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20.4.17

O que é o sarampo e como funciona a sua vacina?

Teresa Serafim, in Público on-line

Era considerada uma doença já esquecida, mas agora o sarampo voltou a ser notícia.

É uma doença altamente contagiosa, causada por um vírus. Transmite-se por contacto directo e via aérea, como a tosse e espirros. O período de incubação do vírus do sarampo varia entre sete a 21 dias e o contágio dá-se quatro dias antes de surgirem erupções cutâneas.

Que sintomas provoca?

O primeiro sintoma do sarampo é a febre alta, dez ou 12 dias depois da exposição ao vírus. Também durante esta primeira fase pode haver escorrimento no nariz, tosse, olhos vermelhos e lacrimejantes e pequenos pontos brancos na mucosa oral. Depois, aparecem erupções cutâneas na cara e no pescoço. As erupções estendem-se ainda para as mãos e os pés. O sarampo causa diarreias, desidratação, infecção nos ouvidos, pneumonia e encefalite, e esta pode provocar lesões permanentes no cérebro ou mesmo a morte. Durante a gravidez, aumenta o risco de aborto ou parto prematuro.

Como é a vacina do sarampo?

Chama-se Vaspr, o acrónimo de vacina do sarampo, papeira e rubéola (portanto tríplice). É feita com versões enfraquecidas (ou atenuadas) dos vírus vivos destas doenças, obtidas através de culturas sucessivas em laboratório dos seus agentes patogénicos.
Risco de não dar vacina do sarampo "é muito maior"
Risco de não dar vacina do sarampo "é muito maior"

É administrada no músculo do braço ou da coxa. As crianças têm de tomar uma dose por volta do primeiro ano (é neste período que a imunidade que herdam das mães começa a desaparecer) e outra dose por volta dos cinco. A vacinação deve ser feita logo desde muito cedo, porque de outra maneira os bebés não teriam forma de se proteger de vírus e bactérias. As crianças não vacinadas beneficiam da imunidade de grupo criada pelos outros estarem vacinados, mas não contribuem para essa imunidade de grupo. Caso a pessoa tenha mais de 18 anos, só tem de tomar uma dose da vacina tríplice. Está protegido quem já tenha tido a doença ou tenha tomado duas doses da vacina. Mesmo para quem já teve sarampo, a Direcção Geral da Saúde (DGS) tem continuado a recomendar a vacinação.

Para quê a vacinação?

Esta é a principal forma de prevenir doenças, neste caso o sarampo. Esta vacina é gratuita e está incluída no Programa Nacional de Vacinação. As vacinas estimulam o sistema imunitário a produzir anticorpos contra os agentes patogénicos, como o do sarampo. Caso contacte com o vírus, o sistema imunitário reconhece-o e combate-o.

Quais os efeitos secundários?
Jovem que morreu não terá sido imunizada contra sarampo por ter feito alergia grave a outra vacina
Jovem que morreu não terá sido imunizada contra sarampo por ter feito alergia grave a outra vacina

“Os efeitos secundários são mais raros”, afirma Teresa Fernandes, da Direcção de Serviços de Prevenção da Doença e Promoção da Saúde da DGS. Cerca de seis a dez dias após a vacinação, a criança pode ter uma leve subida de temperatura. Algumas crianças podem perder o apetite e ter uma erupção cutânea parecida com a do sarampo. E uma em cada 100 crianças pode ter convulsões febris, refere um relatório do Sistema Nacional de Saúde da Grã-Bretanha (NHS, na sigla em inglês). Em casos muito raros, as crianças podem ter pequenas pintas na pele nas seis semanas seguintes à vacinação. Ainda de acordo com o NHS, menos de uma em cada milhão de crianças tem encefalite (infecção cerebral). Mesmo assim, o NHS avisa que há poucas provas científicas que indiquem que a encefalite é causada pela vacina. Mas se a criança tiver sarampo, a probabilidade de ter uma encefalite sobe para entre uma em 200 e uma em 5000.

Quando não se recomenda a vacina?

Segundo Teresa Fernandes, não é recomendada a pessoas com imunodepressões e um sistema imunitário deficitário grave. “Pode provocar a doença”, afirma. Também não é recomendada a grávidas, embora não existam registos de contágio em fetos.

É segura?

