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6.9.23

2,3 milhões de portugueses podem ficar sem médico de família, avisa associação das USF

Por Antena 1, in RTP

A proximidade da aposentação de cerca 400 médicos a nível nacional, até ao final do ano, pode colocar dois milhões e trezentos mil portugueses sem médico de família. O aviso é feito pela Associação Nacional das Unidades de Saúde Familiar.
Apesar do recrutamento de 300 médicos recém-licenciados este verão, o número de médicos perto da idade da reforma, a sair ainda este ano, ultrapassa as novas entradas, lembra o presidente da associação, André Biscaia.

Só com condições atrativas se podem fixar os médicos mais velhos e cativar os mais novos, refere.

Leiria é um dos exemplos da falta de médicos de família.

Ontem, o município aprovou uma moção que pede ao Ministério da Saúde um diagnóstico ao quadro de recursos humanos da rede de cuidados primários no concelho.

Pedem-se ainda medidas com carácter de urgência para se ultrapassar a atual situação que deixa a população preocupada.

O agrupamento de Centros de Saúde do Pinhal litoral, que abrange os concelhos da Batalha, Leiria, Marinha Grande, Pombal e Porto de Mós, perdeu 25 clínicos desde o início do ano.

No final de julho entraram apenas 10 novos médicos.

19.5.23

“Não sei se é estigma, mas muitas vezes os médicos de família são o parente pobre. Só se lembram de nós quando as coisas se complicam”

Joana Ascensão, in Expresso


Nesta entrevista que junta o 40º aniversário da Associação Nacional de Medicina Geral e Familiar e o Dia do Médico de Família, o médico Nuno Jacinto, presidente da associação dos Médicos de Família, elenca as dores de crescimento de uma especialidade médica que diz ser olhada como “parente pobre” da medicina e que, simultaneamente, é vista por todos como “a base” do Serviço Nacional de Saúde. Porque faltam médicos? E onde? Como não pára de crescer o número de portugueses sem médico de família?


Começo por um número impossível de fintar: quase 1,7 milhões de portugueses estão sem médico de família, entre eles mais de um milhão é na região de Lisboa e Vale do Tejo. Como é que isto se consegue explicar?
O milhão e 700 mil a nível nacional tem alguma justificação aritmética simples. Ao longo dos últimos anos cada vez mais médicos saíram do sistema do que os que entram. Isto acontece por duas grandes razões: uma delas é porque estamos a viver um pico de reformas, sobretudo em 2022, 2023 e 2024; outra é porque temos tido imensa dificuldade em captar e reter no Serviço Nacional de Saúde (SNS) os médicos de família ao longo dos anos. O número de médicos que terminaram a sua especialidade e que ficam no SNS é um número cada vez menor.

Uma notícia recente dá-nos conta de candidatos para apenas 40% das 900 vagas, no último concurso.


Os números mostram que o SNS não está a ser atrativo para os médicos. Nós formamos médicos de família considerados dos melhores do mundo e não os conseguimos aproveitar. Lisboa e Vale do Tejo é uma situação muito particular pela acumulação de graves carências de profissionais, nomeadamente médicos de família, e de muitos utentes sem médico atribuído. Isto causa uma sobrecarga de trabalho nos profissionais que lá estão e torna essas unidades ainda menos atrativas [para os médicos]. Sendo menos atrativas, passam a ter uma menor capacidade de formação de internos. E tendo menos internos, têm menos capacidade de ter pessoas que lá queiram ficar. Depois começamos a olhar para os colegas já formados, já com uma rede familiar e de suporte montada, e pedimos-lhes que, de um momento para o outro, mudem de vida e venham para uma região? Não é lógico e não acontece. Por isso, quando nós dizemos que faltam médicos de família no interior, não é verdade. A grande falta é em Lisboa e Vale do Tejo: Amadora, Oeiras, Cascais, Loures, Odivelas…


A própria capital não está a ser atrativa?
Não está e tem a ver com tudo isto. Há grandes assimetrias na formação, na organização das unidades – LVT tem menos USF [Unidades de Saúde Familiar] modelo B do que têm as outras regiões do país. Isto associado a menos formação, condições menos atrativas, custo de vida mais elevado e ao facto de as pessoas não serem dali, acaba por fazer com que seja muito difícil atrair colegas. O que temos feito até agora é abrir concursos, esperando que, por magia, os colegas escolham as vagas para aqueles locais.

Para si, a diferenciação de vencimento por zona do país seria uma medida a ter em conta?
O que deveria existir e deveria ser implementado seria uma ponderação da carga de trabalho de cada lista [de utentes], tendo em conta também estas realidades: número de utentes sem médico, número de profissionais existente, número de polos de cada unidade, a distância a um serviço de urgência. Se nós conseguíssemos aplicar essa diferenciação, saberíamos que ter uma lista de 1900 utentes no centro do Porto não é igual a tê-la em Évora, onde eu trabalho, em Sete Rios, em Faro ou em Bragança. Através desta diferente ponderação das listas, essa majoração ia ser feita automaticamente. Se eu estiver numa zona mais trabalhosa, com uma maior carga de trabalho por lista, a minha lista, das duas uma: ou para o mesmo vencimento haveria uma lista de menor dimensão; ou para uma lista de igual dimensão haveria um ordenado superior. O que nós estamos a fazer, genericamente, não é dar médicos às pessoas, é dar pessoas aos médicos. Isso, só por si, não garante acessibilidade nenhuma. Se nós formarmos listas de três mil utentes, de repente toda a gente passa a ter médico de família atribuído, mas é impossível ele conseguir dar resposta em tempo útil.

