17.5.10

Paulo Pedroso considera aumento do IVA uma medida "insensível"

in Jornal Público

Antigo ministro do Trabalho teme impacto das medidas antidéfice junto das classes mais desfavorecidas


O socialista Paulo Pedroso criticou, em entrevista à agência Lusa, a ausência de mecanismos que diminuam o impacto negativo que as medidas do Governo para acelerar a redução do défice terão nos grupos sociais mais desfavorecidos. O sociólogo diz-se ainda preocupado com a "criação de um clima de culpabilização destes grupos pelo seu destino".

Embora sublinhando que a decisão de acelerar a redução do défice foi tomada à escala europeia e que, nesse sentido, nada há a apontar ao Governo, Paulo Pedroso considera que é preciso distinguir estes objectivos gerais das medidas escolhidas pelo executivo.

"Sendo certo que a primeira opção deste Governo - com a qual concordo - foi aumentar a receita e não cortar na despesa para não colocar em causa a Educação, a Saúde e os Serviços Sociais, a escolha de aumentar em igual proporção as três taxas de IVA é uma decisão insensível", argumentou.

Para o ex-ministro do Trabalho e da Solidariedade, "a escolha de fazer este aumento cego é insensível ao facto de que, no cabaz de compras das famílias de menores recursos, há mais produtos de IVA de 5 por cento".

"Se tivéssemos mantido a taxa de 5 por cento e subido a de 20 por cento para 22 por cento, teríamos a mesma receita fiscal, mas estaríamos a taxar mais os consumos mais típicos da classe média e média-alta, e menos típicos das classes média-baixa e mais desfavorecidas".

Paulo Pedroso afirmou ainda que existe um "discurso equivocado" com que se fala dos mais pobres e que "tende a responsabilizar estes sectores da sociedade pela crise que vivemos, como se os beneficiários do subsídio de desemprego e do rendimento mínimo de inserção fossem fraudulentos por natureza". "Era de esperar que um Governo socialista, na prática e no discurso, tivesse uma maior sensibilidade para estes problemas", acrescentou. Lusa