1.12.09

História de seropositivos que vivem nas aldeias portuguesas

por Paulo Julião, in Diário de Notícias

Num documentário inédito, feito pelo gabinete de apoio à família de Viana do Castelo, portugueses com sida que vivem nas zonas rurais contam as suas vidas. Amanhã, o filme será apresentado em duas escolas


O sofrimento de viver com sida nas aldeias portuguesas. É esta a mensagem de um documentário inédito que o Gabinete de Atendimento à Família de Viana do Castelo realizou, que alerta para a doença e que amanhã vai ser, pela primeira vez, apresentado em duas escolas do distrito.

António, Manuela, Maria e Joaquim são seropositivos e contam o que é ter esta doença numa região ainda muito conservadora, onde quase todos os dias têm de lutar contra a discriminação (ver textos em baixo). Por isso, muitos escondem, como António, de 51 anos: "Ando na rua normalmente, pois ninguém sabe que sou seropositivo. Mas trago o VIH comigo." Ele é dos 166 doentes sinalizados no GAF, nomeadamente no Centro de Atendimento Psicossocial VIH/SIDA (CAPS), a única instituição do género no distrito de Viana do Castelo que apoia actualmente 13 doentes com sida.

A maioria dos 166 sinalizados são homens, existindo apenas 29 mulheres. Arcos de Valdevez e Ponte de Lima são os concelhos do distrito de Viana do Castelo com maior número de notificações de sida.

Carina Parente, responsável daquele centro, lida todos os dias com o drama de muitos dos seropositivos residentes em zonas rurais. "Nas aldeias, as pessoas conhecem-se mais facilmente e também mais facilmente são colocadas de parte, quando se sabe da doença", explicou a responsável do CAPS.

O desafio para este documentário foi lançado pelo GAF e agarrado pela AO - Norte Audiovisuais, de Viana, que disponibilizou dois técnicos para a gravação destas histórias de vida.

Apesar das dificuldades que se poderiam perspectivar, Carina Parente, que acompanhou todas as gravações, garante que convencer estes doentes a contar a história de vida não foi um problema. "Foi extremamente fácil convencê-los. Isto acontece porque desenvolvemos uma filosofia de trabalho, no apoio que lhes prestamos, que assenta na confiança. Esse é o segredo", apontou a responsável. Carina lembra que muitos destes doentes sofrem na pele uma ainda maior "estigma e discriminação" e alguns estão perfeitamente "isolados" nas suas pequenas aldeias.

Daí a importância do acompanhamento, também, psicológico. "Mas a conclusão que tiramos deste projecto é que eles têm muita vontade de ajudar as outras pessoas. Contaram as suas histórias para evitar que outros passem pelo mesmo."

A realização e apresentação deste documentário, sobretudo em escolas, é apenas uma das acções de prevenção do VIH/Sida previstas pelo GAF para este ano.

Este organismo pretende ainda lançar campanhas de sensibilização e prevenção da sida em estabelecimentos de diversão nocturna, em parceria com a Unidade Local de Saúde do Alto Minho.