“Quando nós dizemos que faltam médicos de família no interior, não é verdade. A grande falta é em Lisboa e Vale do Tejo.”


Para si, o modelo B foi positivo?
Foi claramente positivo. Aliás, a reforma dos cuidados de saúde primários foi positiva, precisamente porque tinha como alvo este modelo B, que traduziu algo completamente diferente: o pagamento pelo desempenho. Foi um assumir de risco por parte dos profissionais. É preciso que isto seja dito. Agora dizemos sempre que o modelo B tem uma melhor remuneração, mas é porque os profissionais trabalham para isso e atingem os objetivos a que se propõem. Até há duas dezenas anos isto não acontecia. Ninguém trabalhava por objetivos. Trabalhasse mais ou menos o salário era sempre o mesmo. Mas o modelo tem 15 anos, precisa de ajustes. Há locais onde, com a legislação atual, por mais que se queira, não é possível instalar uma USF Modelo B.

O que me diz é que, no limite, todas as USF poderiam passar para o modelo B?
Se todas funcionassem como modelo B e tivessem o mesmo modelo remuneratório, seria muito melhor do que aquilo que temos agora. Apesar disso, como digo, é um modelo com 15 anos que precisa de ser adaptado aos tempos atuais.

Chegou a dizer que não há propriamente falta de médicos. Continua a corroborar isso?
Sim. Nós, neste momento, temos um pouco menos de 5500 médicos de família no SNS, temos cerca de 8 mil especialistas de medicina geral e familiar e temos 2 mil internos em formação. Muitos colegas saíram do SNS.

Fala-se em abrir mais vagas e fala-se em majorar vencimentos, de forma global, para esta especialidade, como forma de colmatar este problema. E resolve?
Começa a resolver. Um dos grandes problemas – e nisto temos de ser claros – tem a ver com a remuneração. A remuneração-base não é digna para aquilo que é a nossa responsabilidade. E, portanto, estando nós num mercado livre, com ofertas no privado e no estrangeiro, estes profissionais acabam por procurar outras soluções.

Sendo que a oferta do privado cresceu imenso nos últimos anos, esta fuga tem a ver diretamente com a falta de competitividade dos salários oferecidos no SNS?
Não só. Se formos falar com muitos colegas que estão no privado, eles muitas vezes até ganham o mesmo ou menos do que se ganha nas USF Modelo B. Agora, as condições de trabalho, como o horário, as exigências, as burocracias, são diferentes. Tudo isto pesa na balança. Por isso é que dizemos que a questão salarial, sendo importante, não é suficiente.


Em parte porque esta especialidade é interessante para o privado, no sentido em que é muito abrangente?
Certo. É uma especialidade abrangente que, progressivamente, foi sendo reconhecida no privado como muito interessante. Com este crescimento e com a deterioração das condições no SNS, é óbvio que os colegas começam a ponderar mais esta alternativa do que ponderariam há dez ou vinte anos.

Se o Nuno tivesse de elencar aquilo que é a principal causa para a crise que se vive nos cuidados primários, diria o quê?
É a falta de aposta nos recursos humanos, nomeadamente nos médicos de família. A pandemia veio demonstrar-nos ainda mais isso. Nós fomos olhados como o local para onde ia tudo o que não interessava ou que não tinha solução. E fomos tratados como se a nossa atividade fosse dispensável. Deixámos de fazer consultas, rastreios, para fazer chamadas telefónicas, para ir aos lares, etc. Isso foi um choque muito grande para os médicos de família porque sentiram que não eram valorizados. Mais: eu diria que sentiram que não eram respeitados.


Sente que existe ainda uma réstia de estigma do tempo em que ser médico de família não estava integrado numa especialidade?
[suspiro] Nós sentimos que há um reconhecimento grande por parte dos utentes e dos nossos pares, mas não sentimos esse reconhecimento da tutela. Não sei se é um estigma ou não, mas muitas vezes somos olhados como o parente pobre. Os cuidados primários, onde também está a Saúde Pública, são olhados como o parente pobre. Só se lembram de nós quando as coisas se complicam. Continuamos com uma visão muito focada na realidade hospitalar, na tecnologia de ponta, na medicina de alta precisão, avançadíssima. Isto é a ponta da pirâmide. Temos de olhar para a base.


“Na pandemia fomos olhados como o local para onde ia tudo o que não interessava ou que não tinha solução. E fomos tratados como se a nossa atividade fosse dispensável.”

