2.10.14

Envelhecimento. Um em cada três idosos sofre de desnutrição

Por Rosa Ramos, in iOnline

Ontem foi Dia Internacional do Idoso e as estatísticas mostram que a maioria vive sozinho e 80% tem pensões inferiores ao salário mínimo

Mais de 30% da população idosa sofre de desnutrição. A estimativa é da Associação Portuguesa de Dietistas (APD), com base em dados da Organização Mundial de Saúde (OMS). As estatísticas são de 2009 e, por isso, a presidente acredita que o número de idosos que não se alimenta adequadamente é hoje "muito superior".

No Dia Internacional do Idoso, que se assinalou ontem, a APD apontou como causa da desnutrição as reformas "baixas" e o aumento do isolamento dos idosos. "Nem sempre têm o acompanhamento de familiares e acabam por negligenciar a alimentação", diz a presidente, Zélia Santos, deixando um aviso: não combater este problema acarreta "custos elevados" para o SNS. "Os idosos recorrem mais vezes aos hospitais, necessitam de mais internamentos e respondem pior aos fármacos, além de precisarem de mais medicação."

A APD lamenta que não existam, em Portugal, estudos completos e um plano que reflicta sobre a alimentação da população idosa. Dados da Fundação Francisco Manuel dos Santos (FFMS), também revelados ontem, mostram que um em cada três idosos que estão sozinhos vivem abaixo do limiar da pobreza.

Segundo o Pordata (base de dados da fundação), a maior parte dos idosos vive sós e 80% recebe pensões inferiores ao salário mínimo nacional. As estatísticas mostram que mais milhão e meio dos reformados portugueses recebe menos de 485 euros - o que torna Portugal num dos países da União Europeia (UE) onde mais velhos vivem abaixo do limiar da pobreza.

No Alentejo, por exemplo, e segundo o Observatório de Saúde, um quinto dos idosos afirma não ter dinheiro para se alimentar correctamente. A denúncia foi feita ontem, durante uma audição na Comissão Parlamentar de Saúde. Os coordenadores do observatório apontaram o envelhecimento da população sem cuidados adequados como um dos problemas mais graves do país. A difícil autonomia dos idosos e a solidão foi outro dos problemas apontados por Manuel Lopes, um dos coordenadores. "Há pessoas enclausuradas em casa há muitos anos, em prédios antigos sem elevadores e sem cuidados. Preferimos alimentar a indústria do betão do que dar a possibilidade de as pessoas se manterem em casa", explicou o responsável, citando duas teses de doutoramento sobre a realidade dos mais velhos nos bairros históricos de Lisboa e do Porto.

Ainda segundo os dados do Pordata, existem mais de dois milhões de portugueses com mais de 65 anos, o que representa 20% da população. Portugal é, aliás, o quarto país mais envelhecido da União Europeia, só ultrapassado pela Grécia, pela Alemanha e pela Itália. Há mesmo concelhos, como Alcoutim, Idanha-a-Nova, Penamacor, Pampilhosa da Serra e Vila Velha de Ródão, onde mais de 40% dos habitantes são idosos.