15.9.23

"Para proteção de todos nós." Zero considera "urgente" regulamentar uso do bisfenol A na UE

Fátima Valente com Cláudia Alves Mendes, in TSF


Susana Fonseca, investigadora na área dos plásticos, aconselha a que população evite produtos em embalagens metálicas e prefira aqueles que são embalados em vidro ou até em aço inoxidável, alertando que a combinação de plásticos com a temperatura é a "pior possível".


Aassociação ambientalista Zero defende que a União Europeia deve avançar com regulamentação para evitar que o bisfenol A, uma substância química sintética, seja usado em embalagens para alimentos e bebidas.


A Agência Europeia do Ambiente alertou para a alta exposição dos europeus à substância química sintética bisfenol A (BPA), que pode colocar em risco a saúde de milhões de pessoas. O estudo, realizado em 11 países, incluindo Portugal, revela que a exposição a esta substância é muito superior aos níveis recomendados.


O BPA é um composto usado nos plásticos (para os tornar mais duros) e está, por exemplo, em recipientes para comida, garrafas de plástico ou latas de conserva, e mesmo em brinquedos.

Em alguns países, como França, a substância já foi proibida, mas, na maior parte dos Estados-membros, Susana Fonseca, investigadora na área dos plásticos, que integra a direção da Zero, afirma que é preciso mais regulamentação.

"O problema é que Portugal não é um país onde normalmente tomem este tipo de medidas. Não é um país muito proativo dos químicos, de todo - normalmente são os países nórdicos, neste caso a Suécia também tem medidas mais restritivas ou a França, que na área das substâncias químicas tem alguma legislação que vai muito à frente da maioria dos países europeus", indica, em declarações à TSF, explicando que é precisamente por estes motivos que "a melhor forma de garantir que a proteção" de todos os cidadãos, é haver regulamentação europeia.

"Por isso é que para países como Portugal, onde é muito difícil movimentarem-se nestes temas, aquilo que nós defendemos é que a regulamentação europeia é a melhor forma de garantir a proteção de todos nós. É importante estes países darem estes passos, é importantíssimo, isto quer dizer que é possível e se é possível que determinados produtos nestes países não contenham bisfenol, então também é possível nos outros países. A indústria não pode dizer que não é possível", esclarece.

Perigos associados a esta substância utilizada em plásticos incluem ameaças ao sistema imunitário, desregulação endócrina, redução da fertilidade e reações alérgicas cutâneas.

"As restantes substâncias desta mesma família apresentam em geral - alguns estudos já têm vindo a ser feitos - as mesmas características e o impactado, o nosso sistema endócrino, todos os problemas que pode trazer em termos reprodutivos, continuam lá e o risco mantém-se. Diz-se, vamos restringindo a utilização de determinadas substâncias, aquilo que nós realmente vemos é que elas desaparecem destas amostras exatamente porque não há forma mais eficaz de reduzir a exposição a substâncias químicas do que a sua não colocação nos produtos. A ideia que nós depois vamos conseguir controlar as substâncias ao longo do processo é falsa", defende.

A investigadora insiste, assim, que a única forma de evitar que milhões de europeus fiquem expostos a estas substâncias é através da regulamentação e adverte que se os níveis atuais ultrapassam a média recomendada é porque há falta de legislação.

"A justificação para esta situação de grande exposição é o facto de a regulamentação não ter ainda proibido a utilização desta substância de uma forma mais alargada. As restrições que existem neste momento são dirigidas a produtos para bebés e crianças até aos 3 anos, quer brinquedos, quer outro tipo de produtos que sejam usados e sejam produzidos especificamente para essa idade, mas todos os seres humanos a partir dos três anos não beneficiam deste tipo de restrição", lamenta, avançando que esta substância está presente "em elevadíssimas quantidades" nos produtos utilizados diariamente.

"É uma substância que na Europa está registada como estando a ser utilizada normalmente em mais de um milhão de toneladas. Estamos a falar de uma substância de utilização muito generalizada e que era urgente restringir em termos de utilização", atira.

A ambientalista aconselha, por isso, a que população evite produtos em embalagens metálicas e prefira aqueles que são embalados em vidro ou até em aço inoxidável, alertando que "mesmo as garrafas de água reutilizáveis são muitas vezes feitas de policarbonato".

"O policarbonato é um dos polimos que mais utilizava o bisfenol. Para evitarmos estarmos sujeitos ao contacto com estes produtos, que ainda por cima são de uso comum, diário muitas vezes, sujeitos a temperatura, o que normalmente com os plásticos e com os aditivos do plástico é a pior cominação possível. A temperatura, a acidez, a gordura, são tudo situações que normalmente propiciam a migração de substâncias dos plásticos para os alimentos", explica.

Em junho passado, a Agência Europeia do Ambiente já tinha salientado a presença de bisfenol A no organismo de mais de 90% dos participantes de um estudo, alertando para a contínua produção e consumo na Europa de "grandes quantidades de produtos químicos".