O projeto da Direção Executiva do SNS de organizar os hospitais e os centros de saúde em ULS pode ajudar?
É difícil ter uma posição preto no branco. O modelo das ULS, na base, tem conceitos inatacáveis: a integração de cuidados, a racionalização de recursos, a melhor comunicação entre profissionais, a proximidade entre todos... O problema é a forma como isso tem sido executado. Mais uma vez, em muitos locais, a execução coloca os cuidados primários numa posição subalterna em relação aos cuidados hospitalares. Há locais em que os cuidados primários nem têm um diretor clínico dedicado.

Mas supostamente terão de ter um clínico da área hospitalar e um diretor clínico da área dos cuidados primários, que estarão na hierarquia em igualdade de circunstâncias.
O problema é que há casos em que essa função foi acumulada pelo mesmo profissional. É preciso garantir que os cuidados primários não vão servir para tapar buracos. Quando há um problema no orçamento do hospital, não podemos ir aos cuidados de saúde primários roubar esse orçamento para colmatar a falha do hospital. Se houver uma falha de recursos humanos no hospital, não podem ser os médicos de família a irem resolver esse problema.

Diz-me, então, que a receita de sucesso para o modelo são as lideranças.
Claramente. É um modelo que depende muito das lideranças.

E o modelo C, de que se voltou a falar?
O modelo C está previsto na legislação desde o início da reforma [dos cuidados primários] e sempre esteve previsto que funcionasse como último recurso, válvula de escape, quando o SNS não conseguisse resolver um problema. Qual é a questão? Nós não esgotámos o modelo B, ainda não o adaptámos aos dias de hoje. Portanto, o modelo C pode funcionar em alguns locais, quando tudo o resto não funcionar, mas não nos parece que seja a solução universal. Também não nos parece que haja vontade política de avançar com qualquer coisa semelhante.

O problema é sobretudo de organização?
A reforma baseava-se sobretudo em princípios de autonomia, de flexibilidade e de responsabilidade. Isso raramente foi dado às equipas. Repare: como é que nós temos um colega do norte do país que vai trabalhar para Lisboa, 40 horas por semana, sendo que as mesmas têm de ser distribuídas por cinco dias úteis? E se ele não quiser trabalhar cinco dias? E se ele não quiser trabalhar 12 horas por dia? Nós temos muita dificuldade a nível público de ter esta agilidade e resposta.

Então na opinião da Associação de Medicina Geral e Familiar, o que é que é mais urgente?
Temos de dividir isto em cinco partes. Uma delas já falámos: a parte da remuneração tem de ser mexida, nomeadamente nivelar por cima a componente remuneratória, com uma melhoria clara das condições de trabalho. Outro eixo é a aposta na carreira médica, que anda moribunda há anos. Precisamos de uma carreira muito mais célere, baseada no mérito e com um sistema de avaliação adequado. O terceiro eixo é a questão da flexibilidade e autonomia das equipas. Isso é fundamental.

Com o fim das ARS não se caminha para isso?Vamos ver. Estamos sempre abertos à mudança desde que seja para melhorar as nossas condições de trabalho. As ARS tornaram-se organismos muito burocráticos, muito difíceis de gerir, desfasados da realidade no terreno. Depois, o quarto eixo tem de ser a diminuição da burocracia. Nós não precisamos de declarações para tudo e para nada. Foi agora dado um primeiro passo com a alteração das autodeclarações de doença e tem de continuar a haver uma aposta na simplificação da nossa atividade. E por fim, o último eixo, são as nossas condições de trabalho nas unidades. Já nem falo das instalações, porque aí o PRR [Plano de Resolução e Resiliência] estará a resolver em alguns locais. Falo, sim, de sistemas de informação.


Não existe um sistema único a que todos os profissionais do SNS possam aceder para saber do histórico do doente.
E não só do SNS. Esse sistema deveria acompanhar o doente para todo o lado. Se hoje estou no médico de família e amanhã vou a um médico privado, o médico privado tem de saber do que se passa e eu a seguir tenho de saber o que aconteceu no médico privado. Isso não acontece. Um utente vem à nossa consulta e nós ainda temos de andar para trás e para a frente, a descobrir o que o utente fez num certo episódio de urgência, nas análises que fez, numa consulta num outro hospital. Isto consome imenso tempo. Andamos aqui todos a perder tempo. Falta-nos dar este passo. Caso contrário, é como se tivéssemos ainda o processo em papel fechado no centro de saúde e fechado no hospital.


13.7.22

Médicos de família protestam contra a integração de não especialistas nos centros de saúde

in Público on-line

O protesto terá a participação de especialistas e internos de Medicina Geral e Familiar, mas também de médicos de outras especialidades, de outros profissionais de saúde e representantes de associações de doentes.

Os médicos de Medicina Geral e Familiar vão manifestar-se no sábado em frente ao Ministério da Saúde contra a integração de médicos sem esta especialidade nos centros de saúde e com responsabilidade na lista de utentes.

Em comunicado, a Associação Portuguesa de Medicina Geral e Familiar (APMGF), que organiza o protesto, considera que esta possibilidade “ameaça a qualidade dos cuidados de saúde prestados à população”.

A possibilidade de integrar o que a APMGF classifica como “falsos médicos de família” nos centros de saúde, com responsabilidade na lista de utentes, foi contemplada pelo Governo no Orçamento de Estado para 2022.

