Felícia Cabrita, in ionline
Um pretenso psicólogo recebia crianças em casa a pretexto de lhes dar explicações e consultas, mas usava-as sexualmente e vendia-as na internet. Aterrorizava-as dizendo-se líder de uma seita. O caso, pela dimensão, surpreendeu as próprias autoridades.
Ao nosso lado, a uns metros de distância de qualquer olhar, pode esconder-se o inferno. Em janeiro de 2014, Rui Pedro, acompanhado da mulher e dois filhos pequenos, de ar modesto e com planos para o futuro que só poderiam ser engendrados por homem aparentemente íntegro e dadivoso, chegou a uma vivenda com umas boas braçadas de terreno nos arredores de Palmela. Com ele o seu motorista, que apesar dos supostos tombos na vida nunca abandonara, e o respetivo filho menor. Os donos da propriedade – gente de trabalho, que ao longo dos tempos foi construindo a casa à medida das suas economias –, com pena do casal desempregado, alugaram-lhe por tuta e meia dois anexos no fundo da quinta para as duas famílias se instalarem.
Os contactos entre Francisco e Elisa, os proprietários, e os inquilinos eram escassos. Lá ao fundo, durante o dia, ouviam as gargalhadas das três crianças. «Pareciam felizes, quem podia suspeitar?» – recorda Francisco, como quem ainda está a despertar agora para um pesadelo. Mas aos três meninos, e os outros que com o tempo a eles se juntaram, já tinham destruído a infância, essa espécie de reserva espiritual que fica para a vida.
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19.7.16
29.4.16
O primo mais velho da Sereia diz-lhe que “se ela não se despir não brinca com ela”
Andreia Sanches, in "Público"
Há um novo jogo de tabuleiro que ajuda as crianças a reconhecer abusos sexuais. Destina-se a rapazes e raparigas entre os 6 e os 10 anos. Para ser jogado com qualquer adulto — pais, psicólogos ou professores.
É um jogo de tabuleiro, parecido com outros, muito colorido, com um dado, “pedrinhas preciosas” que se vão guardando à medida que se avançam casas, e cartões, com perguntas de vários tipos. Por exemplo: “A Sereia tem um primo mais velho que, sempre que estão sozinhos, se despe e lhe diz para ela também se despir. Ela não quer, mas ele diz que se ela não se despir não brinca com ela. O que achas do comportamento do primo da Sereia? Como achas que se sente a Sereia? Se acontecesse contigo, como irias sentir-te? O que achas que a Sereia deve fazer?”
Há desafios a que se responde desenhando, outros com gestos, outros a falar. Os temas são vários: o corpo e o toque, os segredos, as emoções, a Internet, pedir ajuda... Chama-se As Aventuras do Búzio e da Coral, destina-se a crianças entre os 6 e os 10 anos e tem como objectivo a prevenção de abusos sexuais.
Recomendado pela Comissão Nacional de Promoção dos Direitos e Protecção das Crianças e Jovens, pode ser jogado por qualquer adulto, pais, psicólogos, professores, educadores de infância, com uma criança ou com um grupo de crianças, até um máximo de quatro. Foi apresentado ao público nesta quinta-feira à tarde, em Lisboa.
Rute Agulhas, psicóloga clínica, perita do Instituto de Medicina Legal e professora do ISCTE — Instituto Universitário de Lisboa, uma das três autoras, diz que este é o primeiro projecto do género em Portugal. Não se destina especificamente a psicólogos e outros técnicos, pode ser jogado por qualquer pessoa.
O jogo tem uma espécie de livro de instruções, chamado Bússola, com as informações básicas que os adultos devem ler antes de jogar. “Isto não é para assustar as crianças, pelo contrário, isto é para lhes dar uma maior sensação de controlo: ‘Eu sei o que é, eu sei identificar as situações de risco, eu sei o que é que devo fazer perante uma situação destas.’ A lógica de um jogo destes não é pôr a responsabilidade da prevenção na criança, pelo contrário, a responsabilidade é dos adultos, da comunidade, dos serviços”, sublinha a psicóloga. “O que pedimos à criança é que ela aumente os seus conhecimentos sobre abuso e desenvolva competências para lidar com estas situações.”
E os pais, preparados?
E a generalidade dos pais — dos adultos, em geral, que não são técnicos — estão preparados para jogar um jogo destes? E para o que ele pode revelar? “Este jogo não está pensado para ser um instrumento de diagnóstico, que fique claro, não é um jogo para sabermos se uma criança foi abusada ou não”, responde Rute Agulhas.
“É um jogo de prevenção primária. Mas quando pomos a criança a falar sobre esta temática de uma forma tranquila e lúdica, criamos, de facto, um contexto, e pode criar-se uma oportunidade de revelação, no caso de a criança estar a ser vítima de alguma situação de abuso. O que nós tentámos, com a Bússola, é ajudar o adulto a perceber o que pode ser uma tentativa de revelação, o que deve dizer e o que não deve dizer.”
Na Bússola, o tal livrinho, o adulto aprende, por exemplo, que se uma criança diz “eu não gosto dele”, ou “não quero ir brincar para a casa do y”, uma resposta errada é “mas tens que gostar ele, ele gosta muito de ti!”. E uma resposta certa é: “Porquê? Ele fez alguma coisa de que não gostaste? Explica o que se passou.” Também se aprende que a criança deve ser apoiada, elogiada, nas suas respostas, e que deve sentir que acreditam nela.
“Normalmente, as crianças não tentam revelar [o abuso] de uma forma explícita, começam de uma forma exploratória, do género: ‘Não gosto dos beijos que ele me dá.’ E por vezes os adultos não estão atentos. Respondem: ‘Não sejas mal educada, dá um beijinho', por exemplo. Não é respeitado o direito da criança de não gostar de determinado toque. Ou quando a criança diz: ‘Não sei quem disse-me para guardar um segredo...’ ensinamos erradamente às crianças que os segredos são para se guardar. Quando devemos antes perguntar: ‘Mas que tipo de segredo? É um bom ou um mau segredo? Se for bom, podes guardar, se for mau deves contar.’”
Falsas crenças
“Isto é um tema com o qual os pais têm dificuldade”, diz Joana Dias Alexandre, também professora do ISCTE, adiantando que o jogo (custa 40 euros e parte dos lucros são para a Associação Portuguesa de Apoio à Vítima) ainda será avaliado antes de outros serem desenvolvidos para outras faixas etárias — a colecção de jogos prevista chama-se Vamos prevenir.
“Até que ponto as crianças adquirem os conhecimentos e até que ponto os adultos se sentem mais capazes para lidar com isto”, é o que se pretende saber, explica.
Na sua tese de mestrado Nicole Figueiredo, que foi orientada por Joana Alexandre e Rute Agulhas, e que é a terceira autora destas Aventuras, fez um pré-teste de alguns materiais para o jogo, analisou projectos de prevenção que existem noutros países e recordou vários estudos que mostram, diz, como este é “um assunto tabu”, rodeando de “falsas crenças”. Por exemplo, um estudo feito em Espanha, com base em entrevistas a 113 crianças, 225 pais e 26 professores, mostrou que cerca de metade dos pais e professores acreditavam que muitas crianças inventam histórias de abuso sexual; a totalidade dos pais e 46% dos professores pensava que os familiares denunciam sempre um abuso sexual; 76% dos pais e 31% dos professores consideravam que a maioria das crianças que sofre abusos conta.
Mas nem as crianças contam sempre, nem costumam inventar, garante Nicole Figueiredo. “Este não é um tema que faça parte do seu imaginário, não é uma coisa agradável, não tem graça inventar sobre isso, portanto, na maior parte das vezes, as crianças não inventam.”
Contactado pelo PÚBLICO, Armando Leandro, presidente da Comissão Nacional de Promoção dos Direitos das Crianças, faz saber que esta é “uma iniciativa de muito mérito” que a comissão “apoia com muito empenho”.
Queixas de abusos têm aumentado
No ano passado, registaram-se 1044 participações à polícia de abuso sexual de crianças, adolescentes e menores dependentes, mais 3,1% do que em 2014, ano que já tinha registado um aumento de 17,7%. Os dados constam do Relatório Anual de Segurança Interna de 2015. Que mostra que 150 pessoas foram detidas por abuso sexual de crianças/menores dependentes.
