portugal
Carla Macedo, in "Delas"
Dia 6 de fevereiro é o Dia Internacional da Tolerância Zero à Mutilação Genital Feminina. Por todo o mundo há comunidades em que esta prática de retirar os órgãos sexuais externos da mulher, parcial ou totalmente, se mantém. E Portugal não é exceção.
“Se a atual tendência continuar, quando chegarmos a 2030 já serão mais as meninas mutiladas a cada ano do que atualmente, já que há taxas de fertilidade muito altas e populações jovens na maioria das comunidades em que a Mutilação Genital Feminina prevalece”, afirmou Ban Ki-moon, Secretário-Geral das Nações Unidas na última sexta-feira.
No último ano, vários países ilegalizaram a mutilação genital feminina, entre eles a Gâmbia e a Nigéria, mas da ilegalização à erradicação da prática vai um longo caminho. O caso da Indonésia é demonstrativo. A mutilação genital feminina foi criminalizada em 2006 e ainda hoje o país se encontra entre os que têm maior prevalência do fenómeno.
As últimas estatísticas reveladas pela UNICEF mostram que há mais de 200 milhões de meninas e mulheres no mundo que passaram pelo corte ritual dos órgãos sexuais externos, e que metade destas mulheres vive na Indonésia, no Egito e na Etiópia. No entanto, a maior percentagem de casos num só país pertence à Somália onde 98% das mulheres, numa população com 12 milhões de habitantes, foi submetida ao corte.
MGF existe cá e chama-se fanado
Em Portugal, estima-se que sejam cerca de 240 mil as raparigas com menos de 18 anos que possam vir a ser vítimas da MGF, já que o Instituto Europeu da Igualdade de Género demonstra num estudo recente que a percentagem de jovens menores do sexo feminino em contacto com esta prática pode chegar a 23% daquele grupo etário.mutilação-213x169
O fenómeno conhece-se há décadas e dá pelo nome de fanado entre as comunidades em que a prática prevalece. Os casos eram assinalados de forma pontual e, apenas em 2014, com o aparecimento da Plataforma de Dados de Saúde (PDS), os episódios começaram a ser sistematizados. Os dados disponibilizados da PDS correspondem a 2014 e são: 40 casos no total, dos quais 65% dos casos são mutilações com corte do clítoris e dos pequenos lábios vaginais.
Estas mulheres tinham em média 29 anos e tinham sido cortadas aos 6 anos de idade no seu país de origem. No universo de casos detetados, 74% corresponde a mulheres oriundas da Guiné e da Guiné-Bissau, as restantes do Benim, da Nigéria e do Senegal. A maioria dos casos foram detetados no âmbito de um internamento (40%), no seguimento da gravidez (30%) e em consulta externa (25%).
Apesar destes dados que parecem apontar para a importação do problema, há relatos desta prática ser feita em Portugal. Segundo Duarte Vilar, diretor executivo da Associação para o Planeamento da Família (APF):
“Ainda há meninas e raparigas em risco. Há testemunhos em Portugal, há prática em Portugal, há casos julgados, cerca de 4 casos.”
Duarte Vilar relembra que, quando a APF iniciou formações nesta área, em 1999, a representação da MGF entre o pessoal de saúde “não era visto como um problema nosso.”
“Nos últimos anos, com os planos de nacionais de combate à MGF, a representação tem mudado. As formações que fizemos nas Escolas Superiores de Saúde de Lisboa e Setúbal, abrangendo centenas de profissionais, a par das comemorações do dia Dia Internacional da Tolerância Zero à Mutilação Genital Feminina nos hospitais tem vindo a dar visibilidade ao problema. Sabem hoje que é um problema que afeta uma parte das suas utentes.”
Luta nacional contra a MGF
Na Amadora, um dos concelhos mais afetados por este flagelo, realizou-se no dia 4, o 1.º Encontro Regional para a Intervenção Integrada pelo Fim da MGF. A Secretária de Estado para a Cidadania e Igualdade, Catarina Marcelino, presente neste Encontro declarou que a MGF é “uma das mais aviltantes formas de violência de género.” A governante considerou que
“O combate à MGF não pode ser considerado uma intrusão nos costumes culturais, uma vez que esta é uma prática que atinge de forma brutal a integridade física e psicológica das mulheres.”