“Esta é uma jornada de contestação cujo intuito fundamental é o censurar a tutela por uma estratégia que apenas defrauda as expectativas de muitos portugueses, oferecendo-lhes apoio clínico de alguém que não é um verdadeiro médico de família”, lembra a associação.

O protesto terá a participação de especialistas e internos de Medicina Geral e Familiar (MGF), mas também de médicos de outras especialidades, de outros profissionais de saúde e representantes de associações de doentes.

Com este protesto, a APMGF diz pretender “defender a igualdade, integridade e qualidade dos cuidados de saúde prestados no Serviço Nacional de Saúde”.

O presidente da APMGF, Nuno Jacinto, citado no comunicado, considera que a decisão do executivo de permitir que médicos indiferenciados assumam a gestão de listas de utentes nos centros de saúde é “um retrocesso gigantesco e inaceitável”.

O dirigente sublinha igualmente que este passo dado pelo Governo, se levado à prática até ao seu limite extremo no futuro, com a contratação massiva de médicos indiferenciados para os centros de saúde, significa “acabar com o papel dos médicos de família e dizer que qualquer um, sem formação específica nesta área, pode exercer estas funções”.

“Não podemos dizer, como diz o sr. Secretário de Estado, que médicos são médicos. Por essa ordem de ideias, todos poderíamos fazer tudo e, felizmente, não é isso que acontece. Existe uma especialidade clínica com 40 anos de história que não pode ser apagada de um dia para o outro”, insiste Nuno Jacinto.

No início do mês, o Fórum de Medicina Geral e Familiar rejeitou a contratação de clínicos sem especialidade para colmatar a falta de médicos de família, alegando que a solução passa por reter os cerca de 500 especialistas formados anualmente.

Após uma reunião que contou com a participação de representantes da APMGF, do colégio da especialidade da Ordem dos Médicos, da Federação Nacional dos Médicos (FNAM) e do Sindicato Independente dos Médicos (SIM), em conferência de imprensa, o bastonário dos médicos lembrou que há no país mais médicos de família do que aqueles que são necessários para o SNS e que pelo menos 1.400 especialistas estão fora do Serviço Nacional de Saúde.

A posição do fórum foi manifestada após uma reunião para analisar a possibilidade, prevista no Orçamento do Estado, de o SNS poder contratar, a título excepcional, médicos habilitados ao exercício autónomo da profissão, “enquanto não houver condições para assegurar médico de família a todos os utentes”.

Recentemente, a ministra da Saúde, Marta Temido, reconheceu que existem cerca de 1,3 milhões utentes sem médico de família em Portugal e avançou com a “hipótese de contar” com clínicos que, não podendo assumir funções de médico de família, possam responder a necessidades de resposta a doença aguda.

Após a reunião, o presidente da APMGF considerou que a falta de médicos de família se deve à falta de capacidade de contratação e de os fixar no SNS. Para o especialista, a solução passa por carreiras baseadas no mérito, revisão das tabelas salariais, maior autonomia das unidades para gerirem as equipas e horários e melhores condições de trabalho nos centros de saúde.

4.5.22

“A questão para um milhão”: porque é que faltam médicos de família no SNS?

Ana Luísa Monteiro, in SIC

Porque é que muitos médicos de família fogem do SNS? Quanto tempo demora a formar um médico de família? E podemos mesmo ficar sem 20% dos médicos de família este ano? Seis perguntas e respostas
Se até ao momento, os utentes do Serviço Nacional de Saúde sofriam com a falta de médicos de família, nos próximos anos o problema pode agravar-se. Dados referentes a 2021, indicam que cerca de um milhão de portugueses não tem médico de família, ao mesmo tempo que, este ano, 1.000 médicos atingem a idade da reforma. Nos próximos anos, o número continua a ser alto: 400 médicos podem reformar-se em 2023 e quase 300 em 2024.

Por outro lado, as universidades portuguesas estão a formar cerca de 500 recém-especialistas em Medicina Geral e Familiar por ano, um número que não tem sido suficiente para colmatar a falta de profissionais no mercado. Destes 500, uma percentagem significativa migra para o serviço privado ou opta por trabalhar no estrangeiro.

A resposta à pergunta “Porque faltam médicos de família” não é fácil. “O que nos está a acontecer agora é que até formamos médicos de família em número teoricamente suficiente, mas não estamos a conseguir fixá-los no SNS”, explicou Nuno Jacinto, Presidente da Associação Portuguesa de Medicina Geral e Familiar.

Mas porque é que os recém-formados não querem continuar no SNS? “É a pergunta para um milhão de dólares”, respondeu Paulo Santos, Presidente do Colégio da Especialidade de Medicina Geral e Familiar da Ordem dos Médicos.

As justificações podem ser várias, algumas com mais peso do que outras, explica. A Região de Lisboa e Vale do Tejo é uma das mais afetadas pela falta de médicos de família e o problema pode estar relacionado com outro: o preço das habitações.


“Em Lisboa e Vale do Tejo, fala-se que os ordenados dos médicos não cobrem os alugueres das casas. Os ordenados dos médicos em início de carreira são de facto muito baixos”, afirmou.


“A questão para um milhão”: porque é que faltam médicos de família no SNS?