Os arguidos no âmbito dos inquéritos abertos são na sua maioria homens, prevalecendo a faixa etária dos 41 aos 50 anos. E as crianças são na maior parte dos casos (79,3%) meninas. A maioria (61,5%) têm entre os 8 e os 13 anos; 19,9% têm entre 4 e 7 anos; 7,4% até 3 anos apenas. Em pelo menos 40% dos casos o alegado autor do crime era familiar da vítima do menor.
Apesar dos dados existentes, considera-se que o número real de casos de abuso sexual esteja subestimado, nota Nicole Figueiredo. A autora recorda que, em 2013, foi realizado um estudo nos Estados Unidos da América em que se estimou que, em média, uma em cada 10 crianças sejam sexualmente abusadas até aos 18 anos. Dados do Reino Unido revelam que no ano de 2010 uma em cada 20 crianças foi sexualmente abusada.
Há um novo jogo de tabuleiro que ajuda as crianças a reconhecer abusos sexuais. Destina-se a rapazes e raparigas entre os 6 e os 10 anos. Para ser jogado com qualquer adulto — pais, psicólogos ou professores.
É um jogo de tabuleiro, parecido com outros, muito colorido, com um dado, “pedrinhas preciosas” que se vão guardando à medida que se avançam casas, e cartões, com perguntas de vários tipos. Por exemplo: “A Sereia tem um primo mais velho que, sempre que estão sozinhos, se despe e lhe diz para ela também se despir. Ela não quer, mas ele diz que se ela não se despir não brinca com ela. O que achas do comportamento do primo da Sereia? Como achas que se sente a Sereia? Se acontecesse contigo, como irias sentir-te? O que achas que a Sereia deve fazer?”
Há desafios a que se responde desenhando, outros com gestos, outros a falar. Os temas são vários: o corpo e o toque, os segredos, as emoções, a Internet, pedir ajuda... Chama-se As Aventuras do Búzio e da Coral, destina-se a crianças entre os 6 e os 10 anos e tem como objectivo a prevenção de abusos sexuais.
Recomendado pela Comissão Nacional de Promoção dos Direitos e Protecção das Crianças e Jovens, pode ser jogado por qualquer adulto, pais, psicólogos, professores, educadores de infância, com uma criança ou com um grupo de crianças, até um máximo de quatro. Foi apresentado ao público nesta quinta-feira à tarde, em Lisboa.
Rute Agulhas, psicóloga clínica, perita do Instituto de Medicina Legal e professora do ISCTE — Instituto Universitário de Lisboa, uma das três autoras, diz que este é o primeiro projecto do género em Portugal. Não se destina especificamente a psicólogos e outros técnicos, pode ser jogado por qualquer pessoa.
O jogo tem uma espécie de livro de instruções, chamado Bússola, com as informações básicas que os adultos devem ler antes de jogar. “Isto não é para assustar as crianças, pelo contrário, isto é para lhes dar uma maior sensação de controlo: ‘Eu sei o que é, eu sei identificar as situações de risco, eu sei o que é que devo fazer perante uma situação destas.’ A lógica de um jogo destes não é pôr a responsabilidade da prevenção na criança, pelo contrário, a responsabilidade é dos adultos, da comunidade, dos serviços”, sublinha a psicóloga. “O que pedimos à criança é que ela aumente os seus conhecimentos sobre abuso e desenvolva competências para lidar com estas situações.”
E os pais, preparados?
E a generalidade dos pais — dos adultos, em geral, que não são técnicos — estão preparados para jogar um jogo destes? E para o que ele pode revelar? “Este jogo não está pensado para ser um instrumento de diagnóstico, que fique claro, não é um jogo para sabermos se uma criança foi abusada ou não”, responde Rute Agulhas.
“É um jogo de prevenção primária. Mas quando pomos a criança a falar sobre esta temática de uma forma tranquila e lúdica, criamos, de facto, um contexto, e pode criar-se uma oportunidade de revelação, no caso de a criança estar a ser vítima de alguma situação de abuso. O que nós tentámos, com a Bússola, é ajudar o adulto a perceber o que pode ser uma tentativa de revelação, o que deve dizer e o que não deve dizer.”
Na Bússola, o tal livrinho, o adulto aprende, por exemplo, que se uma criança diz “eu não gosto dele”, ou “não quero ir brincar para a casa do y”, uma resposta errada é “mas tens que gostar ele, ele gosta muito de ti!”. E uma resposta certa é: “Porquê? Ele fez alguma coisa de que não gostaste? Explica o que se passou.” Também se aprende que a criança deve ser apoiada, elogiada, nas suas respostas, e que deve sentir que acreditam nela.
“Normalmente, as crianças não tentam revelar [o abuso] de uma forma explícita, começam de uma forma exploratória, do género: ‘Não gosto dos beijos que ele me dá.’ E por vezes os adultos não estão atentos. Respondem: ‘Não sejas mal educada, dá um beijinho', por exemplo. Não é respeitado o direito da criança de não gostar de determinado toque. Ou quando a criança diz: ‘Não sei quem disse-me para guardar um segredo...’ ensinamos erradamente às crianças que os segredos são para se guardar. Quando devemos antes perguntar: ‘Mas que tipo de segredo? É um bom ou um mau segredo? Se for bom, podes guardar, se for mau deves contar.’”
Falsas crenças
“Isto é um tema com o qual os pais têm dificuldade”, diz Joana Dias Alexandre, também professora do ISCTE, adiantando que o jogo (custa 40 euros e parte dos lucros são para a Associação Portuguesa de Apoio à Vítima) ainda será avaliado antes de outros serem desenvolvidos para outras faixas etárias — a colecção de jogos prevista chama-se Vamos prevenir.
“Até que ponto as crianças adquirem os conhecimentos e até que ponto os adultos se sentem mais capazes para lidar com isto”, é o que se pretende saber, explica.
Na sua tese de mestrado Nicole Figueiredo, que foi orientada por Joana Alexandre e Rute Agulhas, e que é a terceira autora destas Aventuras, fez um pré-teste de alguns materiais para o jogo, analisou projectos de prevenção que existem noutros países e recordou vários estudos que mostram, diz, como este é “um assunto tabu”, rodeando de “falsas crenças”. Por exemplo, um estudo feito em Espanha, com base em entrevistas a 113 crianças, 225 pais e 26 professores, mostrou que cerca de metade dos pais e professores acreditavam que muitas crianças inventam histórias de abuso sexual; a totalidade dos pais e 46% dos professores pensava que os familiares denunciam sempre um abuso sexual; 76% dos pais e 31% dos professores consideravam que a maioria das crianças que sofre abusos conta.
Mas nem as crianças contam sempre, nem costumam inventar, garante Nicole Figueiredo. “Este não é um tema que faça parte do seu imaginário, não é uma coisa agradável, não tem graça inventar sobre isso, portanto, na maior parte das vezes, as crianças não inventam.”
Contactado pelo PÚBLICO, Armando Leandro, presidente da Comissão Nacional de Promoção dos Direitos das Crianças, faz saber que esta é “uma iniciativa de muito mérito” que a comissão “apoia com muito empenho”.
Queixas de abusos têm aumentado
No ano passado, registaram-se 1044 participações à polícia de abuso sexual de crianças, adolescentes e menores dependentes, mais 3,1% do que em 2014, ano que já tinha registado um aumento de 17,7%. Os dados constam do Relatório Anual de Segurança Interna de 2015. Que mostra que 150 pessoas foram detidas por abuso sexual de crianças/menores dependentes.
Os arguidos no âmbito dos inquéritos abertos são na sua maioria homens, prevalecendo a faixa etária dos 41 aos 50 anos. E as crianças são na maior parte dos casos (79,3%) meninas. A maioria (61,5%) têm entre os 8 e os 13 anos; 19,9% têm entre 4 e 7 anos; 7,4% até 3 anos apenas. Em pelo menos 40% dos casos o alegado autor do crime era familiar da vítima do menor.
