Bárbara Simões, in Jornal Público
Presente e futuro das dependências patológicas em debate em congresso a decorrer em Lisboa. Centro de atendimento das Taipas funciona há 20 anos
O mapa dos locais com problemas de consumo de droga "está completo a nível nacional". Por estes dias, as delegações regionais do Instituto da Droga e da Toxicodependência (IDT) "estão a apresentar aos parceiros o diagnóstico, os territórios que foram identificados", adianta Manuel Cardoso, do conselho directivo do IDT. A seguir serão definidas as zonas de intervenção prioritária, necessidades e respostas.
A elaboração deste levantamento nacional, que permita "desenhar uma panorâmica do país no âmbito do consumo de substâncias psicoactivas", para a partir daí planear estratégias, é um dos passos previstos no Plano Operacional de Respostas Integradas. Foi ontem referida por Manuel Cardoso na abertura do XX Encontro das Taipas, a decorrer em Lisboa.
Presente e futuro das dependências patológicas é o tema em debate este ano, numa altura em que o Centro das Taipas, a primeira unidade especializada no tratamento de toxicodependentes, tutelada pelo Ministério da Saúde, a funcionar em Portugal, comemora 20 anos de existência.
Desde 1987 foram atendidos nas Taipas 16.693 utentes. Em 2006 houve 310 primeiras consultas. O programa de substituição por metadona envolve 400 doentes. Não há listas de espera. "Já houve, mas isso acabou há muito tempo", lembra o director do centro, Luís Patrício.
Em Janeiro deste ano, o centro passou a ocupar um dos edifícios cor-de-rosa do Parque de Saúde de Lisboa, junto ao Hospital Júlio de Matos. Os dependentes de heroína continuam a constituir a maioria dos que procuram os serviços. Mas houve uma alteração visível em 20 anos, constata o director: "A população de utentes envelheceu. Do grupo dos 25 aos 30 anos passou-se para o dos 30-35."
O aumento do número de pessoas com problemas relacionados com o consumo de cocaína e a presença cada vez maior de mulheres (começaram por ser dez por cento, chegaram aos 25) são outras das mudanças apontadas por Luís Patrício. Muitos dos utentes são policonsumidores: álcool, cocaína, cannabis.
O leque de dependências é, de resto, vasto. "No ano passado fizemos um conjunto de actividades de formação com grupos de trabalho no âmbito das dependências patológicas sem substâncias", conta o director. Há várias: dependência do jogo, da Internet, de compras, de sexo, do trabalho.
"Sentimos necessidade de desenvolver esta actividade porque os doentes nos traziam essa problemática", explica Luís Patrício. Acontece, diz ainda, alguns dos que passaram por uma dependência de heroína, cocaína ou álcool fazerem aquilo a que os técnicos chamam "derivação", uma passagem por dependências sem substâncias.
O director do Centro das Taipas dá um exemplo: "É muito comum os nossos doentes dependentes de heroína fazerem compras disparatadas quando deixam de consumir. Fazer compras é um prazer, mas quando a pessoa leva para casa, nem desembrulha e mete num canto e depois vai comprar mais, leva para casa... Aí já estamos a falar de compras patológicas."
Em 20 anos foram atendidos no Centro das Taipas mais de 16 mil utentes; há 400 no programa de substituição com metadona.