António Marujo, in Jornal Público
Papa, bispos católicos, Igrejas protestantes, grupos de crentes e missionários. Em uníssono, responsáveis religiosos de várias Igrejas cristãs apelaram, nos últimos dias, a que os líderes do G8 cumpram as promessas de ajuda aos países mais pobres. Ontem, Bento XVI pediu aos políticos reunidos em Heiligendamm (Alemanha) que respeitem o compromisso de apoio ao desenvolvimento, nomeadamente em relação a África.
No final da sua audiência geral das quartas-feiras, na Praça de S. Pedro, o Papa agradeceu também à chanceler Angela Merkel a manutenção do tema da pobreza na agenda da reunião - o Papa escreveu a Merkel em Dezembro, pedindo a anulação da dívida dos países pobres.
"Desejaria lançar um novo apelo aos dirigentes reunidos em Heiligendamm, para que eles não desiludam em relação às suas promessas de aumentar substancialmente a ajuda ao desenvolvimento em favor das populações que dela necessitam, sobretudo as do continente africano", disse o Papa, citado pela AFP.
Perante cerca de 30 mil pessoas, Bento XVI recordou que um dos objectivos do milénio, proclamados pela ONU, é o de assegurar a cada criança, até 2015, a frequência completa da escola primária. Lembrou que a Igreja Católica, bem como outras igrejas cristãs, grupos religiosos e da sociedade civil estão "sempre na primeira linha" da educação, "particularmente nos países pobres, onde as estruturas do Estado não chegam".
Os países do G8 comprometeram-se, há dois anos, a destinar 0,51 por cento do produto interno bruto à ajuda ao desenvolvimento, até 2010, aumentando essa taxa para 0,7 depois daquele ano. Mas a Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Económico diz que a ajuda exterior continuou congelada em 2006, recorda a Zenit, agência oficiosa do Vaticano.
Nesta luta, o Papa não está só. Os bispos católicos dos países do G8 também pediram aos seus líderes uma "acção audaz contra a pobreza global". A carta recorda a "obrigação moral" de respeitar os compromissos de 2005.
Ontem, à hora de início da cimeira (18h, menos uma em Lisboa), os sinos de 1000 Igrejas protestantes alemãs tocaram durante oito minutos. "Com esta forma de actuar, queremos apelar aos líderes políticos para que demonstrem solidariedade com os povos mais pobres do mundo", afirmou Ralf Göttlicher, responsável da rede A Igreja e o G8, citado pelo serviço de imprensa do Conselho Mundial de Igrejas.
À mesma hora, em Colónia, começou o Kirchentag, um congresso dos protestantes alemães que reúne dezenas de milhares de pessoas. Cinquenta líderes religiosos dos países do G8 e de África estão no congresso para dirigir um apelo conjunto aos líderes políticos reunidos.
Já anteontem, frente à Basílica de S. Pedro, no Vaticano, a Cáritas Internacional, organismo do Vaticano, organizou uma acção com centenas de manifestantes a segurar uma faixa gigante com a inscrição, em inglês, do apelo Make aid work (Façam a ajuda funcionar). Uma iniciativa, noticiou a agência Ecclesia, integrada na assembleia da instituição, com 300 delegados de 160 instituições a trabalhar em 200 países (incluindo Portugal). Em colaboração com a Cooperação Internacional para o Desenvolvimento e Solidariedade, rede católica para o desenvolvimento, a Cáritas distribuiu nas últimas semanas centenas de milhares de postais para que os interessados os enviassem depois às embaixadas da Alemanha, país que acolhe a cimeira. Nos postais, o mesmo pedido: "Faça a ajuda funcionar. O mundo não pode esperar."
Em Maio, bispos católicos dos cinco continentes encontraram-se com os primeiros-ministros do Reino Unido, Itália e Alemanha. Outros grupos juntaram-se ao coro. Entre eles, o Andante, rede de 19 organizações de mulheres católicas de 12 países europeus; o Oito Minutos pela Justiça, da Igreja Evangélica Luterana alemã; o Pão para o Mundo, organização cristã de ajuda ao desenvolvimento; e a Antena Fé e Justiça dos institutos missionários em Portugal. Outros 570 líderes religiosos de várias Igrejas cristãs, incluindo o arcebispo sul-africano Desmond Tutu, escreveram uma carta a recordar em concreto a luta contra a sida em África, outro dos compromissos do G8.