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15.9.20

Cidades poluídas e pouco sustentáveis estão a perder habitantes para lugares mais 'inteligentes'

Vitor Andrade, in Expresso

Muitos dos cidadãos urbanos equacionam trocar a sua cidade por outra onde a transformação digital esteja mais acelerada. As cidades inteligentes e amigas da sustentabilidade estão a ganhar cada vez mais adeptos

As cidades não estão a conseguir cativar os seus habitantes e 40% das pessoas que atualmente vivem em ambiente urbano equacionam mudar a sua área de residência no curto prazo, sobretudo devido às “frustrações digitais”.

Ou seja – e de acordo com um inquérito internacional realizado pela consultora Capgemini, divulgado esta segunda-feira - uma larga maioria dos habitantes das grandes cidades está insatisfeita com a atual gestão dos locais onde vive, com o seu respetivo nível de desenvolvimento e, por isso, considera mudar-se para outras cidades onde a transformação digital esteja mais avançada.

Segundo os resultados daquele estudo (onde foram inquiridas 10 mil pessoas, 300 autarcas incluídos, em 10 países), a sustentabilidade está a adquirir uma importância crescente para os habitantes das cidades.

Os cidadãos consideram que a poluição (42% dos inquiridos), ou a ausência de iniciativas sustentáveis (36%) são motivos de forte preocupação e que os poderão levar a abandonar as cidades onde vivem atualmente.

Por outro lado, 42% dos autarcas afirmou que nos últimos três anos se verificou “um atraso no desenvolvimento das iniciativas de sustentabilidade, e 41% apontou o risco de, nos próximos 5 a 10 anos, as suas cidades poderem vir a tornar-se insustentáveis. Esta será uma das 5 principais consequências resultantes da não adoção de tecnologias digitais”.

FIBRA ÓTICA E SUSTENTABILIDADE

Curiosamente este estudo foi divulgado no mesmo dia em que o presidente da Altice Portugal, Alexandre Fonseca, anunciou que a empresa irá levar fibra ótica a 500 freguesias em Portugal.

O estudo da Capgemini, intitulado Street Smart: Putting the citizen at the center of Smart City initiatives, conclui que mais de metade dos cidadãos inquiridos (58%) consideram que as ‘cidades inteligentes’ já são sustentáveis e que oferecem serviços urbanos com níveis de qualidade mais elevados (57%). “Isto explica porque é que mais de um terço dos inquiridos (36%) está disposto a pagar mais para ter acesso a uma existência mais satisfatória nas suas cidades”, pode ler-se nas conclusões. No entanto, segundo os responsáveis pelo estudo, existem grandes desafios a ultrapassar a nível da implementação de projetos de cidades inteligentes, “sobretudo no que diz respeito aos dados e ao financiamento dos mesmos”.

A Capgemini constatou que “apenas um em cada dez dos autarcas inquiridos afirmou estar em fase avançada de implementação de iniciativas de cidades inteligentes”, e menos de um quarto (apenas 22%) começou a desenvolver iniciativas concretas.

MAIORIA QUER VIVER EM CIDADES INTELIGENTES

“Este é um grande desafio, sobretudo tendo em conta que as estimativas apontam para que mais de dois terços da população mundial irá viver em cidades até 2050, e que o número das grandes metrópoles urbanas passará de 33 em 2030, para 43 em 2050. Além disso, a maioria dos cidadãos em todo o mundo revelaram o desejo de viver em cidades inteligentes: motivo pelo qual as cidades deverão acelerar os seus processos de transformação”, concluem ainda os responsáveis da Capgemini.

E adiantam ainda que embora as cidades inteligentes possam resolver alguns dos desafios que as cidades tradicionalmente enfrentam, como transportes públicos mais eficientes e mais segurança, a sua implementação enfrenta obstáculos evidentes. “Os dados são fundamentais para garantir a otimização das cidades inteligentes. Porém, 63% dos cidadãos em todo o mundo afirmam que a privacidade dos seus dados pessoais é mais importante do que o acesso a serviços urbanos de qualidade. Entretanto, quase 70% dos autarcas afirmou que as fontes de financiamento para os seus orçamentos de implementação de iniciativas de cidades inteligentes constituem um grande desafio, e 68% revelou ter dificuldade em aceder e construir as plataformas digitais necessárias para desenvolver iniciativas”.

TECNOLOGIA PODE CONTER O ÊXODO

Pierre-Adrien Hanania, Um dos responsáveis da Capgemini pela área da gestão pública, explica: “a perceção e o nível de desenvolvimento das cidades inteligentes passou a ser um importante fator diferenciador para os cidadãos. Tornou-se crucial para os responsáveis pelo planeamento e para os autarcas perceberem que os cidadãos são o ativo mais inteligente que uma cidade pode possuir e que, por isso mesmo, devem colocá-los no centro das iniciativas”.

O mesmo responsável defende ainda que as cidades devem trabalhar para garantir que as iniciativas baseadas em tecnologias proporcionem aos seus cidadãos as experiências e a qualidade de vida que estes procuram. Isto permitir-lhes-á conter o êxodo dos seus habitantes para outras cidades.

