Despedida há mais de três anos vive com 400 euros

MARGARIDA LUZIO, in Jornal de Notícias

Manuela Martins tem 44 anos. Ninguém diria. Tem a aparência de uma jovem. A maior parte da roupa que veste é das duas filhas gémeas que já vivem por conta própria.

Desempregada há mais de três anos, a flaviense Manuela Martins, que tem a seu cargo uma filha menor, vive com cerca de 400 euros mensais. Metade da verba resulta de uma bolsa de estudo que lhe é paga pelo Centro de Formação Profissional de Chaves, onde está a concluir o 12.º ano, através do programa Novas Oportunidades, e a outra metade é paga pela Segurança Social, pelo seu estatuto de desempregada.

Gerir o aperto financeiro não tem sido nada "fácil". Por mais voltas que dê, se não fosse a ajuda da família, Manuela tem consciência que não conseguiria sobreviver. "Só o crédito da casa são 200 euros, depois tenho que pagar água, luz, e tenho a minha filha menor. Não é fácil!", revela, lembrando também que lhe vale a ajuda que recebe da Cruz Vermelha. Antes de ter ido para o desemprego, Manuela era funcionária de uma instituição bancária. Entrou como empregada de limpeza, mas depois foi subindo. Ultimamente fazia serviço de expediente geral. Foi despedida na sequência de um processo disciplinar que, na sua opinião, teve origem numa depressão que teve. O caso ainda está em tribunal. Desde então, já fez limpeza em casas particulares, serviu à mesa em casamentos e baptizados, mas nada de estável e definitivo. Contudo, no meio da tanto azar, o desemprego trouxe a Manuela uma coisa boa. "Um sonho que eu tinha era estudar. Agora, a vida deu-me esta oportunidade, só é pena não ter outros rendimentos", diz Manuela, que em Fevereiro próximo termina o curso de técnicas de informática e gestão de redes que lhe dará equivalência ao 12.º ano. "Isso é que me assusta. O futuro. A minha filha tem 14 anos, eu gostava que ela fosse para a universidade".