15.7.09

Dados contraditórios apontam para uma recuperação feita aos solavancos

José Manuel Rocha, in Jornal Público

A produção industrial subiu na zona euro pela primeira vez em nove meses, mas a confiança dos investidores alemães quebrou ciclo positivo


A boa notícia é que a produção industrial na zona euro subiu 0,5 por cento em Maio face a Abril, o que acontece pela primeira vez em nove meses. A má notícia é que a confiança dos investidores alemães caiu no mês passado, quebrando um ciclo de subida que já levava quatro meses.

Os dados sobre a retoma alternam entre o positivo e o negativo, entre um arranque para a frente e mais uma marcha-atrás. O secretário de Estado norte-americano do Tesouro é que parece ter razão. Ontem, numa conferência em Singapura, afirmou que o pior da crise já lá vai e que há sinais inequívocos de retoma. Mas acrescentou que a recuperação vai ser feita aos solavancos.

O estado da indústria europeia conheceu em Maio um sério alívio. A produção aumentou 0,5 por cento na zona euro face ao mês precedente e 0,1 por cento no conjunto dos Vinte e Sete. O grande motor da recuperação foi o sector industrial alemão, com um aumento de 3,7 por cento face a Abril. Este valor foi apenas ultrapassado pela Lituânia (7,3 por cento), país que tem um peso residual no conjunto da União Europeia.

A França é outro exemplo de recuperação (2,6 por cento de incremento na produção industrial). Do lado negativo, está Espanha, com uma quebra de 2,9 por cento, e o Reino Unido, a cair 0,4 por cento.

A inversão do ciclo foi sustentada pelo crescimento da área de bens de capital (1,2 por cento) e bens de consumo não duradouros (0,8 por cento). A energia recuou 0,2 por cento e os bens de consumo duradouros 2,9 por cento.

Pela manhã, após a divulgação do comunicado do Eurostat, os analistas interpretavam os números como a confirmação de que a recessão terá sido menos dura no primeiro semestre deste ano. Mas com muitas precauções em anexo. "Para uma recuperação durável será preciso uma inflexão clara das encomendas, tanto no mercado interno como no externo, e isso mantém-se ainda muito incerto", afirmou Howard Archer, economista da IHS Global Insight.

Os analistas ouvidos pela agência Bloomberg, ouvidos antes da divulgação dos dados, esperavam uma recuperação mais extensa.

A satisfação contida do início da manhã foi, no entanto, quebrada pelo instituto alemão Zew, que todos os meses divulga o índice de confiança dos investidores e analistas germânicos. Após quatro meses a subir, o indicador registou um recuo - dos 44,8 pontos em Maio para 39,5 pontos em Junho. Os analistas contactados pela agência Bloomberg antecipavam um cenário de aumento para os 47,8 pontos.

O índice de confiança mede as expectativas de gestores e analistas quanto à situação económica que irá prevalecer daqui a seis meses. Já o índice que avalia as condições económicas correntes teve uma ligeira melhoria - de -89,7 para -89,3 pontos no mês passado.