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18.3.19

Ativista iraniana que surgiu em «Taxi» de Jafar Panahi condenada a prisão e 148 chicotadas

Publicado por Hugo Gomes & Jorge Pereira, in C7nema

A advogada dos direitos humanos Nasrin Sotoudeh, que se tem dedicado nos últimos anos a defender mulheres que protestam contra as leis que obrigam a usar o Hijab, foi sentenciada a 33 anos de prisão pelo governo iraniano.

Sotoudeh representou diversos ativistas e políticos da oposição iraniana que foram presos após as eleições presidenciais iranianas de junho de 2009, bem como prisioneiros condenados à morte por crimes cometidos quando eram menores de idade. Detida pela primeira vez em setembro de 2010, acusada de “difusão de propaganda anti-governo” e "conspirar para prejudicar a segurança do Estado ", Sotoudeh foi confinada a uma cela solitária na Prisão de Evin. Em janeiro de 2011, as autoridades iranianas condenaram Sotoudeh a 11 anos de prisão, além de impedi-la de exercer advocacia e de deixar o país por 20 anos. Posteriormente, um tribunal reduziu a pena de prisão de Sotoudeh para seis anos e a sua proibição de trabalhar como advogada por dez anos.

Vencedora, conjuntamente com Jafar Panahi, do Prémio Sakharov do Parlamento Europeu em 2012, ela viria a ser libertada em 2013. A segunda detenção chegou em junho passado, e para além dos 33 anos a que foi condenada agora, Sotoudeh viu ainda ser acrescentada a pena de 148 chicotadas.

A Amnistia Internacional já se pronunciou sobre o caso, considerando repugnante “prender um defensor dos direitos humanos por atividades pacíficas”, apontando que o “juiz do caso de Nasrin Sotoudeh usou a sua discrição para garantir que ela permanecesse presa por mais do que o exigido pela lei iraniana. Um ultraje e uma injusta sentença ”. A organização lançou uma petição pedindo a libertação de Sotoudeh.

Recordamos que Nasrin Sotoudeh teve uma aparição especial no galardoado com o Urso de Ouro, Taxi, de Jafar Panahi, cineasta condenado em 2010 a 6 anos de cadeia e proibido de filmar durante 20 anos pelo governo, mas que mesmo assim dirigiu secretamente quatro filmes, incluindo o referido e ainda uma obra que concorreu ano passado pela Palma de Ouro em Cannes (3 Faces, a estrear brevemente em Portugal).

3.8.16

Bebés à venda nas ruas, a realidade que o governo iraniano tentou esconder

in Diário de Notícias

Várias mulheres em situação de pobreza extrema ou dependentes de drogas vendem os filhos no Irão

Em Teerão, capital do Irão, o preço de um bebé varia entre mil e 1500 euros. O procedimento normal é negociar com uma mulher grávida que esteja na miséria, encontrada na parte pobre da cidade, acompanhá-la ao hospital no dia do parto e ficar com a criança mal ela nasça.

"O pessoal do hospital sabe, mas prefere que o bebé vá para casa com a família [que o comprou] do que com uma mãe que não poderá cuidar dele em nenhum caso", explica Leyla ao jornal espanhol El Mundo.

Leyla é voluntária de uma organização não-governamental que apoia crianças e mulheres no Irão e convive diariamente com o lado mais feio da cidade, onde reinam as drogas e a miséria.

"As mulheres estão desesperadas", afirma ao El Mundo. "Não conseguem sequer alimentar-se a si próprias e quando engravidam sabem que não podem cuidar dos bebés, por isso aceitam vendê-los".

Foi o caso de Zahra, de 25 anos. A jovem é filha de pais toxicodependentes e cresceu no meio das drogas. Começou a consumir ópio e ecstasy cedo e perdeu o controlo, ficando várias vezes à beira da morte.

Uma manhã, Zahra vendeu o seu bebé no mesmo parque onde tinha passado a noite, ao relento.

No Irão, esta situação é mais comum do que parece. O governo tem feito um grande esforço para esconder esta realidade, segundo o El Mundo, mas assumiu recentemente o problema e prometeu ajudar a combatê-lo.

Tanto a vice-ministra do governo, Shahindokht Molaverdi, como a responsável pelos assuntos sociais de Teerão se comprometeram publicamente a ajudar estas mulheres e a combater a prática.

A vice-ministra defendeu, há algumas semanas, que o agravamento da "pobreza económica e cultural, as drogas, a falta de habitação e os casamentos precoces são algumas das razões que explicam porque algumas mulheres se vêm forçadas a vender os filhos ainda antes de eles nascerem".

A vice-ministra afirmou ainda que há muitos casos, apesar de não existirem dados oficiais.

Os compradores muitas vezes são famílias que não conseguem ter filhos e que vão para as zonas pobres da cidade, como Shoosh ou Khate-Sefid, à procura de crianças ou mulheres grávidas desesperadas. Estes são os que pagam mais.

Os traficantes também compram crianças, para as obrigarem a trabalhar como vendedoras de rua desde os três anos e pagam menos. O filho de Zahra custou 50 euros, o que provavelmente quer dizer que foi comprado por um destes homens, segundo Leyla.

Leyla não critica completamente a venda de bebés a famílias com melhores condições porque, para si, o destino do filho de um toxicodependente é demasiado triste. "Os meninos passam mais de 12 horas a trabalhar nas ruas, a vender panos e postais para as mães comprarem droga", explica. Muitos deles acabam por se tornarem também viciados em drogas.

Esse foi o destino de Sepideh. Filha de pai toxicodependente, a mulher de 30 anos começou a consumir aos 12 anos e ficou viciada, tal como a irmã.

Um dia, à porta de uma mesquita, uma senhora ofereceu-se para comprar o filho de Sepideh e a irmã vendeu-o por 500 euros. "A minha irmã estava ali com o meu filho nos braços", diz Sepideh a chorar, enquanto conta que até hoje não voltou a encontrar o filho.

A organização onde Leyla trabalha tenta mudar a vida destas crianças, colocando-as na escola, enquanto ajuda as mães.

O Irão está na linha do tráfico de drogas, entre o Afeganistão, o maior produtor mundial de ópio, o Paquistão e a Europa, por isso o número de narcóticos que entram e circulam no país e o número de toxicodependentes é bastante elevado, segundo a agência contra drogas e crimes das Nações Unidas.