“Após tantos anos de experiência e muitos milhões de vacinas administradas em todo o mundo, pode afirmar-se que as vacinas têm um elevado grau de segurança, eficácia e qualidade”, diz a DGS num relatório de 2015. E a introdução de uma vacina no mercado não é autorizada de qualquer forma. Tem de passar por várias fases: investigação em laboratório; ensaios em seres humanos; e, após a introdução na comunidade, há a verificação da sua eficácia e efeitos a longo prazo. A Organização Mundial da Saúde (OMS) dá sete razões para se cumprir o dever da vacinação, como as “vacinas salvam vidas”, a “vacinação é um direito básico” e os “surtos de doenças ainda são uma ameaça para o mundo”.

Há alguma relação entre a vacina tríplice e o autismo?

Não. Esta suposta relação começou com uma fraude científica há quase 20 anos, que dizia que havia uma ligação da vacina tríplice ao autismo. Lançou assim o movimento antivacinas, que perdura até agora. Esta fraude foi cometida pelo médico inglês Andrew Wakefield, que falsificou dados hospitalares e os apresentou num artigo publicado em 1998 na revista médica The Lancet. Wakefield recebeu dinheiro de uma empresa de advogados, que queria processar os fabricantes de vacinas. Entretanto, o erro foi detectado pela comunidade científica e o artigo foi retirado de publicação. E Wakefield foi expulso da Ordem dos Médicos inglesa. Mesmo assim, continua a ser um ícone para os defensores da antivacinação, que se apoiam nesse artigo fraudulento para fundamentar as suas posições. Se o autismo e a vacina tríplice estivessem mesmo relacionados, existiriam ainda mais casos de autismo nas crianças vacinadas, refere a NHS.

Qual é a mortalidade do sarampo?

De acordo com um relatório da OMS, entre 2000 e 2015, a vacinação contra o sarampo evitou cerca de 20 milhões de mortes. Neste período, houve ainda uma diminuição de mortes em cerca de 80% (passando de 651.600 para 134.200). Em 2015, 85% das crianças de todo o mundo receberam uma dose da vacina do sarampo no primeiro ano de vida. Também em 2015, houve 134.200 mortes provocadas pelo sarampo - ou seja, 367 mortes por dia.
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Quantos casos houve em Portugal nas últimas décadas?

Entre 2006 e 2014, vários relatórios indicavam que Portugal registou 19 casos de sarampo, quase todos importados. Hoje em dia, segundo Teresa Fernandes, cerca de 95% dos portugueses estão protegidos desta doença, seja por já terem sido vacinados ou por já a terem tido. Entre 1987 e 1989, foram identificados cerca de 12 mil casos e 30 mortes. Desde o início deste ano, já houve cerca de 21 casos confirmados. A vacinação contra o sarampo iniciou-se em Portugal em 1973 e a vacinação gratuita em 1974. Uma segunda dose da vacina começou a ser aplicada em 1990. E esta doença começou assim a ficar praticamente esquecida.

19.4.17

Sarampo. “Não posso admitir que haja opção de não vacinar”, diz médico

in RR

Portugal tem 21 casos confirmados da doença, mas há mais em avaliação. Autoridades insistem: “As pessoas têm todas que ser vacinadas". Contágio “é facílimo”.

O presidente da Associação de Medicina Geral e Familiar diz-se chocado com a recusa de alguns pais em vacinar os filhos, pondo em causa toda a comunidade.

“É preocupante e não posso admitir que possa haver opção de não vacinar em relação ao sarampo”, afirma Rui Nogueira na Renascença.
“Não só põe em causa a vida das crianças – e estamos a falar em crianças que ficam indefesas por uma doença muito grave – mas também a comunidade. Esta doença facilmente se transmite à comunidade e, portanto, é uma irresponsabilidade muito grande não vacinar as crianças”, realça

Portugal vive uma epidemia de sarampo, doença que já estava erradicada no país e que agora afecta mais de duas dezenas de pessoas. Há mais cinco casos em investigação.

“A vacinação para estas doenças deve ser obrigatória. Choca-nos quando se ouve dizer que há pais que não querem vacinar os filhos. A dúvida põe-se em relação a outras, mas em relação ao sarampo é inequívoca a nossa aprendizagem sobre a doença e sobre a vacinação, ao longo dos últimos anos”, frisa Rui Nogueira.

Já na segunda-feira, o director-geral da Saúde, Francisco George, tinha sido peremptório sobre o assunto: “As pessoas têm todas que ser vacinadas. Não há liberdade individual que possa justificar a ausência de vacina das crianças”.
Na opinião do pediatra Mário Cordeiro, os pais que optam por não vacinar os filhos deveriam ser responsabilizados. O médico considera mesmo que tal decisão se deve a uma “memória demasiado curta e arrogância demasiado grande”.

