17.10.09

A obra da Bostâllet

in Jornal Público

Em Estocolmo, a capital da próspera Suécia, há 3500 sem-abrigo


Mija Iburz trabalha com sem-abrigo desde os anos 80. No início, ouvia funcionários a enxotá-los nos serviços sociais, a dizer-lhes que não havia lugar para eles nos albergues, a menos que deixassem as drogas. Até ficava "enojada". Voltou a ouvir tais argumentos. "Está mais difícil entrar num tratamento ou receber habitação." Também em Estocolmo, "a crise provocou cortes nos gastos públicos."

A Bostâllet é uma ONG empenhada na tarefa de inserir quem ficou fechado nas ruas - tem albergue nocturno, centro de dia, apartamentos de transição e programas de inserção. E Mija é a mulher de estatura baixa e rosto delicado que a comanda.

Não lhe falta trabalho. Só em Estocolmo, "há 3500 sem-abrigo". Sem-abrigo não é apenas aquele que dorme nas ruas gélidas da capital sueca. Sem-abrigo é também aquele que pernoita em centros de acolhimento, em barracas ou carros abandonados. Ou num alojamento que são incapazes de manter sem ajuda dos serviços sociais.

Poucos enfrentam a noite nas ruas. As temperaturas podem ir muito abaixo de zero. E uma norma assegura a todos o direito a um tecto. Até à meia-noite, explica Mija, quem está sem-abrigo pode pedir a uma assistente social que lhe arranje cama. Não havendo vaga num albergue, encaminham para uma pensão ou para um hotel.

A pobreza mais extrema está diagnosticada. Em Bostâllet entram sobretudo pessoas com problemas de saúde ou com dependências de álcool e outras drogas. Suecos e finlandeses, principalmente. Nos últimos anos, salta à vista a presença de oriundos do Médio Oriente.

Quem não cumpre regras - como abster-se de trazer drogas ou de agredir o próximo - pode ser expulso e pedir para regressar volvido um, dois ou três dias. "Fazemos um relatório escrito para os serviços públicos a dizer que está em perigo. É uma forma da pessoa conseguir tratamento, o que não é fácil na Suécia."

Alguns ficam ali anos. Alguns estão prontos para sair e "não saem por a câmara não ceder habitação". Mija abana a cabeça: "É uma estupidez. É mais caro tê-los aqui." A organização não vive apenas de dinheiros públicos. Tem lojas de segunda mão. Faz campanhas. Os suecos estão "a ficar fartos" de dar dinheiro e de não ver o fenómeno desaparecer.