13.7.09

Uso de serviços de saúde privados triplicou em Portugal

por Diana Mendes, in Diário de Notícias

Três milhões de portugueses vão às unidades privadas, muitos porque têm seguros ou pertencem a um subsistema. Em 2008, o Grupo Mello facturou na saúde 280 milhões de euros, o Espírito Santo 84 milhões e o Grupo da Caixa Geral de Depósitos 63 milhões


O número de portugueses com acesso aos serviços de saúde privados triplicou nos últimos 30 anos, passando de cerca de 10% para 30% da população portuguesa. Ou seja, um terço dos portugueses vai aos serviços de saúde particulares. Os cálculos são dos responsáveis dos principais grupos privados, que garantem que hoje 15% do orçamento em saúde é despendido em serviços alternativos ao Serviço Nacional de Saúde (SNS), que completa três décadas este ano.

José Carlos Lopes Martins, administrador da José de Mello Saúde, disse ao DN que hoje, "cerca de 30% da população tem outra cobertura para além dos serviços públicos".

Quando surgiu o SNS, através de uma lei criada por António Arnault, "a percentagem de pessoas que recorria a unidades privadas era residual. Penso que talvez rondasse os 10%. Os beneficiários da ADSE e de outros sistemas de saúde eram muito menos nessa data", calcula Lopes Martins.

A este facto, juntava-se a escassez de oferta privada, que com algumas excepções também não "tinha a qualidade que hoje em dia tem, explica recordando: "Na época, destacavam-se o Hospital da Cuf e o da Cruz Vermelha".

Actualmente, "existirão cerca de 1,5 milhões de portugueses com seguro de saúde, a que se juntam cerca de 1,3 milhões de beneficiários da ADSE e mais 500 mil de outros subsistemas mais pequenos", acrescenta José Miguel Boquinhas, administrador do grupo Hospitais Privados de Portugal (HPP), da Caixa Geral de Depósitos . No entanto, admite que possa haver casos de dupla cobertura de sistemas. Por exemplo, podem ser abrangidos pelo regime dos funcionários públicos e ter um seguro de saúde em simultâneo. Por essa razão, o ex-governante calcula "que entre 25% a 30% da população seja cliente potencial do sector privado".

"Dos gastos totais em saúde em Portugal, "15% é paga aos privados, a que somam cerca de 20% para medicamentos", refere José Miguel Boquinhas. A despesa inclui ainda as áreas das análises clínicas e laboratoriais, transportes e até a hemodiálise contratada com os privados.

O responsável do grupo HPP refere ainda que nos últimos 30 anos o Serviço Nacional de Saúde trouxe inúmeros ganhos aos cidadãos. Uma das grandes diferenças das últimas décadas foi mesmo o orçamento com esta área: "Há 30 anos, gastava-se 2% do PIB com as despesas de saúde e hoje a percentagem subiu a 10%", avança o administrador.

Para Isabel Vaz, administradora da Espírito Santo Saúde (ESS), o mercado do sector "privado vale hoje entre 700 e 800 milhões de euros por ano".

Os três maiores grupos - Mello, ESS e HPP - facturaram 527 milhões de euros em 2008. Isto significa que os três têm uma fatia entre 65,8% e 75% do total da facturação dos privados. E as previsões são de mais crescimento.

O Grupo Mello facturou 280 milhões de euros em 2008, o grupo Espírito Santo 184 milhões e os HPP 63 milhões. Isabel Vaz prevê que a facturação da ESS vá subir 12%, para cerca de 206 milhões de euros. Já o grupo HPP calcula atingir os 150 milhões de euros, o que significa que poderá mais do que duplicar os ganhos do ano anterior.