Apesar dos dados existentes, considera-se que o número real de casos de abuso sexual esteja subestimado, nota Nicole Figueiredo. A autora recorda que, em 2013, foi realizado um estudo nos Estados Unidos da América em que se estimou que, em média, uma em cada 10 crianças sejam sexualmente abusadas até aos 18 anos. Dados do Reino Unido revelam que no ano de 2010 uma em cada 20 crianças foi sexualmente abusada.
28.4.16
Abusos sexuais. Novo jogo de tabuleiro ensina tudo às crianças
Mariana Madrinha, in "Jornal I"
Jogo para explicar às crianças entre os seis e os 10 anos o que é o abuso sexual é lançado hoje.
Chama-se As Aventuras do Búzio e da Coral 1 ECOS
Zoom // Prevenção Abusos sexuais.
Por dia, quatro crianças são vítimas de abuso sexual em Portugal. Nos últimos cinco anos, a Polícia Judiciária investigou mais de sete mil casos. E, segundo dados do Conselho da Europa, "uma em cada cinco crianças foi ou vai ser vítima de abuso sexual".
Esta realidade é bem próxima de Rute Agulhas, psicóloga forense do Instituto de Medicina Legal desde 2005. Não há um dia em que Rute não receba uma criança vítima de abusos sexuais. A trabalhar na área há 18 anos - altura em nem sequer se usava o termo "abuso" -, sempre pensou em criar algum tipo de material didático que pudesse ajudar na prevenção. Há dois anos. uma aluna de mestrado em Psicologia Comunitária e Proteção de Menores, Nicole Figueiredo, manifestou o mesmo interesse. Juntaram-se à também psicóloga Joana Alexandre (que, a par de Rute, orientou a tese de Nicole) e o resultado é hoje apresentado ao público: "As Aventuras do Búzio e da Coral".
O jogo de tabuleiro, que estará disponível brevemente nas superfícies comerciais, tem como propósito ensinar às crianças entre os seis e os 10 anos - uma das faixas etárias com maior incidência de abuso - que há bons e maus segredos, que há partes intimas no corpo que pertencem unicamente à criança e que não há problema, em determinadas circunstâncias, em dizer não aos adultos.
Sem usar linguagem sexualmente explícita, a temática do jogo anda à volta do mar, e através de mímica e desenhos, por exemplo, as crianças vão ganhando tesouros. Desenhado para que possam jogar com os cuidadores, não é necessário que o adulto com quem a criança joga tenha formação específica. Ainda assim, há um guia que os adultos podem usar - que dá pelo nome de Bússola - que lhes permite descodificar as respostas da criança e perceber em que casos (e onde) se deve pedir ajuda especializada.
"Este é um material de prevenção primária universal, não é um instrumento de diagnóstico", explicou Rute Agulhas ao i. "No entanto, o jogo não tem como objetivo pôr na criança a responsabilidade de evitar o abuso. Essa responsabilidade será sempre da comunidade.
A ideia é explicar às crianças, de forma tranquila, como noutro assunto qualCorpo No tema corpo/toques, as atividades do jogo remetem para a ideia de que o corpo é da criança e que é errado alguém tocar de qualquer maneira.
Este terna realça também o facto de o corpo ter partes privadas.
Segredos As atividades segmentadas por este tema remetem para a ideia de que existem bons e maus segredos. Ajudam as crianças a distinguir que há segredos que não são sempre para guardar; que há maus segredos e que devem pedir ajuda.
Sim/Não Este terna ajuda as criánças a compreender que há situações em que podem dizer sim ou dizer não. Explica aos miúdos que eles têm o direito de dizer não aos adultos e, dependendo do que o adulto pedir, não têm de obedecer sempre.
Prevenir é o melhor remédio, já ouvimos, dizer sobre ene situações. Para as psicólogas Rute Agulhas, Nicole Figueiredo e Joana Alexandre, a máxima pode e deve ser aplicada ao abuso sexual de menores. Por isso inventaram um jogo didático para crianças entre os seis e os 10 anos que lhes explica, entre outras coisas, que há bons e maus segredos e que não tem mal dizer não aos adultos. As Aventuras do Búzio e da Coral são uma brincadeira criada para aprender limites sérios. O jogo é lançado hoje quer, os limites. Para além disso, serve para lhes dar ferramentas para que se consigam expressar." As psicólogas escolheram uma abordagem lúdica por um motivo. "A literatura mostra - tendo em conta materiais já testados noutros países - que as crianças apreendem melhor os conteúdos quando são participantes ativas e não meras ouvintes." "A ideia é os pais irem jogando com os filhos ao ritmo da própria criança. Preferencialmente, deve ser jogado só com a criança, mas também pode ser em pequenos grupos com um máximo de quatro elementos", diz a psicóloga.
O jogo traz mais-valias não só na prevenção como ajuda a criança a expressar-se caso esteja a ser vitima não só de abuso como, por exemplo,de bullying ou outro tipo de agressões. "Se uma criança estiver a ser vítima de abuso, isto aumenta a probabilidade de revelação porque se cria um contexto, cria-se uma oportunidade, a criança sente que tem ali espaço para falar", considera Rute Agulhas. Este é um tópico importante.
Segundo estudos internacionais, "as crianças fazem, em média, seis tentativas para contar o que se passa, porque ninguém acreditou na sua história, porque têm vergonha, estão confusas ou foram ameaçadas pelo agressor".
Sendo esta abordagem inédita no país, as autoras escolheram os temas a serem abordados no jogo com base na literatura estrangeira (ver temas abaixo). Estes temas foram incluídos em estudos realizados no Canadá, no Reino Unido, em Espanha e nos Estados Unidos, e são os que se mostraram mais eficazes em termos de prevenção. O tabuleiro tem dois níveis de dificuldade: um mais simples, ao qual as autoras chamaram Mar das Conchas, e um mais avançado. "O ideal é que todas as crianças façam algumas atividades de nível 1, sempre duas atividades por cada um dos seis temas. Só depois passam para o Mar Turbulento, ou seja, as atividades de nível 2." Para o ano, as autoras vão desenvolver um jogo para crianças entre os três e os seis anos e uma app de telemóveis destinada a adolescentes. As Aventuras do Búzio e da Coral são oficialmente reco.mendadas por várias entidades, entre elas a Comissão Nacional de Proteção das Crianças e'Jovens em Risco e o Centro de Estudos Judiciários. Por cada jogo vendido, um euro reverterá para a Associação Portuguesa de Apoio à Vítima.
Emoções Remete para as emoções positivas e negativas e quais são as emoções que as crianças sentem nas várias situações. Além disso, ajuda-as a sabèr como expressar essas emoções ou pedir ajuda.
Internet As crianças já Usam redes sociais e Internet nesta idade. As atividades deste tema foram pensadas e desenvolvidas em parceria com o departamento de ciberorimes da Polícia Judiciária.
Ajuda O Último tema abordado no jogo é o ato de pedir ajuda. Pretende reforçar as competências desenvolvidas à medida que se vai jogando.
Jogo para explicar às crianças entre os seis e os 10 anos o que é o abuso sexual é lançado hoje.
Chama-se As Aventuras do Búzio e da Coral 1 ECOS
Zoom // Prevenção Abusos sexuais.
Por dia, quatro crianças são vítimas de abuso sexual em Portugal. Nos últimos cinco anos, a Polícia Judiciária investigou mais de sete mil casos. E, segundo dados do Conselho da Europa, "uma em cada cinco crianças foi ou vai ser vítima de abuso sexual".
Esta realidade é bem próxima de Rute Agulhas, psicóloga forense do Instituto de Medicina Legal desde 2005. Não há um dia em que Rute não receba uma criança vítima de abusos sexuais. A trabalhar na área há 18 anos - altura em nem sequer se usava o termo "abuso" -, sempre pensou em criar algum tipo de material didático que pudesse ajudar na prevenção. Há dois anos. uma aluna de mestrado em Psicologia Comunitária e Proteção de Menores, Nicole Figueiredo, manifestou o mesmo interesse. Juntaram-se à também psicóloga Joana Alexandre (que, a par de Rute, orientou a tese de Nicole) e o resultado é hoje apresentado ao público: "As Aventuras do Búzio e da Coral".