Independentemente da origem da vítima ou dos agressores, a MGF é crime tipificado e autónomo em Portugal, desde agosto de 2015, quando foi publicado em Diário da República um conjunto de leis que, ao abrigo da Convenção de Istambul, incidem na criminalização de ofensas físicas ou verbais de género, protegendo sobretudo as mulheres. A governante avançou ainda com números relativos a 2015:
“Entre abril de 2014 e dezembro de 2015 foram identificadas 99 casos, um número expressivo que nos deve preocupar (…) e que exige uma atenção mais redobrada sobre a situação.”
Apesar de ilegal, dentro das comunidades tradicionalistas de origem guineense, continua a verificar-se a prevalência do fanado. Sem anestesia, as meninas entre os 4 e os 15 anos, são submetidas a um corte mais ou menos ritual, executado por mulheres mais velhas. O corte é feito por vezes a várias crianças de seguida, com a mesma lâmina. A ideia que subsiste nestas comunidades é a de que só assim serão puras e boas mulheres. Quando as famílias não submetem as suas filhas ao fanado votam-nas a uma vida de isolamento, nestas comunidades.
No imaginário destes coletivos subsiste também a ideia de que esta é uma prática benéfica para a vida sexual e reprodutiva, quando na prática a mutilação pode originar dor crónica, infeções e infertilidade.
Dia 6 de fevereiro é o Dia Internacional da Tolerância Zero à Mutilação Genital Feminina. Por todo o mundo há comunidades em que esta prática de retirar os órgãos sexuais externos da mulher, parcial ou totalmente, se mantém. E Portugal não é exceção.
“Se a atual tendência continuar, quando chegarmos a 2030 já serão mais as meninas mutiladas a cada ano do que atualmente, já que há taxas de fertilidade muito altas e populações jovens na maioria das comunidades em que a Mutilação Genital Feminina prevalece”, afirmou Ban Ki-moon, Secretário-Geral das Nações Unidas na última sexta-feira.
No último ano, vários países ilegalizaram a mutilação genital feminina, entre eles a Gâmbia e a Nigéria, mas da ilegalização à erradicação da prática vai um longo caminho. O caso da Indonésia é demonstrativo. A mutilação genital feminina foi criminalizada em 2006 e ainda hoje o país se encontra entre os que têm maior prevalência do fenómeno.
As últimas estatísticas reveladas pela UNICEF mostram que há mais de 200 milhões de meninas e mulheres no mundo que passaram pelo corte ritual dos órgãos sexuais externos, e que metade destas mulheres vive na Indonésia, no Egito e na Etiópia. No entanto, a maior percentagem de casos num só país pertence à Somália onde 98% das mulheres, numa população com 12 milhões de habitantes, foi submetida ao corte.
MGF existe cá e chama-se fanado
Em Portugal, estima-se que sejam cerca de 240 mil as raparigas com menos de 18 anos que possam vir a ser vítimas da MGF, já que o Instituto Europeu da Igualdade de Género demonstra num estudo recente que a percentagem de jovens menores do sexo feminino em contacto com esta prática pode chegar a 23% daquele grupo etário.mutilação-213x169
O fenómeno conhece-se há décadas e dá pelo nome de fanado entre as comunidades em que a prática prevalece. Os casos eram assinalados de forma pontual e, apenas em 2014, com o aparecimento da Plataforma de Dados de Saúde (PDS), os episódios começaram a ser sistematizados. Os dados disponibilizados da PDS correspondem a 2014 e são: 40 casos no total, dos quais 65% dos casos são mutilações com corte do clítoris e dos pequenos lábios vaginais.
Estas mulheres tinham em média 29 anos e tinham sido cortadas aos 6 anos de idade no seu país de origem. No universo de casos detetados, 74% corresponde a mulheres oriundas da Guiné e da Guiné-Bissau, as restantes do Benim, da Nigéria e do Senegal. A maioria dos casos foram detetados no âmbito de um internamento (40%), no seguimento da gravidez (30%) e em consulta externa (25%).
Apesar destes dados que parecem apontar para a importação do problema, há relatos desta prática ser feita em Portugal. Segundo Duarte Vilar, diretor executivo da Associação para o Planeamento da Família (APF):
“Ainda há meninas e raparigas em risco. Há testemunhos em Portugal, há prática em Portugal, há casos julgados, cerca de 4 casos.”
Duarte Vilar relembra que, quando a APF iniciou formações nesta área, em 1999, a representação da MGF entre o pessoal de saúde “não era visto como um problema nosso.”
“Nos últimos anos, com os planos de nacionais de combate à MGF, a representação tem mudado. As formações que fizemos nas Escolas Superiores de Saúde de Lisboa e Setúbal, abrangendo centenas de profissionais, a par das comemorações do dia Dia Internacional da Tolerância Zero à Mutilação Genital Feminina nos hospitais tem vindo a dar visibilidade ao problema. Sabem hoje que é um problema que afeta uma parte das suas utentes.”
