in Jornal de Notícias
A actual crise mundial é "cruel" para Portugal pois incide sobre os seus "pontos de vulnerabilidade - competitividade, emprego e endividamento -", defende um relatório da SaeR.
No Relatório sobre a Situação Económica e dos Negócios, a SaeR - Sociedade de Avaliação de Empresas e Risco salienta que "as circunstâncias que estabeleceram a configuração actual da economia portuguesa (...) não favoreceram a formação de estruturas empresariais capitalizadas".
Aliás, os consultores da empresa especificam que o financiamento das políticas públicas, principalmente das políticas sociais, "constitui uma pressão crescente de endividamento público".
Por outro lado, "a fraca competitividade reflecte-se na acumulação de défices comerciais".
Esta "é, portanto, a configuração económica mais vulnerável ao tipo de crise que está em evolução na escala mundial, onde as variáveis críticas também são a produtividade, o emprego e o endividamento", pode ler-se no relatório.
O documento refere que "estes traços do campo real em que opera a economia portuguesa não são, porém, reconhecidos nos debates políticos" e, pelo contrário, "os objectivos anunciados são de continuidade e de reprodução do que existe".
"Tanto na escala mundial como na escala europeia ou na nacional, não há agendas políticas a comandar os factos, são os factos que estão a desenhar o mapa da possibilidade, aquele que é o espaço da decisão económica e do poder político", diz a Saer.
Como o grau de modernização e os indicadores de competitividade em Portugal "são inferiores aos que se encontram nas outras regiões europeias, a perda de sentido de orientação e a entrada em fases de crescimento económico negativo agudizam todos os problemas estruturais e sublinham as vulnerabilidades que se acumularam no passado sem correcção adequada quando ainda havia meios para financiar esses programas de reformas", acrescenta o relatório.
Em termos gerais, a SaeR refere que as medidas adoptadas até agora para enfrentar a crise mundial não geraram efeitos de correcçao satisfatórios, "podendo mesmo estar a ter o efeito perverso de acelerar o processo crítico em lugar de o controlar".
A SaeR conclui que "só poderá haver recuperação dos indicadores económicos num novo padrão de relações que não reproduza as condições e as interacções de factores que geraram os desequilíbrios".