19.10.09

Ciganos entre a tolerância e a expulsão no Alentejo

in Jornal Público

No Alentejo, famílias ciganas pobres, sem casa e com dificuldades em fixar-se são "forçadas" a circular como nómadas pela região, confrontando-se com a "tolerância temporária" ou com a "expulsão rápida", alerta um antropólogo.

Trata-se de "um número minoritário mas significativo" de famílias ciganas que não conseguem fixar-se nas terras a que sentem pertencer e onde "são alvo de vigilância apertada", disse à Lusa o antropólogo André Correia. Na "maior parte" das terras, por onde passam para fazer negócios e pelas quais não exprimem sentimentos de pertença, "experimentam formas de acolhimento díspares, que oscilam entre a tolerância temporária, a vigilância e a expulsão rápida e sumária", relata André Correia. O antropólogo fala a propósito do ciclo de palestras Pobreza e Comunidades Ciganas, que hoje decorre em Beja.

Um fenómeno que o antropólogo estudou entre 2006 e Julho deste ano, quando acompanhou famílias ciganas sem residência fixa em Portugal, no âmbito de um projecto do ISCTE. Um dos casos que vai abordar é o de uma mulher cigana que, após ficar viúva, voltou com os filhos para Évora, onde vivia em solteira com os pais, e conseguiu uma barraca no Bairro da Casinha. Após a demolição da barraca onde viviam, a viúva e os filhos "não foram realojados, ficaram sem casa e começaram a viver num nomadismo forçado", conta André Correia, referindo que a família continua "numa situação nómada e a tentar fixar-se em Évora", sem o conseguir.

"Às vezes as famílias até conseguem fixar-se em barracas ou tendas, mas volta e meia tiram-lhes o tapete, demolem-lhes as barracas ou são expulsos e voltam a ser nómadas outra vez", lamenta, rejeitando a ideia de que o nomadismo faz parte da cultura cigana.