Porque é que muitos médicos de família fogem do SNS? Quanto tempo demora a formar um médico de família? E podemos mesmo ficar sem 20% dos médicos de família este ano? Seis perguntas e respostas

Se até ao momento, os utentes do Serviço Nacional de Saúde sofriam com a falta de médicos de família, nos próximos anos o problema pode agravar-se. Dados referentes a 2021, indicam que cerca de um milhão de portugueses não tem médico de família, ao mesmo tempo que, este ano, 1.000 médicos atingem a idade da reforma. Nos próximos anos, o número continua a ser alto: 400 médicos podem reformar-se em 2023 e quase 300 em 2024.

Por outro lado, as universidades portuguesas estão a formar cerca de 500 recém-especialistas em Medicina Geral e Familiar por ano, um número que não tem sido suficiente para colmatar a falta de profissionais no mercado. Destes 500, uma percentagem significativa migra para o serviço privado ou opta por trabalhar no estrangeiro.

A resposta à pergunta “Porque faltam médicos de família” não é fácil. “O que nos está a acontecer agora é que até formamos médicos de família em número teoricamente suficiente, mas não estamos a conseguir fixá-los no SNS”, explicou Nuno Jacinto, Presidente da Associação Portuguesa de Medicina Geral e Familiar.

Mas porque é que os recém-formados não querem continuar no SNS? “É a pergunta para um milhão de dólares”, respondeu Paulo Santos, Presidente do Colégio da Especialidade de Medicina Geral e Familiar da Ordem dos Médicos.

As justificações podem ser várias, algumas com mais peso do que outras, explica. A Região de Lisboa e Vale do Tejo é uma das mais afetadas pela falta de médicos de família e o problema pode estar relacionado com outro: o preço das habitações.


“Em Lisboa e Vale do Tejo, fala-se que os ordenados dos médicos não cobrem os alugueres das casas. Os ordenados dos médicos em início de carreira são de facto muito baixos”, afirmou.

Mas o problema não se reduz à remuneração. Os dois médicos entrevistados pela SIC Notícias consideram que as tarefas exigidas a um médico de família, a falta de tempo para investigação, a falta de recursos físicos e humanos, equipamentos técnicos e tecnológicos, bem como a maneira que os médicos de família “vão sendo tratados ao longo do tempo, sobretudo por parte das chefias mais elevadas” podem fazer com que os profissionais optem por trabalhar fora do Serviço Nacional de Saúde, ou mesmo fora do país

QUANTOS MÉDICOS DE FAMÍLIA RECÉM-FORMADOS VÃO PARA O SNS?

Anualmente, são formados entre 400 a 500 médicos de família. Neste momento, a taxa de retenção, ou seja, a percentagem dos que ficam no SNS, está na ordem dos 60 a 70%. Isto significa que, dos 400 a 500 médicos recém-formados, apenas 300 a 350 vão para o Serviço Nacional de Saúde.

No último concurso, dos 400 médicos formados na especialidade, 188 ficaram de fora, avançou Paulo Santos. “Ou seja, 188 colocações ficaram abertas não porque não houvesse médicos, mas porque ninguém quis concorrer a essas vagas”.

PORQUE É QUE OS RECÉM-FORMADOS NÃO QUEREM TRABALHAR NO SNS?

Os recém-formados fogem do SNS porque a tabela salarial não é adequada à diferenciação e às competências e porque existe falta de recursos, apontou Nuno Jacinto.

No último concurso, dos 400 médicos formados na especialidade, 188 ficaram de fora, avançou Paulo Santos. “Ou seja, 188 colocações ficaram abertas não porque não houvesse médicos, mas porque ninguém quis concorrer a essas vagas”.
PORQUE É QUE OS RECÉM-FORMADOS NÃO QUEREM TRABALHAR NO SNS?

Os recém-formados fogem do SNS porque a tabela salarial não é adequada à diferenciação e às competências e porque existe falta de recursos, apontou Nuno Jacinto.

“Temos unidades mal equipadas, temos falta de profissionais e temos um claríssimo desrespeito pelos médicos de família pelas sucessivas tutelas que fazem com que os colegas mais novos entendam que não é isto que querem para a vida futura”, acrescentou o presidente da Associação de Medicina Geral e Familiar.

A solução é sair para o sistema complementar, ou seja, os serviços de saúde privados ou até emigrar. “É uma pena, para além do desperdício de recursos”, apontou, por sua vez, o representante da Ordem dos Médicos, Paulo Santos.

Para além dos problemas nas tabelas salariais e na progressão da carreira, os dois representantes consideram que o conjunto de tarefas e de disponibilidade exigidas a um médico de família, bem como a falta de tempo para dedicar a atividades de investigação são fatores que afastam os jovens da especialidade.

QUANTO TEMPO DEMORA A FORMAR NOVOS MÉDICOS?

São necessários, pelo menos, 11 anos para formar um médico de Medicina Geral e Familiar. “No mínimo, são seis anos no curso de Medicina, um ano de formação geral e quatro anos de formação específica”, explicou Nuno Jacinto.

