8.2.11

Vítima de violência vê-se sem apoios

Ana Correia Costa, in Jornal de Notícias

Após o voo forçado para Portugal continental, devido a graves episódios de violência doméstica, uma mulher viu o Rendimento Social de Inserção cair para menos de metade em apenas três anos. Teme, agora, que a Segurança Social lhe retire o filho menor.

"É por verem que não tenho condições que mo vão tirar", receia "Maria" (nome fictício), referindo-se ao filho. Há dois meses, em vez dos 416 euros que recebia de Rendimento Social de Inserção (RSI), apenas lhe chegaram 243. Perto de metade. "Quase desmaiava quando vi. No mês de Dezembro, o que é que eu fazia da minha vida com 240 euros? Como é que me vou aguentar a pagar 225 euros de renda? E o resto? São três pessoas a comer. É isto que me revolta", indigna-se.

A morar em Santo Tirso - primeiro, numa casa-abrigo e, presentemente, num andar alugado -, diz sentir-se "sozinha", "sem apoios" e "arrependida de ter posto os pés no avião". Quando saiu, ao fim de um ano, não conseguiu trabalho. Beneficiava, então, de um RSI de 620 euros. Três filhos e dois netos a cargo.

Quando deixou de ter as crianças pequenas, de três e quatro anos, em casa, o subsídio foi reduzido em 100 euros. "Por aí, concordei. Já não tinha os meus netos comigo", confirma. Mas, em Dezembro passado, tudo desmoronou, ao ver que lhe seriam atribuídos, apenas, 243 euros.

"Na Segurança Social, disseram que o meu filho estava a receber uma bolsa de estudo, e não está. E incluíram a minha filha no agregado, mas ela está a trabalhar em Guimarães, e não vive comigo. Foi com ela a descontar que me deram este corte. Isto foi o que me disseram", explicou, ao JN.

Segundo "Maria", a Segurança Social também a aconselhou a mudar-se para uma habitação com renda mais baixa, sugerindo-lhe uma, em Guimarães. "Eu arranjo casa mais barata. E onde vamos comer e dormir? Não tenho dinheiro para comprar mobília, e esta [casa] já estava mobilada", justifica, acrescentando: "Tenho de comprar passe para os miúdos virem para a escola. Como? Não tenho dinheiro, e é por aí que vão pegar para me tirarem o de 13 anos", receia.

Ao JN, a Segurança Social esclareceu que, "de acordo com informação social actual, a filha já não faz parte do agregado familiar, pelo que a prestação foi recalculada (...), com efeitos a partir de Janeiro de 2011". Explica, ainda, que "a alteração da prestação ocorrida em Dezembro resultou do registo novo dos seguintes rendimentos: subsídio de renda de casa, de 120 euros, e bolsa de estudo do filho, de 86 euros". Porém, "Maria" diz que apenas tem uma ajuda de 75 euros do município tirsense para pagar o aluguer.