3.12.09

Níveis baixos de literacia prejudicam economia

Por Bárbara Wong, in Jornal Público

O futuro económico de Portugal está em risco e um dos caminhos para encontrar uma solução que permita ao país ser mais competitivo passa pelo investimento na literacia, defende o estudo A Dimensão Económica da Literacia em Portugal: Uma Análise, encomendado pelo Ministério da Educação e ontem apresentado na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa.

O cenário traçado pelo analista e autor do estudo T. Scott Murray é pouco animador: Portugal apresenta os níveis mais baixos de competências de literacia entre os países já estudados, a maioria fazem parte da OCDE. E a baixa literacia tem consequências directas na economia e na possibilidade de gerar riqueza. Além disso, o défice de literacia gera "níveis indesejáveis" de desigualdade e esta tem consequências na educação e na saúde. "Se Portugal não obtiver um aumento rápido e substantivo no nível de literacia funcional de toda a sua população, o país terá dificuldades em realizar os seus objectivos económicos e sociais, e só transferências maciças da União Europeia evitarão um declínio relativo do seu nível de vida", diz o relatório.

Murray considera que programas como o Plano Nacional de Leitura (PNL) e o Novas Oportunidades são boas opções para melhorar os níveis de literacia dos portugueses e que deve haver mais investimento nestes projectos. Mas é necessário também apostar na criação de incentivos fiscais para melhorar as qualificações dos portugueses, não só na escola como no local de trabalho, continua. "Se não houver mais investimento e melhor legislação, Portugal vai enfrentar quebras no emprego e nos salários e aumento da pobreza e desigualdades sociais", alerta o especialista da DataAngel Policy Research Inc., responsável pelo relatório.

Albert Tuijnman, economista do Banco Europeu de Investimentos (BEI), que reviu o estudo, declarou a disponibilidade da instituição em apoiar programas de desenvolvimento na área da educação, lembrando que esta é uma das consideradas prioridades da União Europeia. O ano passado, o BEI destinou sete mil milhões de euros para empréstimos na área da investigação e ensino, informa. A ministra da Educação, Isabel Alçada, agradeceu a disponibilidade e lembrou que o BEI já está a apoiar o programa de requalificação das escolas, da responsabilidade da Parque Escolar.

Mas, ao contrário do que se passa noutros países, por cá parece não interessar ter um bom nível de literacia, porque esses valores têm pouco impacto no sucesso dos indivíduos no mercado de trabalho, avança o estudo. Dois terços dos empregadores optam por profissionais pouco qualificados. De facto, nota-se diferença nos salários daqueles que têm formação de nível superior, mas o mesmo não se verifica com os que fizeram o ensino secundário, quando comparados com os profissionais que têm níveis de escolaridade mais baixos, aponta o relatório, com base em dados de 1994/1998. Para João Salgueiro não faz sentido fazer mais investimento na educação, quando os resultados escolares são os piores.