Como agir em caso de suspeita?
Se pensa que poderá ter sarampo, a opção mais segura é ligar para a Linha Saúde 24, diz o presidente da Associação de Medicina Geral e Familiar.

Face à facilidade com que se propaga a doença e as urgências hospitalares estarem, por norma, cheias de gente será “mais prudente, em caso de dúvida, contactar os serviços para serem encaminhados e quando chegassem nós termos as devidas precauções, enquanto não esclarecêssemos a dúvida”.

Rui Nogueira avisa ainda que a fase de contágio começa antes da erupção cutânea (as conhecidas pintinhas vermelhas no corpo). E “é facílimo: através do contacto directo, próximo, por via aérea”.

“É o contacto social que transmite a doença”. A doença “tem uma erupção cutânea muito típica, facilmente reconhecível, e depois tem o rebate geral de febre e mal-estar. A erupção cutânea é, de facto, o sinal de alarme”, refere ainda o médico de medicina interna.
O surto de sarampo que chegou a Portugal veio abrir a discussão sobre a legitimidade dos pais para se oporem à vacinação dos filhos. Vários especialistas têm defendido penalizações para quem o faça.

Mais de 95 mil crianças e jovens não estarão vacinados contra o sarampo

Joana Gorjão Henriques, in Público on-line

Pais que se esqueceram de vacinar filhos, pessoas em situação económica vulnerável ou imigrantes em situação irregular preocupam especialistas. Há 21 casos confirmados.

Pais que perderam a percepção do risco e se esqueceram de vacinar os filhos. Pais que têm difícil acesso à saúde por razões económicas ou estão em situação irregular em Portugal. Estrangeiros e portugueses que são contra as vacinas. Embora não se saiba o número exacto, cerca de 5% das crianças e jovens até aos 18 anos não estão vacinados contra o sarampo, estima a Direcção-Geral de Saúde (DGS).
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Tendo em conta que, de acordo com as estimativas do Instituto Nacional de Estatística (INE), residiam em Portugal, em 2015, cerca de 1 milhão e 900 mil crianças e jovens até aos 18 anos, cerca de 95.600 indivíduos nessa faixa etária (os tais 5%) não estarão vacinados.
Ana Jorge: poderá ser necessário antecipar vacinação de bebés

Este é o perfil de quem compõe as “bolsas de não-vacinados” que estão a preocupar os especialistas, numa altura em que os casos de sarampo confirmados pelo Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge já chegam aos 21, informou a DGS em comunicado esta segunda-feira à noite, e um ano depois de a doença ter sido declarada eliminada em Portugal. Vários outros doentes estão em investigação.

Ao final do dia desta segunda-feira, o director-geral da Saúde, Francisco George, questionou os “direitos e deveres” dos pais que não fazem vacinação dos filhos pois “essa decisão não põe em risco apenas as próprias crianças”, tem “um reflexo na comunidade”. Também disse que estava a ser estudada a hipótese de baixar a idade da primeira vacina para antes dos 12 meses.

Actualmente, a vacina do sarampo é administrada em duas doses: uma aos 12 meses e uma segunda aos cinco anos. O grupo mais vulnerável é o das crianças entre os 6 e os 12 meses, “pois já não têm os anticorpos maternos e ainda não fizeram a primeira dose”, afirmou ao PÚBLICO Maria do Ceú Machado, que foi Alta Comissária da Saúde e directora do departamento de Pediatria do Hospital Amadora-Sintra e foi nomeada no mês passado para a presidência do Infarmed.
95% vacinados
Vacinas devem ser obrigatórias?

Teresa Fernandes, da equipa de coordenação do Programa Nacional de Vacinação (PNV) da DGS, referiu ao PÚBLICO que a percentagem de 95% de pessoas vacinadas corresponde a uma média nacional, mas sublinhou que há pequenas comunidades, a nível local, com taxas mais altas de não-vacinados onde o risco aumenta.

Estas comunidades estão em bairros ou são famílias, são “pequenas populações”, afirmou. A DGS sabe onde estão as crianças que não cumpriram o PNV, mas ao PÚBLICO a especialista preferiu não especificar a sua dispersão geográfica para não lançar o pânico. “A nível local e regional estão a ser desenvolvidas acções” de sensibilização para conseguir a sua vacinação, acrescentou.