O jogo de tabuleiro, que estará disponível brevemente nas superfícies comerciais, tem como propósito ensinar às crianças entre os seis e os 10 anos - uma das faixas etárias com maior incidência de abuso - que há bons e maus segredos, que há partes intimas no corpo que pertencem unicamente à criança e que não há problema, em determinadas circunstâncias, em dizer não aos adultos.
Sem usar linguagem sexualmente explícita, a temática do jogo anda à volta do mar, e através de mímica e desenhos, por exemplo, as crianças vão ganhando tesouros. Desenhado para que possam jogar com os cuidadores, não é necessário que o adulto com quem a criança joga tenha formação específica. Ainda assim, há um guia que os adultos podem usar - que dá pelo nome de Bússola - que lhes permite descodificar as respostas da criança e perceber em que casos (e onde) se deve pedir ajuda especializada.
"Este é um material de prevenção primária universal, não é um instrumento de diagnóstico", explicou Rute Agulhas ao i. "No entanto, o jogo não tem como objetivo pôr na criança a responsabilidade de evitar o abuso. Essa responsabilidade será sempre da comunidade.
A ideia é explicar às crianças, de forma tranquila, como noutro assunto qualCorpo No tema corpo/toques, as atividades do jogo remetem para a ideia de que o corpo é da criança e que é errado alguém tocar de qualquer maneira.
Este terna realça também o facto de o corpo ter partes privadas.
Segredos As atividades segmentadas por este tema remetem para a ideia de que existem bons e maus segredos. Ajudam as crianças a distinguir que há segredos que não são sempre para guardar; que há maus segredos e que devem pedir ajuda.
Sim/Não Este terna ajuda as criánças a compreender que há situações em que podem dizer sim ou dizer não. Explica aos miúdos que eles têm o direito de dizer não aos adultos e, dependendo do que o adulto pedir, não têm de obedecer sempre.
Prevenir é o melhor remédio, já ouvimos, dizer sobre ene situações. Para as psicólogas Rute Agulhas, Nicole Figueiredo e Joana Alexandre, a máxima pode e deve ser aplicada ao abuso sexual de menores. Por isso inventaram um jogo didático para crianças entre os seis e os 10 anos que lhes explica, entre outras coisas, que há bons e maus segredos e que não tem mal dizer não aos adultos. As Aventuras do Búzio e da Coral são uma brincadeira criada para aprender limites sérios. O jogo é lançado hoje quer, os limites. Para além disso, serve para lhes dar ferramentas para que se consigam expressar." As psicólogas escolheram uma abordagem lúdica por um motivo. "A literatura mostra - tendo em conta materiais já testados noutros países - que as crianças apreendem melhor os conteúdos quando são participantes ativas e não meras ouvintes." "A ideia é os pais irem jogando com os filhos ao ritmo da própria criança. Preferencialmente, deve ser jogado só com a criança, mas também pode ser em pequenos grupos com um máximo de quatro elementos", diz a psicóloga.
O jogo traz mais-valias não só na prevenção como ajuda a criança a expressar-se caso esteja a ser vitima não só de abuso como, por exemplo,de bullying ou outro tipo de agressões. "Se uma criança estiver a ser vítima de abuso, isto aumenta a probabilidade de revelação porque se cria um contexto, cria-se uma oportunidade, a criança sente que tem ali espaço para falar", considera Rute Agulhas. Este é um tópico importante.
Segundo estudos internacionais, "as crianças fazem, em média, seis tentativas para contar o que se passa, porque ninguém acreditou na sua história, porque têm vergonha, estão confusas ou foram ameaçadas pelo agressor".
Sendo esta abordagem inédita no país, as autoras escolheram os temas a serem abordados no jogo com base na literatura estrangeira (ver temas abaixo). Estes temas foram incluídos em estudos realizados no Canadá, no Reino Unido, em Espanha e nos Estados Unidos, e são os que se mostraram mais eficazes em termos de prevenção. O tabuleiro tem dois níveis de dificuldade: um mais simples, ao qual as autoras chamaram Mar das Conchas, e um mais avançado. "O ideal é que todas as crianças façam algumas atividades de nível 1, sempre duas atividades por cada um dos seis temas. Só depois passam para o Mar Turbulento, ou seja, as atividades de nível 2." Para o ano, as autoras vão desenvolver um jogo para crianças entre os três e os seis anos e uma app de telemóveis destinada a adolescentes. As Aventuras do Búzio e da Coral são oficialmente reco.mendadas por várias entidades, entre elas a Comissão Nacional de Proteção das Crianças e'Jovens em Risco e o Centro de Estudos Judiciários. Por cada jogo vendido, um euro reverterá para a Associação Portuguesa de Apoio à Vítima.
Emoções Remete para as emoções positivas e negativas e quais são as emoções que as crianças sentem nas várias situações. Além disso, ajuda-as a sabèr como expressar essas emoções ou pedir ajuda.
Internet As crianças já Usam redes sociais e Internet nesta idade. As atividades deste tema foram pensadas e desenvolvidas em parceria com o departamento de ciberorimes da Polícia Judiciária.
Ajuda O Último tema abordado no jogo é o ato de pedir ajuda. Pretende reforçar as competências desenvolvidas à medida que se vai jogando.
19.11.15
SOS-Criança recebeu quase 300 apelos relacionados com violência sexual
in RR
Numa situação de abuso, as crianças não dizem claramente o que lhes aconteceu, mas começam a ter, por exemplo, pesadelos, infecções urinárias, baixo rendimento escolar, choram muito.
Em Abril a Renascença falou com especialistas sobre o tema. Veja a reportagem "Abuso sexual de crianças. Quando o agressor vive lá em casa"
Quase 300 situações de crianças que alegadamente foram vítimas de violência sexual foram comunicadas ao serviço SOS-Criança nos últimos cinco anos. O balanço é do Instituto de Apoio à Criança (IAC).
Entre 2010 e 2014, a linha SOS-Criança Desaparecida e Abusada Sexualmente recebeu 298 apelos, que representam 2,16% do total das chamadas recebidas no serviço.
Segundo os dados do IAC, a que a agência Lusa teve acesso, o número de apelos relacionados com este tipo de crimes tem vindo a descer ligeiramente nos últimos cinco anos: 76 em 2010, 74 em 2011, 65 em 2012, 43 em 2013 e 40 em 2014.
"Desde 1988 que os técnicos do serviço recebem apelos de crianças e jovens que são abusados sexualmente ou que pedem esclarecimentos" sobre o que fazer nestas situações, disse o secretário-geral do IAC, Manuel Coutinho.
Lembrando que "a violência sexual contra as crianças é um crime gravíssimo e devastador que tem de ser denunciado", o psicólogo defendeu a importância de "cada um de nós" diligenciar no sentido de prevenir "todo mal-estar que é causado às crianças".
"Prevenir é, em primeiro lugar, esclarecer as crianças, dizer-lhes que elas têm o direito sobre o corpo delas e que, por exemplo, debaixo da roupa interior ninguém pode tocar, é uma zona íntima", explicou o também coordenador do SOS-Criança.
Manuel Coutinho defendeu que, desde muito cedo, as crianças devem ser incentivadas a falar sempre que existam situações que as deixem constrangidas.
"As crianças sempre que se sentirem desconfortáveis não devem ter medo de contar a alguém aquilo que se passa, seja ao pai, seja à mãe, ao professor ou ao médico", frisou.
Uma em cada cinco crianças na Europa é vítima
Fazendo uma análise dos últimos 15 anos, o IAC refere que a o serviço recebeu, neste período, 1.095 apelos a denunciarem este tipo de situações.
Os anos que registaram o maior número de apelos foram 2004 (146) e 2005 (126), adianta os dados divulgados a propósito do Dia Europeu sobre a Protecção de Crianças contra a Exploração Sexual e o Abuso Sexual, que se assinala pela primeira vez na quarta-feira, por iniciativa do Conselho da Europa.
Numa situação de abuso sexual, as crianças não dizem claramente o que lhes aconteceu, mas começam a ter, por exemplo, pesadelos, infecções urinárias, baixo rendimento escolar e choram muito.
Manuel Coutinho destacou a importância da data que se assinala na quarta-feira, porque a prevenção destes crimes também passa pelo conhecimento dos serviços que lutam contra este fenómeno.
