20.10.09

Patrões insistem na contenção dos aumentos salariais

in Diário de Notícias

O presidente da Confederação da Indústria Portuguesa (CIP), Francisco Van Zeller, defendeu hoje "muita contenção" no aumento dos salários em 2010 e alertou para o facto de existirem "muitos milhares" de empresas que dependem de salários baixo que, se fecharem, farão aumentar o desemprego.

"A CIP diz que tem de haver muita contenção no aumento dos salários em 2010, pois este ano foi muito complicado, atípico, houve uma baixa da inflação muito grande ou mesmo a eliminação da inflação. Portanto, o argumento normalmente utilizado da subida de salários desaparece num ambiente muito difícil para as empresas que continuam a desaparecer", disse o líder da Confederação da Indústria Portuguesa, em Lisboa.

Francisco Van Zeller, que falava à margem do 8º Seminário "Reflexão Estratégica - Grandes Marcas: Desafios e Oportunidades", na Universidade Católica, referiu também que "aquela teoria que defende que se deve mudar de modelo salarial está certa, mas não é a meio de uma crise que se deve fazer".

"Temos que ver que existem muitos milhares de empresas que dependem de salários baixos, aquelas que exportam. Cerca de um quarto das exportações depende de salários baixos e nada disso [alteração do modelo salarial] se pode fazer muito rapidamente, leva tempo", afirmou.

Segundo Francisco Van Zeller, "neste momento, um aumento de salários desproporcionado no próximo ano iria fragilizar essas empresas. Se todos estivermos conscientes de que isso acontecerá e que as empresas são para fechar, então é uma política" que é assumida.

"Então, vamos fechar algumas empresas aumentando muito os salários - o salário mínimo e os salários a toda a gente para fomentar o consumo nacional. A consequência são muito milhares de empresas a fechar e o desemprego, eventualmente, a subir para 15 por cento a 16 por cento, mas isto é uma atitude assumida", sublinhou.

A CIP considera que é preciso para 2010 "pensar duas vezes antes de aceitar", destacando que são razões políticas que estão na base das pressões para que hajam aumentos salariais.

"Tem de fazer o cálculo económico do aumento dos salários, medirem-se as consequências, monitorizarem-se os efeitos e também arranjaram-se compensações como se fez há quatro anos", adiantou.

Para a CIP os aumentos salariais de referência na casa dos 2,9 por cento este ano, permitiram "um grande alívio para quem tem emprego", embora houvesse um grande constrangimento por parte das empresas.

De acordo com Francisco Van Zeller, não é o aumento salarial que induz o consumo de forma sustentável.

"Se nós não produzirmos temos que importar e aumentamos, assim, o endividamento externo. O que é fundamental para melhorar o desempenho da economia é investir", afirmou.

"Penso que o novo Governo irá fazer o possível para conter o aumento dos salários, dada a situação financeira do país. A resposta é de contenção do aumento salarial", acrescentou.

JS