Luta nacional contra a MGF
Na Amadora, um dos concelhos mais afetados por este flagelo, realizou-se no dia 4, o 1.º Encontro Regional para a Intervenção Integrada pelo Fim da MGF. A Secretária de Estado para a Cidadania e Igualdade, Catarina Marcelino, presente neste Encontro declarou que a MGF é “uma das mais aviltantes formas de violência de género.” A governante considerou que
“O combate à MGF não pode ser considerado uma intrusão nos costumes culturais, uma vez que esta é uma prática que atinge de forma brutal a integridade física e psicológica das mulheres.”
Independentemente da origem da vítima ou dos agressores, a MGF é crime tipificado e autónomo em Portugal, desde agosto de 2015, quando foi publicado em Diário da República um conjunto de leis que, ao abrigo da Convenção de Istambul, incidem na criminalização de ofensas físicas ou verbais de género, protegendo sobretudo as mulheres. A governante avançou ainda com números relativos a 2015:
“Entre abril de 2014 e dezembro de 2015 foram identificadas 99 casos, um número expressivo que nos deve preocupar (…) e que exige uma atenção mais redobrada sobre a situação.”
Apesar de ilegal, dentro das comunidades tradicionalistas de origem guineense, continua a verificar-se a prevalência do fanado. Sem anestesia, as meninas entre os 4 e os 15 anos, são submetidas a um corte mais ou menos ritual, executado por mulheres mais velhas. O corte é feito por vezes a várias crianças de seguida, com a mesma lâmina. A ideia que subsiste nestas comunidades é a de que só assim serão puras e boas mulheres. Quando as famílias não submetem as suas filhas ao fanado votam-nas a uma vida de isolamento, nestas comunidades.
No imaginário destes coletivos subsiste também a ideia de que esta é uma prática benéfica para a vida sexual e reprodutiva, quando na prática a mutilação pode originar dor crónica, infeções e infertilidade.
10.2.12
Mutilação genital de menores devem ser reportada
in Diário de Notícias
Os profissionais de saúde "devem" referenciar os casos de menores "em risco" de mutilação genital feminina aos Núcleos Hospitalares de Apoio às Crianças e Jovens em Risco, propõe uma orientação aprovada pela Direção Geral da Saúde (DGS).
Hospitais e centros de saúde "devem aproveitar as potencialidades dos programas informáticos de gestão clínica e propor a introdução da problemática da MGF, para ser possível registar e contabilizar a nível central os casos identificados", realça o documento, aprovado na passada segunda-feira, Dia Internacional de Tolerância Zero à Mutilação Genital Feminina, e já disponível na página da DGS.
Coordenado pela médica Lisa Vicente, o grupo de trabalho que formulou a nova orientação sobre uma prática que já afetou 130 milhões de mulheres no mundo, pondo em risco três milhões de meninas anualmente, começa por afirmar que "os profissionais de saúde devem saber identificar e orientar (...) a criança, a jovem ou a mulher com uma mutilação genital". Simultaneamente, "devem ter um papel ativo na informação das comunidades no sentido de prevenir a sua realização nas novas gerações".
A orientação - que resulta do facto de Portugal aparecer listado pela Organização Mundial de Saúde como um dos países em risco de ocorrência desta prática, devido aos fluxos migratórios - realça ainda que a MGF pode ser identificada "em qualquer consulta ou atividade" de saúde, cabendo a centros de saúde e hospitais "organizar uma resposta" para cada situação.
A referenciação será monitorizada "através dos relatórios anuais de avaliação da Ação de Saúde das Crianças e Jovens em Risco".
O objetivo desta orientação "foi tornar bastante mais prática a forma de organização, em termos de prevenção da MGF" e "dar aos profissionais de saúde ferramentas adequadas e em português, cientificamente atualizadas" sobre a prática, disse Lisa Vicente, chefe da Divisão de Saúde Reprodutiva da DGS, em declarações aos jornalistas à margem de uma sessão sobre MGF no Hospital Garcia de Orta, em Almada, na segunda-feira.
O ideal, defende a orientação da DGS, é que os Núcleos Hospitalares de Apoio às Crianças e Jovens em Risco garantam "o acompanhamento continuado" às famílias das menores em risco. Se tal não acontecer, os profissionais de saúde da unidade onde esteja inscrita a criança devem, "com ou sem apoio" daqueles núcleos, conceber um "plano de intervenção e apoio à família", envolvendo, "quando necessário", mediadores socioculturais e líderes das comunidades (nomeadamente religiosos).