As “bolsas de não-vacinação” preocupam os especialistas, já que, como explicou Ricardo Mexia, da Associação Nacional de Médicos de Saúde Pública, a existência de um grupo que não esteja vacinado aumenta a probabilidade de contágio e de propagação da doença.

Em 2001, a taxa de vacinação era de 98% e em 2007 tinha baixado para 95%, lembra Ricardo Mexia. A vacina do sarampo tem "imunidade de grupo", ou seja, têm de estar mais de 95% das crianças vacinadas para a população estar protegida, explica, por seu lado, Maria do Céu Machado, actualmente directora do departamento de Pediatria do Hospital Santa Maria.
DGS pondera antecipar vacina do sarampo para antes dos 12 meses

Teresa Fernandes revelou ainda que as taxas mais baixas da cobertura da vacina foram detectadas sobretudo em crianças que tinham sete anos em 2016 e que não receberam a segunda dose.

Para esta especialista, apesar de, a nível europeu e mundial, existirem pais que não vacinam os filhos por serem contra, em Portugal esse fenómeno ainda não gera preocupação. Também Luís Varandas, da Comissão de Vacinas da Sociedade de Infecciologia Pediátrica e da Sociedade Portuguesa de Pediatria, não o considera problemático. “Podemos especular sobre as razões do reaparecimento [do sarampo] mas uma delas prende-se com a própria doença que é altamente contagiosa e não precisamos de muitos casos para se propagar”, comenta. “O outro aspecto são as bolsas de não-vacinação em termos europeus, porque há muito sarampo na Europa. E outro é a mobilidade: alguém que está em período de incubação e se desloque, facilmente transmite a doença. Se todos os anos temos 1% da população que não está vacinada, ao fim de cinco anos temos uma pool de pessoas não imune relativamente alto.”
“Clusters de estrangeiros"

Já Maria do Ceú Machado diz que há “clusters de estrangeiros (sobretudo belgas e alemães) e alguns portugueses que se dizem esclarecidos”, nomeadamente um grupo nos arredores de Lisboa, que opta pela não-vacinação.
Surtos de sarampo registados em 14 países europeus

Segundo o Centro Europeu de Controlo de Doenças, o sarampo cresceu na Europa e quase todos as situações terão ligação ao surto que começou na Roménia em Fevereiro de 2016, país que lidera o número de surtos com mais de quatro mil casos, diz a Lusa. A agência refere que nos primeiros quatro meses do ano houve mais casos de sarampo em Portugal do que na última década.

As razões do reaparecimento do sarampo em Portugal ainda estão a ser analisadas. Francisco George lembrou que é necessária uma pesquisa grande já que o período em que pode haver contágio antes de aparecerem as erupções na pele é de até quatro dias e a incubação pode chegar às três semanas.

Só a partir de 1990 é que a vacina do sarampo foi generalizada em Portugal – por isso quem nasceu entre 1974 e 1990, em princípio, só recebeu uma dose. Até 1974, quando foi introduzida a vacina do sarampo no PNV, a maioria dos adultos contraía sarampo, pelo que nessa faixa etária há mais pessoas imunes. Neste momento, as recomendações são uma dose para os adultos. Em caso de dúvida sobre se se está ou não vacinado, deve-se vacinar, aconselha Teresa Fernandes.
Grupos vulneráveis
Adolescente com sarampo piorou e foi transferida para Lisboa

Além das pessoas que não estão vacinadas e das crianças até aos 12 meses, os profissionais de saúde e pessoas que não tiveram segunda dose estão entre os grupos vulneráveis, afirma Luís Varandas. “E quanto maior o tempo de contacto, maior a probabilidade de contrair a doença.”

A equipa do PNV está a chamar as crianças que não estão vacinadas. A vacinação não é 100% eficaz, mas a probabilidade de alguém vacinado apanhar sarampo baixa significativamente – além de se tornarem menos graves os sintomas, como febre, erupções cutâneas, tosse ou conjuntivite. O sarampo é uma das principais causas de morte de crianças no mundo, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS). As encefalites, pneumonia e otites que degeneram em surdez são algumas das consequências mais perigosas.

A Teresa Fernandes, da DGS, rejeita a ideia de epidemia. Como a doença foi declarada eliminada pela OMS, “há um número de casos acima do esperado”. Também Luís Varandas não acredita num surto, mas diz que " vai haver mais casos”.