28.10.09

Mais de 40 por cento dos portugueses acham que pobreza aumentou muito

in Jornal Público

Quatro em cada dez portugueses (41 por cento) acham que a pobreza aumentou "muito" nos últimos três anos. E a maioria considera que, para resolver o problema, o Governo deve apostar na criação de "oportunidades de trabalho". O desemprego é mesmo apontado como a principal razão para que alguém seja pobre - análise, de resto, partilhada pela generalidade dos europeus quando questionados sobre o que se passa nos seus países. Maiores diferenças com os 27 da União Europeia (UE) surgem quando se pergunta algo como isto: "O orçamento familiar de que dispõe todos os meses chega para as necessidades?"

Em Portugal, 1,8 milhões vivem abaixo do limiar de pobreza.
Na UE, 30 por cento dos inquiridos no âmbito do novo Eurobarómetro sobre pobreza disseram que sim, que facilmente chega. E em Portugal? Seis em cada dez (62 por cento) confessam que têm alguma dificuldade em satisfazer as suas necessidades (a média na UE é de 56 por cento). E 15 por cento dizem que "é difícil" viver com o que têm (12 por cento na UE). Apenas um quinto da população considera que o dinheiro chega facilmente.

A dois dias de uma conferência europeia sobre pobreza e exclusão social, que acontecerá em Bruxelas a propósito do ano europeu de luta contra a pobreza (em 2010), a Comissão Europeia divulgou ontem os primeiros números de um Eurobarómetro especial - um inquérito a 27 mil pessoas, realizado entre Agosto e Setembro, que tenta aferir a atitude dos europeus face ao fenómeno.

A maioria acha que a pobreza alastrou - "73 por cento dos europeus consideram que a pobreza está disseminada e 89 por cento reclamam dos governos uma acção urgente para combatê-la", lê-se no comunicado da Comissão. O relatório final só será divulgado em Novembro.

Dados a que o PÚBLICO teve acesso mostram que, desafiados a apontar o dedo a alguns dos culpados, 52 por cento dos cidadãos da UE (e 61 por cento dos portugueses) dizem que é o desemprego o factor que mais explica a razão pela qual as pessoas são pobres.

Insuficientes prestações sociais e pensões baixas são apontadas por 29 por cento dos europeus - e por 27 por cento dos portugueses. Os baixos salários são referidos por quase metade dos inquiridos (na UE, como em Portugal).Mas da lista dos culpados também constam factores mais pessoais. Há quem mencione as toxicodependências e os problemas de saúde. E quem fale das qualificações - ainda que em Portugal haja menos a ideia de que a educação, ou a falta dela, pode explicar por que razão alguém é pobre (37 por cento na UE referem esse factor, contra 19 em Portugal).

Governo deve resolverJá a falta de apoio da família e dos amigos em momentos de maior necessidade é muito mais percepcionada em Portugal como explicação para a pobreza (14 por cento na UE; 32 por cento em Portugal). De qualquer modo, a maioria dos portugueses (63 por cento), e dos europeus em geral, acha que é ao Governo que cabe fazer reduzir a pobreza. E preveni-la.

Logo a seguir à criação de emprego, as medidas que visem garantir o crescimento económico "de forma a melhorar o nível de vida" das pessoas são as que mais aplausos recebem.

Em época de crise, não reina, contudo, o optimismo. Portugal é o 5.º da UE com mais pessoas a defenderem que a pobreza é algo que está disseminado no país - é o que sente 88 por cento da população. Visões mais negativas só na Hungria, Bulgária, Roménia e Letónia. E se domina na Europa a sensação de que o fenómeno se agravou (84 por cento dos europeus sentem que sim), em Portugal o peso dos que acham que aumentou "muito" é muito superior à média (41 contra 28 por cento).

Há, na UE, 80 milhões de pessoas que vivem abaixo do limiar de pobreza (das quais 1,8 milhões são portuguesas). O comissário europeu para os assuntos sociais, Vladimir Spidla, acredita que 2010 será "a oportunidade de colocar o combate à pobreza no cerne das preocupações.