O IAC foi pioneiro nesta luta ao criar o SOS-Criança, uma linha telefónica gratuita (116000) que funciona 24 horas por dia e 365 dias por ano.
Dados do Conselho da Europa indicam que cerca de uma em cada cinco crianças na Europa é vítima de alguma forma de violência sexual, estimando-se em 70% a 85% dos casos, o abusador é alguém que a criança conhece e em quem confia.
Numa situação de abuso, as crianças não dizem claramente o que lhes aconteceu, mas começam a ter, por exemplo, pesadelos, infecções urinárias, baixo rendimento escolar, choram muito.
Em Abril a Renascença falou com especialistas sobre o tema. Veja a reportagem "Abuso sexual de crianças. Quando o agressor vive lá em casa"
Quase 300 situações de crianças que alegadamente foram vítimas de violência sexual foram comunicadas ao serviço SOS-Criança nos últimos cinco anos. O balanço é do Instituto de Apoio à Criança (IAC).
Entre 2010 e 2014, a linha SOS-Criança Desaparecida e Abusada Sexualmente recebeu 298 apelos, que representam 2,16% do total das chamadas recebidas no serviço.
Segundo os dados do IAC, a que a agência Lusa teve acesso, o número de apelos relacionados com este tipo de crimes tem vindo a descer ligeiramente nos últimos cinco anos: 76 em 2010, 74 em 2011, 65 em 2012, 43 em 2013 e 40 em 2014.
"Desde 1988 que os técnicos do serviço recebem apelos de crianças e jovens que são abusados sexualmente ou que pedem esclarecimentos" sobre o que fazer nestas situações, disse o secretário-geral do IAC, Manuel Coutinho.
Lembrando que "a violência sexual contra as crianças é um crime gravíssimo e devastador que tem de ser denunciado", o psicólogo defendeu a importância de "cada um de nós" diligenciar no sentido de prevenir "todo mal-estar que é causado às crianças".
"Prevenir é, em primeiro lugar, esclarecer as crianças, dizer-lhes que elas têm o direito sobre o corpo delas e que, por exemplo, debaixo da roupa interior ninguém pode tocar, é uma zona íntima", explicou o também coordenador do SOS-Criança.
Manuel Coutinho defendeu que, desde muito cedo, as crianças devem ser incentivadas a falar sempre que existam situações que as deixem constrangidas.
"As crianças sempre que se sentirem desconfortáveis não devem ter medo de contar a alguém aquilo que se passa, seja ao pai, seja à mãe, ao professor ou ao médico", frisou.
Uma em cada cinco crianças na Europa é vítima
Fazendo uma análise dos últimos 15 anos, o IAC refere que a o serviço recebeu, neste período, 1.095 apelos a denunciarem este tipo de situações.
Os anos que registaram o maior número de apelos foram 2004 (146) e 2005 (126), adianta os dados divulgados a propósito do Dia Europeu sobre a Protecção de Crianças contra a Exploração Sexual e o Abuso Sexual, que se assinala pela primeira vez na quarta-feira, por iniciativa do Conselho da Europa.
Numa situação de abuso sexual, as crianças não dizem claramente o que lhes aconteceu, mas começam a ter, por exemplo, pesadelos, infecções urinárias, baixo rendimento escolar e choram muito.
Manuel Coutinho destacou a importância da data que se assinala na quarta-feira, porque a prevenção destes crimes também passa pelo conhecimento dos serviços que lutam contra este fenómeno.
O IAC foi pioneiro nesta luta ao criar o SOS-Criança, uma linha telefónica gratuita (116000) que funciona 24 horas por dia e 365 dias por ano.
Dados do Conselho da Europa indicam que cerca de uma em cada cinco crianças na Europa é vítima de alguma forma de violência sexual, estimando-se em 70% a 85% dos casos, o abusador é alguém que a criança conhece e em quem confia.
29.4.15
Quando o violador vive lá em casa
por Dina Soares e Joana Bourgard, in RR
Abuso sexual de crianças. Quando o agressor vive lá em casa
Ficou conhecida como "lista dos pedófilos" e tem recolhido, sobretudo, vozes contra, tanto mais porque dois em cada três crimes são praticados por familiares e "amigos" das vítimas. O Parlamento debate esta quarta-feira o diploma que cria um registo de condenados.
Foi de repente que o comportamento daquele menino mudou. Deixou de brincar com os colegas. Não falava com ninguém. Passava os intervalos sentado em cima dos caixotes do lixo. Era como se sentisse que ali era o seu lugar. No lixo. Os sinais foram lidos pela professora. Foi tentar perceber o que se passava e descobriu: o menino, então com nove anos, era abusado sexualmente pelo tio.
Luísa Moniz foi professora e directora da escola primária de Chelas, em Lisboa, durante mais de 20 anos. Pela sua sala de aula passaram muitas crianças maltratadas, e algumas vítimas de abuso sexual. Luísa lembra o caso deste menino e um outro, envolvendo uma menina de seis anos violada pelo pai.
Dois em cada três crimes de abuso sexual sobre menores são cometidos por familiares ou conhecidos. Pessoas nas quais a criança confia, pessoas a quem a criança é confiada. Os dados são de 2014, revelados pelo Relatório Anual de Segurança Interna, e deixam uma grande dúvida: como proteger as crianças contra os adultos que as devem proteger?
Os números mostram também que entre os abusadores, prevalece o sexo masculino. As vítimas são maioritariamente do sexo feminino.
O ano de 2002 foi o "ano zero" do reconhecimento público da pedofilia em Portugal. O surgimento do caso "Casa Pia", acabou por transportar a consciência colectiva de um estado de relativa indiferença para um estado de hipersensibilidade. Em pouco mais de uma década, o número de pessoas detidas por crimes sexuais disparou. No último ano, foram detidos 146 suspeitos deste crime. E metade dos inquéritos abertos por crimes sexuais diz respeito a abusos sobre crianças.
Muitos destes casos estão ainda em fase de investigação. Quanto ao número de pessoas efectivamente condenadas, nem o Ministério da Justiça nem a Procuradoria-Geral da República disponibilizam dados.
As queixas surgem por diversas vias. A Linha SOS Criança, a primeira do género criada em Portugal há perto de 30 anos, recebeu, em 2014, 64 chamadas com denúncias relacionadas com abuso sexual, pedofilia, pornografia e prostituição infantil - pouco mais de 2% do total de denúncias.
Manuel Coutinho, responsável por este serviço, diz que só através da informação se podem prevenir estas situações. "É preciso apostar em campanhas públicas de sensibilização e na formação de professores e educadores para que possam reconhecer os sinais".
O afastamento entre pais e filhos é apontado pelo psicólogo Luís Formas como um dos principais obstáculos à prevenção dos abusos. Luís Formas, que trabalha com crianças e adolescentes na margem Sul do Tejo, considera, no entanto, que é um erro pedir aos pais que tenham a capacidade de avaliar este tipo de situações. Por isso, rejeita totalmente a ideia da criação de uma lista acessível a pais e responsáveis parentais. O sentimento é partilhado por Manuel Coutinho: "Tenho muitas reservas. Também não vejo, por exemplo, listas de traficantes de droga".
Como prevenir?
Para estes técnicos, habituados a lidar com crianças em risco, há outras soluções que servem melhor a prevenção. Manuel Coutinho defende que os abusadores deviam cumprir penas mais longas e ter acompanhamento especializado na prisão. Luís Formas preconiza a criação da figura do tutor que acompanhe o condenado por abuso sexual depois do cumprimento da pena.
Nada disto está previsto na proposta de lei, aprovada em Conselho de Ministros a 12 de Março deste ano. O que o Governo pretende é criar uma lista onde constem todas as pessoas condenadas por crimes de abuso sexual contra crianças e torná-la acessível a pais ou responsáveis parentais, magistrados, agentes da autoridade e comissões de protecção de crianças e jovens. O acesso é autorizado pela polícia e quem aceder à lista fica obrigado a guardar segredo. Os condenados permanecem na lista entre cinco e 20 anos, conforme a pena, e são obrigados a informar as autoridades quando mudam de casa ou se ausentam por mais de cinco dias.