Nos primeiros seis anos, a formação é abrangente, mais teórica e toca em todas as áreas da Medicina. No sexto ano, os alunos já têm contacto com a prática e no ano seguinte passam ao internato da formação geral, que serve para perceberem que especialidade vão escolher. Segue-se depois a formação específica em Medicina Geral e Familiar, que dura mais quatro anos.

Ou seja, um estudante que entrou este ano em Medicina e que, posteriormente, escolha a especialidade de Medicina Geral e Familiar só entrará no mercado de trabalho daqui a 11 anos.

Prescindir dos anos de formação é “inquestionável”, considera Nuno Jacinto, referindo que a especialidade é generalista, mas não é “simplista” uma vez que é complexa e que abrange todas as fases da vida dos utentes.

“A qualidade é um padrão que temos que exigir enquanto sociedade”, esclareceu Paulo Soares.

A ESPECIALIDADE DE MEDICINA GERAL E FAMILIAR É POUCO ATRATIVA?

A Medicina Geral e Familiar é atrativa e há cada vez mais estudantes que optam pela especialidade “por gosto”, consideram os médicos. A nível académico, há um “esforço enorme” por apresentar uma Medicina Geral e Familiar “moderna”, apontou o representante da Ordem dos Médicos, que é também docente no curso de Medicina da Universidade do Porto.

“Quando lhes apresentamos uma Medicina Geral e Familiar moderna e chegam aos centros de saúde motivados para fazer um internato e começam a perceber que os centros de saúde não são aquilo que poderiam ou deveriam ser, há uma desmotivação”, explicou Paulo Santos.

Por sua vez, Nuno Jacinto acredita que os médicos não querem a “Medicina Geral e Familiar que se pratica atualmente no SNS”. Ou seja, gostam da profissão e da especialidade, mas “não gostam da maneira como são tratados, não gostam da carga burocrática que existe, que os deixa insatisfeitos, os desgasta e os revolta”.

“Não temos dificuldades em arranjar internos, temos dificuldades em manter esses internos quando se tornam especialistas, que é uma coisa curiosa”, apontou o presidente da Associação de Medicina Geral e Familiar, acrescentando que a formação é “de enorme qualidade”.

PODEMOS FICAR SEM 20% DOS MÉDICOS DE FAMÍLIA ESTE ANO? ESTAMOS PERANTE UMA “DESGRAÇA”?

Em Portugal, existem mais de 5.000 médicos de família e 1.000 podem pedir a reforma em 2022, numa altura em que mais de um milhão de portugueses não têm médico de família. É possível que nem todos peçam a reforma ainda este ano, admite Nuno Jacinto, mas é apenas um adiar da situação.

A informação foi avançada pelo coordenador do grupo para a reforma dos cuidados de saúde primários, João Rodrigues. Numa entrevista ao Público, admitiu que se todos os médicos em idade de reforma decidirem sair “será uma desgraça completa, um drama”.

Tanto o Presidente da Associação de Medicina Geral e Familiar como o Presidente do Colégio da Ordem dos Médicos admitem que a situação não é nova, mas havia a esperança que fosse diluída no tempo. Os dois últimos anos de pandemia, a exaustão de alguns profissionais e “alguma desorganização” acabou por “contribuir para o cansaço de colegas que estavam no limite de idade e que ainda se aguentariam mais uns tempos em situações normais”.

“Termos o potencial de haver mil médicos de família a sair quando apenas formamos 500 por ano e quando retemos apenas 60 a 70% significa que nos arriscamos a, no final de 2022, termos o dobro dos utentes sem médico de família do que temos agora”, explicou, acrescentando que haverá uma sobrecarga de trabalho nos médicos que ficam no sistema.

No entanto, Nuno Jacinto considera que está “na altura de correr atrás do prejuízo”, uma vez que “muita coisa já não se consegue fazer para evitar que isto aconteça”.

“Se não dermos um sinal de que estamos preocupados e a resolver esta questão e que queremos que os médicos de família fiquem no SNS, vamos continuar a agravar o problema”, afirmou.

O QUE PODE FAZER O NOVO GOVERNO?

Ainda este mês, no dia 23, o Presidente da República irá dar posse a um novo Governo que começa um mandato de quatro anos com vários desafios na área da saúde. Os dois médicos esperam que o novo Executivo dê prioridade aos cuidados de saúde primários e que seja capaz de falar com os profissionais no terreno.

Para Paulo Santos, há uma dificuldade de “abordar localmente os problemas, de perceber quais são as necessidades de cada população”. O responsável da Ordem dos Médicos critica ainda “a estrutura rígida imposta por um mecanismo central” que tem levado a uma tomada de decisões transversal, que não atende os problemas específicos de determinadas localidades.

“A medida para iniciar é falar com as pessoas, deixar que o que é local se resolva localmente e criar condições centrais para apoiar a autonomia das unidades, não descurando aquilo que é o plano nacional de saúde”, afirmou.

Já para Nuno Jacinto, os cuidados primários, os centros de saúde e os médicos de família que “resolvem mais de 90% das situações” devem “de uma vez por todas” ser colocados no “centro das preocupações”.