28.7.20

Quer saber os salários de uma empresa e quanto ela polui? CMVM propõe facilitar acesso a informação

Diogo Cavaleiro, in Expresso
As empresas já têm de divulgar dados sobre os impactos sociais, ambientais e a estrutura de poder das suas atividades, mas a CMVM lançou uma consulta pública para que as obrigações sejam divulgadas da mesma maneira 

Quantos trabalhadores temporários tem uma empresa? Qual a remuneração para cargos iguais dentro daquela empresa? Quais as políticas ambientais desenhadas? Quais os valores de gases com efeitos de estufa emitidos por aquela empresa? Está envolvida em processos judiciais por violação dos direitos humanos?

As empresas portuguesas já têm de responder a estas perguntas sobre os impactos ambientais, sociais e de governance da sua atividade, mas até agora é difícil comparar o que diz cada entidade, e é, aliás, difícil encontrar o que cada uma delas refere. Além disso, nem todas divulgam de forma completa o que está previsto.

É por isso que a Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM) desenhou um modelo de relatório desta informação não financeira para elencar todos os dados solicitados, para que as empresas saibam onde devem colocar a informação sobre cada um destes temas. E para que os investidores saibam onde procurar.

“O modelo de relatório proposto visa auxiliar as empresas no cumprimento do dever de reporte já existente na lei, com vista a produzir informação simples, objetiva, clara, completa e comparável que possa ser utilizada pelos investidores na ponderação das suas escolhas de investimento”, explica o regulador do mercado de capitais.

Este modelo – que não traz novos deveres de reporte, mas apenas clarifica e estrutura os dados que têm de ser divulgados – será agora sujeito a consulta pública, onde cada entidade poderá fazer comentários até 30 de setembro. A adoção por parte das empresas será voluntária.

Para a CMVM, os investidores, os trabalhadores e os outros envolvidos à volta de cada empresa (os chamados stakeholders) “têm demonstrado um crescente interesse no acesso a este tipo de informação”, pelo que faz sentido apostar na harmonização desta informação.

23.10.17

Por cada seis pessoas que morreram em 2015, uma perdeu a vida por causa da poluição

Joana Azevedo Viana, in Expresso

Investigadores ligaram nove milhões de mortes no mundo em 2015 à poluição ambiental, dois terços delas à poluição do ar. Bangladesh e Somália registam os números mais elevados de vítimas. No extremo oposto estão a Suécia e o Brunei

Um estudo publicado esta semana na revista "Lancet" liga nove milhões de mortes registadas em todo o mundo em 2015 à poluição ambiental, o correspondente a 16% do total de mortes nesse ano, dois terços delas ligadas à poluição do ar e quase todas ocorridas em países de baixo e médio rendimento.

A investigação de dois anos apurou que, nesses países, a poluição pode ser responsável por até um quarto do total de mortes anuais, com o Bangladesh e a Somália a registarem os piores níveis. Na ponta oposta estão a Suécia e o Brunei, os países com números mais reduzidos de mortes causadas direta ou indiretamente pela poluição em 2015.

Segundo os especialistas, a maioria destas mortes é causada por problemas cardíacos, acidentes vasculares cerebrais (AVC) e cancro de pulmão, doenças que estão diretamente ligadas à poluição.

"A poluição é muito mais do que um desafio ambiental, é uma ameaça profunda e difusa que afeta muitos aspetos da saúde humana e do nosso bem-estar", refere um dos autores do estudo, Philip Landrigan, da Escola Icahn de Medicina do hospital Mount Sinai em Nova Iorque.

Em 2015, aponta o relatório, 6,5 milhões de mortes prematuras em todo o mundo foram de alguma forma causadas pela poluição do ar. O segundo fator de maior risco, a poluição da água, contribuiu para 1,8 milhões de mortes no mesmo ano, com a poluição no local de trabalho ligada a 800 mil mortes a nível global.

Do total, 92% ocorreram em nações pobres, com os maiores impactos sentidos em países em desenvolvimento que têm registado um rápido crescimento económico, como é o caso da Índia, que surge em quinto lugar na lista, e da China, em 16.º.
Entre os 188 países avaliados, o Reino Unido surge em 55.º. atrás dos Estados Unidos e da maioria dos países europeus, incluindo Portugal, a Alemanha, França, Espanha, Itália e Dinamarca.

"A poluição do ar está a atingir um nível de crise mundialmente e o Reino Unido está a sair-se pior do que muitos países da Europa Ocidental e que os EUA", refere Penny Woods, da Fundação Britânica do Pulmão. "Um fator que contribui para isto é a nossa dependência de veículos movidos a diesel, que libertam elevadas quantidades de partículas venenosas e gases [para a atmosfera]."

Os autores do estudo, que criaram um mapa interativo com os dados recolhidos, referem ainda que a poluição do ar está a afetar os mais pobres de uma forma desproporcional, até em países ricos.

"A poluição, a pobreza, a falta de saúde e as injustiças sociais estão profundamente interligadas", defende uma das investigadoras, Karti Sandilya, da Pure Earth. "A poluição ameaça os direitos humanos fundamentais como o direito à vida, à saúde, ao bem-estar e a trabalho seguro para além de pôr em risco a proteção de crianças e dos mais vulneráveis."