por Pedro Sousa Tavares, in Diário de Notícias
Apesar dos acertos dos últimos anos, nomeadamente na área de Educação, continuam a haver cursos com elevado número de diplomados no desemprego, nomeadamente na Sociologia e Psicologia, que mantême até aumentam as vagas. Responsáveis do sector reconhecem necessidade de "ajustes", mas avisam que cursos são sempre uma mais-valia
Vários dos cursos superiores com maiores problemas em garantir emprego aos licenciados - nomeadamente na área das ciências comportamentais - mantêm ou até aumentam o número de vagas para os alunos nesta 1.ª fase de acesso ao ensino superior.
De acordo com os os últimos dados sobre os diplomados inscritos nos centros de emprego - divulgados em Fevereiro pelo Ministério do Ensino Superior -, a maioria dos cursos com maior média de desempregados são das áreas da Psicologia e Sociologia (ver gráfico).
Mas a verdade é que ambas as licenciaturas acabaram por ampliar a sua oferta formativa este ano: na rede pública, a Sociologia, com um total de 627 vagas, aumentou 30 lugares aos que existiam em 2008, a maioria em regime pós-laboral. A Psicologia, com 818, ganha cinco relativamente ao ano passado.
A título de exemplo, a Sociologia da Universidade de Coimbra, que surge em primeiro lugar naquela lista, mantém este ano as mesmas 45 vagas de 2008. O mesmo acontece às 40 vagas deste curso na Universidade do Porto, que ficou em sexto lugar na mesma tabela.
Nos últimos anos houve um ajuste das ofertas em determinadas áreas problemáticas, como os cursos na área da Educação. E uma aposta em soluções com um teor menos teórico e mais profissionalizante, nomeadamente nos politécnicos. Mas parece óbvio que ainda há um caminho a percorrer nesta área.
Negado excesso de oferta
Contactado pelo DN, Sobrinho Teixeira, presidente do Politécnico de Bragança e do conselho coordenado dos institutos politécnicos (CCISP) reconheceu haver "evidências" , nomeadamente na lista de vagas deste ano, de que "tem de haver um ajustamento da oferta".
No entanto, alertou também para "o risco de se passar a mensagem errada de que há excesso de vagas" no ensino superior. "Estima-se que 10,5% da nossa população activa tenha o ensino superior. A média da União Europeia é de 25%", lembrou.
O responsável do sector politécnico - que há cerca de um ano tinha vários cursos nos mesmos 'tops' do desemprego (ver relacionado) - considerou também que os indicadores sobre o emprego a este nível têm sofrido demasiadas "flutuações" para que "se possam tirar conclusões exactas", apesar de reconhecer que "certas licenciaturas têm surgido com alguma consistência" nessas listas.
Também Maria de Lurdes Fernandes, vice-reitora da Universidade do Porto, uma das instituições do ensino superior que já está a acompanhar o percurso profissional dos seus diplomados (ver caixa), chamou a atenção para o risco de se vincular uma licenciatura "à garantia de emprego" .
"Até há alguns anos, uma licenciatura, nomeadamente nos cursos mais reputados, praticamente assegurava um posto", admitiu. "Mas isso acontecia numa altura em que havia um défice maior de pessoal qualificado no País".
Hoje em dia, acrescentou, "mesmo alguns dos cursos mais reputados, como a Arquitectura, não asseguram o emprego porque a concorrência é maior".
Mas isso, defendeu, não significa que deixe de valer a pena apostar em certas formações: "Há qualificações que se adaptam a muitas profissões. E, sobretudo, é sempre importante, do ponto de vista do desenvolvimento pessoal, fazer esse percurso".
De referir que a tabela divulgada pelo DN nestas páginas inclui várias formações do sector privado. E se o elemento de ponderação fosse o número total de desempregados - e não a média entre os inscritos nos centros de emprego e os licenciados em três anos lectivos seguidos - , o sector particular e cooperativo seria responsável pela esmagadora maioria dos cursos com menor empregabilidade.
Neste momento, não é possível fazer a comparação entre vagas e desempregados nos privados, porque os lugares criados este ano no sector ainda não foram divulgados pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior.
No entanto, atendendo a que estas instituições têm liberdade para fixar as suas vagas - desde que cumprindo os requisitos da tutela - não é previsível que haja um ajuste da oferta. O DN tentou ontem, sem sucesso, obter um depoimento de responsáveis do Ministério do Ensino Superior para este artigo.