“Continuamos focados numa visão hospitalocêntrica e temos que mudar este paradigma. Temos que nos focar nos utentes em primeiro lugar e, para nos focarmos nos utentes, temos de nos focar no acesso aos cuidados de saúde primários. Se não tivermos cuidados de saúde primários fortes, vamos ter todo o resto do sistema e do SNS a falhar”, referiu.


7.9.20

Não haverá médicos de família suficientes para preencher as 435 vagas do novo concurso, alerta associação


Rui Nogueira, presidente da Associação Portuguesa de Medicina Geral e Familiar, explica à TSF que se o concurso do Ministério da Saúde atraísse 300 médicos “já seria muito bom”. Falta de procura explica-se com vagas desproporcionais em Lisboa

“Não temos 435 médicos em condições de concorrer.” A opinião é do presidente da Associação Portuguesa de Medicina Geral e Familiar, em relação ao concurso de médicos de família aberto há um mês pelo Ministério da Saúde.

Em declarações à TSF, Rui Nogueira salienta a diferença entre o número de novas vagas (435) e o número de profissionais que terminaram a especialidade (395). Além disso, o responsável aponta que o Serviço Nacional de Saúde não vai conseguir atrair todos os médicos - e por isso, se forem ultrapassados os 300 lugares ocupados "já será muito bom".

Destas 435 vagas, metade são em Lisboa e Vale do Tejo, 86 no Norte, 64 no Centro, 34 no Alentejo e 35 no Algarve. Este desequilíbrio irá contribuir para afastar candidatos, sobretudo quando é o Norte que forma mais médicos. "A discrepância é tão grande que há dois candidatos por cada vaga no Norte e na região de Lisboa há duas vagas por cada candidato, há o dobro das vagas", sustenta Rui Nogueira, que dá uma solução: "aumentar o número de vagas de formação de médicos na região de Lisboa". No entanto, no imediato, o clínico considera que o país não vai ter possibilidade de atrair todos os médicos de família disponíveis para o SNS.


3.2.16

Região Centro precisa de 80 médicos de família reformados

In "Correio da Manhã"

Região Centro precisa de 80 médicos de família reformados Objetivo é todos os utentes terem um médico de família.

O presidente da Secção Regional do Centro da Ordem dos Médicos (SRCOM), Carlos Cortes, disse esta terça-feira que a região Centro precisa de 80 médicos reformados para que todos os utentes tenham um médico de família. As declarações daquele responsável, citado num comunicado do SRCOM, surgem no dia seguinte ao ministro da Saúde, Adalberto Campos Fernandes, ter admitido que está a ser discutido um modelo de incentivo à contratação de médicos de família, que saíram com reforma antecipada. "Estamos a trabalhar com o Ministério das Finanças e com os representantes dos médicos", disse o ministro, reforçando contudo que, "a ser implementada, terá caráter limitado no tempo", com um prazo de validade de dois anos, porque, depois disso, "a formação médica irá suplantar os pedidos de reforma". Segundo o presidente da SRCOM, Carlos Cortes, na região Centro faltam, "neste momento, oitenta médicos e os profissionais que estão reformados podem ajudar a solucionar o problema para que todos os utentes tenham um médico de família". Regresso de reformados ao SNS O responsável regional elogia o regresso dos médicos reformados ao Serviço Nacional de Saúde, caso avance a medida preconizada pela tutela, mas alertou para a existência de "cuidados de saúde primários a duas velocidades".

De acordo com Carlos Cortes, "nos próximos dois anos, já estarão formados mais de 140 médicos especialistas em Medicina Geral e Familiar na região Centro (dos 300 em formação neste momento, 72 no último ano da especialidade), o que, previsivelmente, dará para suprir as necessidades e colmatar a falta de recursos humanos". "Em dois anos, as necessidades serão supridas. Até que a falta de médicos de família seja resolvida, esta medida em estudo pelo Ministério da Saúde e pelo Ministério das Finanças é bem-vinda para tentar aumentar o número de médicos reformados que aceitem regressar ao trabalho", sublinha. No entanto, o presidente da SRCOM considera que "a medida deverá ter uma abordagem transitória", uma vez que, nos próximos anos, serão necessários "incentivos à fixação dos recém-especialistas em zonas mais carenciadas".

Para além da falta de médicos nos cuidados de saúde primários, Carlos Cortes denuncia ainda más condições nos Centros de Saúde, com infraestruturas degradadas e escassez de material técnico e fármacos, que "causam desmotivação nos profissionais de saúde".

7.8.14

Ainda havia 1,6 milhões sem médico de família em 2012; número subiu 24% desde 2006

Por João D' Espiney, in iOnline

TdC diz que registo não está actualizado e defende que ministério não pode eliminar utentes das listas por razões administrativas

O registo dos utentes inscritos nos centros de saúde "não se encontra actualizado, continuando a verificar-se" que o número "pode ultrapassar o número de residentes da correspondente área geográfica". Quem o diz é o Tribunal de Contas na auditoria ao "Desempenho de unidades funcionais de cuidados de saúde primários", ontem divulgada.