A ministra da Justiça defendeu em Outubro de 2014 a medida como forma de prevenção
"Não há um abusador em cada esquina"
A pretendida publicitação da identidade e localização dos abusadores sexuais condenados pode gerar um alarme social que não se justifica. Daniel Cotrim, da Associação Portuguesa de Apoio à Vítima (APAV), sublinha que o abuso sexual não é uma epidemia, nem há um abusador em cada esquina. À APAV chegam cerca de cem denúncias por ano.
Para Cotrim, mais importante seria estudar o perfil do abusador em Portugal para se criarem programas que permitam a não reincidência, muito embora também as taxas de reincidência sejam desconhecidas já que não existe monitorização.
São muitas incógnitas que a Polícia de Segurança Pública vai ter que gerir. Segundo a proposta de lei, são os agentes que decidem quem tem acesso aos nomes constantes no registo.
A subcomissária Maria Dantier integra o programa "Escola Segura", que tem como uma das suas vertentes a realização de acções de informação e sensibilização nas escolas. O abuso sexual não é um tema autónomo - surge normalmente associado ao bullying e à violência no namoro.
A abordagem da PSP é feita sobretudo do ponto de vista criminal. Maria Dantier reconhece que, para falar de abuso sexual de menores, é preciso saber do assunto e a polícia, embora vá tendo alguma formação, prefere a recorrer a técnicos especializados. Se a lei avançar, e a PSP ficar com a responsabilidade de decidir quem tem acesso aos nomes dos abusadores condenados, a subcomissária não sabe de que forma as esquadras vão fazer essa gestão, nem se os agentes estão preparados para tomar decisões que podem ter grande impacto na vida de tanta gente.
Anunciada em 2014 pela ministra da Justiça, a proposta de "criação de um registo de identificação criminal de condenados por crimes contra a autodeterminação sexual e a liberdade sexual de menores" é levada a debate em plenário pela maioria esta quarta-feira.
Abuso sexual de crianças. Quando o agressor vive lá em casa
Ficou conhecida como "lista dos pedófilos" e tem recolhido, sobretudo, vozes contra, tanto mais porque dois em cada três crimes são praticados por familiares e "amigos" das vítimas. O Parlamento debate esta quarta-feira o diploma que cria um registo de condenados.
Foi de repente que o comportamento daquele menino mudou. Deixou de brincar com os colegas. Não falava com ninguém. Passava os intervalos sentado em cima dos caixotes do lixo. Era como se sentisse que ali era o seu lugar. No lixo. Os sinais foram lidos pela professora. Foi tentar perceber o que se passava e descobriu: o menino, então com nove anos, era abusado sexualmente pelo tio.
Luísa Moniz foi professora e directora da escola primária de Chelas, em Lisboa, durante mais de 20 anos. Pela sua sala de aula passaram muitas crianças maltratadas, e algumas vítimas de abuso sexual. Luísa lembra o caso deste menino e um outro, envolvendo uma menina de seis anos violada pelo pai.
Dois em cada três crimes de abuso sexual sobre menores são cometidos por familiares ou conhecidos. Pessoas nas quais a criança confia, pessoas a quem a criança é confiada. Os dados são de 2014, revelados pelo Relatório Anual de Segurança Interna, e deixam uma grande dúvida: como proteger as crianças contra os adultos que as devem proteger?
Os números mostram também que entre os abusadores, prevalece o sexo masculino. As vítimas são maioritariamente do sexo feminino.
O ano de 2002 foi o "ano zero" do reconhecimento público da pedofilia em Portugal. O surgimento do caso "Casa Pia", acabou por transportar a consciência colectiva de um estado de relativa indiferença para um estado de hipersensibilidade. Em pouco mais de uma década, o número de pessoas detidas por crimes sexuais disparou. No último ano, foram detidos 146 suspeitos deste crime. E metade dos inquéritos abertos por crimes sexuais diz respeito a abusos sobre crianças.
Muitos destes casos estão ainda em fase de investigação. Quanto ao número de pessoas efectivamente condenadas, nem o Ministério da Justiça nem a Procuradoria-Geral da República disponibilizam dados.
As queixas surgem por diversas vias. A Linha SOS Criança, a primeira do género criada em Portugal há perto de 30 anos, recebeu, em 2014, 64 chamadas com denúncias relacionadas com abuso sexual, pedofilia, pornografia e prostituição infantil - pouco mais de 2% do total de denúncias.
Manuel Coutinho, responsável por este serviço, diz que só através da informação se podem prevenir estas situações. "É preciso apostar em campanhas públicas de sensibilização e na formação de professores e educadores para que possam reconhecer os sinais".
O afastamento entre pais e filhos é apontado pelo psicólogo Luís Formas como um dos principais obstáculos à prevenção dos abusos. Luís Formas, que trabalha com crianças e adolescentes na margem Sul do Tejo, considera, no entanto, que é um erro pedir aos pais que tenham a capacidade de avaliar este tipo de situações. Por isso, rejeita totalmente a ideia da criação de uma lista acessível a pais e responsáveis parentais. O sentimento é partilhado por Manuel Coutinho: "Tenho muitas reservas. Também não vejo, por exemplo, listas de traficantes de droga".
Como prevenir?
Para estes técnicos, habituados a lidar com crianças em risco, há outras soluções que servem melhor a prevenção. Manuel Coutinho defende que os abusadores deviam cumprir penas mais longas e ter acompanhamento especializado na prisão. Luís Formas preconiza a criação da figura do tutor que acompanhe o condenado por abuso sexual depois do cumprimento da pena.
Nada disto está previsto na proposta de lei, aprovada em Conselho de Ministros a 12 de Março deste ano. O que o Governo pretende é criar uma lista onde constem todas as pessoas condenadas por crimes de abuso sexual contra crianças e torná-la acessível a pais ou responsáveis parentais, magistrados, agentes da autoridade e comissões de protecção de crianças e jovens. O acesso é autorizado pela polícia e quem aceder à lista fica obrigado a guardar segredo. Os condenados permanecem na lista entre cinco e 20 anos, conforme a pena, e são obrigados a informar as autoridades quando mudam de casa ou se ausentam por mais de cinco dias.
A ministra da Justiça defendeu em Outubro de 2014 a medida como forma de prevenção
"Não há um abusador em cada esquina"
A pretendida publicitação da identidade e localização dos abusadores sexuais condenados pode gerar um alarme social que não se justifica. Daniel Cotrim, da Associação Portuguesa de Apoio à Vítima (APAV), sublinha que o abuso sexual não é uma epidemia, nem há um abusador em cada esquina. À APAV chegam cerca de cem denúncias por ano.
Para Cotrim, mais importante seria estudar o perfil do abusador em Portugal para se criarem programas que permitam a não reincidência, muito embora também as taxas de reincidência sejam desconhecidas já que não existe monitorização.
São muitas incógnitas que a Polícia de Segurança Pública vai ter que gerir. Segundo a proposta de lei, são os agentes que decidem quem tem acesso aos nomes constantes no registo.
A subcomissária Maria Dantier integra o programa "Escola Segura", que tem como uma das suas vertentes a realização de acções de informação e sensibilização nas escolas. O abuso sexual não é um tema autónomo - surge normalmente associado ao bullying e à violência no namoro.
A abordagem da PSP é feita sobretudo do ponto de vista criminal. Maria Dantier reconhece que, para falar de abuso sexual de menores, é preciso saber do assunto e a polícia, embora vá tendo alguma formação, prefere a recorrer a técnicos especializados. Se a lei avançar, e a PSP ficar com a responsabilidade de decidir quem tem acesso aos nomes dos abusadores condenados, a subcomissária não sabe de que forma as esquadras vão fazer essa gestão, nem se os agentes estão preparados para tomar decisões que podem ter grande impacto na vida de tanta gente.
Anunciada em 2014 pela ministra da Justiça, a proposta de "criação de um registo de identificação criminal de condenados por crimes contra a autodeterminação sexual e a liberdade sexual de menores" é levada a debate em plenário pela maioria esta quarta-feira.
