17.2.11

Portugal perdeu 247 mil postos de trabalho desde que a crise começou em 2008

Por Raquel Martins, in Jornal Público

A economia continua sem capacidade para absorver o crescente número de desempregados. No final de 2010, a taxa de desemprego atingiu os 11,1 por cento

A economia portuguesa continua sem conseguir estancar a sangria de postos de trabalho. Entre o terceiro trimestre de 2008, quando o mercado de emprego começou a ressentir-se com os efeitos da crise económica e financeira, e o quarto trimestre de 2010 foram eliminados 247 mil postos de trabalho.

Recuando um pouco mais, entre o início de 2005 e o final de 2010, perderam-se perto de 146 mil postos de trabalho, já quase tantos quanto os 150 mil que o Governo se tinha proposto criar durante a sua primeira legislatura, um objectivo que acabou por ser interrompido com o deflagrar da crise económica.

E o mais grave é que o problema está longe de se resolver. As estatísticas do Emprego ontem divulgadas pelo INE mostram que a população empregada atingiu o nível mais baixo desde o início da década e no último trimestre do ano passado não foi além dos 4948,8 mil trabalhadores.

Embora o ritmo de destruição de postos de trabalho tenha abrandado ao longo de todo o ano de 2010, o certo é que no último trimestre - fruto da crise e da política de austeridade do Governo que também se reflectiu no crescimento económico - desapareceram quase 75 mil postos de trabalho em comparação com o período homólogo e 15 mil face ao trimestre anterior.

A quebra foi particularmente notória nas mulheres (menos 50 mil empregos), nos jovens até aos 34 anos (a quebra chegou quase aos 100 mil), nos trabalhadores por conta própria (um recuo de 84 mil), "a recibos verdes" (menos 4,2 mil) e nos que não foram além do ensino básico (menos 170 mil empregos), agravando o problema das franjas da população que têm dificuldade em entrar no mercado de trabalho.

O INE realça que o emprego que foi sendo criado não compensou a destruição de postos de trabalho, mas destaca que aconteceu sobretudo entre os trabalhadores com mais de 35 anos, com o ensino secundário ou superior e nas actividades de informação e comunicação, financeiras e administrativas.

Esta dificuldade em absorver a força de trabalho foi uma das razões para que a taxa de desemprego no último trimestre tenha atingido uma taxa- recorde de 11,1 por cento, elevando a população desempregada até aos 620 mil. No final do ano o desemprego situou-se nos 10,8 por cento, acima da previsão do Governo, que esperava uma taxa anual de 10,6 por cento.

A ministra do Trabalho, Helena André, reconheceu que "as estatísticas do emprego relativas ao quarto trimestre de 2010 indicam que não poderemos baixar os braços e ainda não fomos capazes de inverter a tendência". Mas garantiu que o Governo vai usar com "lucidez" os recursos de que dispõe para travar o desemprego e fomentar o crescimento económico.

Já os partidos da oposição acusaram o Governo de "incapacidade" para resolver o problema e de "conduzir o país a um estado calamitoso" e receiam que a "situação se vai agravar ainda mais" num contexto de recessão económica, como ontem alertou o governador do Banco de Portugal.

Mulheres em maioria

O aumento homólogo do desemprego ficou a dever-se sobretudo ao crescimento do desemprego feminino. Segundo o INE, o crescimento de 14 por cento do desemprego nas mulheres "explicou 72,2 por cento da variação ocorrida no desemprego total".

Na prática, 315,4 mil mulheres estavam desempregadas, o que corresponde a mais de metade do total de pessoas sem trabalho. Também os jovens estão entre os mais afectados pelo fenómeno: o desemprego nos indivíduos dos 25 aos 34 anos registou um aumento homólogo de 22,2 por cento.

O mercado de trabalho continua com dificuldades em manter os postos de trabalho ocupados pelos mais qualificados. Embora os desempregados com ensino superior sejam os que têm menor peso no total, foram estes os principais afectados: o desemprego neste grupo aumentou 37,5 por cento. Havia no final do ano quase 76 mil diplomados sem trabalho.

O INE destaca ainda a dificuldade da economia absorver os que estão no desemprego há mais tempo. O número de pessoas que procura emprego há um ano ou mais aumentou 20,8 por cento face ao quarto trimestre de 2009.

Algarve supera Norte

Ao todo, havia 337,5 mil desempregados de longa duração no último trimestre de 2010, que representavam 54,5 por cento do total de desempregados. A situação dos desempregados de longa duração com o ensino superior piorou: quase 40 mil diplomados procuravam emprego há mais de um ano. Trata-se do número mais alto de sempre e que representa um aumento homólogo de 64 por cento.

O Algarve continua a bater recordes e no último trimestre de 2010 registou a taxa mais elevada do país - 14,8 por cento -, muito acima da média nacional e um aumento significativo face aos 11,8 por cento do período homólogo. O Norte, que até aqui detinha os recordes do desemprego, viu a taxa aumentar de 11,9 para 12,7 por cento. Em Lisboa, o desemprego também cresceu - de 10,4 para 12,3 por cento - tal como no Alentejo, que atingiu os 11,2 por cento no 4.º trimestre do ano passado. O Centro foi a única região do continente a apresentar uma taxa de desemprego inferior à média, mas também não escapou ao aumento, passando de 7,3 para 7,7 por cento da população activa. Açores, onde a taxa caiu para os sete por cento, e a Madeira, região onde o desemprego se manteve nos 7,5 por cento, foram excepção à regra.