3.12.09

"Muitas mulheres desistem quando têm de ir à esquadra"

Joana Carneiro, in Jornal de Notícias

João Sousa, 53 anos é médico no Hospital de Valongo há cinco anos. José Ribeiro, 45 anos, foi enfermeiro- -chefe no Centro Hospitalar do Vale do Sousa.

Em comum, além de serem profissionais de Saúde, nenhum viu casos de violência doméstica. Ironia de ambos, "a vítima nega sempre. É o primeiro instinto". O mais comum é ouvir a desculpa do "acidente. Foi sempre um acidente", ironiza João.

Como profissionais de Saúde, é-lhes exigido que denunciem os casos de violência com que se deparam, mas "é muito difícil estas denúncias chegarem a bom porto sem a colaboração das vítimas", esclarece João. É difícil convencer a vítima a apresentar queixa. E quando são convencidas, "o terem de ir a uma esquadra faz com que desistam".

No Centro Hospitalar de Vale do Sousa, as contingências são outras, "o hospital tem presença policial, peritos para fazer os exames necessários. O constrangimento de ir à esquadra é ultrapassado. A vergonha é que não", conta José Ribeiro.

Para o enfermeiro, a violência doméstica tem a génese na "desestruturação familiar. Ninguém sabe qual é o seu papel. Há uma luta de poder no seio familiar". Estas lutas de poder acabam em violência e a corda parte do lado mais fraco.