1.4.14
Abusos sexuais de crianças aumentaram em 2013
in iOnline
No período em análise foram iniciados 2.372 inquéritos, destacando-se, pela incidência criminal, os de abuso sexual de crianças (1.227), violação (473) e atos sexuais com adolescentes (161)
Os casos de abusos sexuais de crianças aumentaram de 1.074, em 2012, para 1.227 em 2013, registando-se igualmente uma subida dos casos de atos sexuais com adolescentes, segundo o Relatório Anual de Segurança Interna (RASI).
O documento, entregue segunda-feira na Assembleia da República, refere que os abusos sexuais de crianças foram os crimes sexuais mais frequentes, tendo aumentado no ano passado.
Neste capítulo, subiram igualmente os crimes de atos sexuais com adolescentes, de 127 (em 2012) para 161 (em 2013), de coação sexual, de 56 para 93, e de violação, de 459 para 473.
Os casos de abuso sexual de pessoa incapaz de resistência mantiveram-se (88 em 2012 e em 2013), tendo descido os de pornografia de menores (de 318 para 94) e os de abuso sexual de menor/dependente: de 52 para 44.
No ano passado foram detidas 70 pessoas por abuso sexual de crianças (67 homens e três mulheres), 53 por violação e onze por pornografia.
Ficaram em prisão preventiva 34 pessoas por abuso sexual de crianças, 23 por violação, três por abuso sexual de menores dependentes, três por pornografia de menores, dois por abuso sexual de pessoa incapaz de resistência, um por ato sexual com adolescentes e um por lenocínio de menores.
Em relação aos arguidos, foram constituídos 369 por abuso sexual de crianças (357 homens e 12 mulheres), menos 40 do que em 2012.
Foram constituídas arguidas por violação 186 pessoas (184 homens e duas mulheres), 49 por atos sexuais com adolescentes (47 homens e duas mulheres), 40 por importunação sexual, 37 por pornografia de menores, 34 por coação sexual, 22 por abuso sexual de pessoa incapaz de resistência.
Foram igualmente constituídas arguidas 17 pessoas por abuso sexual de menores dependentes, 12 por lenocínio, seis por lenocínio de menores, cinco por recurso à prostituição de menores e três por abuso sexual de pessoa internada.
No período em análise foram iniciados 2.372 inquéritos, destacando-se, pela incidência criminal, os de abuso sexual de crianças (1.227), violação (473) e atos sexuais com adolescentes (161).
Sobre o abuso sexual de crianças, o RASI refere que mantém-se “a acentuada incidência nas vítimas femininas e, em contrapartida, a preponderância de arguidos masculinos”.
“No crime de abuso sexual de crianças prevaleceu o quadro das relações familiares enquanto espaço social de relacionamento entre o autor dos factos criminais e a vítima”, lê-se no documento.
De acordo com o Relatório Anual de Segurança Interna (RASI), a criminalidade violenta e grave desceu 9,5 por cento, em 2013 e a criminalidade geral diminuiu 6,9 por cento.
Os principais resultados da criminalidade e atividade das forças e serviços de segurança referem que no passado registaram-se menos 2.123 casos de criminalidade violenta e grave.
No período em análise foram iniciados 2.372 inquéritos, destacando-se, pela incidência criminal, os de abuso sexual de crianças (1.227), violação (473) e atos sexuais com adolescentes (161)
Os casos de abusos sexuais de crianças aumentaram de 1.074, em 2012, para 1.227 em 2013, registando-se igualmente uma subida dos casos de atos sexuais com adolescentes, segundo o Relatório Anual de Segurança Interna (RASI).
O documento, entregue segunda-feira na Assembleia da República, refere que os abusos sexuais de crianças foram os crimes sexuais mais frequentes, tendo aumentado no ano passado.
Neste capítulo, subiram igualmente os crimes de atos sexuais com adolescentes, de 127 (em 2012) para 161 (em 2013), de coação sexual, de 56 para 93, e de violação, de 459 para 473.
Os casos de abuso sexual de pessoa incapaz de resistência mantiveram-se (88 em 2012 e em 2013), tendo descido os de pornografia de menores (de 318 para 94) e os de abuso sexual de menor/dependente: de 52 para 44.
No ano passado foram detidas 70 pessoas por abuso sexual de crianças (67 homens e três mulheres), 53 por violação e onze por pornografia.
Ficaram em prisão preventiva 34 pessoas por abuso sexual de crianças, 23 por violação, três por abuso sexual de menores dependentes, três por pornografia de menores, dois por abuso sexual de pessoa incapaz de resistência, um por ato sexual com adolescentes e um por lenocínio de menores.
Em relação aos arguidos, foram constituídos 369 por abuso sexual de crianças (357 homens e 12 mulheres), menos 40 do que em 2012.
Foram constituídas arguidas por violação 186 pessoas (184 homens e duas mulheres), 49 por atos sexuais com adolescentes (47 homens e duas mulheres), 40 por importunação sexual, 37 por pornografia de menores, 34 por coação sexual, 22 por abuso sexual de pessoa incapaz de resistência.
Foram igualmente constituídas arguidas 17 pessoas por abuso sexual de menores dependentes, 12 por lenocínio, seis por lenocínio de menores, cinco por recurso à prostituição de menores e três por abuso sexual de pessoa internada.
No período em análise foram iniciados 2.372 inquéritos, destacando-se, pela incidência criminal, os de abuso sexual de crianças (1.227), violação (473) e atos sexuais com adolescentes (161).
Sobre o abuso sexual de crianças, o RASI refere que mantém-se “a acentuada incidência nas vítimas femininas e, em contrapartida, a preponderância de arguidos masculinos”.
“No crime de abuso sexual de crianças prevaleceu o quadro das relações familiares enquanto espaço social de relacionamento entre o autor dos factos criminais e a vítima”, lê-se no documento.
De acordo com o Relatório Anual de Segurança Interna (RASI), a criminalidade violenta e grave desceu 9,5 por cento, em 2013 e a criminalidade geral diminuiu 6,9 por cento.
Os principais resultados da criminalidade e atividade das forças e serviços de segurança referem que no passado registaram-se menos 2.123 casos de criminalidade violenta e grave.
11.3.14
Abuso sexual de crianças aumentou 14% em 2013
por Valentina Marcelino, in Diário de Notícias
Em 2013, a Polícia Judiciária (PJ) abriu 1227 inquéritos por crimes de abusos sexuais de crianças, mais 14% que no ano anterior.
Este crime representou mais de metade do total de 2372 inquéritos por crimes sexuais investigados por esta polícia. Segundo dados que a PJ enviou ao Sistema de Segurança Interna (SSI), para o Relatório Anual de criminalidade, a que o DN teve acesso, houve 330 pessoas constituídas arguidas por suspeita de terem abusado de crianças, mas não há registo ainda de detenções.
Os crimes sexuais (ver infografia), que incluem , entre outros, violações (que também aumentaram), atos sexuais com adolescentes, pornografia de menores e coação sexual, merecem especial destaque neste documento. Durante o ano passado foram detidos, por estes crimes 155 suspeitos, dos quais 67 estão em prisão preventiva. Foram constituídos 780 arguidos por crimes sexuais.
Em 2013, a Polícia Judiciária (PJ) abriu 1227 inquéritos por crimes de abusos sexuais de crianças, mais 14% que no ano anterior.
Este crime representou mais de metade do total de 2372 inquéritos por crimes sexuais investigados por esta polícia. Segundo dados que a PJ enviou ao Sistema de Segurança Interna (SSI), para o Relatório Anual de criminalidade, a que o DN teve acesso, houve 330 pessoas constituídas arguidas por suspeita de terem abusado de crianças, mas não há registo ainda de detenções.
Os crimes sexuais (ver infografia), que incluem , entre outros, violações (que também aumentaram), atos sexuais com adolescentes, pornografia de menores e coação sexual, merecem especial destaque neste documento. Durante o ano passado foram detidos, por estes crimes 155 suspeitos, dos quais 67 estão em prisão preventiva. Foram constituídos 780 arguidos por crimes sexuais.
3.1.13
Rede de apoio a crianças abusadas lamenta "hipocrisia" da Igreja
Alexandra Campos, in Público on-line
O presidente da associação Rede de Cuidadores, fundada há três anos para apoiar crianças maltratadas, é o psiquiatra Álvaro Carvalho.
