15.7.09

Quase 70 por cento dos diplomados da Universidade do Porto têm emprego

Andrea Cunha Freitas, in Jornal Público

Dados da segunda edição do Observatório de Emprego da UP serão apresentados hoje e revelam uma taxa de 9,9 por cento de desemprego


A altura não podia ser mais oportuna. No momento em que se fala do número de vagas no ensino superior, a Universidade do Porto (UP) vai divulgar hoje os resultados da segunda edição do inquérito do Observatório de Emprego que mostram que quase 70 por cento dos diplomados de 2006/2007 conseguiram um emprego e 10 por cento estavam desempregados. Os resultados são animadores mas devem ser lidos com cautela dado que se referem a um período inicial da carreira profissional, no qual muitos estarão em situações vulneráveis (41 por cento dos empregados, por exemplo, têm um contrato a termo certo).

"O canudo pode ter deixado de ter o efeito que tinha há 30 anos atrás mas não deixa de proteger do desemprego. Protege mais do que não o ter", constata Carlos Gonçalves, docente da Faculdade de Letras da UP e um dos autores do trabalho elaborado com Isabel Menezes da Faculdade de Psicologia da UP. O especialista classifica os dados como "positivos" mas nota que estes são apenas indicadores e considera ainda que reflectem a situação de crise que se atravessa. "São resultados que devem ser lidos no seu contexto, de início de carreira", avisa, defendendo a necessidade de reavaliar a situação destes diplomados "daqui a 4 ou 5 anos".

Belas-Artes em baixa

Dos 1642 diplomados que responderam ao inquérito online e que representam 54,3 por cento da população da UP, 69 por cento estão a exercer uma actividade profissional (inclui bolseiros para um projecto de investigação). Mantém-se assim a tendência do inquério referente a 2005 (68,9 por cento com emprego e 9,3 desempregados). Entre os vários cursos a taxa de desemprego mais elevada (29,2 por cento) é da Faculdade de Belas-Artes e a mais baixa no Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar (1,4 por cento). "Os cursos de Belas-Artes estavam muito direccionados para o emprego estatal, para o ensino, e nos últimos anos este mercado tem sofrido muitos cortes", justifica Carlos Gonçalves. No gráfico, destacam-se as boas situações dos cursos de Medicina, sendo que a Faculdade de Medicina Dentária surge com mais saída, com 96,3 por cento dos inquiridos com emprego. A Faculdade de Direito surge com uma taxa de 9,8 no emprego mas isso deve-se ao facto de 87,8 por cento se encontrarem em estágio profissional.

As respostas revelam que 9,9 por cento dos diplomados estão desempregados. Se há 70 por cento no activo, onde estão os 20 por cento que faltam? No prosseguimento de estudos. "Noventa por cento dos inquiridos são solteiros", nota Carlos Gonçalves. Vamos a números: 9,6 por cento estão a cumprir a etapa de estágio profissional, 5,1 são estudantes de licenciatura ou mestrado, 4,3 por cento estão a fazer doutoramento e 0,9 em formação profissional.

Na caracterização do primeiro emprego há a registar os 41 por cento com um contrato a termo certo, 11,8 com um contrato de prestação de serviços/recibos verdes, 11,7 por cento com um contrato a termo incerto, 6,7 por cento a beneficiar de uma bolsa de investigação no âmbito de um projecto de investigação científica. Apenas 22,7 por cento dos inquiridos têm um contrato de trabalho sem termo. Neste capítulo, o Observatório de Emprego encontrou 61,9 por cento das pessoas a trabalhar numa empresa privada e, no que se refere ao tipo de funções, 69,9 por cento são considerados "especialistas das profissões intelectuais e científicas" (professores, por exemplo) e só 5,6 são quadros superiores da administração pública, dirigentes e quadros superiores de empresa. Porém, este perfil do emprego estará relacionado com o facto de estarmos perante pessoas em início de carreira. Será também a falta de experiência profissional que justifica os resultados no "contraste entre competências exigidas na profissão e desenvolvidas na formação". É que os diplomados dizem-se mais preparados para "escrever relatórios ou memorandos" do que "interagir com pessoas diferentes" ou "tomar decisões em situações complexas".