por Luís Naves, in Diário de Notícias
Os líderes entenderam-se sobre metas ambiciosas para emissões de gases com efeito de estufa, mas falta convencer o G20.
Os líderes mundiais, reunidos na cidade italiana de Áquila, na cimeira do G8, propuseram a redução para metade das emissões de gases com efeito de estufa, até 2050. A meta mundial terá como valores de referência os de 1990, mas os países industrializados que tomaram a decisão comprometeram-se a reduzir as suas próprias emissões em 80%.
O G8 começou ontem e termina amanhã, com a participação do G20 e alguns convidados que se têm oposto a metas sobre emissões. Hoje, os líderes tentarão convencer Índia, Brasil ou África do Sul a apoiar estas ambições.
Além da anfitriã, a Itália, o grupo dos mais industrializados reúne EUA, França, Alemanha, Reino Unido, Japão, Canadá e Rússia. A China deveria participar na reunião, mas o Presidente chinês, Hu Jintao, regressou a Pequim devido à crise em Xinjiang (ver página 5).
O acordo ambiental de ontem foi o maior de sempre e a declaração final da cimeira cita a "opinião científica geral segundo a qual a temperatura média planetária acima do nível pré-industrial não deverá ultrapassar os dois graus centígrados". A decisão de Áquila terá grandes implicações na negociação do pós-Quioto, ou seja, dos níveis de emissões de gases com efeito de estufa após 2012.
Este acordo surgiu ontem de forma inesperada e a imprensa internacional já o dava como improvável. Em compensação, o G-8 fracassou na intenção de definir uma estratégia para a saída da crise económica.
A declaração da cimeira de G8 centra-se na crise mundial e menciona sinais de recuperação e de "estabilização das economias". O grupo dos mais industrializados admite a persistência de "incertezas", mas os líderes não chegaram a acordo sobre a forma de gerir os estímulos. Os EUA defendiam a continuação do esforço, no fundo manter o pé no acelerador, mas a chanceler alemã, Angela Merkel, contrariou esta estratégia de Barack Obama. Em causa está sobretudo a preparação dos cenários pós-crise.
Cada Estado "continuará a fornecer incentivos macroeconómicos compatíveis com a estabilidade de preços e a viabilidade orçamental a médio prazo", escreve-se na declaração. Atrás da formulação complexa, existem duas ideias simples: nenhuma porta é fechada e cada país fará como bem entender e puder.
A estratégia de saída tem vários perigos. A Alemanha quer regressar depressa à disciplina orçamental e tem receio de inflação, que iria prolongar a crise. Os americanos estarão menos confiantes nos sinais de estabilização e devem aplicar um novo pacote, até final do próximo ano, a adicionar aos 800 mil milhões de dólares gastos na primeira dose. A Alemanha gastou 2,5% do PIB a estimular a sua economia e os EUA gastaram mais de 7%, com o que isso implica de endividamento e desequilíbrio orçamental. A bolsa de Nova Iorque já reagiu com fortes quedas à perspectiva de novos incentivos.
Esta cimeira também chegou a acordo sobre o reforço da ajuda aos países mais pobres, nomeadamente em África, mas não conseguiu entender-se numa condenação do Irão, pois a Rússia opôs-se a uma posição demasiado dura, para preservar as negociações nucleares. O Presidente russo, Dmitri Medvedev, ainda convenceu os seus parceiros sobre o preço do petróleo, cujo patamar "justo" será, segundo o G8, entre 70 e 80 dólares o barril.