A auditoria começa por revelar, neste capítulo, que os utentes inscritos sem médico de família eram 1,6 milhões no final de 2012, um número que representa uma diminuição de 10,2% em relação ao ano anterior mas que traduz um acréscimo de 24% relativamente a 2006. Isto apesar da criação de unidades de saúde familiar (USF) se ter traduzido na atribuição de médico de família a 569 580 utentes. O problema é que "foram insuficientes para compensar a diminuição global" de médicos de família, que entre, 2007 e 2012, baixaram de 6686 para 5636 médicos (-16%).

A redução verificada em 2012 deveu-se à decisão do Ministério (despacho n.o 13 795/2012, de 24 de Outubro) de eliminar das listas todos os utentes que não contactaram com os respectivos centros de saúde nos três anos anteriores. "A exclusão das listas de cada médico de utentes, por razões administrativas, pode não se coadunar com o carácter preventivo e de promoção da saúde [...] justificando-se uma atitude proactiva de captação de doentes sem contactos registados", defendem os auditores do TC, que recomendam mesmo ao ministro da Saúde que proceda à revisão do despacho "por forma a garantir, de forma inequívoca, que aquele não possa implicar que os utentes não utilizadores possam ser eliminados da lista do seu médico de família".

Promessa comprometida? O i questionou o gabinete de Paulo Macedo sobre se irá acatar esta recomendação e se a promessa de atribuir a todos os utentes um médico de família até ao final do mandato não está comprometida, mas até à hora de fecho desta edição não obteve respostas.

O i perguntou ainda porque é que ministério não se quis pronunciar sobre este tema na fase do contraditório da auditoria mas também ficou sem resposta. O TdC, aliás, fez questão de enumerar o conjunto de temas "relevantes e pontos de vista pertinentes para o contribuinte e os utentes", sobre os quais os ministérios da Saúde e das Finanças não se pronunciaram. Além dos utentes sem médico de família, o auditor salientou a "implementação das propostas dos grupos de trabalho sobre a reforma dos cuidados hospitalares; a prossecução dos objectivos da reforma dos cuidados primários; a avaliação dos ganhos em saúde e indicadores de resultados", entre outros.

7.7.12

44 mil utentes sem médico de família à espera de cubanos

por Lusa, publicado por Luís Manuel Cabral, in Diário de Notícias

Mais de 44.000 habitantes do litoral alentejano estão sem médico de família, não se sabendo quando começam a dar consultas os clínicos cubanos contratados para a região, denunciou hoje o responsável pelo agrupamento de centros de saúde.
Paulo Espiga, diretor do Agrupamento de Centros de Saúde do Alentejo Litoral (ACESAL), afirmou à Agência Lusa que a região ficou "no caos" quando, há cerca de duas semanas, os 12 médicos cubanos que ainda exerciam funções regressaram a Cuba.
Segundo o responsável, havia indicação, por parte do ministro da Saúde, Paulo Macedo, de que estes profissionais "só iriam embora quando houvesse outros para substituí-los".

Contudo, neste momento, mais de 44.000 utentes inscritos nos centros e extensões de saúde dos concelhos de Alcácer do Sal, Grândola, Odemira, Santiago do Cacém e Sines não têm médico de família, aguardando a colocação dos "novos 17 médicos cubanos prometidos", disse.

Em algumas localidades, como Torrão (Alcácer do Sal), Cercal do Alentejo e Ermidas-Sado (Santiago do Cacém), e Sabóia e São Teotónio (Odemira), as extensões de saúde perderam o único médico que aí se deslocava.

Estes profissionais faziam parte do primeiro grupo de clínicos cubanos que chegou a Portugal, no início de agosto de 2009, para prestação de serviços em centros de saúde do Alentejo, Algarve e Ribatejo, por um período de três anos.

Santiago do Cacém é o concelho mais afetado pela situação, com quase 17.000 pessoas, mais de metade da população, privadas de médico de família.

Para o presidente da câmara, Vítor Proença (CDU), o litoral alentejano vive a "situação mais grave desde o 25 de Abril".

Em declarações à Lusa, o autarca acusou o ministro e o secretário de Estado da tutela de "falta de competência, passividade e irresponsabilidade total perante a saúde e a vida dos cidadãos".

Recentemente, a Assembleia Municipal de Santiago do Cacém aprovou uma tomada de posição a exigir que "o Governo tome, imediatamente, as medidas necessárias para o reforço de profissionais de Saúde" no concelho.

Também a Assembleia Intermunicipal do Alentejo Litoral denunciou, num comunicado divulgado esta quinta-feira, a "situação dramática em que se encontra a Saúde" nos concelhos da região, considerando que o Serviço Nacional de Saúde "recuou para níveis nunca vistos desde a sua criação".

Contactada pela Lusa, a Administração Regional de Saúde (ARS) do Alentejo esclareceu que, dos 17 médicos solicitados pelo ACESAL, seis já se encontram "nos locais e aptos para trabalhar", mas "aguardam autorização da Ordem dos Médicos".

A mesma fonte da ARS explicou ainda que os restantes 11 clínicos cubanos terão de prestar a prova de comunicação médica, vulgarmente conhecida como prova de português.
A Lusa contactou o Ministério da Saúde, para saber por que razão os médicos cubanos que estavam a exercer se foram embora antes de os substitutos começarem a trabalhar, mas não foram prestados esclarecimentos.