O presidente da associação Rede de Cuidadores lamentou hoje a “hipocrisia da hierarquia da Igreja Católica” após a divulgação do processo que levou à detenção do vice-reitor do Seminário Menor do Fundão por suspeita de abuso sexual de menores e depois de a ex-provedora da Casa Pia de Lisboa, Catalina Pestana, ter afirmado que conhecia outros casos entre membros do clero. “Quero que seja reposta a verdade dos factos e que a Igreja Católica deixe de tentar tapar o sol com a peneira”, explicou o psiquiatra Álvaro Carvalho ao PÚBLICO.
Repetindo que a Rede de Cuidadores (fundada há três anos para apoiar crianças maltratadas, na sequência do processo Casa Pia) recebeu “várias denúncias de abusos levados a cabo por sacerdotes e/ou responsáveis religiosos de instituições católicas”, o psiquiatra explica que a a associação só não foi mais longe nessa altura porque os crimes estavam prescritos, mas recorda, num longo comunicado, as tentativas feitas para ajudar a evitar a continuação de “tais práticas criminosas”.
Por saber que os abusos sexuais são praticados por “pedódilos, uma perversão sexual com registo compulsivo, logo incontrolável, e até ao momento sem cura, e por depravados que se consideram completamente incólumes”, continua, os dirigentes da associação optaram por dirigir-se aos “directos responsáveis” das instituições. O problema é que, se na maior parte das situações foram escutados, no caso da Igreja Católica isso “só aconteceu quando os abusadores, já condenados, eram ex-seminaristas, credenciados pela hierarquia, como os restantes, idóneos para exercer a profissão de professores de Religião Moral e Católica!”, acusa.
Álvaro de Carvalho lembra novamente a reunião de Março de 2011 com o então presidente da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), D. Jorge Ortiga, em que participaram ele próprio, Catalina Pestana e Odete Sá. O porta-voz da CEP, Manuel Morujão, não estava presente (ao contrário do que afirmou Catalina Pestana), “mas foi com ele que se estabeleceu, por telefone e email, todos os contactos para a efectivação do encontro”, recorda o psiquiatra. Na reunião, D. Jorge Ortiga afirmou que denúncias não eram suficientes” e desafiou-os a “apresentar provas”. Só um “reverendíssimo Bispo parece não saber que estes crimes vivem de silêncios e medos ancestrais, escondidos por muros espessos e altos”, indigna-se Álvaro de Carvalho, que não entende por que razão é que o bispo e a CEP nunca mais os chamaram, apesar de eles se terem oferecido para ajudar na metologia de selecção e formação de catequistas ou dirigentes de outros movimentos da Igreja.
Álvaro Carvalho destaca também as incongruências das posições do porta –voz da CEP, que, em entrevista a um diário, defendeu recentemente que a a gravidade deste tipo de acusações “é tal que exige discrição no seu tratamento”, quando dias antes desafiou Catalina Pestana a dizer publicamente os nomes dos eventuais criminosos. “Tal facto é crime de difamação. Dizem-me os católicos da Rede que também é pecado grave, mas sua Reverência lá saberá os métodos nos quais quer envolver outros”, critica. Se alguns dos dirigentes da Rede “sofrem com a hipocrisia da Igreja Católica”, outros “têm a inteligência e o discernimento de se manterem longe dela”, conclui.
O PÚBLICO tentou obter uma reacção do porta-voz da CEP, padre Manuel Morujão, que se escusou a fazer comentários, até porque não conhece o comunicado. Confrontado com as críticas de Álvaro Carvalho, Manuel Morujão disse apenas que o psiquiatra “pode afirmar o que acha”.
Após a denúncia da ex-provedora da Casa Pia, a Procuradoria-Geral da República divulgou a existência de dois inquéritos por suspeitas de abusos sexuais em instituições religiosas. Um está relacionado com a Ordem Hospitaleira de São João de Deus, que tem oito centros hospitalares no continente e ilhas. E o segundo inquérito foi motivado pelas palavras de Catalina Pestana, que prestou declarações no Departamento de Investigação e Acção Penal de Lisboa uns dias antes do Natal.
O presidente da associação Rede de Cuidadores, fundada há três anos para apoiar crianças maltratadas, é o psiquiatra Álvaro Carvalho.
O presidente da associação Rede de Cuidadores lamentou hoje a “hipocrisia da hierarquia da Igreja Católica” após a divulgação do processo que levou à detenção do vice-reitor do Seminário Menor do Fundão por suspeita de abuso sexual de menores e depois de a ex-provedora da Casa Pia de Lisboa, Catalina Pestana, ter afirmado que conhecia outros casos entre membros do clero. “Quero que seja reposta a verdade dos factos e que a Igreja Católica deixe de tentar tapar o sol com a peneira”, explicou o psiquiatra Álvaro Carvalho ao PÚBLICO.
Repetindo que a Rede de Cuidadores (fundada há três anos para apoiar crianças maltratadas, na sequência do processo Casa Pia) recebeu “várias denúncias de abusos levados a cabo por sacerdotes e/ou responsáveis religiosos de instituições católicas”, o psiquiatra explica que a a associação só não foi mais longe nessa altura porque os crimes estavam prescritos, mas recorda, num longo comunicado, as tentativas feitas para ajudar a evitar a continuação de “tais práticas criminosas”.
Por saber que os abusos sexuais são praticados por “pedódilos, uma perversão sexual com registo compulsivo, logo incontrolável, e até ao momento sem cura, e por depravados que se consideram completamente incólumes”, continua, os dirigentes da associação optaram por dirigir-se aos “directos responsáveis” das instituições. O problema é que, se na maior parte das situações foram escutados, no caso da Igreja Católica isso “só aconteceu quando os abusadores, já condenados, eram ex-seminaristas, credenciados pela hierarquia, como os restantes, idóneos para exercer a profissão de professores de Religião Moral e Católica!”, acusa.
Álvaro de Carvalho lembra novamente a reunião de Março de 2011 com o então presidente da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), D. Jorge Ortiga, em que participaram ele próprio, Catalina Pestana e Odete Sá. O porta-voz da CEP, Manuel Morujão, não estava presente (ao contrário do que afirmou Catalina Pestana), “mas foi com ele que se estabeleceu, por telefone e email, todos os contactos para a efectivação do encontro”, recorda o psiquiatra. Na reunião, D. Jorge Ortiga afirmou que denúncias não eram suficientes” e desafiou-os a “apresentar provas”. Só um “reverendíssimo Bispo parece não saber que estes crimes vivem de silêncios e medos ancestrais, escondidos por muros espessos e altos”, indigna-se Álvaro de Carvalho, que não entende por que razão é que o bispo e a CEP nunca mais os chamaram, apesar de eles se terem oferecido para ajudar na metologia de selecção e formação de catequistas ou dirigentes de outros movimentos da Igreja.
Álvaro Carvalho destaca também as incongruências das posições do porta –voz da CEP, que, em entrevista a um diário, defendeu recentemente que a a gravidade deste tipo de acusações “é tal que exige discrição no seu tratamento”, quando dias antes desafiou Catalina Pestana a dizer publicamente os nomes dos eventuais criminosos. “Tal facto é crime de difamação. Dizem-me os católicos da Rede que também é pecado grave, mas sua Reverência lá saberá os métodos nos quais quer envolver outros”, critica. Se alguns dos dirigentes da Rede “sofrem com a hipocrisia da Igreja Católica”, outros “têm a inteligência e o discernimento de se manterem longe dela”, conclui.
O PÚBLICO tentou obter uma reacção do porta-voz da CEP, padre Manuel Morujão, que se escusou a fazer comentários, até porque não conhece o comunicado. Confrontado com as críticas de Álvaro Carvalho, Manuel Morujão disse apenas que o psiquiatra “pode afirmar o que acha”.
Após a denúncia da ex-provedora da Casa Pia, a Procuradoria-Geral da República divulgou a existência de dois inquéritos por suspeitas de abusos sexuais em instituições religiosas. Um está relacionado com a Ordem Hospitaleira de São João de Deus, que tem oito centros hospitalares no continente e ilhas. E o segundo inquérito foi motivado pelas palavras de Catalina Pestana, que prestou declarações no Departamento de Investigação e Acção Penal de Lisboa uns dias antes do Natal.
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