16.7.09

Investimento e exportações adiam retoma para 2011

José Manuel Rocha, in Jornal de Notícias

O Banco de Portugal admitiu ontem que a recessão vai prolongar-se até ao final de 2010, ao contrário do que tinha previsto no Inverno


A frase de Vítor Constâncio não deixa espaço para dúvidas: uma "recuperação sustentada não deverá começar antes de 2011". Ontem, o Banco de Portugal agravou as previsões para a evolução da economia portuguesa. O crescimento de 0,3 por cento que antecipava, no Boletim de Inverno, para 2010, transforma-se, no Boletim de Verão ontem divulgado, num recuo de 0,6 por cento do PIB.

Os principais responsáveis por este agravamento do cenário conjuntural são o investimento e as exportações. Nada que não fosse esperado. Com uma retracção do consumo que é inevitável em tempos de crise, os agentes económicos recuam nas intenções de investir porque, em ambiente de retracção do consumo, o retorno não chega tão depressa quanto desejável.

E a quebra das vendas para o estrangeiro é igualmente natural, porque os principais parceiros portugueses, os melhores clientes das empresas nacionais, enfrentam também uma dura crise e protelam a normalização das ordens de compra ao exterior.

O cenário é, mesmo assim, bastante mais brando em 2010 do que no ano em curso. Para 2009, o Banco de Portugal aponta uma quebra de 3,5 por cento do produto interno bruto (PIB). O mesmo valor que avançara no Boletim de Primavera, mas 2,7 pontos percentuais acima da previsão do Inverno. O comércio com o exterior deverá cair este ano mais de 14 por cento, recuando para perdas de 0,9 por cento em 2010. O investimento, que recua 17,7 por cento em 2009, deevrá regredir na ordem dos 4 por cento no ano que vem.

A procura interna, outro importante componente do produto, deve cair este ano 4,5 por cento, para recuar até -0,7 por cento em 2010. No Inverno, o banco central previa para esta rubrica um crescimento nulo em 2009 e de 0,3 por cento no próximo ano.

"A pior recessão"

É a pior recessão das últimas décadas, "para nós e para a área do euro", afirmou ontem Vítor Constâncio, que assinala, todavia, que a economia "parece estar a estabilizar", o que faz com que, em princípio, não haja mais revisões em baixa das previsões económicas. Constâncio, que esteve no Parlamento para apresentar o Boletim de Verão, referiu que a evolução da economia portuguesa será "ligeiramente melhor" do que a dos restantes parceiros da eurolândia.

O banco avisa, porém, que a persistência de fragilidades estruturais, "como o nível de capital humano, o funcionamento dos mercados do trabalho e a eficácia do sistema de justiça", poderá dificultar o ajustamento da economia portuguesa e uma retoma que acompanhe a média da União Europeia.

Em reacção aos novos números do Banco de Portugal, dois economistas - João Duque e Nogueira Leite - ouvidos pela agência Lusa afirmaram-se preocupados com a possibilidade de Portugal demorar mais tempo a sair da crise do que os restantes países. Daniel Bessa diz que a manutenção da recessão em 2010 é uma "má notícia".
Do lado político, enquanto o PS sublinhava que a fase mais grave já passou, os partidos da oposição contrapunham que a retoma não está à vista e que o Governo não tem estratégia para sair da crise.