A MGF é uma prática corrente em cerca de 30 países africanos e nalgumas outras zonas do globo. Entre os países listados está a Guiné-Bissau, onde é mantida entre as etnias islamizadas, numa taxa de quase 50%. Nenhuma das três religiões monoteístas faz qualquer indicação de apoio à prática, que, aliás, lhes é anterior.
"É necessário envolver as famílias e a comunidade onde se sabe haver casos de MGF, de modo a prevenir a sua recorrência", sustenta o documento, sublinhando que "os profissionais de saúde devem trabalhar com a população no âmbito das unidades de cuidados na comunidade".
A orientação médica explana ainda os critérios de identificação da MGF e as complicações que a prática causa nas vidas das mulheres que a ela são submetidas.
E recomenda que se volte a inquirir os profissionais de saúde para determinar o "grau de conhecimento sobre esta prática". "Existem ainda vários profissionais de saúde que não estão sensíveis para o tema", reconhece Lisa Vicente.
Os profissionais de saúde "devem" referenciar os casos de menores "em risco" de mutilação genital feminina aos Núcleos Hospitalares de Apoio às Crianças e Jovens em Risco, propõe uma orientação aprovada pela Direção Geral da Saúde (DGS).
Hospitais e centros de saúde "devem aproveitar as potencialidades dos programas informáticos de gestão clínica e propor a introdução da problemática da MGF, para ser possível registar e contabilizar a nível central os casos identificados", realça o documento, aprovado na passada segunda-feira, Dia Internacional de Tolerância Zero à Mutilação Genital Feminina, e já disponível na página da DGS.
Coordenado pela médica Lisa Vicente, o grupo de trabalho que formulou a nova orientação sobre uma prática que já afetou 130 milhões de mulheres no mundo, pondo em risco três milhões de meninas anualmente, começa por afirmar que "os profissionais de saúde devem saber identificar e orientar (...) a criança, a jovem ou a mulher com uma mutilação genital". Simultaneamente, "devem ter um papel ativo na informação das comunidades no sentido de prevenir a sua realização nas novas gerações".
A orientação - que resulta do facto de Portugal aparecer listado pela Organização Mundial de Saúde como um dos países em risco de ocorrência desta prática, devido aos fluxos migratórios - realça ainda que a MGF pode ser identificada "em qualquer consulta ou atividade" de saúde, cabendo a centros de saúde e hospitais "organizar uma resposta" para cada situação.
A referenciação será monitorizada "através dos relatórios anuais de avaliação da Ação de Saúde das Crianças e Jovens em Risco".
O objetivo desta orientação "foi tornar bastante mais prática a forma de organização, em termos de prevenção da MGF" e "dar aos profissionais de saúde ferramentas adequadas e em português, cientificamente atualizadas" sobre a prática, disse Lisa Vicente, chefe da Divisão de Saúde Reprodutiva da DGS, em declarações aos jornalistas à margem de uma sessão sobre MGF no Hospital Garcia de Orta, em Almada, na segunda-feira.
O ideal, defende a orientação da DGS, é que os Núcleos Hospitalares de Apoio às Crianças e Jovens em Risco garantam "o acompanhamento continuado" às famílias das menores em risco. Se tal não acontecer, os profissionais de saúde da unidade onde esteja inscrita a criança devem, "com ou sem apoio" daqueles núcleos, conceber um "plano de intervenção e apoio à família", envolvendo, "quando necessário", mediadores socioculturais e líderes das comunidades (nomeadamente religiosos).
A MGF é uma prática corrente em cerca de 30 países africanos e nalgumas outras zonas do globo. Entre os países listados está a Guiné-Bissau, onde é mantida entre as etnias islamizadas, numa taxa de quase 50%. Nenhuma das três religiões monoteístas faz qualquer indicação de apoio à prática, que, aliás, lhes é anterior.
"É necessário envolver as famílias e a comunidade onde se sabe haver casos de MGF, de modo a prevenir a sua recorrência", sustenta o documento, sublinhando que "os profissionais de saúde devem trabalhar com a população no âmbito das unidades de cuidados na comunidade".
A orientação médica explana ainda os critérios de identificação da MGF e as complicações que a prática causa nas vidas das mulheres que a ela são submetidas.
E recomenda que se volte a inquirir os profissionais de saúde para determinar o "grau de conhecimento sobre esta prática". "Existem ainda vários profissionais de saúde que não estão sensíveis para o tema", reconhece Lisa Vicente.
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