10.7.09

Potências aceitam travar o aquecimento global

Pedro Olvao Simões, in Jornal de Notícias

Objectivos de redução de emissões para 2050 estão longe de satisfazer secretário-geral das Nações Unidas


Com as alterações climáticas no centro da discussão, os oito países mais industrializados do Mundo conseguiram acordar um limite de aquecimento global, mas os objectivos de redução de emissões não foram alcançados.

Numa discussão que transcende os interesses dos membros do G8, os interesses da China e da Índia surgem como o principal entrave às reduções de emissões poluentes pretendidas para 2050, atendendo aos acelerados processos de desenvolvimento que protagonizam. O único consenso dos líderes reunidos em L'Aquila, Itália, prende-se com a decisão de limitar a dois graus Celsius a subida de temperaturas, relativamente a valores de referência de 1900, ou seja, no limiar do aquecimento que, segundo as Nações Unidas, tornará o sistema climático da Terra perigosamente instável.

Num processo encabeçado pelos EUA e por Barack Obama (mais uma significativa ruptura com a Administração anterior), o G8 acordou que os seus membros deveriam trabalhar no sentido de, até meio do século XXI, reduzirem em 80% as emissões de gases de efeito de estufa. Porém, falharam o intuito de conseguir que os países em desenvolvimento traçassem, para o mesmo momento, uma meta de 50% (houve uma reunião conjunta do G8 com os representantes da China, Índia, México, África do Sul e Egipto). Nada disto é suficiente para o secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, para quem deveriam ser traçados objectivos já para 2020.

Obama, que presidiu aos trabalhos relativos a alterações climáticas, salientou que, no passado, os Estados Unidos não estiveram à altura das responsabilidades que têm, na qualidade de grande poluidor (lembre-se que, ao assumir a presidência, George W. Bush rompeu de imediato com a política ambiental de Bill Clinton, recusando-se a ratificar o Protocolo de Quioto). "Se não tivéssemos desperdiçado os últimos oito anos, poderíamos ambicionar metas mais ambiciosas", disse ainda, reportando-se à circunstância de não terem sido conseguidas limitações significativas para daqui a dez anos.

Embora a declaração de ontem não seja tão ambiciosa como seria desejável, é relevante a circunstância de, finalmente, todos concordarem que há um limite, cientificamente estabelecido, para o aquecimento a que podemos sujeitar o nosso planeta. É essa a importância dos tais dois graus Celsius, mas muito trabalho há pela frente, até porque os maiores poluidores vão sendo os países em desenvolvimento, como a Índia, que só aceitarão levantar o pé do acelerador se tiverem contrapartidas financeiras.

Hoje, último dia da cimeira, os líderes do G8 (Alemanha, Canadá, Estados Unidos, França, Itália, Japão, Reino Unido e Rússia) discutirão o desenvolvimento. Com a presença de líderes africanos, será debatido o impacto da crise mundial em África, havendo ainda uma sessão consagrada à segurança alimentar.